segunda-feira, 8 de junho de 2009

Como o Beato Anchieta via a natureza


Por ocasião dos preparativos da concorrida reunião ecológica denominada "Eco-92", o Beato Anchieta foi cogitado, segundo o "Jornal do Brasil", para ser uma espécie de "guia espiritual" daquela conferência mundial sobre o meio ambiente. Não sei o que deu a sugestão, mas o fato é que as idéias de Anchieta não combinam muito bem com os ecologistas de hoje. Estas idéias estão expressas nas diversas cartas que ele escreveu quando aqui chegou, nas quais fazia minuciosa descrição do que ele chamava "as coisas naturais do Brasil". Enquanto os ecologistas enaltecem a natureza como se fosse uma deusa, os jesuítas daqueles tempos viam tudo no seu devido lugar, isto é, que há na natureza aspectos bons e maus a serem considerados, sendo ela inferior ao homem e apenas um meio para este atingir seu fim último que é Deus.
Numa de suas inúmeras cartas, datada de 31 de maio de 1560, o padre Anchieta discorre demoradamente sobre a natureza, cheia de "coisas dignas de admiração..." A fim de transmitir melhor a idéia sobre a nova terra, o Apóstolo do Brasil dividiu sua carta em várias partes: inicialmente descreveu dados astronômicos, posição do sol, curso dos astros, etc.; em seguida passou a dissertar sobre as coisas da terra, dividindo seu relato entre animais aquáticos e terrestres, primeiramente, e depois, entre árvores e pedras.
Sobre os animais aquáticos chamou-lhe atenção o fenômeno do piraquê (o peixe elétrico), falando depois do peixe-boi e tantos outros peixes. Vendo a beleza e riqueza de detalhes de tais animais não se esqueceu, porém, de mencionar os repelentes jacarés, "tão corpulentos que podem engulir um homem", e as lontras que "munidas de agudíssimos dentes e unhas" atacam às vezes as pessoas.
Ao descrever os animais terrestres deteve-se demoradamente na beleza e harmonia de nossas aves, mas também não se esqueceu de mencionar os diversos gêneros de serpentes, jararacas, boiciningas, assim como das diversas aranhas, tipo as caranguejeiras. Além dos animais de tratos agradáveis, Anchieta fala também da onça, "de extrema crueldade", do tamanduá, da anta, da preguiça, passando pelo malcheiroso gambá. A descrição segue com os veados, tatus, insetos, etc. Somente uma mente clarividente para discernir que na natureza, inculta e brava, não se encontram somente as maravilhas da criação. Ao lado de coisas marvilhosas e belas, como flores aromáticas e animais encantadores, coabitavam também espinhos, venenos, feiúras, feras traiçoeiras, insetos peçonhentos e irritantes.
Esta lição merece hoje, mais do que nunca, ser passada para os modernos e fanáticos ecologistas que só vêem coisas melífluas e agradáveis na natureza, esquecendo-se que a floresta só contribui positivamente para o homem quando domada por este. Vejamos um vídeo sobre o Beato Padre Anchieta, cuja festa se comemora amanhã, 9 de junho.


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