quinta-feira, 31 de agosto de 2017

NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA: FESTA DO INÍCIO DA DERROCADA DO PAGANISMO


(COMENTÁRIOS DE DR. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)

O que a Santa Igreja faz é imensamente sábio, pleno de tato. Considerem, por exemplo, o seguinte: o culto de latria ou adoração, a Igreja presta somente a Deus, portanto a Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Verbo Encarnado. O culto de dulia, de veneração, de mediação, a Igreja presta aos santos. Mas a Nossa Senhora Ela presta um culto que nem é simplesmente o de dulia, nem é de nenhum modo o de latria, mas é o culto de hiperdulia, que é uma veneração como a nenhum outro santo se presta, sem nenhum paralelo, sem nenhum termo de comparação, de tal maneira Nossa Senhora está acima de todas as criaturas.
Excluindo a festa do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo e o nascimento de São João Batista, a Natividade que a Igreja celebra em seu calendário litúrgico é a de Nossa Senhora. E, além disto, há inúmeras outras festas a Ela dedicadas, enquanto que para cada santo existe – em via de regra – uma festa no calendário e mais nada. Como também, em uma outra ordem de coisas, a Igreja permite e até estimula imagens dos santos, mas não permite que haja no mesmo altar mais de uma imagem do mesmo santo. Entretanto para Nossa Senhora, Ela permite que haja tanto no altar central como nos nichos ou alterais laterais das igrejas outra imagem de Nossa Senhora.
Isto tudo para dar a entender que Nossa Senhora não tem termo de comparação nenhum, e introduzir este princípio teológico em mil realidades do calendário, da liturgia, da vida de piedade, com um tato e senso de proporções, que indica bem o espírito sapiencial da Igreja Católica e o oceano de sabedoria que nEla há.
Por que a Igreja festeja especialmente o santo natal de Nossa Senhora? Porque a Mãe de Deus foi tão grande que a data em que Ela entra no mundo, marca uma nova era na história do povo eleito.
Nós podemos dizer que a história do Antigo Testamento se divide –  sob este ponto de vista – em duas partes: antes e depois de Nossa Senhora. Porque se a história do Antigo Testamento é uma longa espera do Messias, esta espera tem dois aspectos: 1) o momento exato que não tinha chegado para a vinda do Messias, a Divina Providência estava portanto permitindo que esta espera se prolongasse pelos séculos dos séculos; 2) e depois o momento abençoado em que a Providência faz nascer Aquela que conseguirá que o Messias venha: Nossa Senhora.
Então, Sua vinda ao mundo é a chegada da criatura perfeita, da criatura que encontra plena graça diante de Deus, da única criatura cujas orações têm o mérito suficiente para acabar com esta espera, e fazer que, por fim, os rogos de toda a Humanidade, os sofrimentos de toda Humanidade, os padecimentos de todos os justos e a fidelidade de todos aqueles que tinham sido fiéis, consiga aquilo que sem Nossa Senhora não se teria obtido.
Houve os Patriarcas, os Profetas, houve inúmeras almas fiéis do povo eleito; deverá ter havido uma ou outra alma fiel em meio à gentilidade; houve sofrimentos ao longo dos séculos de espera do Messias. Mas nada disso foi suficiente para atrair a misericórdia divina e fazer chegar o momento da Redenção. Entretanto quando Deus quis, Ele fez nascer a criatura perfeita que haveria de conseguir isto. Então a entrada desta criatura perfeita no mundo dos vivos é o começo de Sua trajetória que durante todo o tempo atraiu bênçãos, atraiu graças, produziu santificação.
Já então todas as relações dos homens com Deus se modificaram, e começou então na porta do Céu, que estava trancada, como que a filtrar luzes e deixar filtrar esperanças de que ela seria aberta pelo Salvador que deveria vir. Isto tudo se deu desde o primeiro momento do nascimento de Nossa Senhora...
A presença d’Ela na terra era ocasião de graças insignes porque era a criatura mais contemplativa de todos os tempos, em relação a qual nenhuma outra contemplativa nem teve, tem ou terá paralelo. Ela possuía uma irradiação pessoal e uma ação de presença tão rica em bênção que era o prenúncio da vinda de Nosso Senhor.
E então a entrada desta bênção, a entrada desta graça, desta ação direta e pessoal na história do mundo é incomparável! E por causa disso, a Natividade de Nossa Senhora é uma festa que nos deve ser caríssima, é uma festa que nos deve falar muito, pois é a festa do início da derrubada do paganismo.
Nós poderíamos dizer que há alguma relação disto com a situação do mundo contemporâneo? Existe.
Na época presente há como que uma nova interferência de Nossa Senhora na história do mundo que atua nas trevas do neo-paganismo.
O fato de Nossa Senhora suscitar almas que já anseiam pelo Reino de Maria, que pedem a vinda do Reino de Maria, lutam para que o Reino de Maria venha, estas almas são – “mutatis mutandis”, ou seja, com todas as devidas adaptações e reservas – como que Nossa Senhora no Antigo Testamento. Ainda não veio o triunfo do Imaculado Coração de Maria, mas sim algo que é o prenúncio desse triunfo e que já começa a difundir  as suas graças, começa a determinar também movimentos entusiásticos de adesão. Isto é algo como uma Natividade que se repete e que prepara o  Reino de Maria, profetizado por Ela em Fátima.
Os senhores vêm, portanto, que esta data é da maior significação.  Oremos a Ela pedindo, pondo como fundamento na Sua Natividade, e assim como Ela veio à terra e imediatamente começou a pedir o advento do Messias e que acabasse aquele estado de coisas envolto pelo pecado, Ela nos dê um desejo ardente do Reino de Maria. Um desejo que nos arrebate por inteiro, um desejo sapiencial, refletido, ponderado, sério, profundo que não deixe em nossa alma apego a mais nada.
Esta seria, então, a nossa oração na noite de hoje.

(Santo do Dia, 8 de setembro de 1966)



domingo, 27 de agosto de 2017

O COLÓQUIO DE SANTO AGOSTINHO COM SANTA MÔNICA




Plinio Corrêa de Oliveira

No dia 28 passado, tivemos a festa de Santo Agostinho e não pudemos fazer um comentário de um trecho famoso de sua autobiografia. Aliás, recomendo muito este livro, as “Confissões” de Santo Agostinho, desde que a pessoa saiba lê-lo. Porque ele tem algumas digressões filosóficas que não estão ao alcance de qualquer leitor, mas a parte propriamente biográfica, que já de si é magnífica, é acessível e é estupenda!

Nas “Confissões” há um trecho especialmente magnífico: é chamado o “Êxtase de Óstia” ou o “Colóquio de Óstia”. Hoje em dia se diria o “diálogo de Óstia”.

O episódio é o seguinte: a mãe de Santo Agostinho, Santa Mônica (331–387), passou uns trinta anos ou mais chorando a pedir a Deus a conversão de seu filho. Parecia que quanto mais ela rezava, esta conversão se tornava mais longínqua. Até que, de desatino em desatino, Santo Agostinho acabou por comer as bolotas dos porcos e começou um processo de conversão que fez dele o grande Doutor da Igreja.

Santo Agostinho, já convertido, e Santa Mônica resolveram voltar para a África do Norte, naquele tempo inteiramente romana, e mais especificamente para a cidade de Cartago, de onde eram naturais, para ali residirem. E assim percorreram uma certa parte da Itália para tomar um navio em Óstia, que é um porto pequeno perto de Roma, mas que tinha naquele tempo uma certa importância. De lá iam seguir para a África.

Encontravam-se então numa hospedaria de Óstia, encostados junto a uma janela e começaram a conversar a respeito de Deus e das coisas do Céu, quando os dois juntos tiveram um êxtase.

Santo Agostinho relata este colóquio extraordinário e é um dos trechos mais famosos das “Confissões”. Poucos dias depois Santa Mônica morria, ainda estando na cidade de Óstia. Sua missão na terra estava cumprida e Nosso Senhor a chamou ao Céu para gozar do prêmio que merecia.

Então, o último lance de sua vida foi exatamente a alegria de ter na terra com o filho este colóquio, que era um prenúncio, um antegozo da visão beatífica. Tenho a impressão que qualquer um de nós que passasse por Óstia, gostaria de ver se ainda existe essa hospedagem.

Resolvi ler aqui a narração desse colóquio, porque é um página célebre e abre os nossos horizontes para os grandes portentos na perspectiva da hagiografia e da doutrina católica. O trecho é extraído diretamente das “Confissões”:

“Próximo já do dia em que ela ia sair desta vida - dia que Vós conhecíeis e nós ignorávamos...”

Estas interpelações diretas de Santo Agostinho a Deus são magníficas. Os senhores deveriam ler os “Solilóquios” de Santo Agostinho, que há em nossa biblioteca e que são qualquer coisa de absolutamente estupendo.

“...sucedeu, segundo creio, por disposição de Vossos secretos desígnios, que nos encontrássemos sozinhos, ela e eu, apoiados a uma janela cuja vista dava para o jardim da casa onde morávamos. Era em Óstia, na foz do Tibre, onde, apartados da multidão, após o cansaço duma longa viagem, retemperávamos as forças para nos embarcarmos.

 “Falávamos a sós, muito docemente, esquecendo o passado e dilatando-nos para o futuro. Na presença da Verdade, que sois Vós, alvitrávamos qual seria a vida eterna dos santos, que 'nunca os olhos viram, nunca o ouvido ouviu, nem o coração do homem imaginou'.”

Vejam que beleza: dois santos conversando sobre qual seria a vida eterna dos santos, e a alegria de Santa Mônica em sentir aquele filho perdido que agora estava incendiado de desejos de contemplar o Céu. É uma verdadeira maravilha!

“Sim, os lábios do nosso coração abriam-se ansiosos para a corrente celeste da nossa fonte, a fonte da Vida, que está em Vós, para que aspergidos segundo a nossa capacidade, pudéssemos de algum modo pensar num assunto tão transcendente.”

Faço notar aos senhores a maravilha da expressão “os lábios do coração”... quer dizer, aquilo por onde o coração bebe, por onde o coração sorve, estavam abertos para receber de Deus aquilo que nesta vida terrena se pode receber a respeito das alegrias do Céu.

“Encaminhamos a conversa até a conclusão de que as delícias dos sentidos do corpo, por maiores que sejam e por mais brilhante que seja o resplendor sensível que as cerca, não são dignas de comparar-se à felicidade daquela vida, nem mesmo que delas se faça menção. Elevando-nos em afetos mais ardentes por essa felicidade, divagamos gradualmente por todas as coisas corporais até ao próprio céu, donde o sol, a lua e as estrelas iluminam a terra.”

É uma verdadeira procura do absoluto. Eles começaram a considerar: primeiro as coisas da terra, que lisonjeiam os sentidos, porque estavam no Império Romano decadente, em que havia fortunas fabulosas e pessoas que tinham luxo para deleitar os sentidos de que os srs. não têm idéia. Então, o primeiro confronto é da felicidade celeste para a felicidade dos homens, que no tempo do Império, eram tidos como felizes. Resposta: isto não é nada. Então, começam a perguntar: como é então? E começam a percorrer os céus, a imaginar com os dados do céu material e visível, como seria o paraíso celeste material, mas invisível, e como seria a glória da visão beatífica que neste paraíso se goza. É este o esquema da conversa deles. Então continua:

“Subíamos ainda mais em espírito, meditando, falando e admirando as Vossas obras. Chegamos às nossas almas e passamos por elas para atingir essa região de inesgotável abundância, onde apascentais eternamente Israel com o pastio da verdade. Ali a vida é a própria Sabedoria, por Quem tudo foi criado, tudo o que existiu e o que há de existir, sem que ela própria se crie a si mesma, pois existe como sempre foi e como sempre será. Antes, não há nela 'ter sido', nem 'haver de ser', pois simplesmente ‘é’, por ser eterna.”

Ou seja, depois de ter considerado todas as coisas materiais, começaram então a considerar a alma como elemento para se ter algo da idéia da beleza, da perfeição de Deus. E depois de considerar a alma, chegaram à conclusão de que no ápice de tudo isto figurava a Sabedoria Eterna e Incriada. Essa Sabedoria que é eterna, que não tem passado, nem presente e nem futuro. Foi nessa consideração sapiencial, suprema, que os espíritos deles se detiveram.

“Enquanto assim falávamos, anelantes pela Sabedoria...”

Quer dizer, visando conhecer a Deus enquanto Sabedoria, enquanto fim e explicação de todas as coisas. Os senhores vêem como isto é diferente de uma meditação “heresia branca”.

“...atingimo-la momentaneamente num vislumbre completo do nosso coração.”

É o êxtase. Enquanto conversavam a respeito dessas coisas, conduzidos pela graça de Deus, em certo momento a Sabedoria se revelou a eles, e tiveram um fenômeno místico por onde viram Deus.

Os senhores vêem que é algo muito natural: são dois santos que tem uma conversa que é uma oração; esta vai subindo de voo, de ponto em ponto, e quando chega ao seu ápice, então lhes aparece Deus Nosso Senhor, mas aparece de maneira a fazê-los conhecer enquanto Sabedoria Eterna. E tudo isto com tanta simplicidade,   numa janela de uma hospedaria de Óstia...

“Suspiramos e deixamos lá agarradas as primícias de nosso espírito.”

Quer dizer, o que havia de melhor neles ficou na visão, não voltou para a terra.

“...Voltamos ao vão ruído dos nossos lábios, onde a palavra começa e acaba. Como poderá esta, meu Deus, comparar-se ao Vosso Verbo, que subsiste por si mesmo, nunca envelhecendo e tudo renovando?”

Aqui está uma insinuação de que Deus lhes disse uma palavra. Naturalmente é o Verbo. E que isto que foi dito por Deus sobre Sua própria Sabedoria, foi qualquer coisa tal que o que continuassem a conversar seria um balbucio. A visão cessou e as palavras deles eram umas coisas vazias à vista do que Deus havia revelado de Si mesmo.

“Dizíamos pois: suponhamos uma alma onde jazem em silêncio a rebelião da carne, as vãs imaginações da terra, da água, do ar e do céu...”

É a doutrina dos quatro elementos.

“Suponhamos que ela guarde silêncio consigo mesma, que passa para além de si, nem sequer pensando em si; uma alma na qual se calem igualmente os sonhos e as revelações imaginárias, toda a palavra humana, todo o sinal, enfim, tudo o que sucede passageiramente.

“Imaginemos que nessa mesma alma existe o silêncio completo, porque se ainda pode ouvir, todos os seres lhe dizem: ‘Não nos fizemos a nós mesmos, fez-nos O que permanece eternamente’. Se ditas estas palavras os seres emudecerem, porque já escutaram quem os fez, suponhamos então que Ele sozinho fala, não por essas criaturas, mas diretamente, de modo a ouvirmos a sua palavra, não pronunciada por uma língua corpórea, nem por voz de Anjo, nem pelo estrondo do trovão, nem por metáforas enigmáticas, mas já por Ele mesmo.

“Suponhamos que ouvíamos Aquele que amamos nas criaturas, mas sem o intermédio delas, assim como nós acabávamos de experimentar, atingindo num vôo de pensamento, a Eterna Sabedoria que permanece imutável sobre todos os seres”.

Quer dizer, ele imagina uma alma que não cogita de nada mais criado, que consegue abstrair de tudo e que de repente ouve uma palavra de Deus que diz alguma coisa a respeito de Si próprio.

“Se esta contemplação continuasse e se todas as outras visões de ordem muito diferente cessassem, se unicamente esta arrebatasse a alma e a absorvesse, de modo que a vida eterna fosse semelhante a este vislumbre intuitivo - a visão beatifica - pelo qual suspiramos, não seria isto a realização do “entra no gozo do teu Senhor”? E quando sucederá isto? Será quando todos ressuscitarmos? Mas então não seremos todos transformados?”

Ele afirma então que se uma alma pudesse ficar eternamente apenas naquele vislumbre, já teria um prazer paradisíaco inefável, extraordinário.

“Ainda que isto, dizíamos, não pelo mesmo modo e por estas palavras, contudo, bem sabeis, Senhor, quanto o mundo e os seus prazeres nos pareciam vis, naquele dia quando assim conversávamos. Minha mãe acrescentou ainda: ‘Meu filho, quanto a mim, já nenhuma coisa me dá gosto nesta vida. Não sei o que faço ainda aqui, nem porque ainda cá esteja, esvanecidas já as esperanças deste mundo. Por um só motivo desejava prolongar um pouco a minha vida: para ver-te cristão e católico, antes de eu morrer. Deus concedeu-me esta graça superabundantemente, pois vejo que já desprezas a felicidade terrena para servirdes ao Senhor. Que faço, eu, pois, aqui?’”

Dias depois ela morreu.

Santa Mônica, nesta visão, teve o prenúncio de sua própria morte, compreendeu que não tinha nada mais para fazer. Agora os senhores considerem a diferença de uma grande santa com uma mãe piegas. Esta última diria: “Agora que meu filho está convertido, começou para mim a vida! Eu vou ouvir os sermões dele, vou ver suas obras, vou viver com ele uma vida gostosinha na casa episcopal, admirando a virtude e o talento daquele que eu gerei para a vida natural e que eu arranquei, pelas minhas orações, à morte eterna, para dar um grande santo. Agora é que está bom...”

Santa Mônica não queria ver seu filho para nada disso. Ela o queria para Deus. Quando sentiu que Santo Agostinho estava nas mãos de Deus, não quis perder  tempo vendo-o servir a Deus. Alguns dias depois ela expirou.

É uma grande santa e seu último grande lance da vida narrado por um grande santo.

Aí vemos um pouco o que é a vida de um santo, quando não é descrita por um “heresia branca”. Os senhores vêem quantas coisas há de comum com essa narração – e das quais já tinha me esquecido inteiramente – com as conferências sobre a “Procura do Absoluto” e temas conexos que temos feito aqui ultimamente.

 

(Conferência “Santo do Dia”, 31 de agosto de 1965)

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

HÁ MAIS DE 30 ANOS QUE SE PERSEGUEM CATÓLICOS NA VENEZUELA



FATOS QUE CULMINARAM COM O FECHAMENTO DA TFP DA VENEZUELA em 1984

Os fatos narrados a seguir, extraídos de uma obra da TFP publicada na época em que os mesmos ocorreram, mostram os antecedentes da nuvem negra comunista que começou a baixar sobre a Venezuela já desde os anos 80 do século passado. Ao mesmo tempo prenuncia que tipo de perseguições poderão estar ocorrendo neste momento contra as entidades cívicas ou religiosas naquele país que combatem ou pelo menos não concordem com a ideologia marxista.

A história de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela, relata o fato de que o índio jogou uma pedra na imagem da Virgem Santíssima quando esta lhe apareceu para lhe transmitir uma mensagem divina. A imagem permaneceu milagrosa e indelevelmente gravada na pedra, fato que motivou a conversão do índio. A perseguição aos filhos e devotos de Nossa Senhora ocorrida em 1984 pode significar atitude semelhante à do índio que atirou a pedra na mensageira divina. Esperamos que algo possa acontecer nos dias de hoje, de uma forma ou de outra, que possa converter a Venezuela e a faça voltar aos braços da Virgem Maria. Só desta forma a tirania comunista poderá um dia ser definitivamente banida daquele país.

Eis o relato do que ocorreu naquele ano:

1984

Lei iníqua, campanha de Resistência

JUNHO – Ante a possível aprovação de projetos de lei submetidos à consideração do Congresso, e que poderiam afetar a fundo o futuro do País, a Associação Civil Resistência julga seu dever fazer ouvir sua voz no campo dos princípios. Publica então o manifesto O socialismo gerou a maior crise sócio-econômica das últimas décadas – e a lei de Custos, Preços e Salários vai agravá-la (29). O documento mostra que a Venezuela foi sendo conduzida gradualmente para onde não queria nem devia ir: rumo ao Estado socialista. O semanário "Tribuna Popular", do Partido Comunista, ataca violentamente, em primeira página, a campanha de Resistência.

36 dias depois...

AGOSTO – Trinta e seis dias depois da campanha de Resistencia a respeito da lei de Custos, preços e salários, o governo socialista do Presidente Lusinchi começa a desencadear contra a entidade o mais violento "estrondo publicitário" da história do País, dando origem a verdadeira perseguição ideológico-religiosa.

A polícia caraquenha invade o imóvel da sede social da entidade, alegando ter recebido denúncia (anônima) de que ali havia menores seqüestrados. Procede ela à vistoria, obviamente nada encontrando.

Depois de um pequeno hiato, a campanha publicitária toma no mês de outubro proporções gigantescas. Em poucas semanas, 600 notícias de jornais contra Resistência são publicadas tão-só em Caracas (das quais 100 em apenas dois dias...), sendo levadas ao ar nada menos que 20 horas de programação de TV. As acusações estapafúrdias se repetem sem cessar, como, por exemplo, a de que todos os anos, no mesmo dia, um membro de Resistência pratica o suicídio ritual. À longa lista de absurdos não podia faltar a calúnia, já desmentida e desprestigiada no Brasil, de que a TFP deste País havia promovido exercícios de tiro, utilizando como alvo uma foto de João Paulo II (*).

(*) Em muitas das acusações então veiculadas contra Resistência pode-se reconhecer o estilo do norte-americano Lyndon La Rouche, mentor de uma rede de organizações cívicas, culturais, financeiras e políticas, e de uma cadeia de agências de notícias, a qual, segundo foi possível comprovar, alimentou de inverdades delirantes o "estrondo" venezuelano em toda a duração dele (cfr. "Ultimas Noticias", Caracas, 13-10-84 e "2001", Caracas, 14-2-85). Posteriormente, Lyndon La Rouche foi condenado a 15 anos de prisão pela Justiça norte-americana, por estelionato ("Folha de S. Paulo", 28-1-89).

Resistência e o Bureau Tradicão, Família, Propriedade (também atingido pelo "estrondo") se defendem serenamente, refutando uma a uma, sem exceção, todas as acusações concernentes a seus respectivos âmbitos. As portas das redações dos jornais se fecham para suas respostas, mas elas são publicadas como anúncios pagos. Não há tréplicas. Os promotores do "estrondo publicitário" retomam as mesmas acusações, como se nada tivesse sido dito pela TFP em sua defesa.

De seu lado, Ministros do Governo Lusinchi se associam ao coro, comparecendo diversas vezes à televisão para atacar Resistência.

Dramática atuação

Cinco ou seis famílias – os jovens de Resistência eram cinqüenta – se mostram inconformes com o fato de seus filhos colaborarem com Resistência. De início, começam a molestá-los. Depois se põem a difamar publicamente o conjunto dos jovens de Resistência, entre os quais seus próprios filhos, pela imprensa e televisão, fato inconcebível, e até do qual o público venezuelano não conhece precedentes. Pouco depois, pedem à Procuradoria Geral da República e à Polícia Política (DISIP) que coarctem a liberdade de movimento dos jovens de Resistência, proibindo-os – a eles que são, todos, maiores de idade – de ausentar-se do País, e ao mesmo tempo solicitam aos corpos de segurança do Estado que os interroguem em presença de psicólogos, para estabelecer se sofreram "lavagem cerebral" em Resistência ou na TFP brasileira, que haviam visitado durante as férias.

Os órgãos policiais do Governo socialista Lusinchi, que pareciam não esperar senão exatamente pela desconcertante iniciativa dos pais inconformes, no dia seguinte ao pedido se colocam em ação, começando imediatamente os interrogatórios e prolongando-os por oito dias. Alguns dos jovens têm que permanecer até onze horas consecutivas na polícia, sem que lhes seja permitido comer e, em muitos casos, nem beber. A ferocidade policial é alternada com provocações e diversos processos de pressão moral e psíquica (*).

(*) Tudo lhes foi perguntado, desde qual era a influência da cor vermelha em sua vida, até assuntos íntimos. Ou relativos à liturgia! Ao mesmo tempo, mulheres da polícia os ultrajavam, com convites lascivos, narrações obscenas, e caçoadas. Alguns tiveram que se submeter a exames toxicológicos, testes psiquiátricos e neurológicos e "avaliações" antropométricas.

A sede de Resistência volta a ser vistoriada (e o é quatro vezes em poucas semanas...), sem que seja possível impugnar de forma documentada a associação no que quer que seja. Diante da nítida perseguição policialesca, esses jovens (o mais velho mal chegava aos 30 anos) professam sua fé católica e se mantêm firmes na sua adesão aos princípios da organização que integram. Seria, portanto, de esperar que da parte da Hierarquia da Igreja da Venezuela lhes chegasse alguma palavra de conforto. Em vez disto, Resistência é atacada publicamente por um Bispo e vários Sacerdotes. O Cardeal José Ali Lebrun, Arcebispo de Caracas (que recebera em seu Palácio, abençoara e desejara sorte ao candidato presidencial marxista, o ex-guerrilheiro comunista Teodoro Petkoff), nega-se a receber os membros de Resistência quando estes lhe solicitam uma entrevista, e até quando a ele recorrem pelo telefone, o Prelado corta a ligação depois de lhes fazer uma áspera invectiva. Nos mesmos dias, recebe demoradamente em audiência o grupinho de pais hostis. Nenhum dos membros do Episcopado venezuelano responde, nem sequer nos limites mínimos de cortesia prescritos pelas boas praxes, a uma filial e respeitosa circular, em que Resistencia pede alguns esclarecimentos e se põe à disposição para qualquer elucidação.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito

Na segunda semana de novembro, o "estrondo publicitário" é marcado, sobretudo, por uma tumultuosa sessão da Comissão de Política Interior do Congresso para interpelar os dirigentes de Resistência. Nela, os discursos anti-Resistência se sucedem, e os dirigentes da entidade têm poucas oportunidades para se fazerem ouvir. O discurso inicial, do deputado David Morales Bello, Presidente da Comissão, já prejulga Resistência, pois afir­ma tratar-se de uma associação legal apenas na aparência, mas ilegal nos fatos, por violar a Constituição. O deputado não aduz qual­quer prova a suas acusações. Os outros dis­cursos são do mesmo gênero: a Comissão con­dena Resistência antes mesmo de começar a ouvi-la...

Em sentido contrário, o Dr. José Rodri­guez Iturbe, democrata-cristão, atual Presi­dente da Câmara de Deputados, levanta-se pa­ra pedir que seja examinado, antes de mais nada, se há provas dos fatos alegados, e quais deles são ilegais. Sua proposta é acolhida agressivamente pela mesa, originando-se daí até um incidente.

A suspensão das atividades por decreto

O fechamento de Resistência e do Bu­reau pelo governo socialista sobrevém no dia 13 de novembro de 1984, em meio a uma sucessão frenética de acontecimentos.

No dia anterior, o Comitê Executi­vo da Ação Democrática, partido integran­te da Internacional Socialista, ao qual es­tá filiado o Presidente Lusinchi, pedira formalmente que Resistência fosse fecha­da, e que não se permitisse sua atuação no País.

Pela manhã do dia 13, realiza-se um de­bate na TV, de quase três horas, ao qual com­parecem os jovens de Resistência, tendo ter­minado com nítida vantagem para estes, co­mo prova o fato de o Governo ter proibido a reprise do programa, já anunciada pela emissora de televisão.

Estranhamente, como "adivinhando" que algo de sensacional estava por suceder, um batalhão de jornalistas e fotógrafos apre­senta-se nos portões da sede, acompanhados pelos pais inconformes. Surge também uma chusma de agitadores (alguns dos quais por­tando paus e facões) liderados por dois depu­tados socialistas dos que mais se destacaram na luta contra Resistência.

A polícia é prevenida com insistência pe­la entidade visada, entretanto não compare­ce. Seguem-se brados de slogans, o arromba­mento do grande portão, a invasão dos jar­dins e o apedrejamento da sede. Tudo com transmissão simultânea pela TV.

No começo da noite, quando o show re­volucionário chega a seu climax, comparece diante das câmaras de televisão o Ministro da Justiça, Manzo Gonzales, e lê o decreto da suspensão das atividades de Resistência e do Bureau, decreto esse assinado por ele e pe­lo Ministro do Interior, Octavio Lepage, em nome do Presidente Lusinchi.

Até adversários estranham

Nos dias seguintes, conhecidas persona­lidades do mundo político, jurídico e jornalís­tico venezuelano – inclusive o ex-presidente Rafael Caldera – saem a público para mani­festar sua estranheza ante a medida ditatorial do Governo Lusinchi. A maioria delas diz não concordar com Resistência, mas verbera com vigor esse atentado contra o regime de li­berdade, juridicamente vigente no País (cfr. "Catolicismo", n° 410, fevereiro de 1985). O Cardeal Lebrun, contudo, declara que "as autoridades competentes do País atuaram con­forme as leis do Estado proibindo o funciona­mento da organização" (30).

A TFP brasileira fez publicar comunica­do intitulado Perseguição ideológico-religio­sa na Venezuela – Nuvem negra baixa sobre o País irmão, o qual põe em realce a inocên­cia de Resistência e o inequívoco caráter per­secutório da atitude governamental (31). Es­se comunicado foi publicado pelas diversas TFPs um pouco por toda parte, em toda a América do Sul.

Declaração de inocência

A batalha prosseguiu, entretanto, jun­to ao Poder Judiciário, onde tramitavam vá­rios processos de caráter penal, civil e admi­nistrativo em que Resistência e o Bureau ora eram autores, ora réus. Os mais importantes eram duas averiguações penais, que termina­ram, ambas, inocentando completamente Resistência. A primeira dessas vitórias se concre­tizou em 19 de dezembro de 1984, quando a Procuradoria (Fiscalía) Geral da Nação desis­tiu de formalizar recurso à Corte Suprema de Justiça contra a sentença absolutória das instâncias inferiores, com o que foi encerrada a investigação originada da primeira vis­toria na sede da entidade – em agosto de 1984 – por não existir nada que indicasse a prática de qualquer delito por parte dos mem­bros da associação.

No segundo processo penal houve mui­tas delongas e vicissitudes; finalmente, no dia 30 de dezembro de 1985, o Juiz do 14° Juiza­do Criminal de Primeira Instância do Distri­to Federal, Dr. Saúl Ron Braasch, declarou terminada a averiguação judicial "por não se revestirem de caráter penal os fatos denuncia­dos". E no dia 15 de maio de 1986 o Juiz do 10° Juizado Superior Criminal proferiu senten­ça definitiva, que confirmou a decisão de pri­meira instância, declarando que a ação penal estava extinta por se tratar de coisa julgada.

Era o veredito inapelável da Justiça, mostrando que a atroz perseguição movida pelo Governo Lusinchi carecia de qualquer fundamento.

Exílio

Mas, como se compreenderá facilmente à vista dos fatos acima narrados, considerando o procedimento violento e arbitrário do go­verno, os militantes de Resistência se sentiram privados do benefício das garantias legais con­feridas aos cidadãos venezuelanos pela consti­tuição. E entenderam ser preferível deixar sua Pátria querida, à espera de dias melhores em que pudessem retornar para servir nela a cau­sa da civilização cristã. Em conseqüência, estão eles hoje colaborando, em sua grande maioria, com as TFPs de outros países.

Asociación Civil Resistencia

Presidente: Francisco Dorronsoro Basterrica

Vice-Presidente: Francisco Berrisbeitia Hernandez

Notas (neste excerto só foram consideradas as notas de número 29 em diante)

(29) Publicado em "Resistencia en 30 dias"; "El Universal" e "El Mundo", 26-6-84, e difundido em campanhas de rua.

(30) "El Universal", Caracas, 17-11-84.

(31) "Folha de S. Paulo", 14-11-84; e "A Tribuna", São Carlos (SP), 25-11-84. Resumo do comunicado foi divulgado pe­la France Press em despacho de 16-11-84; "Folha de S. Pau­lo", 16-11-84; "Jornal da Ba­hia", Salvador, "Última Hora", Rio e "Jornal do Brasil", Rio, todos em 17-11-84; "Diário de Pernambuco", 18-11-84; "O Es­tado do Paraná", 20-11-84; "O Dia", Rio, "Tribuna do Cea­rá", Fortaleza, "Correio Bra­ziliense", todos em 21-11-84; "A Tarde", Salvador, 24-11-84; "Jornal do Comércio", Recife, 25-11-84; "Diário do Povo", Campinas (SP), 28-11-84; "O Jornal", Uruguaiana (RS), 29-11-84.

(UM HOMEM, UMA OBRA, UMA GESTA – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira – Edições Brasil de Amanhã – São Paulo – págs. 389/391





domingo, 6 de agosto de 2017

A QUEM APROVEITA A VENEZUELA SER DOMINADA POR REGIME COMUNISTA?




A situação do mundo hoje é convulsa e difícil de ser compreendida. Isto porque as coisas que ocorrem parecem não ter lógica, o homem moderno perdeu completamente o sentido de direção, de rumo, de saber para onde vai  o que fazer da vida. E isso ocorre também com governos e até nações inteiras.
Vejamos a situação da ideologia que dominou quase que completamente o século passado: o marxismo e sua consequência política mais imediata que é o comunismo, ou, como alguns chamam também o “capitalismo de Estado”, quando todas as riquezas, fontes de produção e de serviços, além de todos os cidadãos, passam a pertencer única e exclusivamente ao Estado. Vai completar um século que ocorreu um golpe para implantar este regime na Rússia, sendo chamado originalmente de “ditadura do proletariado”. Aos poucos este regime foi invadindo (pela força, astúcia e  rios de dinheiro) os países vizinhos da Rússia, formando um conglomerado de nações cativas sob a alcunha de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em pouco tempo já se implantava no mundo o maior império de que a História já se ouviu falar, dominando a China, grande parte de países asiáticos e da África.
Nas Américas, houve várias tentativas de se implantar tal regime, sendo uma das mais violentas a do México, a menos de dez anos após o golpe na Rússia.  Mas, tanto lá como em outros países, tipo Brasil, Argentina e Chile, além de outros da América do Sul assolados por guerrilhas cruéis, tais tentativas foram frustradas graças a sadias reações das populações. Somente em Cuba tal regime se fez implantar nas Américas, perdurando até hoje com quase sessenta anos de todo tipo de violências e misérias que lhe são afins.
No entanto, a partir da última década do século passado a ideologia marxista comuno-socialista começou a perder fôlego. Vários países se livraram da opressão comunista, como a Hungria, a Polônia, a Lituânia, no Leste Europeu. A própria Rússia abrandou a ditadura do proletariado e instituiu um regime de meias liberdades, sendo porém dominado por partido único (o PC) até hoje. De outro lado, os partidos comunistas e socialistas mais poderosos do mundo começaram a minguar por falta de contingentes ou carência de audiências. O PC italiano, por exemplo, era o mais rico e poderoso do Ocidente, e hoje vive à míngua. Os partidos socialistas mais poderosos dominavam a política na França, Espanha, Portugal  e Grécia, mas já não se pode dizer o mesmo hoje, embora continue a influenciar na promulgação de leis de cunho nitidamente socialistas. O que queremos destacar, porém, é que mediante o fracasso retumbante da doutrina e dos princípios marxistas implantados em vários países, tudo em torno deles fenece e tende a morrer de inanição.
Como se justifica, então, que após um século da primeira experiência comunista na Rússia haver demonstrado seu mais terrível fracasso através dos anos ainda surjam políticos que queiram implantá-la em seu país? Como entender que a Venezuela possa trilhar pelo mesmo caminho já tão sobejamente provado da pobreza, da fome e da miséria, que é a consequência do regime marxista, seja comunista ou socialista?
Talvez a resposta esteja numa tática diferente que a Revolução universal quer aplicar no mundo. Não, o rumo mais avançado da Revolução hoje já não é mais o velho e decrépito comunismo. Muito mais avançou ela (a Revolução universal) na Europa com a corrupção moral e dos costumes, com a retumbante licenciosidade e liberdade sexual e da promiscuidade estonteante nos costumes sociais e morais daquela sociedade. Avançou porque corrompeu e deixou toda a Europa sujeita, por exemplo, ao avanço do islamismo sem provocar qualquer comoção ou reação de rechaço. Mole e sensual, nada faz o europeu para enfrentar a tão absurda “invasão” muçulmana, pior do que se fosse dominado por regime comunista. Acomodou-se também com leis facínoras como as do aborto e eutanásia, ou com leis imorais como aprovação de casamentos homossexuais, gozando placidamente uma vida cheia de deleites sem se incomodar com o resto do mundo, se há guerras e injustiças em outros povos. Fora isso, lá não se fala mais em socialismo, comunismo, marxismo ou coisas congêneres. A fim de manter este clima de vida gozosa e fruitiva, sem qualquer perturbação aparente, a visão de uma regime comunista deve ser afastada para longe.
Mas, alguma coisa nova surgiu por lá e ganha corpo no resto do mundo. É a Revolução feita pelas tão decantadas “redes sociais”. Ela já se fez presente em alguns países. Operou com sucesso na famosa “primavera árabe”, derrubando governos como o do Egito, e já se fez presente na Europa com o movimento chamado de “Indignados”. Nos Estados Unidos teve um similar, com o título de “Ocupem Wall Street”. Esta Revolução, feita assim de forma mágica através das redes virtuais, nada produziu de positivo até agora. Por que? Porque ela mesma se define como sem meta, sem rumo, sem governo, sem partido, enfim, promove caos e anarquia. Sua bandeira é apenas um rosto fantasmagórico com o nome de “anonymus”, indicando que não tem nome, além de não ter rumo certo.
De onde vem tudo isto? Tudo indica que o manual que orienta tais grupos foi elaborado pelo americano Gene Sharp, que tem o nome de “como fazer uma revolução pacífica” ou coisa que o valha. E mesmo que alguns não sigam o manual diretamente, de uma forma indireta sofrem os efeitos do mesmo por aqueles que o aplicam e divulgam suas normas. Por exemplo, todos estes movimentos se dizem “espontâneos”, como se tivessem surgido naturalmente e não pertençam a grupos organizados; não podem ter partidos políticos ou ostentar bandeira disso ou daquilo, tem que ser anônimo, sem ideologia. E se algum grupo se apresenta desta forma está aplicando a tática ensinada por Gene Sharp, Tais métodos de ação são divulgados profusamente via internet.
E que ligação tem o problema da Venezuela com isso? É que a Revolução precisa mostrar ao público um alvo para que essa Revolução seja detonada. E nada mais visível para ser combatido do que um regime comunista nas Américas, implantado exatamente num país outrora senão rico pelo menos em ascensão e há anos sob domínio de leis e governos socialistas. Assim fica mais fácil unir muita gente em torno das redes sociais e combater o inimigo comum. E nisso pode haver muitas vantagens como derrubar um regime opressivo, ditatorial e difusor de fome e misérias. Mas, há também muitas desvantagens como, por exemplo, deixar a sociedade no caos, sem rumo, porque eles não apresentam solução para o que vem depois. O “anonymus” quer apenas o “direito” de estar na rua fazendo protestos, queimando pneus, atirando pedras, destruindo tudo como os “Black blocs”, não possui nenhuma proposta positiva de reconstrução da sociedade em sólida bases morais. Quando Maduro cair, haverá uma organização mais presente nas redes sociais para fazer o mesmo com os que virão depois, sejam comunistas ou não.

A história de Nossa Senhora de Coromoto, a Padroeira da Venezuela, diz um pouco sobre o que espera a Providência daquele povo. A história conta que a Santíssima Virgem Maria apareceu a um cacique na aldeia de Coromoto, mas o mesmo jogou-lhe uma pedra. Naturalmente, a imagem sumiu sem sofrer os efeitos da pedrada, mas ela ficou para sempre gravada milagrosamente na pedra que o índio jogou, e até hoje pode ser vista indelevelmente. Perante tal milagre, o índio se converte com todo seu povo. Assim, a “pedrada” de hoje pode ser a implantação do comunismo, mas espera-se que a Providência reverta isso de forma milagrosa e produza efeitos contrários completamente alheios e diferentes daqueles que os “anonymus” querem disseminar na Venezuela, fazendo com que aquele povo retome o rumo de uma verdadeira civilização cristã. 

SANTA LÍDIA E A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NA EUROPA



Assim era chamada a Santa por causa de sua origem: Lídia era uma província do Egito, colonizada pelos filhos de descendentes de Ludim (Gen 10, 13). Soldados ludianos muitas vezes tomaram parte em guerras contra o Povo Eleito (Jer 46,9; Ez 27, 10, e I Mac 4, 25).  Nossa santa era natural da cidade de Tiatira, mas residindo em Filipos, na Macedônia, onde o Apóstolo São Paulo, em companhia de Silas, Timóteo e Lucas, chegou na segunda viagem missionária, entre os anos 50 e 53.
Tiatira que ficava, pois, na região chamada Lídia, na parte ocidental da Ásia Menor, era conhecida pela sua indústria de tingimento e é provável que Lídia tivesse aprendido ali as habilidades que vieram a tornar-se a sua profissão. A existência de fabricantes de corante tanto em Tiatira como em Filipos é comprovada por inscrições descobertas por arqueólogos. É possível que Santa Lídia se tivesse mudado por causa do trabalho, quer para cuidar do seu próprio negócio, quer como representante de alguma firma de tintureiros tiatirenos, não se sabe ao certo. Mais tarde, já em Filipos, Lídia vendia a púrpura tíria[i], quer o corante, quer o vestuário e tecidos tingidos com ele. Parece que era ela quem dirigia a sua casa, o que pode ter incluído escravos ou servos, e, portanto, possivelmente era viúva ou solteira, haja vista que não se menciona se era casada.
O corante púrpura era extraído de várias fontes. O mais caro era de certos tipos de moluscos marinhos. Segundo Marcial, poeta romano do Século I, um manto da mais fina púrpura de Tiro, outro centro fabricante dessa substância (sempre citada ao lado de Sidônia), chegava a custar 10.000 sestércios, ou 2.500 denários, o equivalente ao salário de 2.500 dias de um trabalhador. É óbvio que essas roupas eram artigos de luxo ao alcance de poucos.
Santa Lídia é descrita por São Lucas, nos Atos dos Apóstolos, como "adoradora de Deus", o que indica que poderia ser uma gentia convertida ao judaísmo.
Pelo fato de negociar com tecidos é a padroeira dos tintureiros, tendo sido a primícia do cristianismo na Europa. Os missionários de Cristo, após terem pisado o solo europeu, aguardaram o sábado para encontrar os correligionários hebreus em algum lugar, na margem do rio Gangas, onde presumiam que eles pudessem se reunir (na falta de uma sinagoga) para a oração em comum e para a leitura de alguma página da Escritura. Assim descreve São Lucas como ocorreu este encontro:
"No sábado, saímos porta afora, às margens do rio, onde supúnhamos que se fizesse oração. Sentados, dirigimos a palavra às mulheres que se haviam reunido. Uma delas, chamada Lídia, negociante de púrpura, da cidade de Tiatira, adoradora de Deus nos escutava. O Senhor lhe abriu o coração, de sorte que ela aderiu às palavras de Paulo. Tendo sido batizada ela e a sua família, fez este pedido, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e ficai nela. E forçou-os (a isto). (At 16, 11-15).
Supõe-se que Lídia fosse abastada e tivesse muita autoridade na família, uma vez que o tecido com que trabalhava era precioso, e seu testemunho foi suficiente para que seus familiares pedissem o batismo, aceitando os missionários em casa como hóspedes. Sabe-se também que São Paulo era tecelão e pode ter havido algum encontro entre os dois do tipo “negocial” fora do religioso.
Esta deve ter sido a primeira conquista cristã em terra europeia, fora de Roma, é claro: Lídia, desde então, foi tida como protótipo e símbolo de todas as mulheres que trariam entre as paredes de seu lar a chama da fé em Cristo. A rica comerciante, dócil à graça, havia anteposto os interesses do espírito aos interesses econômicos, abandonando o comércio para recolher-se com outras mulheres num lugar de oração, junto às margens do rio Gangas. Lídia, trazida à sua alma pelas palavras do Apóstolo e pela graça batismal, pediu com doce insistência, ou melhor, obrigou os missionários a aceitarem a sua hospitalidade.(At 14, 14-40).
Dessa maneira, a casa de Lídia tornou-se o primeiro centro comunitário, a primeira igreja na Europa. Mais tarde, depois de Paulo e Silas terem sido soltos da prisão, eles foram novamente ao lar de Lídia. Encorajaram ali os irmãos e então partiram de Filipos (Atos 16, 36-40).. Pode ser que os crentes na recém-formada congregação ou igreja filipense usassem a casa de Lídia como local para reuniões. É lógico imaginar que sua casa tenha continuado a ser um centro de atividades cristãs na cidade.
O culto a Santa Lídia é uma tradição das mais antigas da Igreja Católica, foi inscrita na lista dos santos católicos pelo cardeal César Barónio em 1607. A santa é festejada no dia 3 de agosto


O PAPEL DE SANTA LÍDIA NA PROPAGAÇÃO DO CRISTIANISMO NA EUROPA

Os episódios e comentários a seguir foram extraídos de uma biografia de São Paulo, de autoria do alemão Joseh Holzner:

“Lídia, a comerciante de púrpura de Filipo  (Act 16, 11-15)
Foi um grande dia da história do gênero humano, quando São Paulo e seus três companheiros puseram seus pés pela primeira vez ns Macedônia, em solo europeu. Noutros tempos viveu aqui um valente, são e nobre povo, que pela atrevida empresa de um jovem rei não somente foi célebre no mundo, mas também, no pensamento da Providência, já séculos antes havia de preparar ao Evangelho o caminho sobre a terra. Com uma simplicidade e grandeza admiráveis, disse a Sagrada Escritura no início do Livro dos Macabeus: “E sucedeu que depois que Alexandre da Maceônia derrotou Dario, rei dos persas e medos, tomou por assalto todas as fortalezas, vencendo todos os reis da terra e penetrado até nos últimos termos do orbe, emudeceu o mundo diante dele... Depois caiu enfermo e conheceu que havia de morrer”. (I Mac 1, 1-8). Mesmo os maiores homens, chamados Alexandre ou César, são somente preparadores do caminho e criados de Deus. Eles haveriam de abrir os sulcos em que o divino Semeador pudesse espalhar sua semente. Entre todos os povos da antiguidade os macedônios foram os que mais assemelharam-se aos romanos. Desde o ano 167 antes de Cristo os romanos foram senhores do país e o dividiram em quatro distritos de governo, dos quais os mais importantes foram Tessalônica e Filipos.
Ao longe já se via o templo de Diana da pequena cidade marítima de Neápolis (hoje Kawalla), a qual está situada em forma de teatro sobre um saliente rochedo banhado pelo mar. Um círculo, no pavimento da igreja de São Nicolau assinala hoje o lugar onde São Paulo desembarcou.  Junto à pequena cidade, nossos viajantes, ora pela famosa estrada romana Via Egnacia, ora por um caminho escavado na rocha, subiram ao monte costeiro Pangeo até à altura do desfiladeiro, onde se abriu ante seus olhos uma vista admirável até o norte. Viram sob a planície do vale, rico em fruteiras, na qual se levantava defronte, sobre o último prolongamento da montanha, Filipos com sua acrópole. Era uma paisagem cheia da antiga poesia bucólica. Agora estava ali os mensageiros de uma nova liberdade, os arautos de um novo conquistador do mundo, que sem espada havia feito mais pela liberdade do mundo que todos os campeões da liberdade juntos. O imperador Augusto havia elevado Filipos à categoria de colônia militar romana com direito municipal itálico e isenção de tributos. Os veteranos se julgavam romanos genuínos e haviam levado consigo, com suas divindades romanas, Minerva, Diana, Mercúrio e Hércules, a honradez e conduta romanas. Pela estrada militar romana que atravessava toda Macedônia de leste a oeste e à outra parte do Adriático ia por Brindis até Roma, sentiam-se unidos com a capital do mundo e o Júpiter Capitolino. Desta forma, Filipos veio a ser uma cidade provincial típica romana, uma Roma pequena com foro, teatro, acrópole e muralhas fortificadas. Os cidadãos estavam orgulhosos de sua constituição favorável à liberdade e à maneira dos cônsules elegiam cada ano dois prefeitos ou “arcontes”, chamados também pelo povo de “estrategas”. Quando estes iam ao foro para pronunciar sentença, precediam-lhes como em Roma dois litores.
Mas em meio a estes romanos viviam ainda os descendentes dos nativos da Macedônia e Trácia que o rei Filipo havia estabelecido aqui noutro tempo para cavar em busca de ouro no Pangeo. Eram todavia intratáveis. Os homens, ásperos, soberbos e teimosos; as mulheres, livres e ansiosas por independência, falavam retamente sobre política e tinham parte nas eleições e turbulências políticas. Se aqui as mulheres se faziam cristãs, podiam exercer grande influência.  Sobretudo as almas das mulheres, tão sensíveis para o celestial, facilmente se lhes comunicava fervor religioso, porque estavam em parte imbuídas em doutrinas orientais misteriosas com seus hinos sublimes e ideias de imortalidade. São Paulo encontrou aqui, sobretudo entre as mulheres, adeptos entusiastas. Filipos prometia ser um proveitoso campo de missão.
Nos dias seguintes indagaram as perspectivas e pontos de contato para a pregação do Evangelho. Assim chegou o sábado. Viviam poucos judeus em Filipos. Não havia nenhuma sinagoga, porque faltava o número dos escribas requeridos segundo a lei rabínica para formar um tribunal. Mas, se não conseguiram possuir uma sinagoga pelo menos havia de ter um lugar fechado, rodeado de um muro ou cercado de sebe como lugar de oração. Os rabinos sabiam que o povo sem o exercício público de religião logo haviam de cair na indiferença ou no ateísmo. São Lucas teve conhecimento de dito lugar, e conduziu seus compatriotas para a porta da cidade, ao longo do curso do rio Gangas. Ali viram logo o lugar rodeado de uma parede baixa de jardim. Com admiração sua encontraram dentro do cercado somente algumas mulheres, parte judias, parte gentias tementes a Deus, que rezavam suas devoções da manhã. Majestosamente ao fundo o Pangeo alçava seu cume nevado e ao lado o arroio murmurava sua melodia. Estas mulheres não sabiam muito seguramente, mas tinham um vivo interesse religioso; e àquele que tem isso Deus o leva mais adiante. Aqui ante estas mulheres conseguiu São Paulo dar livre curso a seu coração. Poucas vezes terá tido um público tão agradecido. Neste grupo de mulheres causa maravilha ver a uma senhora bem vestida, especialmente interessada no que toca a religião, a qual não era de Filipos, mas uma piedosa pagã vinda de Tiatira, na Lídia. Por isso era chamada de Lídia. Era uma rica comerciante, que, sem dúvida, depois da morte de seu esposo, do qual nada sabemos, continuou na cidade seu negócio com telas de púrpura. Sua pátria, Tiatira, era conhecida desde os tempos de Homero (Ilíada 4, 141) pelo comércio de púrpura. A púrpura era um tecido precioso e o comércio com ele exigia grande capital. Lídia era uma daquelas almas cristãs por natureza, que, logo ao ouvir falar de Jesus, o reconhecem ao ponto como o caminho, a verdade e a vida. É uma representação encantadora saber que a este ato religioso da manhã assistiram também, além de Lídia, Evodia e Sintique, que mais tarde rivalizaram entre si, e às quais São Paulo em sua carta aos filipenses exortou tão afetuosamente à paz. Assim, pois, temos já várias pessoas conhecidas nesta cidade.
Temos de ser muito reconhecidos a São Lucas pela formosa palavra com que introduz a conversação de Lídia, e que nos descobre sua compreensão do coração da mulher e da obra da graça: “O Senhor lhe abriu o coração para que escutasse atentamente as palavras de São Paulo”. Era uma mulher prudente e refletida. Uma hábil mulher de negócios analisa tudo detalhadamente. Mas aqui não há para ela nenhuma demora. Com extraordinária rapidez se resolve receber o batismo. Talvez tenha sido no mesmo dia, na noite de sábado para o domingo, quando São Paulo e seus companheiros com as mulheres recém convertidas desceram o sussurrante Gangas, onde se efetuou a solenidade do batismo. A resoluta comerciante Lídia, com seu jeito enérgico e vigoroso voz de dona de casa, logo também dispôs que todos seus criados recebessem o batismo. Mais ainda, dada sua energia é de suspeitar que não somente em Filipos, mas também em sua terra Tiatira foi uma apóstola de Cristo, e teve parte no louvor que São João no Apocalipse escreve por ordem de Jesus ao anjo da comunidade de Tiatira: “Conheço tuas obras, tua caridade, tua fé, teus serviços e tua paciência” (Apoc 2, 19).
Sua segunda ação como cristã foi convidar todos os missionários a deixar seu albergue e alojar-se em sua espaçosa casa de comércio: “Se me tendes por fiel ao Senhor”, disse. Isto estava cordialmente falado. Lídia tinha realmente boas razões: Sua casa era o único lugar adequado para as reuniões de culto da futura comunidade cristã. O que também seu pundonor cristão, sua necessidade material,  sua ambição feminina encontrassem certa satisfação em abrigar a primeira igreja cristã e favorecer os missionários, quem poderia vituperá-la por isso? “Assim nos obrigou!”, acrescenta São Lucas, risonho. Era uma honra para Lídia que São Paulo aceitasse o convite. Ela foi uma coluna para a igreja apostólica, uma amiga maternal do Apóstolo, de todos os mensageiros da fé e da recente comunidade. Quando São Paulo escreve depois : “Vós o sabeis, filipenses meus: quando comecei a pregar o Evangelho entre vós, e depois saí da Macedônia, nenhuma comunidade entrou comigo numa relação do mútuo dar e recebe senão somente a vossa... Também à Tessalônica me haveis enviado mais de uma vez algo para socorrer minha necessidade” (Filipenses 4, 15-16), sem dúvida muitas destas dádivas passaram pelas mãos de Lídia.
Quem haveria de pensar que o Evangelho faria sua entrada na Europa tão calada e ocultamente? Não solenemente como no Areópago ante os filósofos, não dramaticamente como em Chipre ante o homem de Estado, mas em forma de idílio como uma manhã de verão fresca pelo rocio ou como uma deliciosa aurora no Oriente. Estes suaves e contudo vigorosos tons de sentimento introduziu a mulher no Evangelho já no tempo de Jesus. E em Filipos continua ecoando. Quando o Evangelho veio para a Europa, chegou primeiramente para as mulheres, porque os homens não estava presentes, como também entre os samaritanos foi uma mulher a que Jesus iniciou no mistério do reino de Deus. As mulheres foram as últimas ao pé da cruz, na sepultura, assim as primeiras junto ao sepulcro vazio. Nas tristes histórias de hipocrisias, ódios, perseguições, injúrias, deserções e covardes fugas não encontramos no Evangelho mulher alguma. Os homens, como mensageiros da fé,e missionários e defensores dos interesses religiosos estão, na verdade, mais na luz do reverbero; porém, onde estaria a Europa cristã sem a mulher cristã em casa como mãe, esposa, irmã, como auxiliadora virginal-maternal da miséria de todas as classes? São Paulo teve para este lado da feminilidade uma profunda compreensão e foi o primeiro em empregar a mulher ativamente na missão. Ele aprecia a mulher dotada de gênio, como Priscila que instrui ao douto Apolo. Em qualquer de suas cartas dispensa saudações e reconhecimento para as mulheres. Reconhece os serviços de Cloe em Corinto, de Febe em Cencreas, a quem confia sua carta aos romanos, e o ser pequena mulher a mãe Rufo que foi também para ele uma mãe. Quando escreve ao rico comerciante Filemon não esquece de saudar sua esposa Apfia. Aprecia especialmente o trabalho da mulher de família e a educação dos filhos, pela qual a mulher adquire o céu; aprecia as filhas virgens de Filipe de Cesarea, dotadas de profecia; seu cuidado se dirige também às boas viúvas, que se destacavam no campo da caridade e por isso eram mantidas pela comunidade (I Tim 5, 3-16). Como profundo conhecedor do gênero humano tem uma olhada para todos os bons lados do caráter feminino. As nobres mulheres de Filipos como santas figuras estão às portas da Europa, como se quisessem recordar a todas suas irmãs desta parte do mundo que as mulheres da Europa têm na Igreja cristã um santo destino, de ser sacerdotisas, às quais se confiou em primeiro lugar o sagrado fogo que fez feliz e grande a nossa parte do mundo.
Mas tampouco devemos esquecer àqueles nobres varões, como Epafrodito, a quem São Paulo chama seu “companheiro de armas, co-militante e colaborador”, que visita o Apóstolo preso em Roma e lhe traz presentes. Também Clemente e Sicigo (se realmente esta última palavra é um nobre mesmo) e muitos outros.estão ao lado daquelas mulheres, e em verdade com tal constância que São Paulo sabe estar escritos seus nomes no livro da vida (Fil. 4, 3)
Nenhuma comunidade foi tão amada por São Paulo como Filipos. Ela foi em solo europeu seu primeiro amor, “seu gozo e sua coroa” (Fil. 4, 1). “Deus é testemunho de como os amo a todos vós do fundo do coração” (Fil. 1, 8).

(“San Pablo – Heraldo de Cristo” – de Josef Holzner – Editorial Herder, Barcelona, 1956 – págs. 180/185)



Breve história da “púrpura tíria”
TIRO foi o principal porto marítimo da antiga Fenícia, no território conhecido atualmente como Líbano. Essa cidade tinha um próspero comércio de tecido púrpura. Foi por causa de Tiro que essa cor viva ficou conhecida no Império Romano como “púrpura tíria”.
Por causa de seu alto preço, a cor púrpura veio a ser associada com realeza, honra e riquezas. Inclusive, por meio de um decreto imperial na Roma antiga, uma pessoa comum que se atrevesse a vestir um traje completo tingido de púrpura da melhor qualidade era considerada culpada de alta traição.
Esse corante especial, tanto naquela época como atualmente, é extraído de certos moluscos em pequenas quantidades — uma gota de cada. Os tírios usavam os moluscos “múrices”, principalmente o brandaris e o trunculus, encontrados em diversas regiões ao longo da costa do Mediterrâneo. Podiam-se obter diferentes tons desse corante, dependendo do local exato onde os moluscos eram apanhados.
 A “púrpura tíria” (também chamada de “púrpura de Tiro” em grego: πορφύρα, porphyra; em latimpurpura) é uma tinta natural de coloração vermelho-púrpura, extraída de caramujos marinhos, e que provavelmente foi produzida pela primeira vez pelos antigos fenícios. Esta tinta tinha grande valor na Antiguidade por não desbotar - ao contrário, ela se torna gradualmente mais brilhante e intensa com a exposição ao tempo e à luz do sol.
A púrpura tíria era cara; segundo o historiador Teopompo, do século IV a.C., "a púrpura para as tintas valia o seu peso em prata em Cólofon", na Ásia Menor. Estes custos transformavam os produtos têxteis que utilizavam a púrpura tíria em símbolos de status, e as antigas leis suntuárias ditavam e até proibiram o seu uso. A produção dos animais que forneciam a tinta era controlada com rigor durante o Império Bizantino, e subsidiada pela corte imperial, que restringia seu uso para a pintura das sedas imperiais; o filho de um imperador no poder era chamado de porfirogênito (porphyrogenitos, "nascido na púrpura"), tanto referindo-se à Pórfira, o pavilhão do Grande Palácio de Constantinopla revestido de pórfiro onde os herdeiros do trono nasciam, quanto à púrpura que futuramente trajariam.
A substância consiste de uma secreção mucosa da glândula hipobranquialde um dos diversos caramujos marinhos encontrados no Mediterrâneo Oriental, o gastrópode marinho Murex brandaris, o murex espinhoso Bolinus brandaris (Linnaeus, 1758), o murex listrado Hexaplex trunculus, e o Stramonita haemastoma.
No hebraico bíblico, a tinta extraída do Murex brandaris era conhecida como argaman (ארגמן). Outra tinta, extraída do Hexaplex trunculus, produzia uma cor índigo chamada de tekhelet (תְּכֵלֶת‎), usada em vestes trajadas para funções rituais.
Diversas espécies de moluscos da família Muricidae, como por exemplo o Plicopurpura pansa (Gould, 1853), das regiões tropicais do Oceano Pacífico oriental, e Plicopurpura patula (Linnaeus, 1758) da região do Caribe, no Oceano Atlântico ocidental, também produzem uma substância semelhante (que se transforma numa cor púrpura duradoura após exposição à luz do sol), e esta característica foi também explorada pelos habitantes locais nas regiões de ocorrência destes animais. Alguns outros gastrópodes predatórios, como os membros da família Epitoniidae, parecem produzir uma substância similar, que ainda não foi estudada nem explorada comercialmente. O molusco Nucella lapillus, do Atlântico Norte, também pode ser usado para produzir tintas púrpura e violeta.
Na natureza estes moluscos utilizam esta secreção como parte de seu comportamento predatório, e para funcionar como uma camada antimicrobiana que cobre seus ovos. O molusco secreta esta substância quando é tocado ou atacado fisicamente por humanos, portanto a tinta pode ser extraída através de um processo de "ordenha", que embora seja mais trabalhoso é um recurso renovável, ou através do método destrutivo, que consiste da coleta dos moluscos e do esmagamento de suas conchas. Segundo David Jacoby,[9] "doze mil conchas de Murex brandaris não produzem mais que 1,4 g de tinta pura, suficiente apenas para colorir a bainha de uma única veste."