segunda-feira, 5 de maio de 2008

Sorbonne, maio 68: a revolução passo a passo (2)

2. Unindo forças, como conseguir adesão dos operários
Antes de tudo, tenhamos presente que muitos dos articuladores e mentores da revolução desempenham seu papel como se fossem atores de uma peça de teatro: nem tudo aquilo que dizem ou fazem representa a realidade de seu modo de pensar, mas apenas o que as circunstâncias pedem. Assim, para fazer com que muitos dos operários ou até mesmo o povo simples aderissem aos revolucionários entrou em cena todo um teatro montado pelos comunistas. Passaram estes a investir contra os "estudantes", chamando-os de provoca7⁷dadores, inimigos da classe operária, inimigos do povo, etc., com intuito de fazê-los cair na simpatia popular. Bastante lógico: se os comunistas eram impopulares, mal amados da população, todos aqueles que estes detestassem cairiam fatalmente na simpatia popular. Foi o que ocorreu.
As manifestações agora passam para outro nível. É necessário a adesão dos trabalhadores, mesmo que as centrais sindicais não o queiram. Os líderes da revolta comandam, então, uma marcha da multidão de sediciosos até à fábrida da Renault, situada em Boulogne Billancourt. Fazendo o jogo de que falamos acima, as centrais sindicais proclamam os velhos chavões da esquerda: greve geral, protestos contra a ação policial, reivindicações salariais, redução da jornada de trabalho (velha tese comunista), direitos sincidais, etc. Por seu turno, os jornais comunistas atacam acintosamente os "estudantes". O principal deles, "L'Umanité", publica que "alguns pequenos grupos (anarquistas, trotskistas, maoístas), formados principalmente pelos filhos da grande burguesia e liderados pelo anarquista alemão Conh-Bendit, estão se aproveitando das fraquezas do governo...". Em outros jornais, assim como nos panfletos e pasquins, a linguagem dos comunistas é a mesma.
Os manifestantes se dirigem à Renault sabendo que sindicalistas iriam causar-lhes dificuldades, pois muitos não entendiam o sentido daquela revolução e alguns faziam o papel da trama acima. Chegando lá, misteriosamente os portões da fábrica estavam escancarados. Tudo parece normal na fábrica. Apenas alguns sindicalistas, de megafone na mão, convocam o pessoal para uma greve mas não falam em "ocupação" da fábrica para não assustar os trabalhadores. Panfletos são distribuídos, a maioria escrita em espanhol, pois muitos dos trabalhadores eram estrangeiros (argelinos, africanos, latinos, espanhóis, etc.). Os oradores também falam os dois idiomas, revezando-se a cada instante um francês e um espanhol. Chegada a hora do início do trabalho, nota-se que a maioria entra na fábrica sem dar ouvidos aos oradores. Alguns não sabem nem o que está ocorrendo... Calcula-se que menos de 25% daqueles trabalhadores eram sindicalizados. E a Renault era, na época, a maior fábfrica de automóveis na Europa. Enquanto isto, os "estudantes" chegavam para promover a ocupação da fábrica.
Elementos oriundos do comando da revolulão são enviados para conversar com os sindicalistas e tentar evitar que estes lhes causassem obstáculos. Alguns distúrbios começam a se esboçar, oriundos de desentendimentos entre "estudantes" e sindicalistas. Disicussões acaloradas, repentinamente, são emudecidas, e o clima se amaina com a saída dos sindicalistas de cena. Misteriosamente só ficam ali os moderados. Em poucos instantes os liderados por Conh Bendit preparam a ocupação da fábrica.
Enquanto isto, dentro da fábrica, são os sindicalistas moderados que estão de megafone na mão tentando acalmar os trabalhadores e fazendo crer que os estudantes são amigos e não vieram ali para lhes trazer problemas ou dificultar suas reivindicações. Falam apenas de seus problemas comuns, salários, horário de trabalho, acordos com o governo, etc. Nada falam sobre os amotinados que estão lá fora. Mas, no final, o assunto é lançado de uma forma sutil: alguém pede que eles saiam em passeata para aderir a uma grande manifestação planejada para aquela tarde, onde se uniriam a estudantes e operários pela mesma causa. No momento em que é feito o convite alguns (não se sabe ao certo quem iniciou, mas fazia parte da trama) começam a assobiar uma canção completamente desconhecida dos operários - a internacional socialista. Pouquíssimos sabiam a música (só alguns dos estudantes) e ninguém sabia a letra.
Assim, paulatina e lentamente, os revolucionários foram tomando conta da fábrica, sem alarde, sem assustar os trabalhadores, até assumir o comando completo das ações. Esta foi a primeira fábrica a ser ocupada, logo viriam outras...

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