quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

TRATADO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO FEZ 3 SÉCULOS

No decorrer deste ano o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem completou 3 séculos em que foi escrito.  Foram dirigidas petições ao Vaticano para que este ano fosse proclamado como Ano de Maria por causa destas comemorações, mas não houve tempo para que a Igreja aprovasse tal medida. Vejamos o que diz o padre F. W. Faber no prefácio que fez para uma das edições desta obra:

“Poucos homens, no século XVIII, trazem em si mais fortemente gravados os sinais do homem da Providência, do que esse novo Elias, missionário do Espírito Santo e de Maria Santíssima. Toda a sua vida foi uma tal manifestação da santa loucura da cruz, que os seus biógrafos são concordes em classificá-lo como São Simeão Salus e São Felipe Neri. Clemente XI fê-lo missionário apostólico em França, para que ele empregasse a vida em combater o jansenismo, tão cheio de perigo para a salvação das almas. Será difícil achar, depois das epístolas dos apóstolos, palavras tão ardentes como as doze páginas da sua “Prece” pelos missionários de sua Companhia. Recomendo-a a todos os que encontram dificuldade em conservar, no meio de numerosas provações, o fogo primitivo do amor pela salvação das almas.

Grignion de Montfort era ao mesmo tempo perseguido e venerado em toda parte.  A soma de seus trabalhos é, como a de Santo Antonio de Pádua, verdadeiramente incrível e inexplicável. Escreveu alguns trabalhos espirituais, que embora conhecidos há pouco tempo, já têm exercido influência notável na Igreja, e estão chamados a influência muito maior no futuro. Suas prédicas, seus escritos, sua conversação eram impregnados de profecias e de visões antecipadas das últimas eras da Igreja.

Novo São Vicente Ferrer, adianta-se, como se estivesse nos dias precursores do juízo final, e proclama-se portador, da parte de Deus, de uma mensagem autêntica: mais honra, conhecimento mais vasto, amor mais ardente a Maria Santíssima, e anuncia a união íntima que Ela terá com o segundo advento de seu Filho.

Fundou duas Congregações religiosas, uma de homens, outra se mulheres, ambas muito prósperas. E, entretanto, morreu com 43 anos, em 1716, tendo apenas dezesseis anos de sacerdócio.

A 12 de maio de 1853, foi promulgado, em Roma, o decreto que declara os seus escritos isentos de todo erro que pudesse servir de obstáculo à sua canonização. Neste trabalho sobre a verdadeira devoção à Santíssima Virgem, escreveu ele estas palavras proféticas: “Vejo claramente no futuro animais frementes que se precipitam com furor para estraçalhar com os dentes diabólicos este pequeno escrito e aquele de quem se serviu o Espírito Santo para escrevê-lo; ou para sepultá-lo, ao menos, no silêncio de um armário, a fim de que não seja a luz”.

Apesar disso, prediz, ao mesmo tempo, a aparição e o sucesso do livro. Cumpriu-se tudo à risca. O autor morreu em 1716, e só em 1832 foi descoberto, como por acaso, este tratado por um dos sacerdotes de sua Congregação, em Saint-Laurent-sur-Sèvre. O superior de então pôde atestar que o manuscrito era do venerável fundador e o autógrafo foi enviado a Roma, a fim de ser examinado no processo de canonização.[1]

Com certeza, os que vão ler este livro já amam a Deus e desejariam amá-lo ainda mais; todos desejam alguma coisa para a sua glória: a propagação de uma boa obra, a vinda de melhores tempos, o sucesso de uma devoção; um empregou durante anos todos os esforços para vencer um defeito particular e não o conseguiu; outro tem pedido com lágrimas a conversão de seus pais e amigos, e está admirado de que, apesar de suas lágrimas, tão poucos dentre eles se tenham convertido à fé; este se entristece por não ter bastante devoção; e aquele se aflige por ter que carregar uma cruz que lhe parece muito pesada para a sua fraqueza, enquanto outro encontra no seio da família perturbações e infelicidades domésticas que lhe parecem incompatíveis com a obra de sua salvação; e para todas essas tristezas a oração parece trazer tão pouco alívio! Qual é, pois, o remédio que lhes falta? Qual o remédio indicado pelo próprio Deus? É, segundo as revelações dos santos, uma dilatação imensa da devoção à Santíssima Virgem; mas, reflitamos bem, o imenso não admite restrições nem limites.

Aqui, na Inglaterra, Nossa Senhora não é bastante pregada e conhecida. A devoção que lhe consagram é fraca, escassa, mesquinha, transviada pelos escárnios da heresia. Dominada pelo respeito humano e pela prudência carnal, desejaria fazer da verdadeira Maria uma Maria tão pequena que os protestantes se pudessem sentir á vontade junto d’Ela. Sua ignorância da teologia tira a Maria toda a vida e dignidade; ela não é, como deve ser, o caráter saliente de nossa religião; não tem fé em si mesma. E é por esta razão que Jesus não é amado, que os hereges não são convertidos, que a Igreja não é exaltada; almas que poderiam ser santas, desfalecem  e degeneram; os sacramentos não são frequentados como o deveriam ser;. As almas não são evangelizadas com o entusiasmo do zelo apostólico; Jesus não é conhecido, porque Maria é deixada no esquecimento; perecem milhares de almas, porque Maria delas está distante. É esta sombra indigna e miserável, à qual ousamos dar o nome de devoção à Santíssima Virgem, que é a causa de todas estas misérias, de todos estes males, de todas estas omissões, de toda esta tibieza. Entretanto, segundo as revelações dos santos, quer Deus “expressamente” uma devoção mais vasta, mais extensa, mais sólida, uma devoção muito diferente da atual, para com sua Mãe Santíssima. Sou de opinião que  não há obra mais excelente, mais eficaz para se conseguir este fim, do que a simples propagação desta devoção particular do venerável Grignion de Montfort.

Basta apenas que uma pessoa experimente para si esta devoção; em breve, a surpresa que lhe causarão as graças que ela traz consigo, assim como as transformações que produzirá em sua alma, convencê-la-ão de sua eficácia, quase incrível aliás, como meio para conseguir a salvação das almas e a vinda do reino de Jesus Cristo! Oh! Se Maria fosse ao menos conhecida,  não haveria frieza para Jesus! Oh! Se Maria fosse ao menos conhecida, quão mais admirável seria nossa fé, como seriam diferentes as nossas comunhões!Oh! Se Maria fosse ao menos conhecida, quanto mais felizes, mais santos, menos mundanos seríamos, como nos tornaríamos imagens vivas de Nosso Senhor e Salvador, seu diletíssimo e diviníssimo Filho!

 
Eu mesmo traduzi o tratado todo, o que me deu muito trabalho; e fui escrupulosamente fiel. Tomo ao mesmo tempo a liberdade de avisar o leitor de que com uma só leitura do livro não o poderá compreender a fundo. Acha-se neste livro, se assim ouso dizer, o sentimento de um não se quê de inspirado e sobrenatural, que vai sempre em aumento, à medida que nos aprofundamos em seu estudo. Além disto, não se pode deixar de experimentar, depois de lê-lo repetidas vezes, que nele a novidade parece nunca envelhecer, a plenitude nunca diminuir, o fresco perfume e o fogo sensível da unção nunca se dissipar ou enfraquecer.

Digne-se o Espírito Santo, o divino Zelador de Jesus e de Maria, conceder uma nova bênção a esta obra na Inglaterra; queira ele consolar-nos dentro em breve com a canonização desse novo apóstolo e ardente missionário de sua Esposa diletíssima e imaculada, e mais ainda pelo pronto despontar dessa gloriosa era da Igreja que dever a gloriosa era de Maria”.

 

F. W. Faber [2]

(Sacerdote do Oratório. No dia da apresentação de Nossa Senhora. 1862).[3]




 
[1] São Luís de Maria Grignion de Montfort foi canonizado em 27 de julho de 1947, por Pio XII.
[2] Famoso teólogo, convertido do anglicanismo para o Catolicismo e entrou na Congregação Oratório, de São Felipe Neri, viveu grande parte do século XIX, falecido no ano de 1863.
[3] O texto acima foi extraído do “Prefácio”  da edição brasileira do “Tratado”, Editora Vozes, págs. 9/16.

sábado, 22 de dezembro de 2012

O verdadeiro espírito do Natal

Fala-se muito em “espírito do Natal”.




 
De modo geral essa expressão tem um lugar-comum: representa um modo de ser bondoso e tolerante com tudo, de modo que o convívio humano fique o mais amaciado e pacífico possível. Quando chega essa época, se alguém se mostra um tanto raivoso ou intolerante, ou mesmo demonstra insatisfação de alguma coisa com cara feia, vem logo alguém que lhe diz: “e cadê o espírito de Natal?” Vamos analisar um pouco no que consiste o verdadeiro espírito natalino. Alguns até o desvirtuam completamente com mensagens como esta:



Para se chegar ao espírito natalino é necessário analisar a mensagem que o Natal nos traz e o que representa para nós Aquele que festejamos nessa data.



Comecemos pelo segundo tópico. O que representa Jesus Cristo para nós? Portanto, que representa Seu nascimento?
Não pretendo analisar aqui a pessoa de Cristo como Deus, portanto, com caráter sobrenatural e dependendo, para quem analisa, ter Fé cristã para aquilatar o Seu valor real para todos nós, que transcente a vida terrena e nos leva à Eternidade. Vamos ver, de algum modo, o que Ele representa no plano meramente natural e humano, embora se possa ser obrigado a mesclar isso com o aspecto sobrenatural também. De tal sorte o nascimento de Cristo foi importante para a humanidade, que dividiu a História em duas partes: o tempo é contado entre Antes e Depois de Cristo, como se sabe. Apesar de contrariar uma quantidade enorme de historiadores ateus ou agnósticos, esta divisão permaneceu e ninguém consegue aboli-la. Depois disso, qual fundador de uma religião morreu ao criá-la e com sua morte lhe deu mais força ainda? E qual ressuscitou depois? Que religião existe no mundo em que seu fundador tem sua data de nascimento comemorada de tal forma como o fazemos no Natal? O fundador do budismo quase ninguém nem sequer sabe em que data nasceu; o do islamismo sabe, é verdade, mas sua comemoração é pífia e não tem tão grande valor como a do nosso Natal. O mesmo diga-se de todas as outras religiões. Se os judeus consideram São Moisés como fundador da religião deles, mesmo sendo ele um grande santo e profeta que precedeu a Jesus Cristo, não se sabe sequer a data de seu nascimento ou de sua morte, pois os dados da Sagrada Escritura são omissos.


Do ponto de vista natural, pois, o nascimento de Cristo não tem igual entre os homens, fazendo, inclusive com que o Natal seja também comemorado (embora com certo sentido comercial) até em países pagãos como China e Japão.



De outro lado, Cristo deixou Seu representante na terra, que é o Santo Padre, o Papa, cuja importância é tal que não há figura mais respeitável no mundo. Para ilustrar isso, basta dizer que o Papa é mais visitado do que qualquer dirigente político ou religioso. Nem sequer o presidente americano, a nação mais rica e importante da terra, recebe mais visitas do que o Papa. Além disso, suas palavras são pesadas e medidas por todos os habitantes do planeta, quer sejam católicos ou não, tendo um grande peso na condução dos problemas da humanidade. Se não é seguido de imediato é porque o orgulho dos governantes não os permite vê a importância dos ensinamentos da Igreja. Sua importância capital não se refere ao mando político e nem as decisões legais dos povos, mas no que diz respeito aos ensinamentos, á doutrina, etc. Quando chega o Natal, todos voltam seus olhos para o Vaticano e aguardam que tipo de pronunciamento vem de lá, cujas cerimônias natalinas são apreciadas por maior parte dos países. Não há nada no mundo que atraia tanta importância como a inauguração da árvore de Natal do Vaticano e as cerimônias natalinas que lá se realizam. Se os povos dão importância a tudo isso é porque sentem que trata-se do Representante de Cristo que vai falar e sob o qual vão ocorrer os rituais e festas. É Cristo que é o centro de tudo.

A mensagem Natalina


Visto isso, veremos agora o que representa a mensagem do Natal. Embora as pessoas, de modo geral, falem dessa mensagem como sendo “mensagem de paz”, quase ninguém penetra a fundo no que consiste a paz pregada nela. Os Santos Anjos anunciaram com suas trombetas no primeiro Natal da História: “paz na terra aos homens de boa vontade”, e isto se deu logo após o “glória a Deus no mais alto dos céus”.


Enquanto estamos na terra, todos nós precisamos daquela paz anunciada naquele grandioso dia. Lembremo-nos, porém, de que esta paz é exclusiva aos homens de boa vontade. Por que a paz é exclusivamente dada aos “homens de boa vontade?” Por que os homens de má vontade não a possuirão? Porque estes são aqueles, que, estando contra a vontade divina, estão em estado de revolta contra Deus. São aqueles chamados também de ímpios e, segundo o Profeta Isaías, “não há paz para os ímpios”. O que quer dizer “homens de boa vontade”? Quer dizer aqueles homens cujas vontades estejam em completa consonância com a vontade de Deus, aqueles que digam “seja feita a vossa vontade” não só na hora de rezar o Pai-Nosso, mas em todos os atos de sua vida presente, fazendo com que a vontade de Deus seja feita “aqui na terra como no céu”.


Ó homens de boa vontade! Contemplai o Menino Jesus, nascido abandonado num mísero presépio, e fazei-O nascer também em vosso coração! Bem sabeis que vosso coração é tão pobre ou mais do que aquela gruta; tão sujo ou mais do que aquela manjedoura; tão árido e esquecido quanto aquele ermo onde a Sagrada Família procurou abrigo. Mas ao introduzir nele o Menino Jesus o tornai o lugar mais rico, mais asseado e limpo, mais concorrido do mundo. E assim estareis realizando o terceiro advento de Jesus Cristo: o primeiro deu-se naquele primeiro Natal; o segundo dar-se-á no fim do mundo; e o terceiro estará ocorrendo enquanto viveres e acolhê-Lo em teu interior.
E como acolher Jesus Cristo em teu interior? Olhai bem e pensai: é necessário antes de tudo fazer a vontade d’Ele aqui na terra, da mesma forma como os Santos Anjos a fazem no céu, para que possamos estar possuídos de uma boa vontade e obtenhamos a Sua Paz. Fazendo-O nosso Hóspede, acolhendo-O em nosso coração, transformamos nosso interior em sua morada.
Como poderá o cristão fazer uma morada para Deus em seu interior? Fazendo com que nele reine a vontade de Deus. Lembrem-se disso: toda vez que acolhemos bem em nossa casa um parente, um amigo ou simplesmente um visitante, dando-lhe toda a atenção, todo o conforto de que carece, fazemos de nossa casa a sua morada. Assim também, toda vez que recebemos com afeto nosso irmão, mesmo que ele seja defeituoso, seja incômodo ou chato, ou até mesmo mal cheiroso, não está sendo ele nosso irmão apenas pelo sangue ou pela fé, mas muitas vezes porque tem os mesmos defeitos que nós também carregamos. E, neste caso, a sua morada não será apenas a nossa casa, com tudo o que possamos lhe oferecer de conforto, mas o nosso próprio coração, também com tudo o que podemos oferecer de bom para ele. Podemos ir mais longe: toda vez que perdoamos as ofensas que nos são dirigidas, mesmo que os ofensores não se humilhem e nos peçam perdão, estamos fazendo o papel de Deus que a tudo é capaz de perdoar por nosso amor. Esta atitude, refletindo o desejo de Deus para o bom convívio dos cristãos, revela o império de sua vontade em nós.
Agindo assim, irmãos, fazemos também o papel de anjos que são os mensageiros e intercessores de Deus perante os homens. Por que? Porque os Santos Anjos não são donos dos dons que vêm de Deus para nós e nem daqueles que levam até Deus provenientes de nossas boas obras. Mas mesmo assim eles levam e trazem tais dons sem desfrutá-los. Da mesma forma, quando agimos com paciência suportando e perdoando os defeitos dos semelhantes; quando levamos conforto ou consolo a um necessitado; quando procuramos espelhar em nossas almas as boas virtudes para que os outros as copiem – não é o nosso perdão que levamos ao nosso semelhante, nem é nossa a fortaleza que lhe damos ao consolá-lo e confortá-lo, nem tampouco são nossas aquelas virtudes que espelhamos como exemplo de vida, mas tudo provém de Deus em benefício dos homens. Assim como os Santos Anjos, somos apenas intercessores daqueles dons.
Eis aqui uma receita para sermos bons cristãos: exercitar a nossa boa vontade, unindo-a à de Deus, consolando, confortando, perdoando, suportando incômodos e defeitos, pois foi assim que Jesus Cristo fez ao Se submeter à vontade do Pai celeste desde o nascimento até àquela morte tão cruel. Sempre trazendo esperança aos homens, sempre confortando, consolando, perdoando, mesmo às custas de tanto sofrimento. Somente vivendo assim, agindo assim, teremos aquela paz cantada pelos Santos Anjos no nascimento de Jesus, que é fruto da glória de Deus, mas é também ela mesma parte daquela glória.

A morada de Deus dentro de nós é construída principalmente pela Sua vontade: comecemos a cumpri-La neste Natal, pedindo ao Menino Jesus que tome conta de nosso coração!


Igreja Católica - A maior obra caritativa do planeta!


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A mentalidade que prepara massacres como o da escola Sandy Hook







O ex-governador do Arkansas, Mike Huckabee, declarou que a causa do masscre na escola de Newtown é o fato do Estado haver sistematicamente removido Deus das escolas públicas. As opiniões divergem, mas a maioria dos órgãos da mídia aponta como causa a fácil proliferação de armas naquele país. O que, também, não é verdade.

Mike Huckabbe erra porque Deus não foi removido somente das escolas, mas de toda a sociedade. A começar pelas próprias famílias, onde Deus foi banido da grande maioria dos lares.

Vejamos um pequeno exemplo dessa ausência de Deus: o presidente americano, em discurso, diz que a primeira coisa a fazer quando chegar em casa será... abraçar os filhos, quando todos esperavam que ele dissesse: rezar com os filhos. Se é ateu e não reza deveria pelo menos pedir aos cristãos que rezassem pelas vítimas. Deu, portanto, mau exemplo, pois muitos de seus concidadãos estavam naquele instante rezando.
 
Mas, finalmente, que mentalidade é essa que produz tais monstros, capazes de matar tantos inocentes e, depois, suicidar-se? Monstro é o termo usado pela mídia, e não surpreende que o seja. Mas, dizem, trata-se de um monstro cujo comportamento era padrão, tratando-se (o criminoso) de um rapaz calmo, estudioso e “bem comportado”. Que mentalidade foi gerada nesse rapaz, tão jovem e “pacato”, para, de repente, explodir em ódio catastrófico?

Aliás, não é o primeiro caso. Vários outros massacres foram produzidos por jovens, em geral “bem educados” e de cuja vida não pode se dizer que sofriam carências materiais. Todos eram de classe média e boa situação financeira. Pussíam em sua casa de todos os recursos modernos para uma vida feliz, televisão, computadores, celulares de última geração e, sobretudo, armas modernas, caras e eficientes para matar. Uns usavam luvas, outros câmaras de flmar, e a maioria, calmamente, sabia mais apertar o gatilho certeiro do que folhear, por exemplo, um livro qualquer sobre moral ou religião.

Vamos analisar essas mentalidades. Em primeira lugar, é óbvio, são pessoas sem Deus e sem religião. Em seu interior tais jovens alimentaram durante anos uma vida inteiramente virtual, cheia de ídolos, de fantasias e de futilidades, vida essa que a educação pela imagem faz brotar e crescer nas pessoas de hoje. Sem manifestar publicamente em seu dia a dia, alimentam ódios pelo mundo real e exterior, o qual representa tudo o que se opõe ao seu mundo virtual e interior. A par disso tais jovens geralmente posuíam tudo o que desejavam possuir, seus pais lhes deram boas escolas, roupas caras, boa habitação para morar, mas, especialmente isso, nunca lhes causaram dissabores, nunca disseram “não” a seus caprichos. Alguns pais até achavam bonito e riam quando o filho, desde pequeno, fazia malcriações ou diziam palavrões, chutavam outras crianças, etc. É certo que a maioria não era violenta, pareciam pacatos dentro de casa e no convívio com os colegas. Mas, era como um vulcão que parecia morto e que de repente explode. E nem seus pais, nem seus professores, nem seus amigos e vizinhos viam que ali ardia uma fornalha de ódio.

Por que não sabiam? Porque vivendo sem religião não aprenderam a prescrutar o interior, a alma dos filhos, alunos e amigos. Num mundo virtual e superficial, as pessoas de hoje não conseguem ver o que há no interior da alma de cada um. Acostumados a ver tudo cor de rosa, a ver o mundo como uma maravilha destinada ao gozo dos prazeres, não sabem distinguir onde está a maldade. Especialmente, não percebem onde entra a ação preternatural, do demônio e seus asseclas, e muito menos a ação dos Anjos bons.

Agora, para encobrir mais ainda a realidade interior de que falamos, a mídia começa a dar como causa do massacre a proliferação de armas entre os americanos. Sim, não se pode negar que esta pode ser uma das causas, mas não a única nem a principal. A principal causa é a falta de religiosidade e de princípios morais que campeia em nossa sociedade, e não somente entre tais jovens assassinos, mas entre seus familiares e conterrâneos.

Falou-se acima em “monstros”. Outros criminosos são assim denominados “monstros” pela nossa sociedade. Por exemplo, aqueles que cometem o abominável crime de pedofilia. A alcunha de “monstro” procura esconder onde essa monstruosidade foi gerada. Dentre os pedófilos, por exemplo, a principal causa é a pornografia desenfreada que grassa em nossa sociedade. No dia em que se fechar para sempre a edição de revistas pornográficas e de mulheres nuas, os moteis e os ambientes de perdição sexual, talvez tais crimes sejam menos frequentes, pois as causas, aquilo que vem gerando estas monstuosas taras terão desaparecido.

Do mesmo modo, a causa da monstruosidade praticada em tais massacres não pode estar nas armas, nem em outros instrumentos usados pelos criminosos, mas na vida atéia e sem Deus que se leva, sem levar em consideração que somos assediados cotidianamente por anjos, tanto do mau quanto do bem, com vantagens para os primeiros por causa de vida material e puramente agnóstica.

Na década de 60 houve um outro massacre que estarreceu os Estados Unidos: a chacina comandada por Charles Manson numa rica mansão, onde foi morta, mesmo grávida, a atriz Sharon Tate. O assassino confesso, hoje em prisão perpétua, parecia um pacato cidadão, mas foi capaz de efetuar um monstruoso crime juntamente com alguns amigos. Na época não havia ainda a prática de suicídio do criminoso após tais crimes, mas foi ela a primeira a inspirar outros casos.

Que esta chacina de Newtown não sirva de exemplo para outras que os espíritos malignos esperam vir futuramente, com semelhantes traços de frieza, maldade, crueldade e desesperança. É o que tais casos procura incutir nas pessoas: desesperança; ao contrário do que ensina nossa Fé Católica, onde a Esperança é uma das principais virtudes que nos leva a caminhar em busca da vida eterna.
 
 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Peregrinação a Nossa Senhora da Conceição do "Carvalho"


(Onde foram sepultadas as vítimas de Canudos?)

A frase de Euclides da Cunha em sua obra “Os Sertões” continua tão atual quanto na época da guerra de Canudos. Ele afirmou: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. E quem é forte, o é porque possui a virtude da Fortaleza.

Forte é aquele povo porque resistiu bravamente aos assédios da Revolução, seja na vida cotidiana, seja nos lances trágicos da sangrenta guerra. E demonstrou grande fortaleza quando não dobrou nem sequer um joelho aos desígnios e imposições que os maus queriam lhes impor. Destroçados, esmagados por uma força descomunal, de que era dotado o poder então governante, nem por isso se entregaram mesmo com a ameaça de serem desumanamente aniquilados, como o foram: no final, jaziam junto aos escombros das construções em ruínas mais de 20 mil católicos (há quem calcule em 30 mil o total de habitantes de Canudos), martirizados em prol da Fé. Dizem que nem na capital, Salvador, havia tamanha população. Não há sepultos para eles, nem cemitérios, nem qualquer homenagem ou reverência que normalmente deve ser dada a todo cristão. Seus corpos foram consumidos junto com as ruínas e não deixaram qualquer vestígio de suas existências. Apesar de Antonio Conselheiro ter sido famoso pelo fato de construir cemitérios e igrejas, para ele e seus heróis não foi permitido desfrutar deles no momento da morte.

Quando o conflito acabou, os corifeus da Revolução determinaram que não ficassem sequer sinais da existência daquele povo. E assim mandaram que fossem sumariamente degolados todos os prisioneiros de guerra: era necessário que não houvesse sobreviventes para contar a história. Mas a Providência dispôs de forma diferente, e não só restaram vários sobreviventes espalhados pelas matas acaatingadas da região, mas alguns homens sensatos que acompanharam a expedição do exército resolveram revelar os fatos para a posteridade. Um deles foi o médico César Zama, que acompanhou o exército por ser militar, o qual, tão logo retornou do confronto fez séria denúncia sobre a execução sumária dos prisioneiros de guerra. Tanto que por causa de sua denúncia foi perseguido e perdeu e emprego nas forças armadas. Outro que deixou registros dos fatos foi o fotógrafo que acompanhou os militares: tirou vários fotos e somente as revelou futuramente, as quais servem como denúncia grave do genocídio praticado.

Por ser forte, o povo de Canudos resolveu reconstruir a cidade. E dentro de poucos anos outra Canudos já existia ao lado da cidade velha. Não era este os planos da velha república, embora não houvesse qualquer resquício de monarquistas pela região. Aliás, nunca foi comprovado que o conflito foi para salvar a República, mas pura perseguição religiosa. Não podiam mandar destruir a nova cidade porque não havia clima propício para isso, mas determinaram que a mesma fosse submersa pela barragem do Rio Vaza Barris(1), chamada de Cocorobó. Era este o nome que pretendiam dar à nova localidade, mas por insistência da população, e para reverenciar os heróis morto na guerra, permaneceu o de Canudos. Cocorobó ou Canudos, os desígnios dos revolucionários era que nada mais restasse do local e que a cidade ficasse para sempre submersa nas águas do rio. A Providência se encarregou desta última empreitada contra os desígnios revolucionários, e as águas do rio vivem constantemente com baixo volume, mostrando a todos as ruínas que estavam submersas. De longe se vê a torre da igreja, coisa que é mais lamentada por todos que a visitam.

Hoje, Canudos não somente sobreviveu ao extermínio, mas continua na lembrança de todos os moradores da região. E o que continua mais vivo nesta população é aquela fé herdada de seus antepassados, fé intrépida e também forte, visível a todos que visitam a região.

E um exemplo primoroso desta Fé pujante fomos encontrar no lugarejo denominado de “Carvalho”. Aliás, não se pode dizer que seja um lugarejo, nem isso é, porque lá só existe uma casa e uma capelinha. Preservados pelo tempo e pela Providência, o “Carvalho” com sua capelinha festeja Nossa Senhora da Conceição há tantos anos que os moradores não sabem dizer quando se iniciou. O certo é que alguns deles contam histórias da guerra, ocorrida em 1896, cujos fatos foram narrados pelos sobreviventes aos avós, ou dentre estes mesmos avós contam-se alguns que participaram de tais feitos. Como em diversos outros lugares, a tradição manda que o primeiro monumento do lugar é uma cruz, e a mesma está lá para demonstrar a Fé daquele povo.

E hoje, tantos anos após aquela era de grande fé e coragem, vemos chegar ao “Carvalho” para a festa, gente que vem de diversas partes do Brasil. Tem gente que veio de São Paulo, outra família veio de Juazeiro da Bahia, outros de Salvador, e a variedade e a distância dos lugares servem para nos demonstrar que a semente da fé plantada ali foi sólida e ainda hoje produz frutos. As cerimônias são singelas como todas as coisas do sertanejo. Consiste em receber com benemerência os visitantes, aos quais é oferecida boa comida e hospitalidade, com a animação de um conjunto folclórico de pífaros e zabumbas, instrumentos rudes e simples, mas alegres. No final da tarde todos se reúnem na capela para rezar o último dia da novena de Nossa Senhora da Conceição, após o que se realiza uma procissão, numa subida em direção a um cruzeiro que está acima de uma ladeira. É feita uma parada na principal casa do “Carvalho”, onde a população faz uma singela homenagem a Nossa Senhora, com vivas e foguetório, e em seguida se dirige a procissão para a capelinha. Lá é celebrada a Santa Missa.

A noite termina com um concorrido leilão, onde são vendidos frutos e animais, além de outros objetos, cujo objetivo é arrecadar fundos para o melhoramento da capela de Nossa Senhora. Graças a tais leilões a capelinha sofreu várias reformas e encontra-se em bom estado de conservação.

Mesmo sem provocá-los com perguntas alusivas ao tema, vários moradores se referiam à guerra de Canudos como um grande feito da população da região e uma terrível traição movida pelo governo republicano. A questão política monarquia-repúlica nunca é mencionada como principal motivo da guerra. Na realidade, está patente para todos que a questão foi religiosa. Para um deles, mais instruído, houve uma trama de grande envergadura para envolver os “conselheiristas” e, provocando a guerra, exterminar o arraial com seus moradores. Uma outra pessoa comentou que se Canudos não tivesse sofrido aquela destruição hoje seria um grande centro, talvez a sede de uma próspera civilização. Já naquela época tinha uma população igual ou superior à da capital, em torno de 30 mil habitantes. E, apesar de estar numa região pobre, todos tinham trabalho e a cidade progredia. Assim como o Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, Antonio Conselheiro procurava instruir e ensinar artes manuais aos moradores, cujo resultado era encontrar-se lá muitos artífices ou artesãos.

Mantendo viva sua Fé ao longo dos anos, os moradores de Canudos e adjacências dão provas de quanto a Providência divina ampara o povo brasileiro, mesmo em situações como estas, deixando um belo legado de heroísmo, de bravura, de martírio em prol da fé cristã.

Nota: (1) O Rio Vaza Barris é o mesmo onde foram mortos e comidos pelos índios o primeiro bispo do Brasil, Dom Pero Fernando Sardinha, juntamente com seus fiéis que escaparam de um naufrágio.

Nota (2) A imagem cuja foto estampamos acima é centenária, e acompanha os devotos desde remotos tempos, tendo presenciado muitos episódios da guerra. Foi restaurada recentemente por um especialista, o qual procurou manter nela os traços originais.