quarta-feira, 29 de julho de 2020

E lícito julgar o próximo, ser testemunho de si mesmo e até juiz em causa própria?






Fazer juízo é um ato comum dos homens, e todos nós o fazemos cotidianamente sem mesmo o perceber. E a maioria das pessoas tem o costume de fazer julgamentos apressados, inclusive considerando apenas a questão da culpabilidade do próximo ou de si mesmo perante algum fato. Quebrou-se algum objeto dentro de casa, surge logo a questão: de quem foi a culpa? Como se o fator culpa fosse o mais importante. Aqui entra um fator muito importante, e que os santos levam em consideração para sua própria perfeição: de quem quer que seja a culpa, o primordial não é isso, mas, sim, que valores estão em jogo quando ocorre esse tipo de coisa, se o do objeto ou se o apego ao mesmo. Quando alguém acusava algum santo (Santa Teresinha do Menino Jesus é um exemplo deste procedimento) de fatos assim corriqueiros, geralmente eles não se desculpavam, julgando que bem poderiam realmente ter cometido aquilo, e, neste ato, estão implicitamente fazendo um justo juízo de si mesmos.
O ato de julgar é, portanto, muito importante em nossa perfeição. Vejamos o que diz São Tomás de Aquino sobre a licitude do ato de julgar:

“O juízo é justo na medida em que é um ato de justiça. Ora, como do sobredito resulta, três condições se exigem  para que um juízo seja um ato de justiça: primeiro, que proceda de uma inclinação justa; segundo, que proceda da autoridade do chefe; terceiro, que seja proferida pela razão reta da prudência. A falta de qualquer delas torna o juízo vicioso e ilícito. – De um modo quando vai contra a retidão da justiça. E, então, o juízo se chama “pervertido” ou “ injusto”. – De outro modo, quando julgamos daquilo para o que não temos autoridade. E, então, o juízo se chama “usurpado”. – De terceiro modo, quando falta a certeza da razão; assim, quando julgamos do que é duvidoso ou oculto, levados por leves conjecturas. E, então, chama-se o juízo “suspeitoso” ou “temerário”.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA PERGUNTA – O Senhor, no lugar citado, proíbe o juízo temerário que incide sobre a intenção do coração ou sobre outras coisas incertas, como diz Agostinho – Ou proíbe, com as palavras citadas, julgar das cousas divinas, as quais, sendo-nos superiores, não devemos julgá-las, mas simplesmente crê-las, como diz Hilário. – Ou proíbe o juízo não procedente da benevolência, mas, do espírito amargo, como diz Crisóstomo.
RESPOSTA À SEGUNDA – O juiz é constituído ministro de Deus; donde o dizer a Escritura: “”Julgai o que for justo”; e depois acrescenta: “é o juízo de Deus”.
RESPOSTA À TERCEIRA – Os réus de pecados graves não devem julgar os que também o são dos mesmos ou de pecados menores, como diz Crisóstomo àquilo do Evangelho: “Não queirais julgar”. O que sobretudo se deve entender dos pecados públicos; porque então o nosso juízo gera o escândalo nos corações dos outros. Se, porém, não forem públicos, mas ocultos, e, por dever, tivermos que dar o nosso juízo, podemos acusar ou julgar com humildade e temor. Por isso, diz Agostinho: “Se nos encontrarmos no mesmo vício que outrem, gemamos com ele e o incitemos a tornar-se melhor, esforçando-nos também nós para consegui-lo, Nem contudo, por isso, ao julgar os outros, nós nos condenamos, por atrairmos sobre nós um novo motivo de condenação; mas, ao condenar a outrem, mostremo-nos merecedores da mesma condenação, por um pecado igual ou semelhante”..[1]

A dificuldade que sentimos em exercer um julgamento sobre o próximo é por causa da semelhança de situação: trata-se de seres feitos da mesma carne, mesmo espírito, com vida terrena compatível entre si, e por causa disso não passível, em sua essência, de exercer juízo sobre os outros. No entanto, tal juízo é necessário para que possamos nos exercitar na regência mútua e atingirmos a perfeição para a qual fomos criados.

Exemplo de como julgar o próximo
Jesus disse a seus discípulos: Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, à sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público. Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. De novo, eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isto vos será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estou ali, no meio deles”. (Mt  18,15-20)
Nosso Senhor, nessa passagem do Evangelho, está orientando o fiel de como deve julgar o próximo. O primeiro passo, nesse caso quando alguém “peca contra ti”, isto é, não se trata de um pecado diretamente contra Deus, mas contra o próximo, Ele orienta repreender o faltoso “a sós”, sem a presença de estranhos. No entanto, caso o mesmo não se corrija, a orientação é chamar uma ou duas testemunhas, a fim de que a questão seja decidida “sob a palavra de duas ou três testemunhas”. Nesse caso, a própria pessoa ofendida é tida como testemunha do caso, a se juntar às outras chamadas para exercer o juízo. E caso o faltoso, mesmo assim, continue em seu erro, deve receber um julgamento da comunidade, isto é, da Igreja, onde sofrerá o juízo de um juiz público e ter uma condenação mais forte, podendo ser considerado como pagão ou pecador público. O que vem depois, ao concluir afirmando que “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estou ali, no meio deles”, confirma que aquele julgamento exercido sobre o próximo é aprovado por Deus, haja vista que já houve consenso entre os fieis.

O julgamento da pecadora pública
Trata-se do episódio mais característico desta prerrogativa de julgar que afeta todos os homens, alguns por iniciativa própria e outros por causa da lei. Refiro-me ao fato narrado no Evangelho de São João 8.1-11, quando os fariseus e saduceus, para tentar Jesus Cristo, levaram à sua presença uma mulher flagrada em pecado de adultério e sujeita às penas da lei que, no caso, era castigo de morte por lapidação.
Quando Jesus Cristo diz que aquele que não tiver nenhum daqueles pecados que atire a primeira pedra está com isso confirmando que aquele julgamento seria justo e a punição legítima, desde que os executores fossem pessoas isentas da mesma culpa. Vamos supor que algum daqueles homens fosse realmente puro, algum Jeremias ou coisa semelhante (é claro que, nesse caso, não iria tentar o Mestre), poderia tranquilamente apedrejar a mulher que não estaria cometendo nenhum ato contrário à justiça. Estaria até cumprindo o que Ele mesmo mandou.
Sabia, porém, Jesus, que todos ali eram pecadores empedernidos. Alguns de seus Apóstolos deveriam estar presenciando a cena, seriam puros naquele tipo de pecado, mas não foram  instados a se manifestar. Jesus Cristo dirigiu-se apenas aos que queriam executar a sentença ou pedir que o Mestre tomasse uma atitude para fazê-Lo ir de encontro ao que pregava que era o perdão aos pecadores.
E ao perdoar a mulher, dizendo-lhe que se ninguém a condenava Ele também não, estava Jesus aprovando a vida pecaminosa dela? De modo algum, e de tal forma a  reprovava que disse no final: vai e não peques mais. Por ter conhecimento do íntimo daquela mulher sabia de antemão que ela estava arrependida, e por isso a perdoou. Fez, portanto, um julgamento da pecadora, mas sem  sentença de condenação, mas de perdão.
E o fez pelo simples dom da palavra.
Outro detalhe a observar no episódio acima: Nosso Senhor estava sendo convocado para ser juiz, mas para que julgasse teria que, antes de tudo, ouvir testemunhas ou provas da culpa da ré. Ele não fez um julgamento, dizendo que a mulher tinha culpa daquele pecado por isso. Mas, ela já tinha sido julgada, o que eles queriam era que ele como que desse o sinal de cumprimento da pena, uma espécie de sentença.  Sem provas, com as testemunhas fugindo covardemente (pois tinham a mesma culpa daquilo que acusavam), Ele apenas disse à mulher que “também não a condenava”, mandou-a embora e deu ordens para não pecar mais. Usou apenas o dom da palavra para se fazer cumprir sua sentença, não de condenação mas de perdão.
De modo geral o juízo, ou julgamento, é composto de duas partes: na primeira temos a análise dos fatos e a constatação da realidade (o testemunho do que está ocorrendo) e as críticas aos mesmos;  e na segunda parte, como conclusão do juízo, a exaração da “sentença” ou censura. Para que se cumpra a primeira, geralmente, usa-se dos recursos dos “olhos” e dos “ouvidos”, tanto de quem julga como das testemunhas

É lícito o testemunho de si mesmo, ser juiz em causa própria?
Este tema foi levantado pelos fariseus contra Jesus Cristo neste episódio narrado por São João: 
“Outra vez lhes falou Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; o que me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida. Os fariseus disseram-lhe: Tu dás testemunho de ti mesmo; logo, o teu testemunho não é verdadeiro. Respondeu Jesus e disse-lhes: Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei donde vim e para onde vou, mas vós não sabeis donde eu venho, nem para onde vou. Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo; e, se julgo alguém, o meu juízo é verdadeiro, porque eu não sou só mas eu e o meu Pai que me enviou. Na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é digno de fé. Sou eu que dou testemunho de mim mesmo; e meu Pai, que me enviou, dá testemunho de mim.”  (Jo 8. 12-18).
Há duas coisas distintas nesse episódio: julgar e dar testemunho. O  testemunho é apenas a exposição da verdade sobre algo, alguém ou algum fato; quanto ao ato de julgar é a análise e decisão sobre aquilo, se é bom, se é mau, etc, e a exaração de uma sentença, ou simplesmente de uma conclusão. Nesse caso é lícito dar testemunho de si mesmo, desde que haja uma segunda pessoa que o confirme, pois apenas a palavra de si mesmo não é suficiente. Do mesmo modo é lícito julgar, desde que não seja “segundo a carne”, mas conforme as inspirações divinas. Quando Nosso Senhor diz “eu a ninguém julgo”, Ele quer dizer, segundo a carne, pois logo adiante diz que se julga alguém o seu juízo é verdadeiro. Quer dizer, Ele julga sim (pra isso veio ao mundo), mas não segundo a carne.





[1]Summa, Questão LX, Art. II (tradução de Alexandre Correia), edição da Escola Superior de Teologia de São Lourenço de Brindes – Universidade Caxias do Sul – Livraria Sulina Editora),

segunda-feira, 27 de julho de 2020

AS UVAS E O VINHO NAS SAGRADAS ESCRITURAS






Talvez a uva seja a fruta com mais remota existência, sendo falada logo após o dilúvio universal. A primeira referência bíblica sobre o vinho já foi feita com Noé: “Noé, que era agricultor, começou a cultivar a terra, e plantou vinha. E, tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu na sua tenda” ( Gên 9, 20). O episódio é muito conhecido: um dos filhos, Cam, riu-se do pai e por isso teve amaldiçoada sua descendência, enquanto Sem cobriu a nudez do pai e foi abençoado. A Bíblia fala que Noé era agricultor; o fato de ter sido o primeiro a cultivar a uva significava que ele a encontrou na natureza ainda na forma bruta, e a trouxe para suas plantações. No entanto, ele ou algum de seus filhos tinha outra atividade diferente, tendo posto as uvas para fermentar e feito a bebida, talvez fruto de alguma experiência doméstica, daí surgindo o vinho.

O caso dos recabitas com Jeremias
Os recabitas eram descendentes dos cineus, vindos de Madian para a Palestina com Moisés (Num 10, 29), unindo-se política e religiosamente a Israel na conquista da região, habitando ao sul de Judá, mas vivendo ainda como nômades. De início, eles não quiseram seguir Moisés, que os convidou, mas depois foram obrigados a aderir ao povo eleito. O exército caldeu, que invadia a Palestina, impelira-os para Jerusalém. O problema é que viviam muito apegados aos preceitos de seus antepassados, dificultando a assimilação dos costumes do povo eleito. Na passagem a seguir, o Profeta Jeremias propõe àquele povo a adoção de um novo costume, mais civilizado, do consumo do vinho, que é recusado pelos recabitas, cuja recusa é usada pelo próprio Deus como exemplo de quem obedece aos pais,  enquanto o povo de Jerusalém não seguia as ordens divinas.
Vejamos a narrativa da Sagrada Escritura sobre o que houve:
“Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a qual dizia: Vai à casa dos recabitas, fala-lhes e introduzi-los-ás na casa do Senhor, num dos quartos do tesouro, onde lhes dará vinho a beber,
Então eu tomei Jezonias, filho de Jeremias, filho de Habsanias, seus irmãos, todos os seus filhos e toda a casa dos recabitas. Introduzi-os na casa do Senhor, no aposento dos filhos de Hanan, filho de Jagdelias, homem de Deus, que estava junto à câmara dos príncipes, por cima do quarto de Maasias, filho de Sejum, que era guarda do vestíbulo. Pus diante dos filhos da  casa dos recabitas taças cheias de vinho e copos, e disse-lhes: Bebei vinho. Eles, porém, responderam: Não beberemos vinho, porque Jonadab, filho de Recab, nosso pai, deu-nos este preceito: Não beberás jamais vinho, nem vós, nem vossos filhos; não edificareis casa, nem semeareis sementeiras, nem plantareis vinhas, nem as possuireis, mas habitareis em cabanas todos os dias da vossa vida; para que vivais muitos dias sobre a face da terra, na qual viveis peregrinando. Temos, pois, obedecido à voz de Jonadab, filho de Recab, nosso pai, em todas as coisas que nos mandou, de não beber vinho em todos os nossos dias, nós e nossas mulheres, nossos filhos e filhas, e de não edificarmos casas para nossa morada; não temos tido vinhas, nem campos, nem sementeiras; mas temos habitado sob tendas e temos obedecido em tudo conforme o que nos mandou Jonadab, nosso pai. Quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, entrou em nossa terra, dissemos: Vinde e entremos em Jerusalém, para fugir do exército dos caldeus, e para escapar do exército da Síria; e ficamos em Jerusalém.”
O exemplo dos recabitas em seguir os preceitos de seus ancestrais foi usado pelo próprio Deus para admoestar os habitantes de Jerusalém, terminando com as seguintes palavras:
“...Assim os filhos de Jonadab, filho de Recab, guardaram com firmeza o preceito que seu pai lhes tinha dado; mas esse povo não me tem obedecido”  (Jer 35, 1-1 e 16).
Comentários:
A expressão “aposentos dos filhos de Hanan” quer significar um lugar especial, talvez onde se exerciam algumas funções sacerdotais no templo, comprovado a seguir pelo termo “homem de Deus”, que nas Sagradas Escrituras significava aquele que é dedicado aos serviços divinos, como os profetas ou os sacerdotes. Jeremias colocou não somente taças contendo vinhos, mas também copos, objetos mais simples, talvez com a intenção de incentivar os convidados a beberem o vinho, pois, certamente, as taças seriam vistas como usadas apenas pelos da alta sociedade, enquanto os copos são objetos mais populares.
A oferta do vinho seria uma tentativa de fazer com que aquele povo aprendesse a se confraternizar com o povo eleito e, assim, tornar-se mais civilizado, pois continuavam sendo nômades e arredios a qualquer fluxo civilizatório. Fazia parte dos conselhos de seus ancestrais não fazer casas para morar e continuar nas tendas, além de não plantarem vinhedos ou consumir o vinho. Essa tendência ao nomadismo e contrária ao convívio social em cidades era comum em alguns povos daqueles tempos.
Como se tratava apenas de um costume arraigado pela tradição de seus pais, sem qualquer sentido aparentemente nocivo, tal recusa não foi mal vista, mas usada como exemplo de uma tribo inteira que segue as recomendações ou mandamentos dados pelos ancestrais.

Deveres de quem dirige um banquete
No Eclesiástico há algumas normas dirigidas a quem dirige um banquete, eis algumas:
“Puseram-te como chefe? Não te ensoberbeças por isso; sê entre eles um dos mesmos.
Tem cuidado deles, e depois disso assenta-te, e cumpridas todas as tuas obrigações, põe-te a comer, a fim de que te causem alegria, e recebas a coroa, como um ornamento precioso, e mostres que eras digno de ser escolhido.
Fala, tu que é os mais velho, pois é a ti que pertence falar primeiro. (Mas) Fala com sabedoria e com prudência, e não impeças a música.
Não desperdices palavras, onde não há quem as ouça, e não ostentes fora do tempo o teu saber.
Correm igual paralelo uma pedrinha de carbúnculo em engaste de ouro, e um concerto de musica em festim de vinho.
Assim como brilha mais um sinete de esmeralda encastoada em ouro, assim a harmonia da música melhor se logra entre um alegre e moderado vinho”  (Eclesiástico 32.1-8).

Apólogo de Isaías sobre a vinha:
“Cantarei ao meu amado o cântico do meu parente sobre a sua vinha. O meu amado adquiriu uma vinha, plantada numa colina fertilíssima, Cercou-a duma sebe e tirou dela as pedras, plantou-a de cepas escolhidas, edificou uma torre no meio, construiu na mesma torre um lagar; esperava que desse boas uvas, mas produziu labruscas.[1]
Agora, pois, habitantes de Jerusalém, e homens de Judá, sede vós os juízes entre mim e a minha vinha. Que coisa há que eu devesse mais à minha vinha, que não lhe tenha feito? Far-lhe-ia acaso injúrias em esperar que ela desse boas uvas, em lugar das labruscas que produziu? Pois agora vos mostrarei o que hei de fazer à minha vinha: Arrancar-lhe-ei a sebe e ficará exposta ao roubo; derrubar-lhe-ei o muro e ficará sujeita a ser pisada. Farei com que fique deserta; não será podada nem cavada; crescerão nela os espinhos; mandarei às nuvens que não derramem sobre ela chuva. A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá a planta, na qual ele tinha as suas delícias; esperei que praticassem a retidão, e eis que só há iniquidade, e que praticassem a justiça, e eis que somente se ouvem clamores.
Ai de vós que ajuntais casa com casa e ides acrescentando campo a campo, até chegar ao fim de todo o terreno! Porventura haveis de habitar sós no meio da terra? Aos meus ouvidos chegam estas coisas, diz o Senhor dos exércitos, Verdadeiramente que muitas casas grandes e belas virão a ficar desertas, sem habitante. Porque dez geiras de vinhas produzirão apenas um pequeno frasco (de vinho) e trinta alqueires de semente não darão mais que três.
Ai de vós os que vos levantais pela manhã para vos entregardes à embriaguez e para beberdes até à tarde com tal excesso, que venhais a ficar de todo esquentados pelo vinho. A cítara, a lira, o pandeiro, a flauta, o vinho encontram-se nos vossos banquetes; e vós não olhais para a obra do Senhor, nem considerais as obras das suas mãos. Por isso é que o meu povo foi levado cativo, porque não teve ciência. Os seus nobres morreram de fome e a sua multidão mudou-se de sede. Por isso é que a habitação dos mortos alargou o seu seio e desmesuradamente abriu a sua boca;  desceram a ela os seus heróis, o seu povo e os seus homens ilustres e gloriosos. O plebeu terá de se curvar, os grandes serão humilhados e os olhos dos altivos serão abatidos. O Senhor dos exércitos será exaltado (pela retidão do) seu juízo, e o santo Deus será santificado pela (administração da sua) justiça. Serão apascentados os cordeiros segundo o seu costume, e dos campos desertos, convertidos em fertilidade, comerão os estranhos.
Ai de vós que arrastais e iniquidade com cordas de vaidade, e o pecado com os tirantes dum carro! Vós que dizeis: Avie já com isso e sem demora venha a sua obra, para que a vejamos, aproxime-se e cumpra-se o decreto do Santo de Israel, a fim de que nós o conheçamos. Ai de vós os que ao mal chamais bem, e ao bem mal, que tomais as trevas por luz, e a luz por trevas, que tendes o amargo por doce, e doce por amargo!
Ai de vós que sois sábios a vossos olhos, e, segundo vós mesmos, prudentes!
Ai de vós os que sois poderosos para beber vinho, e fortes para fazer misturas embriagantes! Vós os que justificais o ímpio pelas dádivas, e ao justo tirais o seu direito!
Por esta causa, assim como a língua do fogo devora a palha, e a brasa  ardor da chama, assim a raiz deles será como a faísca, e o seu renovo se dissipará como pó; porque rejeitaram a lei do Senhor dos exércitos, e blasfemaram da palavra do Santo de Israel. Por isso o furor do Senhor se acendeu contra o seu povo, estendeu a sua mão sobre ele e o feriu; os montes se abalaram e os seus cadáveres foram lançados como esterco ao meio das praças. Com todos estes castigos não se aplacou o seu furor, mas ainda está levantada a sua mão. Arvorará um estandarte para servir de sinal aos povos de longe e chamá-los-á com um assobio desde os confins da terra; e acorrerão com uma velocidade prodigiosa. Não haverá neles quem sinta cansaço ou fadiga; não dormitarão nem dormirão; ninguém desatará o cinto dos seus rins, nem desatará a correia do seu calçado. As suas setas são agudas e todos os seus arcos estão entesados. As unhas dos seus cavalos são como  pederneira e as rodas dos seus carros têm a rapidez da tempestade. O seu rugido será como o do leão, rugirão como os leõezinhos. Soltarão bramidos, se arrojarão à presa e a levarão, não haverá que lha tire. Soará sobre Israel naquele dia um como bramido do mar; olharemos para a terra, e eis que tudo será trevas de tribulação, e a luz desaparecerá nessa profunda escuridão”  (Is 5, 1-30).

O vinho pode fazer o homem perder o entendimento:
“Mas também estes, por causa do vinho perderam o entendimento, e, por causa da embriaguez, andaram sem poderem ter; o sacerdote e o profeta perderam o juízo por causa da embriaguez, foram absorvidos pelo vinho, andaram cambaleando na embriaguez, não reconheceram o vidente, ignoraram a justiça. Todos os meses se encheram de vômito e de asquerosidade, de modo que não havia já lugar que estivesse limpo. “  (Is 28, 7-8)

As Bodas de Caná
“Três dias depois, celebravam-se umas bodas em Caná da Galiléia e encontrava-se lá a mãe de Jesus. Foi convidado também Jesus com seus discípulos para as bodas. Faltando o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Não têm vinho. Jesus disse-lhe: Mulher, que nos importa a mim e a ti isso?
Ainda não chegou a minha hora. Disse sua mãe aos que serviam: Fazei tudo o que ele vos disser. Ora estavam ali seis talhas de pedra, preparadas para a purificação judaica, que levavam cada uma duas ou três metretas. Disse-lhes Jesus: Enchei as talhas de água. Encheram-nas até os bordos. Então disse-lhes Jesus: Tirai agora e levai ao arquitriclínio. Eles levaram.
O arquitriclínio3, logo que provou a água convertida em vinho, como não sabia donde viera (este vinho), ainda que o sabiam os serventes, porque tinham tirado a água, o arquitriclínio chamou o esposo, e disse: Todo o homem põe primeiro o bom vinho, e, quando já (os convidados) têm bebido bem, então lhes apresenta o inferior; tu, ao contrário, tiveste o bom vinho guardado até agora. Este primeiro milagre, fê-lo Jesus em Caná da Galiléia, e manifestou sua glória, e seus discípulos creram nele. (Jo 2, 1-11).
Somente São João narra este episódio no Evangelho. Como tinha sido
ele o Apóstolo a quem Nosso Senhor confiou os cuidados da Virgem
Santíssima, é provável que tenha sido Ela mesma que fez o relato para que
ele o escrevesse, pois morou em sua companhia durante muitos anos.
Vê-se que as vasilhas, talhas de pedras, não eram destinadas ao vinho, mas somente para a água usada nos rituais de purificação, evidenciando-se ainda mais o caráter milagroso da transformação ocorrida em seguida.
Metreta, era uma medida grega equivalente a cerca de 30 litros. Como São João escreveu seu evangelho em grego, refere-se à medida mais comum da Grécia, que talvez fosse usada também na Palestina, região que pertenceu ao império grego por muitos anos.
O arquitriclínio. Pelo prefixo “arqui” nota-se que é uma palavra também de origem grega: era o mestre do banquete e o provador de vinho, o que distinguia entre o vinho bom e o ruim.
Também há a hipótese do próprio São João ter presenciado o milagre, pois lá estavam alguns dos novos discípulos de Jesus. As festas de casamento entre os hebreus eram muito concorridas e as pessoas que presenciaram o primeiro milagre de Jesus eram numerosas. Caná era uma aldeia que distava de Nazaré pouco mais de 6 km, razão porque a Sagrada Família tinha muitos amigos e parentes na localidade. Era chamada de Caná da Galiléia para distingui-la de outra Caná, da tribo de Aser, perto de Tiro.
O texto de São João, muito sucinto, não nos dá uma ideia exata de
como se realizavam as festas de casamento entre os hebreus. Nem
tampouco o Evangelista se detém em alguns detalhes que, ou ele
considerava desnecessários ou não lhe vieram à memória no instante em que
escrevia.

Algumas passagens bíblicas sobre a a uva e o vinho
“...prometemos levar aos sacerdotes, para o  tesouro (da casa) do nosso Deus, as primícias dos nossos alimentos, dos nossos licores, dos frutos de todas as árvores, da vinha, do azeite e pagar o dízimo da nossa terra aos levíticos” (Neemias 10. 37)
“A tua prata converteu-se em escória; o teu vinho misturou-se com água (Isaías 1,22)
“A alegria e o regozijo desaparecerão dos campos, e nas vinhas ninguém exultará, nem mostrará júbilo. Não mais pisarão vinho no lagar os que tinham costume de o pisar; fiz calar a voz dos pisadores”. (Is 16.10)
“O Senhor jurou pela sua destra e pelo seu braço forte: Eu não darei mais o teu trigo por comida aos teus inimigos, nem os filhos alheios beberão o teu vinho, fruto do teu trabalho; mas os que recolherem o trigo o comerão e louvarão o Senhor; e os que acarretarem o vinho bebê-lo-ão nos átrios do meu santuário” (Is 62. 8-9).
[Esta passagem faz referência profética ao que virá após a vinda do Messias, quando a Santa Missa se celebrará com o pão e o vinho, sendo este bebido “no átrio do meu santuário”, quer dizer, no Altar.]
“Eu pisei sozinho no lagar, e nenhum homem dentre os povos estava comigo; eu os pisei no meu furor, e os pisei aos pés da minha ira; o seu sangue salpicou os meus vestidos e manchei todas as minhas roupas. Porque o dia da vingança está no meu coração, é chegado o ano da minha redenção...”  Is 63.3-4)
“Eis o que diz o Senhor: Como quando se acha uma formosa baga num cacho de uva e se diz: Não desperdices, porque é uma bênção, assim farei eu por amor de meus servos, de sorte que não destrua tudo.”  (Is 65.8).
“Eis o que diz o Senhor dos exércitos: até ao último cacho, como na vindima, se rebuscarão os restos de Israel. Leva lá novamente a tua mão (ó caldeu), como o  vindimador ao cesto”  (Jer 6.9).
[A expressão “restos de Israel” se refere aos fiéis a Deus, verdadeiros “restos” perante a quantidade dos infiéis].
“...um canto semelhante aos pisadores de uvas será cantado contra todos os habitantes da terra...” (Jer 25.30).
“A alegria e o regozijo desapareceram do Carmelo e da terra de Moab. Eu tirei o vinho dos lagares, o pisador de uva não cantará já suas costumeiras canções..”  (Jer 48.33).
“A fornicação, o vinho e a embriaguez fazem-lhes perder o sentido”  ((Oseias 4.11).
Falando sobre uma época em que tudo havia sido restaurado, o profeta Amós escreveu; “Eis que vêm os dias, diz o Senhor, em que o que lavra seguirá de perto o que sega, e o que pisa as uvas (seguirá de perto) o que semeia o grão; os montes destilarão doçura e todos os outeiros serão cultivados”  (Amós 9.13).
“Assim como o vinho engana quem o bebe com excesso, assim será o homem soberbo, que ficará sem honra...”  (Habacuc 2.5).
Quando Neemias dirigia os trabalhos de reconstrução do templo após a volta do exílio, dava vinho aos trabalhadores, conforme relata:
“Para isto todos os dias me era preparado um boi e seis carneiros escolhidos, além das aves, e de dez em dez dias eu distribuía vinhos diversos e muitas outras coisas...” (Neemias 5.18).
Além disso, enviava também vinho aos sacerdotes do templo: “prometemos levar aos sacerdotes, para o tesouro (da casa) do nosso Deus, as primícias dos nossos alimentos, dos nossos licores, dos frutos de todas as árvores, da vinha, do azeite, e pagar o dízimo da nossa terra aos levitas” (Neemias 10.37)
Após a reforma na religião, a mudança; “Naqueles dias vi em Judá homens que pisavam nos lagares ao sábado, que acarretavam molhos, e que carregavam sobre jumentos vinho, uva, figo e toda casta de carga, e que as levavam a Jerusalém em dias de sábado”  (Neemias 13.15).
 “Nem se deita vinho novo em odres velhos; doutro modo rebentam os odres, derrama-se o vinho e perdem-se os odres. Mas deita-se vinho novo em odres novos; e assim ambas as coisas se conservam”  (Mt 9.17)
“Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis um glutão e um bebedor de vinho...”  (Mt 11.19)
Na instituição da Eucaristia e de Santa Missa, na Quinta Feira da Paixão, disse Nosso Senhor: “Desta hora em diante não beberei mais deste fruto da videira até àquele dia, em que o beberei de novo convosco no reino do meu Pai. (Mt 26,29).
Na cura do homem da estrada, o Bom Samaritano usou também do vinho, como relata São Lucas: “..e, aproximando-se, pensou-lhe as feridas, lançando nelas azeite e vinho”  (Lc 10.34).
Entre os diáconos, São Paulo exigia morigerados costumes, como no uso do vinho; “Igualmente os diáconos sejam modestos, não de duas línguas, nem dados a muito vinho...” (I Tim 3,8). Quer dizer, não podiam usar de “muito vinho”, porque o exagero na bebida poderia embriaga-los, mas não há restrições ao uso do vinho moderado. Mais adiante, o Apóstolo volta a falar do vinho, desta vez recomendando o seu uso por motivos de saúde: “Não continues a beber água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”  (I Tim 5.23).
No fim do mundo, as uvas e o vinho são relembrados como símbolo da colheita das almas pelos Anjos: “Saiu do altar outro anjo, que tinha poder sobre o fogo, e gritou em alta voz para o que tinha a foice aguda, dizendo: Lança tua foice aguda, vindima os cachos da vinha da terra, porque as suas uvas estão maduras” (Apoc 14.18).
Ao abençoar o filho Judá, disse, a certa altura, Jacó (ou Israel), falando de Redentor que nasceria daquela estirpe: 
“Ele atará à vinha o seu jumentinho, e à videira, ó meu filho, a sua jumenta. Lavará a sua túnica no vinho, e a sua capa no sangue da uva. Os seus olhos são mais formosos que o vinho, e os seus dentes mais brancos que o leite”  (Gên 49, 11-12).
Nas primeiras normas sobre o culto divino já entrava o vinho como parte importante: “Com o primeiro cordeiro oferecerás uma décima parte de um efá de flor de farinha, amassada com azeite de azeitonas pisadas, na medida da quarte parte do hin, e vinho na mesma quantidade para as libações”  (Ex 29.40).
O nazireu era um consagrado a Deus, e após a cerimônia de consagração lhe era permitido beber vinho: “depois disto o nazireu pode beber vinho” (Num 6.20).
“Eu te dei toda a medula do azeite, do vinho, do trigo e tudo o que ofereceu como primícias ao Senhor”  (Num 18.12)
“Derramareis em libação a quarta parte de um hin de vinho para cada cordeiro no santuário do Senhor”  (Num 28.7).
Era um dos prêmios prometidos por Deus aos que seguiam seus mandamentos; “Se vós portanto obedecerdes aos meus mandamentos, que eu hoje vos prescrevo, de amar o Senhor  vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma, ele dará à vossa terra as chuvas temporãs e serôdias, para que recolhais o pão, e vinho, e azeite, e feno  dos campos para sustentar os gados, e para que vós mesmos tenhais que comer e com que vos saciar”  (Deut 11.13-15).
O vinho é chamado de “sangue da uva”, tal a sua importância: “..e para que bebesse o mais puro sangue da uva”  (Deut 32.14)
Aos sacerdotes, porém, era vedado o uso do vinho, mas somente  quando estiverem no “tabernáculo do testemunho”: “Disse também o Senhor a Arão: Tu e teus filhos não bebereis vinho, nem qualquer coisa que possa embriagar, quando entrardes no tabernáculo do testemunho, para que não morrais; porque este é um preceito eterno para as vossas gerações, e para que tenhais a ciência de saber discernir entre o santo e o profano; entre o impuro e o puro...” (Lev 10.8-10).
O vinho é também mal visto como princípio de maldade quando usado de forma excessiva:
“Eles comem o pão da impiedade, e bebem o vinho da iniquidade”  (Prov 4,17).
“O vinho é uma fonte de luxúria, e a embriaguez é cheia de desordens; todo aquele que põe nisto o gosto, não será sábio. (Prov 20.1)
“Aquele que ama os banquetes, parará na indigência; o que ama o vinho e a mesa lauta não enriquecerá”  (Prov 21.17).
“A quem se dirá: Desgraçado de ti? Ao pai, de quem se dirá: Desgraçado de ti? Para quem serão as bulhas? Para quem os precipícios? Para quem as feridas sem motivo? Para quem o vermelho dos olhos?
Para quem, senão para aqueles que passam o tempo a beber vinho, e fazem consistir as suas delícias em despejar copos?
Não olhes para o vinho quando te começa a parecer louro, quando a sua cor brilha no copo; ele entra suavemente, mas no fim morde como uma serpente, e espalha o veneno como basilisco.
Os teus olhos verão coisas estranhas, e o teu coração proferirá incoerências.
E tu serás como homem adormecido, no meio do mar, e como um piloto sonolento que perdeu o leme.
E dirás: espancaram-me, mas não me doeu; arrastaram-me, mas eu não senti Quando despertarei eu, e quando acharei mais vinho para beber?”  (Prov 23.29-35).
“Não dês vinho aos reis, porque não há segredo onde reina a embriaguez”  (Prov 31,4)
Porém é recomendado em alguns casos:
“Dá aos aflitos um licor forte, e vinho aos que estão em amargura de coração” (Prov 31.6).
“e o vinho que alegra o coração do homem”  (Salmo 103.15)
 Os filhos de Jó estavam num banquete comendo e bebendo vinho, quando um vendo derrubou a casa em que estavam e matou a todos (Jó 1, 13 e 18).


O USO DO VINHO ATRAVÉS DOS TEMPOS
Após Noé haver descoberto as propriedades da uva e do vinho, conforme vimos, os homens foram, ao longo dos anos, aperfeiçoando o cultivo da uva e podução de vinhos.
Nos primórdios tempos dos hebreus, as uvas, colhidas em cestos eram jogadas no lagar, uma cuba profunda de pedra, bem colocada no chão, bem esculpida na mesma rocha (Is 5: 2). Alguns furos feitos na parte inferior deste tanque permitia que o líquido caísse num tanque mais baixo, que também costumava ser esculpida na rocha (Jer. 6: 9; Is. 5: 2). Um homem, ou dois, se o lagar era grande, andavam pisando nas uvas (Neemias. 13:15; Jb. 24:11).
No Egito, como provavelmente na Palestina, os pisoteadores, para evitar quedas, se apegavam a cordas que pendiam acima deles. Com suas canções definiam o ritmo de seu trabalho (Is. 16:10; Jer. 25:30;48:33). O suco da uva preta manchava suas peles e roupas (Is. 63: 1-3). O líquido que caía no tanque inferior era derramado em odres ou panelas de barro (Jó 32:19). Quando a fermentação alcançava o grau desejado, o vinho passava para outros recipientes (Jer. 48:11,12).
Os hebreus bebiam o suco da uva em forma de mosto, assim como veio da vinícola ou como mosto fermentado. Eles usaram o vinagre obtido por uma fermentação mais longa do vinho. Nos tempos antigos, o mosto servia para transformá-lo em xarope ou mel de uva. Os autores latinos mencionam várias formas de conservação das uvas e até do mosto. Foi feita uma tentativa de impedir a fermentação para ter um líquido rico em açúcar. Os romanos adoçaram a comida com mel ou suco de uva concentrado obtido por ebulição do mosto.
Entre os hebreus, as várias bebidas que vieram da videira tinham nomes diferentes:
(1) "Tîrõsh" (em grego "Gleukos") designava o suco espremido na hora de a uva e o vinho novo. O historiador judeu Flávio Josefo usa o termo grego "Gleukos" ao falar de suco de uvas espremido sobre o copo de Faraó (Ant. 2: 5, 2; Gn. 40:11), demonstrando a forte influência da cultura helênica na Palestina. Os antigos distinguiram entre o suco obtido deste caminho e o líquido obtido das uvas na vinícola. Quando fermentado o mosto tornava-se intoxicante (Os.4:11).
Quando o Espírito Santo veio no Pentecostes, os Apóstolos foram acusados ​​de estarem cheios de mosto (Atos 2:13). Os acusadores disseram “mosto” talvez para ridicularizar, pois era uma bebida de inferior qualidade que o vinho. Há exegetas que afirmam que "Tîrõsh" não significa nem deve ser mosto nem vinho novo, mas apenas as uvas vintage, mas há muitos textos que refutam essa afirmação infundada (por exemplo, Joel. 2:24; Neemias 10.37 e 18:12; Is 62: 8, 9; 65: 8;  Dt 7:13; 11:14; 12:17).
(2) O termo hebraico "Ãsis", derivado de um outro que significa "Prensagem", designava suco de uva ou outra fruta, especialmente o não fermentado. Mas também se aplicava a bebidas fermentadas (Is 49:26; Amós 9:13). Os hebreus de bom grado bebiam o mosto, mas eles preferiam o vinho envelhecido (Lc. 5:39; Eclo. 9:10), talvez por dar mais status social.
(3) Já o termo hebreu "Yayin" está relacionado o semítico do qual o grego "Oinos" e o latim "vinum". Aram. "Hamar" ou "Hemer" significava a mesma bebida; a primeira passagem bíblica no que o termo «yayin» aparece é encontrado em Gn. 9:21 onde isso significa "Suco de uva fermentado". Não há razão para atribuir a esse termo nas outras passagens, não tem significado diferente. O grego "Oinos" tem o mesmo significado que "yayin". No entanto, se o adjetivo «novo» acompanha «oinos», a expressão significa então leve, fermentado ou não. Há exegetas que afirmam que esta expressão deve ser sinônimo de bebida não fermentada;  o fato é que, mais tarde, os hebreus bebiam «Yayin» durante a Páscoa, uma vez que era absolutamente proibido consumir fermento durante os sete dias desta solenidade. Mas este é um argumento inválido, porque os fermentos de vinho não foram considerados leveduras. Na Palestina, havia uma grande variedade de vinhos; os do Líbano eram famosos. Os tiranos compraram o vinho de Helbón.
Quando instituiu a Santa Ceia, Nosso Senhor Jesus mencionou "o fruto da videira "(Mt 26:29), expressão usada desde os tempos antigos, imemorial para os hebreus, por ocasião das solenidades da Páscoa e véspera de sábado. Os gregos também usavam essa expressão no senso de bebida fermentada. Em geral os textos bíblicos mencionam o suco da uva preta (Is. 63: 2; Rev. 14: 18-20) e dá o nome de "o sangue das uvas" (Gn 49:11; Dt. 32:14). O termo hebraico «Mesek», mistura, indica um vinho reduzido com água ou com sabor  Esse termo parece ter tido um significado pejorativo porque foi aplicado em tudo para vinhos misturados com drogas entorpecentes ou excitantes. Os hebreus não tinham conhecimento da destilação. Nos vinhos aromatizados usavam nomes indicando seu "buquê", "mimsak" (Pv 23:30; Is.65:11); "Meseq"; Cant. 7: 3; 8: 2).
(4) O "shêkãr" era uma bebida forte feita a partir de sucos de frutas, não eram as uvas. Assim, o "shêkãr" foi obtida por fermentação da cevada, mel, tâmaras, romãs, vinho a palma do suco de maçã. "O shêkãr" causou embriaguez (Is 28: 7; 29: 9). O termo "shêkãr" é usado apenas uma vez para indicar a libação com vinho puro (Num. 28: 7).
(5) Outros nomes de vinhos: 'sõbe', um termo derivado de uma raiz o que significa beber imoderadamente (Is 1:22; Os. 4:18; Naum. 1:10); "Sh'marim" designa as fezes do vinho e, portanto, o vinho envelhecido, de qualidade superior por ter passado muito tempo no banquinho.
Usos do vinho: (a) Medicinal (Pr. 31: 6; Lc. 10:34; 1 Tim. 5:23); (b) ritual (Êx 29: 39-41; Lv 23:13); (c) doméstica: na Palestina, como em todos os outros países mediterrânicos, o vinho leve sempre foi um complemento da comida (Núm. 6:20; Dt. 14:26; 2 Cr. 2:15; Neemias. 5:18; Mt 11:19; I Tim. 3: 8). Pão e vinho, fundamentos da comida, simbolizavam a comida como um todo (Sl. 104: 14, 15; Pr. 4:17). Se oferecia vinho aos convidados (Gn 14:18); estava presente nas festas (Jó. 1:13,18; JN. 2: 3). Os hebreus, pessoas de costumes simples, eram expostos ao abuso de vinho, especialmente em festas. Seu consumo foi proibido aos sacerdotes quando eles tinham do que oficiar no Tabernáculo (Lev. 10: 9). Foi recomendado juízes que não bebiam vinho (Pr. 31: 4, 5; cf. Ec. 10:17; Is. 28: 7). Ele como excesso de bebida foi evitado de várias maneiras:
(A) O vinho foi baixado com água (2 Mac. 15:39;). A água quente foi misturada com o vinho, forma como era  servido na Páscoa..
(B) Um mordomo mestre presidia os banquetes (Ec. 32: 1, 2; Jo. 2: 9,10) Um de seus deveres era determinar em que proporção do que misturar o vinho, que permaneceu concentrado até tempo para consumi-lo e determinar quanto o convidado poderia beber. No tempo de Nosso Senhor havia inclusive um encarregado de provar o vinho, chamado de “arquitriclínio” no Evangelho de São João, termo grego que significava “provador de vinho” e era quem dirigia o banquete.
(C) Houve avisos severos que alertaram os hebreus quanto ao perigo de permanecer no vinho, de misturar bebidas fortes. A degradação daqueles que não sabem é mostrada na Bíblia. eles sabem como moderar (Gênesis 9:21; Pr. 23: 29-35; Is 5:22).
(D) Houve numerosos provérbios que estigmatizaram a loucura de embriaguez (Pr. 20: 1; 21:17; 23:30, 31; Hab. 2: 5).
(E) a embriaguez, como os hebreus bem sabiam, é um sério pecado que Deus julga e castiga ( Is 5:11, 17; I Cor.5:11; 6: 9-10; Gál. 5:21; Ef. 5:18; I p. 4: 3).









[1] Labruscas – castas de uvas pretas, de inferior qualidade.

domingo, 26 de julho de 2020

NECESSIDADE DE UMA “RESSURREIÇÃO” UNIVERSAL PARA A IGREJA





                                                          (Nossa Senhora do Grand Retour)

Nas condições em que as coisas estão postas, só poderia haver uma renovação da Igreja, uma volta ao cumprimento do papel d’Ela e do fiel cumprimento de sua Missão, se houvesse uma ressurreição, um ressurgimento espiritual enorme em todo o orbe católico. Esta ressurreição (que chamamos de “Grand-Retour”) é necessária, conforme explica São Tomás de Aquino, falando a respeito da necessidade da ressurreição do pecador:

“Sobre o que acabamos de expor, podemos fazer quatro considerações para nossa instrução.
“Primeiro, que devemos nos esforçar para ressurgirmos espiritualmente da morte da alma, contraída pelo pecado, para a vida da justificação que se obtém pela penitência.
“Escreve o Apóstolo: “Surge, tu que dormes, ressurge dos mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5, 14).
“Esta é a primeira ressurreição da qual nos fala o Apocalipse:  “Feliz o que teve parte na primeira ressurreição” (Ap 20, 6).
“Segundo, que não devemos protelar esta nossa ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo ressuscitou ao terceiro dia.
“Lê-se: não tardes na conversão para o Senhor, e não a delongues dia por dia  (Ecle 5, 8).
“Por que estás agravado pela fraqueza, não podes pensar nas coisas da salvação, e porque perdes parte de todos os bens que te são concedidos pela Igreja, incorres em muitos males, perseverando no pecado.
“Como disse o Venerável Beda, o diabo, quanto mais tempo possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a deixa.
“Terceiro, que devemos também ressurgir para a vida incorruptível, de modo que não mais morramos, isto é, que devemos perseverar no propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta aos Romanos:  “Assim também vós vos considereis mortos para o pecado, vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo, obedecendo-lhe as concupiscências; não exibais os vossos membros como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos exibir a vós mesmos para Deus como vivos que saíram da morte”  (Rom 6,9; 11-13).
“Quarto, que devemos ressurgir para uma vida nova e gloriosa evitando tudo o que antes nos foi ocasião e causa de morte e de pecado. Lê-se na Carta aos Romanos:  “Como Cristo ressuscitou de entre os mortos pela glória do Pai, também nós devemos andar na novidade da vida (Rom 5,4)”.  Esta vida nova é a vida de justiça, que renova a alma e a conduz para a glória. Amém.”  [1]

Poderia alguém isoladamente, nas condições do mundo de hoje, tomar tais propósitos? Como isso seria possível? O católico de hoje, seja homem ou mulher, que passa o dia inteiro, a semana inteira, ou até mesmo o mês e o ano inteiros, freqüentando no seu dia-a-dia um ambiente materialista, onde nada lembra Deus, seja na escola ou no trabalho, como esperar que mude de vida e faça penitência pelo simples fato de ir a uma missa, aliás sempre com rituais pouco piedosos, ou mesmo de fazer uma confissão, que às vezes não sabe se foi bem feita ou não? Daí que hoje se observa tristemente milhões e milhões de comunhões sacrílegas, quando as pessoas nem sequer percebem a gravidade do ato que praticam. Perderam simplesmente o senso natural da razão, não vêem os sinais de Deus na Igreja, na sociedade ou até mesmo na natureza. São ateus “in act”.  Tais pessoas perderam o poder de auto-regência e a falta de humildade lhes impede de buscar essa regência entre outros homens (que sejam santos) ou entre seus próprios anjos da guarda.
Pior do que isso: as comunhões sacrílegas, como o pior dos pecados, sujeitam tais pessoas a um severo juízo de Deus, expondo-as a terríveis castigos conforme explica Santo Antonio Maria Claret em sua obra “Caminho Reto e Seguro para chegar ao Céu”:

"Não há crime com que a Deus mais ofensa faz como é com a comunhão sacrílega. Os Santos Padres no-lo pintam com palavras e exemplos assombrosos. Quem comunga em pecado mortal, diz Santo Agostinho, comete maior crime que Herodes, mais horrendo que o pecado de Judas, acrescenta São João Crisóstomo; e outros santos dizem que é maior ainda que os pecados que fizeram os judeus crucificando o Salvador; e por todos, diz São Paulo, que será réu do corpo e do sangue do Senhor, isto é, diz a Glosa, será castigado como se com suas mãos tivesse crucificado o Filho de Deus. É a comunhão sacrílega um delito tão grande, que Deus não espera castigá-lo no inferno, senão que começa já neste mundo com doenças e mortes; de modo que já no tempo dos Apóstolos, como conta São Paulo, muitos pelas comunhões sacrílegas padeciam gravíssimos males corporais, e outros morriam. São Cipriano refere dalguns de seu tempo, que logo que recebiam indignamente a sagrada comunhão eram acometidos de intoleráveis dores nas entranhas, até morrerem rebentados.  São João Crisóstomo conheceu alguns possessos do demônio por este delito;  e São Gregório, Papa, assegura que em Roma fez grande estrago a peste, que sobreveio por ter-se continuado naquela cidade as diversões, banquetes, espetáculos e impurezas depois da comunhão pascal; e o mesmo conta de seu tempo Santo Anselmo, por ter-se cumprido mal este preceito.  Lê-se na vida de São Bernardo que um monge ousou comungar em pecado mortal; mas, coisa horrível!, apenas lhe deu o Santo a Sagrada Hóstia, rebentou como Judas, e como ele condenou-se eternamente".[2]

Pode-se dizer que as comunhões sacrílegas cometidas hoje em dia constituem um pecado social e podem levar as pessoas que a cometem a ter uma participação, ativa ou não, no corpo místico de Satanás. Já não constitui um dos motivos do castigo que nos ameaça?
Há uma expressão francesa para caracterizar esse grande retorno: “Grand Retour”, nome oriundo de uma aparição mariana na França. O “Grand Retour”, ou a Ressurreição coletiva de que falamos, viria então  concomitantemente com tais castigos. Esta ressurreição deveria, então, ser coletiva, deveria ser universal e deveria ocorrer ao mesmo tempo, na mesma época. E ela só poderia vir com a Providência fazendo renascer em todos o “lumen rationis”, e isto só seria possível estimulando de uma forma avassaladora o temor de Deus. Tudo isso só viria com os castigos aguardados e previstos em Fátima. Pois chegou a hora em que a intervenção divina faz-se necessária numa regência típica de correção de rumos. E esta ressurreição só virá através de um holocausto também universal, onde pereçam alguns milhões de pessoas, boas e más, estes para satisfazer a Justiça divina e aqueles para satisfazer o amor e a misericórdia.
Por que tais castigos e o “grand retour” deveriam ocorrer simultaneamente e serem coletivos, quer dizer, atingir toda a humanidade? Porque através de um movimento (o castigo) procuraria a Providência barrar os passos do corpo místico de Satanás, e do outro (o “grand retour”) a reaglutinação do Corpo Místico de Cristo.  E um não poderia ocorrer sem o outro porque ambos, no final, têm a mesma finalidade em toda a humanidade, que é restabelecer a regência da Igreja e divina sobre os homens.



[1]Exposição sobre o Credo – S. Tomás de Aquino – Ed.Loyola, págs. 67/57.
[2] "Caminho Reto e Seguro para Chegar ao Céu" -Santo Antonio Maria Claret - Editora Ave Maria, 1960 - págs. 99/105.


sábado, 25 de julho de 2020

APÓLOGO DE ISAÍAS SOBRE A VINHA





 As figuras de linguagem da Sagrada Escritura, como parábolas e apólogos, são aplicáveis a qualquer época. No entanto, algumas delas aplicam-se inteiramente aos dias de hoje, como esta a seguir: 

“Cantarei ao meu amado o cântico do meu parente sobre a sua vinha. O meu amado adquiriu uma vinha, plantada numa colina fertilíssima, Cercou-a duma sebe e tirou dela as pedras, plantou-a de cepas escolhidas, edificou uma torre no meio, construiu na mesma torre um lagar; esperava que desse boas uvas, mas produziu labruscas.[1]
Agora, pois, habitantes de Jerusalém, e homens de Judá, sede vós os juízes entre mim e a minha vinha. Que coisa há que eu devesse mais à minha vinha, que não lhe tenha feito? Far-lhe-ia acaso injúrias em esperar que ela desse boas uvas, em lugar das labruscas que produziu? Pois agora vos mostrarei o que hei de fazer à minha vinha: Arrancar-lhe-ei a sebe e ficará exposta ao roubo; derrubar-lhe-ei o muro e ficará sujeita a ser pisada. Farei com que fique deserta; não será podada nem cavada; crescerão nela os espinhos; mandarei às nuvens que não derramem sobre ela chuva. A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá a planta, na qual qual ele tinha as suas delícias; esperei que praticassem a retidão, e eis que só há iniquidade, e que praticassem a justiça, e eis que somente se ouvem clamores.
Ai de vós que ajuntais casa com casa e ides acrescentando campo a campo, até chegar ao fim de todo o terreno! Porventura haveis de habitar sós no meio da terra? Aos meus ouvidos chegam estas coisas, diz o Senhor dos exércitos, Verdadeiramente que muitas casas grandes e belas virão a ficar desertas, sem habitante. Porque dez geiras de vinhas produzirão apenas um pequeno frasco (de vinho) e trinta alqueires de semente não darãomais que três.
Ai de vós os que vos levantais pela manhã para vos entregardes à embriaguez e para beberdes até à tarde com tal excesso, que venhais a ficar de todo esquentados pelo vinho. A cítara, a lira, o pandeiro, a flauta, o vinho encontram-se nos vossos banquetes; e vós não olhais para a obra do Senhor, nem considerais as obras das suas mãos. Por isso é que o meu povo foi levado cativo, porque não teve ciência. Os seus nobres morreram de fome e a sua multidão mudou-se de sede. Por isso é que a habitação dos mortos alargou o seu seio e desmesuradamente abriu a sua boca;  desceram a ela os seus heróis, o seu povo e os seus homens ilustres e gloriosos. O plebeu terá de se curvar, os grandes serão humilhados e os olhos dos altivos serão abatidos. O Senhor dos exércitos será exaltado (pela retidão do) seu juízo, e o santo Deus será santificado pela (administração da sua) justiça. Serão apascentados os cordeiros segundo o seu costume, e dos campos desertos, convertidos em fertilidade, comerão os estranhos.
Ai de vós que arrastais e iniquidade com cordas de vaidade, e o pecado com os tirantes dum carro! Vós que dizeis: Avie já com isso e sem demora venha a sua obra, para que a vejamos, aproxime-se e cumpra-se o decreto do Santo de Israel, a fim de que nós o conheçamos. Ai de vós os que ao mal chamais bem, e ao bem mal, que tomais as trevas por luz, e a luz por trevas, que tendes o amargo por doce, e doce por amargo!
Ai de vós que sois sábios a vossos olhos, e, segundo vós mesmos, prudentes!
Ai de vós os que sois poderosos para beber vinho, e fortes para fazer misturas embriagantes! Vós os que justificais o ímpio pelas dádivas, e ao justo tirais o seu direito!
Por esta causa, assim como a língua do fogo devora a palha, e a brasa  ardor da chama, assim a raiz deles será como a faísca, e o seu renovo se dissipará como pó; porque rejeitaram a lei do Senhor dos exércitos, e blasfemaram da palavra do Santo de Israel. Por isso o furor do Senhor se acendeu contra o seu povo, estendeu a sua mão sobre ele e o feriu; os montes se abalaram e os seus cadáveres foram lançados como esterco ao meio das praças. Com todos estes castigos não se aplacou o seu furor, mas ainda está levantada a sua mão. Arvorará um estandarte para servir de sinal aos povos de longe e chama-los-á com um assobio desde os confins da terra; e acorrerão com uma velocidade prodigiosa. Não haverá neles quem sinta cansaço ou fadiga; não dormitarão nem domirão; ninguém desatará o cinto dos seus rins, nem desatará a correia do seu calçado. As suas setas são agudas e todos os seus arcos estão entesados. As unhas dos seus cavalos são como  pederneira e as rodas dos seus carros têm a rapidez da tempestade. O seu rugido será como o do leão, rugirão como os leõezinhos. Soltarão bramidos, se arrojarão à presa e a levarão, não haverá que lha tire. Soará sobre Israel naquele dia um como bramido do mar; olharemos para a terra, e eis que tudo será trevas de tribulação, e a luz desaparecerá nessa profunda escuridão”  (Is 5, 1-30).

 [1] Labruscas – castas de uvas pretas, de inferior qualidade.