sexta-feira, 30 de junho de 2023

E LÍCITO AO CATÓLICO RESISTIR A UM PAPA?

 



Sim, Santo Padre – continuamos – São Pedro nos ensina que é necessário "obedecer a Deus antes que aos homens" (At. V, 29). Sois assistido pelo Espírito Santo e até confortado – nas condições definidas pelo Vaticano I – pelo privilégio da infalibilidade. O que não impede que em certas matérias ou circunstâncias a fraqueza a que estão sujeitos todos os homens possa influenciar e até determinar Vossa atuação. Uma dessas é – talvez por excelência – a diplomacia. E aqui se situa a Vossa política de distensão com os governos comunistas.


Aí o que fazer? As laudas da presente declaração seriam insuficientes para conter o elenco de todos os Padres da Igreja, Doutores, moralistas e canonistas – muitos deles elevados à honra dos altares – que afirmam a legitimidade da resistência. Uma resistência que não é separação, não é revolta, não é acrimônia, não é irreverência. Pelo contrário, é fidelidade, é união, é amor, é submissão.


"Resistência" é a palavra que escolhemos de propósito, pois ela é empregada nos Atos dos Apóstolos pelo próprio Espírito Santo, para caracterizar a atitude de São Paulo. Tendo o primeiro Papa, São Pedro, tomado medidas disciplinares referentes à permanência no culto católico de práticas remanescentes da antiga Sinagoga, São Paulo viu nisto um grave fator de confusão doutrinária e de prejuízo para os fiéis. Levantou-se então e "resistiu em face" a São Pedro (Gal. II, 11). Este não viu, no lance fogoso e inesperado do Apóstolo das Gentes, um ato de rebeldia, mas de união e amor fraterno. E, sabendo bem no que era infalível e no que não era, cedeu ante os argumentos de São Paulo. Os Santos são modelos dos católicos. No sentido em que São Paulo resistiu, nosso estado é de resistência.


E nisto encontra paz nossa consciência.


(Plínio Corrêa de Oliveira - "Folha de S. Paulo", 10 de abril de 1974)



Ver nossa postagem: PODE HAVER DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA COM O PAPA?

https://quodlibeta.blogspot.com/2022/06/pode-haver-discussao-de-temas.html?fbclid=IwAR2KZhbSZgt34q9O29uCrtIDTx-snI5dOcbCF9sM84yhox7qec7PXF9-3RI&m=1




quinta-feira, 29 de junho de 2023

O PAPA ESTÁ PRESENTE, PELO PENSAMENTO E PELA AÇÃO, EM TODAS AS PARTES DO MUNDO

  


O Papa está presente, pelo pensamento e pela ação, em todas as partes do mundo. Luta contra a barbárie, ao lado dos missionários da Patagônia ou do Araguaia, como ao lado dos Sacerdotes da “banlieue” comunista de Paris, dos bairros operários de Londres e de New York. Luta, ainda, ao lado dos mártires da Espanha. Reza e sofre com seus filhos dizimados no México, na Rússia e na China. Luta com seus filhos perseguidos na Alemanha. Dirige seu rebanho francês, tão ardentemente amado e ameaçado de tão grave perigo. Volta os olhos para o Oriente, onde intensifica a obra das Missões, para conjurar a infiltração comunista na África e na Índia. Dedica uma atenção paternalmente afetuosa e vigilante à conversão do Japão, tão distante e tão querido. Olha para os Estados Unidos com um olhar de amorosa apreensão, e delega, de seu lado, o Cardeal Pacelli para, pessoalmente, fazer ouvir à grande república yankee suas palavras de aviso e de amor. Seu coração implora pela conversão tão almejada dos anglicanos, pela volta dos cismáticos ao seio da Igreja, pela inviolabilidade dos Lugares Santos (...). Tem ardentíssimo amor pelo Brasil, no qual concentra o melhor de seus afetos e sua vigilante atenção.

 Neste ano que se inicia, nosso coração voa no seu leito de dor.

 Todo o afeto de que somos capazes é para ele. Porque ele é, para nós, a clarabóia aberta sobre o Céu, através da qual filtra a luz de Deus.

 Para o Papa, com o Papa, pelo Papa é nosso verdadeiro programa.

 Assim, e só assim, conseguiremos estar “CUM CHRISTO, IN IPSO ET PER IPSO”.


 (Plinio  Corrêa de Oliveira, “Legionário”, N.º 225, 3 de janeiro de 1937)

sexta-feira, 9 de junho de 2023

A NOBREZA POVOOU O BRASIL DESDE SEU DESCOBRIMENTO

 




A NOBREZA POVOOU O BRASIL – Ao contrário do que dizem alguns professores mal informados, não foram os degredados que povoaram nosso país no início da colonização, mas nobres de grandes linhagens. Só se conhece um degredado deste período, João Ramalho, enquanto são citados dezenas de nobres e heróis de grande porte. De uma só vez vieram para a Bahia, em 1624, 500 napolitanos, sendo que deste total dezenas eram nobres espanhóis, portugueses e italianos. Dentre os que aqui ficaram morando com a  família destacam-se o Conde de Bagnuolo e o Conde de Sanfeliche, além de muitos outros. 

De todas estas famílias da alta nobreza destaca-se a de Mem de Sá, que aqui fixou residência e deixou descendência num período em que o Brasil não oferecia comodidade e lucro nenhum a seus colonizadores, a não ser a catequese e civilização de nossos índios. 

Vinha o nobre português já sabendo que aqui não encontraria comodidades, mas um trabalho árduo e martirizante. Num esboço biográfico de Mem de Sá, São José de Anchieta assim se refere ao estado das coisas no Brasil quando da chegada do grande governador:

“Envolta, há séculos, no horror da escuridão idolátrica, houve nas terras do Sul uma nação, que dobrava a cabeça ao jugo do tirano infernal, e levava uma vida vazia de luz divina. Imersa na mais triste miséria, soberba, desenfreada, cruel, atroz, sanguinária, mestre em trespassar a vítima com a seta ligeira, mais feroz que o tigre, mais voraz que o lobo, mais assanhada que o lebréu, mais audaz que o leão, saciava o ávido ventre com carnes humanas. Por muito tempo tramou emboscadas: seguia, no seu viver de feras, o exemplo do rei dos infernos, que por primeiro trouxe a morte ao mundo, enganando nossos primeiros pais. Dilacerava o corpo de muitos com atrozes tormentos, e, embriagado de furor e soberba ia enlutando os povos cristãos com mortes freqüentes”  

Mais adiante, na mesma obra, São José de Anchieta completa a descrição do  estado bárbaro e desumano dos nossos índios:

“(...) O bárbaro expandindo sua ira quebrantava as leis da natureza e os divinos preceitos do Pai onipotente cevando as queixadas bestiais em corpos humanos! Essa raça selvagem, sem a menor lei, perpetrava crimes horrendos contra os mandados divinos, proferindo impunemente ameaças contínuas e altivos discursos. Então com arrogância o índio sanhudo olhava para os cristãos, e estes, entrincheirados detrás de seus muros, tremiam de pavor vergonhoso: como quando lobos vorazes, que a fome impiedosa açula e avassala, rangendo os dentes, cobiçam, à ronda do aprisco, espostejar os tenros cordeiros e extinguir a sede ardente no sangue que sugam; lá dentro as ovelhas estremecem e fremem com medo das feras que rondam fora, mal confiadas no aprisco”

Para piorar, havia ainda a triste situação de alguns clérigos corrompidos, descrita anteriormente, que estimulava este estado de coisas em vez de combatê-lo. Tornava-se necessário fazer algo para pôr fim a tudo isto. Os padres da Companhia de Jesus, sozinhos, ainda pouquíssimos e divididos ao longo de terras tão extensas, necessitavam de um apoio maior par seu trabalho. Era necessário que surgisse um herói, um santo de grande quilate para dar início a este trabalho de suporte das missões jesuíticas. Quem seria este herói? Mem de Sá:

“Mas um dia o Pai onipotente volveu os olhares do reino da luz à noite das regiões brasileiras, às terras que suavam, aos borbotões, sangue humano. Então mandou-lhes um herói das plagas do Norte, um herói que vingasse os crimes nefandos, que banisse as discórdias, freasse o assassínio, bárbaro e contínuo, acabasse com as guerras horrendas, abrandasse os peitos ferozes e não sofresse impassível cevar-se em sangue de irmão queixadas humanas...”


(De Gesti Mendi de Saa” – Pe. Joseph de Anchieta, SJ – Edições Loyola, 1986, págs 127, 66 e 93)