quinta-feira, 19 de abril de 2012

EDUCAÇÃO MORAL



                                          Amélia Rodrigues

 Trata-se de notável escritora e dedicada educadora católica, nascida a 26 de maio de 1861 na localidade chamada Oliveira dos Campinhos, na época pertencente ao município de Santo Amaro, Bahia.

Iniciou sua atividade intelectual como poetisa, publicando, ainda jovem, vários poemas em diversos jornais da capital baiana. No entanto, foi  como educadora da juventude que mais se destacou, tendo escrito vários contos de caráter cívico e religioso. O seu intuito sempre foi o de instruir a juventude de seu tempo, tendo escrito também dramas sacros.

Escritora católica, tinha grande sensibilidade e discernimento para os grandes problemas que atormentavam a humanidade de seu tempo. Quando a Primeira Guerra estava em seu auge, exatamente no mesmo mês que Nossa Senhora aparecia aos pastorinhos em Fátima (maio de 1917) publicava ela um artigo na revista "A Voz" do Rio, sob o título de "Aos pés de Nossa Senhora", em que dizia: "Ainda este ano surge maio no meio da agonia universal... Apenas um ponto luminoso oferece ao mundo o mês das flores: o altar de Maria...".

Fundou em Salvador o “Instituto Maternal”, considerada uma das melhores escolas da época. Dedicou-se ao jornalismo, tendo sido co-fundadora da revista “Paladina”, da Liga das Senhoras Católicas. Fundou também a revista “A Voz”, de circulação nacional, e publicou diversos artigos e poesias em outras publicações como “O Pantheon”, “O Álbum”, “A Renascença”, “A Tarde” e “O Livro”. Em algumas destas publicações usou o pseudônimo de Juca Fidelis.

No final de seus dias, Amélia Rodrigues mudou-se para o Rio de Janeiro, indo residir em Niterói, onde passou a participar ativamente do Movimento Católico Feminino, como dirigente da Liga das Senhoras Católicas. Mesmo deixando tal cargo depois, deram-lhe o título de Presidente Honorária, tal o prestígio que detinha.

Poucos anos depois, em 1926, teve que viajar para a Bahia, onde veio a falecer no dia 22 de agosto daquele ano.

Dentre as obras de caráter educativo de Amélia Rodrigues, destacam-se "Mestra e Mãe" e "Do Meu Arquivo". Esta última é um compêndio de seus principais contos, todos de caráter moral e instrutivos. Quanto à "Mestra e Mãe", assim se refere um seu discípulo sobre o mesmo:

"Quase no findar do século, 1898, Amélia Rodrigues edita o seu excelente livrinho "Mestra e Mãe". Elaborou-o para fins de educação cívica e moral. Na verdade, trata-se de um livro que, além de atender à sua finalidade deixa-nos a impressão de que a história nele contada traduz, afinal, parte da própria vida da autora. No seu pórtico, lê-se a seguinte advertência, dirigida "às jovens brasileiras", cujo sentido define a formação de quem a escreveu. Leiamo-la:

"Escrevi este livro, queridas meninas, para auxiliar vossos pais e vossos mestres na doce tarefa de fazer-vos amar a virtude e a instrução.

Saiu de meu coração e vai para o vosso, sem preocupações de estilo, sem pretensões de mérito, nem ambições que não sejam as de contribuir, pouco que seja, para o vosso bem. Lede-o, se vos agradar, mas com a intenção de tirar dele algum fruto. Sabeis que não se podem cultivar flores sobre rochas duras. Assim também nenhum  bom conselho vos aproveitará se o vosso coração for intratável e indiferente como a pedra.

Não! Não o será! Trabalhareis com vontade, com afinco, no vosso aperfeiçoamento moral e conseguireis ser boas, e sereis a glória de vossa família, a honra do vosso sexo, sereis dignas cidadãs de nossa grande Pátria, que de vós espera a geração futura!"

São palavras repassadas de brandura, de meiguice e de ensinamentos bons E o livro foi todo escrito assim. Em suas páginas, impregnadas da alma de Amélia Rodrigues, desdobra-se a história de uma professora. Mulher boa e ilustrada que se tornou amada e respeitada. D. Mercês, é o seu nome, e a sua trajetória na obra sugere autobiografia. Aos que mais de perto conheceram Amélia Rodrigues, a analogia de caráter, humildade, propósitos de bem servir no magistério e, sobretudo, de amor ao próximo, notadamente à infância, entre a heroína e a narradora, não escapará ao reparo. E ainda há um preeminente atributo que acentua a verossimilitude do modelo: é o amor ao Brasil.

É o fenômeno que ocorre freqüentemente nos escritores de obras de ficção, o surgir de uma ou mais personagens identificadas com o autor. E isso se dá de caso pensado ou por simples ação do subconsciente.

O livro "Mestra e Mãe" bem merece um estudo mais acurado no sentido de deduções psicológicas necessárias á biografia da grande educadora"

(Aloysio Guilherme da Silva, in "Amélia Rodrigues - Evocação", Editora Livraria São José, Rio, 1963 - págs. 23/24)..


O texto abaixo foi extraído de uma das obras de Amélia Rodrigues, e nele se reflete a visão de uma verdadeira educadora, pela qual é impossível haver educação sem moral, e moral sem religião.

Educação Moral

Que bela coisa uma boa escola, minhas caras leitorazinhas! Uma sala grande, arejada, clara, cheia de carteiras, de mapas, de quadros, de tudo o que se  torna preciso para facilitar o ensino, e cheia também de crianças alegres, robustas, que querem aprender e que aprendem... que bela coisa é!...

A mestra fala, as crianças escutam, pendentes dos lábios dela, para recordar e repetir depois em casa, às mamães, tudo ou quase tudo o que ela disse, o que ela ensinou... que lindo espetáculo!

Felizes crianças, estas que vão à escola e que aproveitam nela. As outras, as que ficam em casa sem estudar, são infelizes, porque grande desgraça é não receber instruções nem educação, viver no cativeiro medonho da ignorância. Merecem lástima essas crianças.

- A instrução é a luz; a ignorância é a treva, é a cegueira do espírito.

Entretanto, para que essa luz seja um verdadeiro bem é preciso que a acompanhe, que a preceda mesmo, uma sólida educação moral.

Homens e mulheres há, infelizmente, que sabem muito, têm talentos, cultivam ciências e artes e impõem-se até à admiração de todos, mas que praticam péssimas ações, abrigam sentimentos  vis e são a vergonha dos homens de bem. Por que?... Porque lhes faltou uma boa educação moral.

Acima, muito acima desses monstros com asas de águia, estão aqueles que, não brilhando embora pelos preciosos dotes do saber ou da inteligência, possuem, contudo, o cabedal de honradez, do caráter, da virtude. Os primeiros excitam somente a admiração; os segundos inspiram estima e confiança.

Onde haurir, porém, a verdadeira, a sólida, a pura educação moral?... Eu vo-lo responderei. Prestai-me atenção.

Assim como o fruto vem da flor, assim a verdadeira moral vem, necessariamente, logicamente, da vida religiosa. Não pode haver moral sem religião; e vice-versa.

Nem demanda grandes arrazoados a prova disso. Bastará um pequeno raciocínio.

O cumprimento do dever é quase sempre um sacrifício; ora, a não haver uma força mais elevada que obrigue o homem a vencer a sua natureza para cumprir o dever, ele nunca,  nunca o poderá fazer perfeitamente, sobretudo com desinteresse e com satisfação, se alguma vez o fizer. A religião é essa forma imensa, miraculosa, sobrenatural.

Tem incentivos para os fracos, doçura para os fortes, consolações para todos. É o laço vigoroso que nos prende ao Bem. Quebrado esse laço, a alma facilmente foge ao sacrifício, parecendo-lhe insuportável a cadeia do dever.

As provas disso abundam e têm abundado sempre. Grandes criminosos têm confessado no cadafalso ou no cárcere, que uma educação sem Deus é a que os levara à malvadez e à desgraça. Em tese é isso o que se dá.

A ideia de Deus eleva os pensamentos para o alto, para as santas ambições de uma vida melhor, de uma vida eterna, arrancando-o à lama da terra. As mesmas desgraças, as misérias da vida, perdem a sua foca destruidora quando batem no rochedo da fé. A fé traz a esperança e traz a caridade, o amor!

Uma chamada “moral utilitária”  ou “independente” – moral sem Deus, sem vistas largas para a eternidade – é falsa, absolutamente falsa, porque não se baseia em fundamentos duráveis, e, estando sempre sujeita ao vendaval  das paixões, fica por isso arriscada e exposta a interpretações errôneas, de acordo com o interesse individual, para satisfação dos gozos, que a natureza animal está sempre a exigir.

A base mais segura da moral é, pois, o catecismo cristão, porque pregar os bons costumes sem apontar para Deus é escrever na areia, falar de sacrifícios sem levantar os olhos para Jesus Cristo, o divino Crucificado, é pretender gravar letras em pedra com a ponta do dedo. Todo o piloto quer um rumo, todo o problema uma solução, e para esta luta titânica do bem contra o mal não são armas seguras as ideias vagas, indecisas, a flutuarem nas ondas da dúvida, a se abismarem no vazio da negação, que nada resolvem e nada deixam em troca das esperanças e das consolações que arrebatam.

Eis aqui, a respeito, alguns trechos de um discurso que Vitor Hugo, o grande poeta francês, pronunciou no Senado, defendendo a educação religiosa:

“Há uma desgraça em nossos tempos, e quase direi que é a única desgraça: é a tendência a reduzir tudo a esta vida. Dando-se ao homem por único e melhor destino a vida terrena e material, se agravam todas as suas misérias com a negação do que é superior; à opressão dos desgraçados agrega-se o peso insuportável do – nada; e nisto está a origem das profundas convulsões sociais... Oh! Como a nossa miséria se diminui, quando nos consola uma esperança sem fim – Deus!

Deus se mostra no fim de tudo.

Não o neguemos e ensinemo-lo a todos; não haveria dignidade alguma em viver, toda a vida nada valeria, se nos devêssemos aniquilar para sempre, se nos esperasse uma morte eterna.

O que alivia as nossas tristezas, o que santifica o trabalho, o que torna o homem forte, sábio, paciente, benévolo, justo, a um tempo humilde e grande, digno da inteligência, digno da liberdade, é conservar em si, profunda e arraigada, a perpétua visão do mundo melhor, que brilha através das trevas desta vida – o Céu!”

Que belíssimas palavras!...  Que grandes verdades exprimem elas!... Sim, queridas leitoras, sem Deus não há, não pode haver virtude nem verdadeira moralidade. Haverá cálculo, quando muito.

Ficai, pois, certas disso: educação a que faltar a base sólida, incorruptível e poderosa da religião, será uma educação manca, toda de aparências somente, mais ou menos como um bonito palacete de papelão dourado, rendilhado, que um louco mandasse fabricar para abrigar-se dentro. À primeira rajada de temporal, zás, palacete no chão.

Portanto, minhas boas cidadãs, nada de aparências somente, nada de roupagens de ouro a encobrir corações de lodo. Educação modelada pelas normas sublimes do Evangelho – normas que nenhum sistema filosófico pôde jamais nem poderá igualar nem substituir -, sentimentos morais a nutrir-se com a seiva vigorosa da fé – eis as raízes inabaláveis do dever, eis aí a verdadeira educação moral, sem a qual a instrução será mais prejudicial do que útil, sem a qual o homem não pode ser senão desgraçado por mais que procure a felicidade neste mundo, quase sempre injusto e cruel.

- E correu-me a pena para esta disgressãozinha, ao falar de uma boa escola pelo seu lado material. Haveis de perdoar-me. É que para mim o lado material das coisas é o menos importante, e a melhor escola será, não a que mais provida for de apetrechos pedagógicos, porém a que melhor cidadãos formar; não a que maior soma de conhecimentos der, porém a que mais virtudes incutir.



(Extraído de “Mestra e Mãe”, de Amélia Rodrigues, págs. 39/43)









                                       


segunda-feira, 16 de abril de 2012

A CNBB entende mais de direito e de justiça do que o STF?

Os ministros do STF devem ser exímios conhecedores do direito; foi com base em seus conhecimentos e na experiência da justiça que foram escolhidos para o cargo, cuja função primordial é resguardar os princípios constitucionais em nossa legislação.
Não, não parece que eram especialistas em direito que estavam decidindo tão grave questão como a descriminalização do aborto de crianças anencéfalas. Na maioria do arrazoado favorável à medida as teses são mais eugênicas e de natureza meramente médica, sociológica, ideológica, política ou até mesmo ausentes de razoabilidades.
Vejamos:
Marco Aurélio Mello (relator) – Afirmou, como se fosse um doutor em medicina, que o feto anencéfalo é incompatível com a vida. E bem na cara dele foram apresentados vários bebês nascidos com anencefalia... e com vida fora do útero por meses e até anos... Aliás, o doutor Marco Aurélio não se manifestou somente um “entendido” em medicina, mas especialmente no ramo de psiquiatria, pois afirmou que o feto não sobreviria “em detrimento da saúde mental da mulher”. Será que este homem, já tão maduro, tem boa saúde mental para fazer afirmação tão esdrúxula?
Gilmar Mendes – Trata-se do ministro mais radicalmente favorável ao aborto: há algum tempo chegou a fazer declarações públicas na revista “Veja” sobre seu voto favorável ao aborto de anencéfalos, o que deveria ser motivo de anular seu voto, pois suas declarações públicas influenciaram os demais ministros. Seu principal argumento, também, fala mais de “saúde psíquica da mulher” do que a vida do nascituro. Nada de argumento com bases em conhecimentos de direito, legal, mas de medicina, como se a saúde da mulher, seja psíquica ou meramente física tivesse alguma ligação direta com a vida de um feto... Aliás, pode ter, sim, quando a mulher não aborta, pois é sabido que todo aborto causa traumas psicológicos que acompanham a mulher até o fim de sua vida...
Rosa Weber – Bateu na velha e surrada tese feminista de “proteger a liberdade de escolha da mulher”. Aí tem um argumento parecido com o de direito, mas daquele mesmo direito defendido pelo nazismo em que se distorce o que é a liberdade em benefício da eugenia. O princípio nazista também se manifesta ao dizer que não há interesse em se tutelar uma vida que não vai se desenvolver socialmente. Argumento de uma socióloga, mas nunca de uma defensora dos direitos humanos. Para ela a vida só tem valor se for utilitária.
Luiz Fux – Bate noutra tecla hipócrita e mentirosa, a de que o aborto é “questão de saúde pública”. Ora, a vida é superior à saúde, e não existe saúde pública sem vida privada. A “saúde pública”, na visão desses políticos demagogos, é uma instituição vaga e superlativa, que vive pairando sobre os indivíduos como uma sombra fantasmagórica, mas que não leva em consideração as individualides dos cidadãos. Tem argumentos semelhantes aos que negam que o bebê anencéfalo tem plena a vida humana.
Joaquim Barbosa – “Maria vai com as outras”, seguiu o voto do relator, quer dizer, nada de justiça ou de direito, mais um voto de “panelinha” do que de alguém que estuda seriamente uma questão...
Carmen Lúcia – Alegou os mesmos argumentos eugênicos e sentimentais, como o que diz que a criança anencéfala é “inviável”. Nada de princípios de direito, como um dos mais fundamentais que é o da vida...
Celso de Melo – Deveria ser um agente funerário e não um ministro do Supremo: sua tese é a mais absurda do mundo, pois afirma que o descarte artificial de um anencáfalo não é um aborto, pois não se trata de alguém que tem vida. Deveria remeter tal descoberta para as academias de ciência americanas ou europeias, pois trata-se de uma descoberta sensacional, a de que um feto não tem vida. Em vez de estar ali para supostamente resguardar os princípios constitucionais de nosso país, esse individuo deveria ir levar seus “conhecimentos” para os países mais desenvolvidos e assim colaborar com o progresso da ciência. Aliás, de que ciência se trata? Medicina ou Alquimia?
Carlos Ayres Brito – Relativiza a definição de aborto, considerando que nem todos eles hoje são factíveis de penalidades. Mas, doutor, se a lei existe para punir porque o senhor desrespeita esta lei em nome de uma suposta “liberdade” da mulher ou para que a gestante não suporte “martírio involuntário?” Apesar de meio indefinido, aprovou a medida, embora não tenha também dado argumentos jurídicos procedentes e convincentes.

Nem tudo está perdido


Ricardo Levandowski e Cézar Peluso - os únicos que se basearam na Constituição, que todos os outros juraram proteger. Não quer isto dizer que estes dois são favoráveis ou não ao aborto, mas que cumpriram seu papel no cargo que ocupam. O primeiro alegou o mais forte motivo para dar seu voto negativo ao pleito: não cabe ao STF decidir a questão, mas ao Congresso, pois, no caso a suprema corte estaria legislando. O segundo deu apenas o argumento jurídico , e pronto: o aborto é crime tipificado em lei e deve ser punido em qualquer circunstância, inclusive com o bebê anencéfalo, que é um ser humano vivo, etc.
E quem é o maior defensor dos direitos fundamentais, como o da vida? A CNBB.
O pronunciamento da CNBB, lamentando a decisão do STF, tem um arrazoado mais parecido com quem tem os conhecimentos dos mais elementares direitos humanos e de nossa Constituição do que os próprios ministros, aos quais, todavia, incumbiria exatamente a tarefa de aplicá-la e não de feri-la como o fizeram.
Quem lê o voto do ministro Ricardo Lewandowski ficará ciente de quais dispositivos constitucionais o Supremo infringiu somente em votar a questão, à qual eles não tinham competência para julgar.

A Conferência Nacional dos bispos do Brasil, logo após a conclusão do julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54, emitiu nota oficial lamentando a decisão. No texto, os bispos afirmam que "Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso".
Leia a integra da Nota:
Nota da CNBB sobre o aborto de Feto “Anencefálico”
Referente ao julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB lamenta profundamente a decisão do Supremo Tribunal Federal que descriminalizou o aborto de feto com anencefalia ao julgar favorável a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54. Com esta decisão, a Suprema Corte parece não ter levado em conta a prerrogativa do Congresso Nacional cuja responsabilidade última é legislar.
Os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV, Constituição Federal), referem-se tanto à mulher quanto aos fetos anencefálicos. Quando a vida não é respeitada, todos os outros direitos são menosprezados, e rompem-se as relações mais profundas.
Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso. A ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não aceita exceções. Os fetos anencefálicos, como todos os seres inocentes e frágeis, não podem ser descartados e nem ter seus direitos fundamentais vilipendiados!
A gestação de uma criança com anencefalia é um drama para a família, especialmente para a mãe. Considerar que o aborto é a melhor opção para a mulher, além de negar o direito inviolável do nascituro, ignora as consequências psicológicas negativas para a mãe. Estado e a sociedade devem oferecer à gestante amparo e proteção
Ao defender o direito à vida dos anencefálicos, a Igreja se fundamenta numa visão antropológica do ser humano, baseando-se em argumentos teológicos éticos, científicos e jurídicos. Exclui-se, portanto, qualquer argumentação que afirme tratar-se de ingerência da religião no Estado laico. A participação efetiva na defesa e na promoção da dignidade e liberdade humanas deve ser legitimamente assegurada também à Igreja.
A Páscoa de Jesus que comemora a vitória da vida sobre a morte, nos inspira a reafirmar com convicção que a vida humana é sagrada e sua dignidade inviolável.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos ajude em nossa missão de fazer ecoar a Palavra de Deus: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB



terça-feira, 10 de abril de 2012

CNBB PEDE VIGÍLIA CONTRA NOVAS TENTATIVAS DE ABORTO


Na próxima quarta-feira, dia 11/04, o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza o julgamento sobre a descriminalização do aborto de anencéfalos – casos em que o feto tem má formação no cérebro. A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou nesta Sexta-feira Santa, 06/04, uma carta a todos os bispos do país, convocando para uma Vigília de Oração pela Vida às vésperas do julgamento.
Em agosto de 2008, por ocasião do primeiro julgamento do caso, a CNBB publicou uma nota que explicita a sua posição. “A vida deve ser acolhida como dom e compromisso, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve. (...)Todos têm direito à vida. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, diante da ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não se pode aceitar exceções. Os fetos anencefálicos não são descartáveis. O aborto de feto com anencefalia é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso. A Igreja, seguindo a lei natural e fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), insistentemente, pede, que a vida seja respeitada e que se promovam políticas públicas voltadas para a eficaz prevenção dos males relativos à anencefalia e se dê o devido apoio às famílias que convivem com esta realidade”.
A seguir, a íntegra da carta da presidência da CNBB, bem como o texto completo da nota sobre o assunto.
Brasília, 06 de abril de 2012
P - Nº 0328/12
Exmos. e Revmos. Srs.
Cardeais, Arcebispos e Bispos
Em própria sede
ASSUNTO: Vigília de Oração pela Vida, às vésperas do dia 11/04/12, quarta feira.
DGAE/2011-2015: Igreja a serviço da vida plena para todos (nn. 65-72)
“Para que TODOS tenham vida” (Jo 10,10).
CF 2008: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).
CF 2012: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8).
Irmãos no Episcopado,
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil jamais deixou de se manifestar como voz autorizada do episcopado brasileiro sobre temas em discussão na sociedade, especialmente para iluminá-la com a luz da fé em Jesus Cristo Ressuscitado, “Caminho, Verdade e Vida”.
Reafirmando a NOTA DA CNBB (P – 0706/08, de 21 de agosto de 2008) SOBRE ABORTO DE FETO “ANENCEFÁLICO” REFERENTE À ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL Nº 54 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a presidência solicita aos irmãos no episcopado:
• Promoverem, em suas arqui/dioceses, uma VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELA VIDA, às vésperas do julgamento pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade legal do “aborto de fetos com meroanencefalia (meros = parte), comumente denominados anencefálicos” (CNBB, nota P-0706/08).
Informa-se que a data do julgamento da ADPF Nº 54/2004 será DIA 11 DE ABRIL DE 2012, quarta feira da 1ª Semana da Páscoa, em sessão extraordinária, a partir das 09 horas.
Com renovada estima em Jesus Cristo, nosso Mestre Vencedor da morte, agradecemos aos irmãos de ministério em favor dos mais frágeis e indefesos,
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida (SP)
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luiz (MA)
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília (DF)
Secretário Geral da CNBB

Nota da CNBB sobre Aborto de Feto “Anencefálico” - Ano 2008
Referente à Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54 do Supremo Tribunal Federal
O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em reunião ordinária, vem manifestar-se sobre a Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF n° 54/2004), em andamento no Supremo Tribunal Federal, que tem por objetivo legalizar o aborto de fetos com meroanencefalia (meros = parte), comumente denominados “anencefálicos”, que não têm em maior ou menor grau, as partes superiores do encéfalo e que erroneamente, têm sido interpretados como não possuindo todo o encéfalo, situação que seria totalmente incompatível com a vida, até mesmo pela incapacidade de respirar. Tais circunstâncias, todavia, não diminuem a dignidade da vida humana em gestação.
Recordamos que no dia 1° de agosto de 2008, no interior do Estado de São Paulo, faleceu, com um ano e oito meses, a menina Marcela de Jesus Galante Ferreira, diagnosticada com anencefalia. Quando Marcela ainda estava viva, sua pediatra afirmou: “a menina é muito ativa, distingue a sua mãe e chora quando não está em seus braços.” Marcela é um exemplo claro de que uma criança, mesmo com tão malformação, é um ser humano, e como tal, merecedor de atenção e respeito. Embora a Anencefalia esteja no rol das doenças congênitas letais, cursando com baixo tempo de vida, os fetos portadores destas afecções devem ter seus direitos respeitados.
Entendemos que os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação, (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV, da Constituição Federal) referem-se também aos fetos anencefálicos. Quando a vida não é respeitada todos os outros direitos são menosprezados. Uma “sociedade livre, justa e solidária” (art. 3°, I, da Constituição Federal) não se constrói com violências contra doentes e indefesos. As pretensões de desqualificação da pessoa humana ferem sua dignidade intrínseca e inviolável.
A vida deve ser acolhida como dom e compromisso, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve. Há uma enorme diferença ética, moral e espiritual entre a morte natural e a morte provocada. Aplica-se aqui, o mandamento: “Não matarás” (Ex 20,13).
Todos têm direito à vida. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, diante da ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não se pode aceitar exceções. Os fetos anencefálicos não são descartáveis. O aborto de feto com anencefalia é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso.
A Igreja, seguindo a lei natural e fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), insistentemente, pede, que a vida seja respeitada e que se promovam políticas públicas voltadas para a eficaz prevenção dos males relativos à anencefalia e se dê o devido apoio às famílias que convivem com esta realidade.
Com toda convicção reafirmamos que a vida humana é sagrada e possui dignidade inviolável. Fazendo, ainda, ecoar a Palavra de Deus que serviu de lema para a Campanha da Fraternidade, deste ano, repetimos: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana (MG)
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus (AM)
Vice Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário Geral da CNBB


ABORTISTAS NÃO REPRESENTAM A MULHER BRASILEIRA!
Uma outra frente da investida dos abortistas no Brasil é na reforma do Código Penal, cujo texto que está em discussão pretende retirar a criminalização do aborto. Todos os juristas que prepararam o texto dessa reforma são favoráveis ao aborto, portanto não deveriam tratar do tema por serem parciais.
Renata Gusson Martins, mãe de cinco filhos, participou na Sessão da Subcomissão permanente em defesa da mulher, uma audiência para debater as políticas públicas para a saúde da mulheres, presidida pelas Senadoras Angela Portela (PT); Ana Rita (PT); Lídice da Mata (PSB), ocorrida em Brasília no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher. Para a ocasião as senadoras da subcomissão convidaram mulheres financiadas pela Fundação MacArthur para falar sobre a “saúde” da mulher, mas não estenderam o convite às organizações de defesa da vida e de amparo a mulheres grávidas. No entanto, mesmo sem convite, essas iniciativas pró-vida se fizeram presentes em Brasília na audiência, para surpresa geral das senadoras e das feministas convocadas.
Usando da palavra Renata denunciou que as abortistas e feministas financiadas por fundações internacionais como a Rockefeller, Ford e MacArthur, as quais ferindo a soberania do país vêm promovendo o avanço da legislação pró-aborto em Brasilia, simplesmente não representam a mulher brasileira e seus verdadeiros interesses.

Renata afirmou que causava “muita tristeza” observar naquela data, especial para as mulheres de todo o mundo, que outras mulheres supostamente comprometidas com o bem das brasileiras, ao seguir piamente os manuais das organizações estrangeiras que querem promover o aborto na América Latina, simplesmente “não representam” as mulheres do Brasil, onde mais de 70% da população rechaça o aborto.
“As senhoras não representam a mulher brasileira. É preciso dizer isso!”, reafirmou Renata Gusson, e criticou as senadoras pela má representação que fazem da mulher brasileira, ao comprometer-se com a agenda pró-aborto. Renata falou apenas três minutos, mas deu o seu recado cristão contundente, sem medo, corajosamente. Ela questionou a instrumentalização das senadoras e a de organizações feministas que se dedicam profissionalmente à tarefa de fomentar, junto ao poder legislativo, leis que promovem a legalização do aborto, de maneira especial no contexto da Reforma do Código Penal Brasileiro.
Renata Gusson lembrou sobre a terrível realidade que, uma vez permitido o aborto, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, a maior parte das clínicas seriam estrategicamente instaladas em regiões de baixa renda e em bairros de moradores predominantemente negros prejudicando estas populações.
“A senhora como secretária de políticas especiais de ações afirmativas sabe que o aborto nos Estados Unidos é legalizado até os nove meses desde 1973. E a maior quantidade de clínicas de aborto se concentram em bairros pobres e negros. Infelizmente esta é uma estrutura, uma engrenagem que se forma simplesmente para aprovar o aborto em um país. Infelizmente secretária, não se tem amor por mulher nenhuma”. “E quem vai morrer, Secretária?” questionou Renata quem imediatamente respondeu: “50% das crianças abortadas são mulheres. As que vão morrer são as mulheres, e especialmente as crianças negras”.
“Eu queria deixar esta manifestação e pedir que as senhoras representassem as mulheres do Brasil e não representassem interesses estrangeiros, contrários à população brasileira”, concluiu Renata Martins.
Renata fez um verdadeiro desabafo pela grande maioria do público que repudia o aborto.
O vídeo pode ser visto em:
http://www.youtube.com/watch?v=dRD-3ZcoxxY
É lamentável constatar que são especialmente algumas mulheres que militam na política, que lutam para implantar o aborto livre no Brasil; são algumas deputadas, senadoras e ministras. Será este o papel da mulher? Destruir a vida? Matar o ser humano indefeso, no útero materno? Nada mais oposto à missão da mulher, que é gerar a vida, proteger a vida, cuidar da vida.
Por isso, o grito de Renata, em apenas três minutos é o grito que estava preso em nossas gargantas, contra um sistema malvado que implanta a passos largos a “cultura da morte”. Deus seja louvado pela Renata, por suas palavras e sua coragem.

domingo, 8 de abril de 2012

Onde estará a verdade, de um só lado?



O Governo Dilma criou uma equipe de trabalho que passou a chamar de “Comissão de Verdade”. O objetivo seria fazer pesquisas com vistas a esclarecer uma das páginas mais obscuras de nossa história: a guerra entre a esquerda e a direita após a Revolução de 64. Mas o esclarecimento só se destina a uma só parte, isto é, esclarecer o que há de obscuro, o que há de desconhecido ou escondido, no que se refere ao Estado, ao governo, no trato da repressão à guerrilha ou aos movimentos contrários ao governo daquele período. Tudo indica que os mentores dessa comissão, ou mesmo seus componentes, não têm outro objetivo senão procurar justiçar os militares, deixando impunes os crimes cometidos pela esquerda.
Uma das mazelas mais terríveis que a esquerda deixou no Brasil foi, por exemplo, o incentivo à violência urbana, um fato inconteste. Sim, foram eles que organizaram o famoso “Comando Vermelho”, um grupo armado de comunistas que depois se transformou num dos piores fomentadores da violência no sul do País. Hoje, o “Comando Vermelho” fez escola: o famoso “Primeiro Comando da Capital” nada mais é do que uma cópia fiel daquele grupo. E estão espalhados por várias cidades do Brasil, como células multiplicadoras de um movimento que deveria ter sido contido no Rio ou São Paulo, quando muito. Mas a tal “Comissão” não pretende apurar nada disso, especializando-se unicamente no que fizeram os militares no combate aos grupos comunistas, que eles teimam em chamar de “movimento sociais”. Então, meus caros, essa "verdade" é capenga, só tem um lado?
Precisamos ouvir o outro lado. Para tanto, vejamos o que dizem os vídeos abaixo sobre a presença guerrilheira no Brasil, um fato do passado mas que representou realmente um grande perigo para os destinos de nosso país. Não só isso, influenciou a formação de quadrilhas que até hoje infernizam nossa grandes cidades, causam milhares de mortes e assaltos ano a ano, mas os jornalistas e alguns saudosistas da esquerda não querem ver, acham que não merece ser sequer mencionado.
A propósito do papel da esquerda no fomento da violência urbana no Brasil, veja nossas postagens anteriores:
É a história. É a Verdade.

A Verdade Sufocada



http://quodlibeta.blogspot.com.br/2010/12/o-homem-dos-quatro-dedos.html


BRASIL, GUERRILHA E TEROR – A verdade escondida

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Como anda a hipocrisia em nosso país

JUSTIÇA AMPLIA FERIADO DE PÁSCOA APÓS VETAR CRUCIFIXO
TJ do RS dará meio expediente na quinta
Jean-Philip Struck - de Curitiba
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul vai ampliar o feriado de Páscoa e trabalhar meio expediente na Quinta-Feira Santa.
Em anos anteriores, não houve expediente diferenciado na data cristã.
Na próxima quinta, o horário de trabalho será das 9h às 13h, e não das 9h às 18h, como ocorre normalmente. Após as 13h o tribunal vai funcionar em regime de plantão, até a próxima segunda-feira.
Em 2011, a data caiu em 21 de abril, coincidindo com o feriado de Tiradentes.
Mas, em 2009 e 2010, segundo comunicado do tribunal, o TJ-RS teve expediente normal na quinta-feira.
A ampliação do feriado foi tomada três semanas após o tribunal decidir tirar crucifixos e outros símbolos religiosos de todas as salas do Judiciário do Estado. A decisão acatou o pedido de uma ONG que considerava que a presença dos objetos feria os princípios constitucionais de um Estado laico.
A medida acabou despertando críticas no meio religioso e até de magistrados do tribunal, que se recusaram a retirar os símbolos de suas salas até decisão defintiva.
O TJ gaúcho informou que a decisão foi do presidente do tribunal, desembargador Marcelo Bandeira Pereira, sem justificar a medida.
("Folha de São Paulo", 01.04.2012, Caderno A16 Poder)

domingo, 1 de abril de 2012

Comentário inspirado sobre o “Pai Nosso”

Na vertente ocidental do Monte das Oliveiras foi que, segundo a Tradição, Nosso Senhor nos ensinou a Oração Dominical, o conhecido Padre Nosso, ou Pai-Nosso. Os Cruzados construíram naquele lugar uma igreja destinada a perpetuar aquela recordação, depois arruinada. Sobre as ruínas daquele santuário, a princesa de Tour d’Auvergne mandou construir um novo, colocando no claustro que rodeia o edifício 32 quadros com o “Pater Noster”, em 32 línguas diferentes.
Alguns anos depois, o missionário Frei Tomé de Jesus, prisioneiro dos maometanos, compôs estas inspiradas palavra sobre a Oração Dominical:

“Ajuntai-vos comigo céu e terra, anjos, homens e toda criatura; vinde todos, louvemos, adoremos e amemos a este Senhor. Todos, Senhor, com as palavras com que nos ensinastes a orar e acender em nós a fome e sede de Vós, e atiçar os desejos de vossos bens, Vos louvamos e Vos rogamos. A elas conhecereis, pois no-las ensinastes, a elas ouvireis, pois para sermos ouvidos no-las destes, por elas nos dareis vivos e perpétuos desejos de vos amar e servir, pois para isso no-las mandastes dizer.
“Pater-Noster – Padre Eterno, Padre Soberano, Padre Todo-Poderoso, Padre Infinito, Padre misericordiosíssimo, Padre amigo nosso, Senhor Nosso, que nos tendes escrito nesse eterno amor vosso. Padre, que assim sois nosso, que tudo fora de Vós nos é alheio, e que nos não olhais senão como amantíssimos filhos vossos.
”Qui es in Coelis – Com esse amor nos esperais nessa celestial casa em que morais, levantai a ela nosso desejo. Já que aqui nos trazei desterrados, não para aqui nos lançardes de Vós, mas para nos levardes por aqui a Vós; prendei convosco nossos desejos, para que com fastio das coisas da terra que nos tem degredados de Vós, sempre de todo, e em tudo, e com todo interior e exterior suspiremos a Vós.
“Santificetur nomen tuum – Fazei-nos estimar a grandeza, majestade, divindade deste paternal nome; fazei que nos prezemos todos de vossos filhos. Trazei o mundo a vosso conhecimento. Mostrem nossos desejos, nossas obras, nossas palavras, que somos filhos vossos, que só por vossa honra suspiramos, só vossa glória e serviço desejamos; e pareçamos, Padre-Santo, filhos dessa
de filhos vossos, todas as coisas que nos querem tirar de Vós, porque só Vós reineis em nós. Ó Padre-Nosso, olhai o perigo em que vivemos, encurtai este degredo e levai-nos a divina santidade.
“Adveniat ad Regnum tuum – Fujam de nós, como Vós. Como, Senhor, sofreis que Vos amemos e Vos não vejamos? E se cumpre estar ainda mais tempo degredados, Vós sabeis morar neste coração. Vinde, Padre e Senhor, aqui reinai, e aqui morai, e se fizerdes desta alma Vosso reino, detenha-se o celestial quanto quiserdes porque nem cá, nem lá, desejo senão que reineis Vós em mim, e tenhais plenário senhorio em todas nossas almas.
“Fiat voluntas tua – Ah! Vinde, Padre Eterno! Alargai, Senhor, vossa bondade, senhoreai tudo, fazei-Vos obedecer de todos. Vós sabeis que não aproveita nada todo nosso ser, senão quanto podeis ser em nós servido. Vossas vontades todas são de pai amigo, de pai cuidadoso de nosso bem. Pois quem nos engana para nos fiarmos doutra vontade, senão da vossa? Viva, viva Senhor essa vontade boníssima, todas as contrárias diferentes se consumam.
“Sicut in Coelo, et in terra – Dessa vossa vontade está a corte do Céu quieta, contente, segura, rica, sem temor e confirmada em todos os bens. Pois que tem a terra cheia de perigos e de inimigos, para se fiar doutras vontades diferentes das vossas? Ó Senhor meu, tirai esta presunção da terra, submetei-a toda a Vós, como submeteis o Céu.
“Panem nostrum quotidianum da nobis hodie – E pois a sustentação da nossa vida nesta vossa obediência se resume, e todas as almas de vossas paternais bondades e graças se mantêm, todos os dias nos ajudai com elas, seja cada dia vosso, e em cada um dos dias nos visitai com vossas mercês, para que renovados cada dia e cada hora com vosso espiritual mantimento, e amor e desejo de Vós, com viva fome cada dia e cada hora suspiremos por Vós, sem haver outro desejo que nestes corações entre. Comece isto hoje, pois nos não destes dia certo de amanhã e continuai-o em cada dia até que chegue aquele que não tem passado nem futuro.
“Dimite nobis debita nostra – Não impeçam estas vossas mercês nossos pecados. As dívidas, em que Vos estou de Vos servir e amar, nunca, meu Deus, mas quiteis, quero-as satisfazer, e quero-vos cada dia mais dever. Mas as dívidas do amor, que Vos tirei e dei a coisas baixas, saldai-mas Senhor, que vo-las não posso pagar senão com Vos tornar o amor. Aqui vo-lo restituo frio, e pervertido, Vós vos satisfazei com ele, e o purificai ao modo de Vosso gosto e o mais em que pequei, me perdoai com misericórdia.
“Sicut, et nos dimittimus debitoribus nostris – Penhorado estais, Senhor, a me perdoar como quem sois, pois que me obrigastes a perdoar com toda minha fraca possibilidade e graça vossa a quem me agravasse, ao modo que Vós perdoais tudo; e se tão largo quisestes que fosse de minha pouquidade, como haveis de ser comigo escasso de vossa largueza? Perdôo como me mandastes. Perdoai-me como podeis, para que entre Vós e mim não haja meio, nem impedimento, nem pejo.
“Et ne nos inducas in tentatione – Fazei, Senhor, em mim esta obra perfeita, tomai-me todo à vossa conta, e livrai-me das tentações que me perturbam. Padre Eterno, que não quisestes que vossos filhos terrenos fossem tentados para serem perdidos, e sabeis quantos bens perderemos se formos vencidos, tentai-nos, e provai-nos da maneira que quiserdes, mas pelejai e vencei em nós com amor.
“Sed libera nos a malo. Amem. – Olhai, Senhor, quão maliciosa é certa carne, de que estamos cercados, e de que só vossa mão nos pode livrar. Olhai quantos males nos cercam e por nós tiram. Olhai a quantos males estes vossos filhos desterrados estamos arriscados. Olhai, que sem vossa paternal ajuda nada podemos. Acudi com vossa poderosa mão, livrai-nos de todos os males, que de Vós nos podem apartar, para que em Vós vivamos seguros. Ó Padre celestial, que prometestes a vossos filhos águas vivas, que de seus corações correriam até Vós, vida nossa eterna! Deseja agora minha alma esta sede e esta água. Ó fonte de vida, farta-me da sede de ti, e farta minha sede contigo só, sempre cada hora, cada momento, para que não seja doutra sede entrada.
“Madre de misericórdia, que sempre desejáveis, e sempre vos fartáveis só destes soberanos bens. Compadecei-vos dos desterrados filhos de Eva. Venha por Vosso merecimento este fogo do Céu, que tudo abrase. Ó corte celestial, que seguramente desejais, e plenariamente fartais os desejos, que de cá levastes, fazei-nas sequer sempre desejar os bens que tendes, para que mereçamos ajudar-vos a nos fartar deles. Amém.