quinta-feira, 30 de novembro de 2023

FESTAS DE ANTROPOFAGIA RITUAL

 




                Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1.500 encontraram aqui uma população nativa das mais bárbaras e violentas, cheia de vícios e maus costumes. Viviam guerreando-se entre si, e tal era a mortandade entre eles que alguns comentaristas chegaram a afirmar que teriam se dizimado uns aos outros, caso não tivessem sido civilizados pelos católicos. O pior costume entre eles era a antropofagia: faziam guerras quase que com a única finalidade, de, ao final, comerem os cadáveres dos inimigos mortos em batalhas. E o que os animava a fazer isso, segundo depoimento dos cronistas da época, era simplesmente ódio e desejo de vingança. E no momento em que iam assar e comer os cadáveres faziam uma grande festa, conforme ficou atestado por vários cronistas da época, especialmente os jesuítas e até mesmos alguns calvinistas franceses. Vejam a seguir o relato de como faziam tais festins entre eles.

“De todas as descrições antigas destas festas, a mais precisa é, sem dúvida, do autor anônimo de “Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil”. É um pouco longa, mas de segura objetividade; e só por isso transcrevemo-la aqui:

“De todas as honras e glórias da vida, nenhum é tamanho para este gentio como matar e tomar nomes nas cabeças de seus contrários, nem entre eles há festas que cheguem às que fazem na morte dos que matam com grandes cerimônias, as quais fazem desta maneira:

Os que tomados na guerra vivos são destinados a matar, vêm logo de lá com um sinal, que é uma cordinha delgada ao pescoço, e se é homem que pode fugir traz uma mão atada ao pescoço debaixo da barba, e antes de entrar nas povoações, que há, pelo caminho os enfeitam, depenando-lhe as pestanas e sobrancelhas e barbas, tosquiando-os ao seu modo, e empenando-os com penas amarelas tão bem assentadas que não lhes aparece cabelo; as quais os fazem tão lustrosos como aos Espanhóis os seus vestidos ricos, e assim vão mostrando sua vitória por onde quer que passam.

Chegando à sua terra, o saem a receber as mulheres gritando e juntamente dando palmadas na boca, que é recebimento comum entre eles, e sem mais outra vexação ou prisão , salvo que lhes tecem ao pescoço “um colar redondo” como corda de boa grossura, tão dura como pau, e neste colar começam de urdir grande número de braços de corda, delgada de comprimento de cabelos de mulher, arrematada em cima com certa volta e solta em baixo, e assim vai toda de orelha a orelha por detrás das costas, e ficam com esta coleira uma horrenda cousa; e se é fronteiro e pode fugir, lhe põem em lugar de grilhões por baixo dos giolhos[1] uma peia de fios tecido muito apertado, a qual para qualquer faca fica fraca, se não fossem as guardas que nenhum momento se apartam dele, quer vá pelas casas, quer pelo mato, ou ande pelo terreiro, que para tudo tem liberdade, e comumente a guarda é uma que lhe dão por mulher, e também para lhe fazer de comer, o qual se seus senhores lhe não dão de comer, como é costume, toma um arco e flecha e atira à primeira galinha ou pato que vê, de quem quer que seja, e ninguém lhe vai à mão, e assim vai engordando, sem por isso perder o sono, nem o rir e folgar como os outros, e alguns andam tão contentes com haverem de ser comidos, que por nenhuma via consentiriam ser resgatados para servir, porque dizem “que é triste cousa morrer e ser fedorento e comido pelos bichos”.

Estas mulheres são comumente nesta guarda fiéis, porque lhes fica em honra, e por isso são muitas vezes moças e filhas de principais, máxime se seus irmãos hão de ser os matadores, porque as que não têm estas obrigações muitas vezes se afeiçoam a eles de maneira que não somente lhes dão azo para fugirem , mas também se vão com eles; nem elas correm menos risco se as tornam a tomar que de levarem umas poucas de pancadas, e às vezes são comidas dos mesmos a quem deram a vida.

Determinado o tempo em que há de morrer, começam as mulheres a fazer louça, a saber: panelas, alguidares, potes para os vinhos, tão grandes que cada um levará uma pipa; isto prestes, assim os principais como os outros mandam seus mensageiros a convidar outros de diversas partes para tal “lua”, até dez, doze léguas e mais, para o qual ninguém se escusa.

Os hóspedes vêm de magotes com mulheres e filhos, e todos entram no lugar com “danças e bailes”, e em todo o tempo em que se junta gente, há vinho para os hóspedes, porque sem ele todo o mais gasalhado não presta; a gente junta, começam as festas alguns dias antes, conforme ao número e certas cerimônias que precedem, e cada uma gasta um dia.

Primeiramente, têm eles para isto umas cordas de algodão de arrazoada grossura, não torcidas, senão torcidas de um certo lavor galante; é uma cousa entre eles de muito preço, e não nas têm senão alguns principais, e segundo elas são primas, bem feitas e eles vagarosos, é de crer que nem em um ano se fazem; estas estão sempre muito guardadas, e levam-se ao terreiro com grande festa e alvoroço dentro de uns alguidares, onde lhes dá um mestre disto dois nós, por dentro dos quais com força corre uma das pontas de maneira que lhes fica bem no meio um laço; estes nós são galantes e artificiosos, que poucos se acham que os saibam fazer, porque têm algumas dez voltas  e as cinco vão por cima das outras cinco, como se um atravessasse os dedos da mão direita por cima dos da esquerda,  e depois a tingem com um polme de um barro branco como cal e deixam-nas enxugar.

O segundo dia trazem muitos feixes de canas bravas do comprimento de lanças e mais, e à noite põem-nos em roda em pé, com as pontas para cima, encostados uns nos outros, e pondo-lhes fogo ao pé se faz uma formosa e alta fogueira ao redor da qual andam bailando homens e mulheres com maços de frechas ao ombro, mas andam muito depressa, porque o morto que há de ser, que os vê melhor do que é visto por causa do fogo, atira com quanto acha e quem leva, leva, e como são muitos, poucas vezes erra.

Ao terceiro dia fazem uma dança de homens e mulheres, todos com gaitas de canas e batem todos à uma no chão ora com um pé, ora com outro, sem discreparem, juntamente e ao mesmo compasso assopram os canudos, e não há outro cantar nem falar, e como são muitos e as canas umas mais grossas, outras menos, além de atroarem os matos, fazem uma harmonia que parece música do inferno, mas eles aturam nelas como se fossem as mais suaves do mundo; e estas são suas festas, afora outras que entremetem com muitas graças e “adivinhações”.

Ao quarto dia, em rompendo a alva[2], levam o contrário a lavar a um rio, e vão-se detendo para que, quando tornarem, seja já dia claro, e entrando pela aldeia, o preso vai já com olho sobre o ombro, porque não sabe de que casa ou porta lhe há de sair um valente que o há de aferrar  por detrás, porque, como toda sua bem-aventurança consiste em morrer como valente, e a cerimônia que se segue é já da mais propínquas à morte, assim como o que há de aferrar mostra suas forças em só ele o subjugar sem ajuda de outrem, assim ele quer mostrar ânimo e forças em lhe resistir; e às vezes o faz de maneira que, afastando-se o primeiro homem cansado em luta, lhe sucede outro que se tem por mais valente homem, os quais às vezes ficam bem enxovalhados, e mais o ficariam, se já a este tempo o cativo não tivesse a peia ou grilhões. Acabada esta luta ele em pé, bufando de birra e cansaço com o outro que o tem aferrado, sai um coro de ninfas que trazem um grande alguidar novo pintado, e nele as cordas enroladas e bem alvas, e posto este presente aos  pés do cativo, começa uma velha como versada nisso e e mestra do coro a entoar uma cantiga que as outras ajudam, cuja letra é conforme a cerimônia, e enquanto elas cantam os homens tomam as cordas, e metido o laço no pescoço lhe dão um nó simples junto dos outros grandes, para que se não possa mais alargar, e feita de cada ponta uma roda de dobras as metem no braço à mulher que sempre anda atrás dele com este peso, e se o peso é muito pelas cordas serem grossas e compridas, dão-lhe outra que traga uma das rodas, e se ele dantes era temeroso com a coleira, mais o fica  com aqueles dois nós tão grandes no pescoço na banda detrás, e por isso diz um dos pés de cantiga: “Nós somos aqueles que fazemos estirar o pescoço ao pássaro”, posto que depois de outras cerimônias lhe dizem noutro pé: “Se tu foras papagaio, voando nos fugira”.

A este tempo estão os potes de vinho postos em carreira pelo meio de uma casa grande, e como a casa não tem compartimentos, ainda que seja de 20 ou 30 braças de comprido, está atulhada de gente, e tanto que começam a beber é um lavarinto ou inferno vê-los e ouvi-los, porque os que bailam e cantam aturam com grandíssimo fervor quantos dias e noites os vinhos duram: porque, como esta é a própria festa das matanças, há no beber dos vinhos muitas particularidades que duram muito, e a cada passo ourinam, e assim aturam sempre, e de noite e dia cantam e bailam, bebem e falam cantando em magotes por toda a casa, de guerras e sortes que fizeram, e como cada um quer que lhes ouçam a sua história, todos falam a quem mais alto, afora outros estrondos, sem nunca se calarem, nem por espaço de um quarto de hora. Aquela manhã que começam a beber, enfeitam o cativo por um modo particular que para isto têm, a saber: depois de limpo o rosto e quanta penugem nele há, o untam com um leite de certa árvore que pega muito, e sobre ele põem um certo pó de umas cascas de ovo verde de certa ave do mato, e sobre isto o pintam de preto com pinturas galantes, e untando também o corpo todo até a ponta do pé o enchem todo de  pena, que para isto têm já picada a tinta de vermelho, a qual o faz parecer a metade mais grosso, e a cousa do rosto o faz parecer tanto maior e luzento, e os olhos mais pequenos, que fica uma horrenda visão, e da mesma maneira que elas têm pintado o rosto, o está também a espada, a qual é um pau ao modo de uma palmatória, senão que a cabeça não é tão redonda, mas quase triangular, e as bordas acabam quase em gume e a haste será de 7 ou 8 palmos, não é toda roliça, terá junto da cabeça 4 dedos de largura e vem cada vez estreitando até o cabo, onde tem uns pendentes ou campainhas de penas de diversas cores, é cousa galante e de preço entre eles; eles lhe chamam “Ingapenambim”, “orelha de espada”. O derradeiro dia dos vinhos fazem no meio do terreiro uma choça de palmas ou tantas quantas são os que hão de morrer, e naquela se agasalham, e sem nunca mais entrar em casa, e todo dia e noite é bem servido de festas mais que de comer, porque lhe não dão outro conduto senão uma fruta que tem sabor de nozes, para que ao outro dia não tenha muito sangue.

Ao quinto dia pela manhã, ali às sete horas pouco mais ou menos, a companheira o deixa, e se vai para casa muito saudosa e dizendo por despedida algumas lástimas pelo menos fingidas; então lhe tiram a peia e lhe passam as cordas do pescoço à cinta, e posto em pé à porta do que o há de matar, sai o matador em uma dança, feito alvo como uma pomba com barro branco e uma, a que chamam “Capa de pena”, que se ata pelos peitos, e ficam-lhe as abas para cima como asas de Anjo, e nesta dança dá uma volta pelo terreiro e vem fazendo uns esgares estranhos com olhos e corpo, e com as mãos arremeda o minhoto que desce à carne, e com estas diabruras chega ao triste, o qual tem as cordas estiradas para as ilhargas e de cada parte um que o tem, e o cativo, se acha com que atirar, o faz de boa vontade, e muitas vezes lhe dão com que, porque lhe saem muitos valentes, e tão ligeiros em furtar o corpo que os não pode acertar.

Acabado isto vem um honrado padrinho do novo cavaleiro que há de ser, e tomada a espada lhe passa muitas vezes por entre as pernas, metendo-a or por uma parte, ora por outra da própria maneira que os cachorrinhos dos sanfonineiros[3], lhe passam por entre as pernas, e depois tomando-a pelo meio com ambas as mãos aponta com uma estocada aos olhos do morto e isto feito lhe vira a cabeça para cima da maneira que dela hão de usar, e a mete nas mãos do matador, já como apta e idônea com aquelas bênçãos para fazer o seu ofício para o qual se põe algum tanto ao lado esquerdo, de tal jeito que com o gume da espada lhe acerta o toutiço, porque não tira a outra parte, e é tanta a bruteza destes que, por não temerem outro mal senão aquele presente tão inteiros estão como se não fosse nada, assim para falar, como para exercitar as forças, porque depois de se despedirem da vida com dizer que “muito embora morra, pois muitos têm mortos e que alem disso cá ficam seus irmãos e parentes para o vingarem”, e nisto aparelha-se um para descarregar e o outro para furtar o corpo, que é toda a honra de sua morte. E são nisto tão ligeiros que muitas vezes é alto dia sem o poderem matar, porque em vindo a espada pelo ar, ora desvia a cabeça, ora lhe furta o corpo, e são nisto tão terríveis que se os que têm as pontas das cordas o apertam, como fazem quando o matador é frouxo, eles tão rijo que os trazem a si e os fazem afrouxar em que lhes pese, tendo um olho neles e outro na espada, sem nunca estarem quedos, e como o matador os não pode enganar ameaçando sem dar, sob pena de lhe darem uma apupada, e ele lhe adivinham o golpe, da maneira que, por mais baixo que venha, num assopro se abatem e fazem tão rasos que é cousa estranha, e não é menos tomarem a espada aparando-lhe o braço por tal arte que sem lhe fazerem nada correm com ela juntamente para baixo e a metem de baixo do sovaco, tirando pelo matador, ao qual, se então não acudissem, o outro o despacharia, porque têm eles nestes atos tantos agouros que para matar um menino de cinco anos vão tão enfeitados como para matar algum gigante, e com essas ajudas ou afoutezas tantas vezes dá, até que acerta alguma e esta basta, porque tanto que ele cai e lhe dá tantas até que lhe quebra a cabeça, posto que já se viu um que a tinha tão dura, que nunca lhe puderam quebrar, porque como a trazem sempre descoberta, têm as cabeças tão duras que as nossas em comparação deles ficam como de cabaças e quando querem injuriar algum branco lhe chamam de “cabeça mole”.

Se este que mataram ao cair cai de costas, e não de bruços, têm-no por grande agouro e prognóstico que o matador há de morrer, e ainda que caia de bruços têm muitas cerimônias , as quais s se não guardam têm para si que o matador não pode viver; e são muitas delas tão penosas que se algum por amor de Deus sofresse os seus trabalhos não ganharia pouco, como abaixo se dirá. Morto o triste, levam-no a uma fogueira que para isto está prestes, e chegando a ela, em lhe tocando com a mão dá uma pelinha pouco mais grossa que véu de cebola, até que todo fica mais limpo e alvo que um leitão pelado, e então se entrega ao carniceiro ou magarefe, o qual lhe faz um buraco abaixo do estômago, segundo seu estilo, por onde os meninos primeiro metem a mão e tiram pelas tripas, até que o magarefe corta por onde quer e o que lhe fica na mão é o quinhão de cada um, e o mais se reparte pela comunidade, salvo algumas partes principais que por grande honra, se dão aos hóspedes mais honrados, as quais eles levam muito assadas, de maneira que não se corrompam, e sobre elas em suas terras fazem festas e vinhos de novo”.

(Extraído do livro “Vida e Morte do Padre José de Anchieta”, de Quirício Caxa, Coleção Cidade do Rio de Janeiro, vol.5, págs. 120/128

 

 



[1] Giolhos, era o que chamavam de joelhos na linguagem quinhentista.

[2] Isto é, amanhecendo o dia.

[3] Ou sanfoneiros, tocadores de sanfona, que, naquela época, talvez fosse comum em Portugal.


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A REVOLUÇÃO ISLÂMICA, UMA OPÇÃO NA QUARTA FASE E NAS SEGUINTES?

 


Plínio Corrêa de Oliveira, em sua magistral obra “Revolução e Contra-Revolução”, divide o ciclo revolucionário em 3 fases: a primeira foi a Revolução Protestante, a segunda a Revolução Francesa e a terceira fase a comunista. Na mesma obra ele define o que se seria uma quarta fase, que seria uma revolução tribal transformando toda a sociedade numa comunidade autogestionária[1]. Esta quarta fase já foi iniciada com a revolução da Sorbone de 1968 Uma quinta revolução seria um tribalismo todo voltado para o curandeirismo, etc.

O islamismo poderia servir de "caldo de cultura", poderia ter elementos que servissem para a quarta ou até mesmo a quinta Revolução?

Vejamos.

1. O aspecto tribal. A estrutura social de quase todos os povos dominados pelos muçulmanos é ainda tribal. De modo geral, tais povos conservaram seus aspectos primitivos como reação à ocidentalização da cultura. Embora tenha crescido o progresso tecnológico em muitos daqueles países, a estrutura social ficou estagnada e presa a valores tribais seculares. Da mesma forma, a legislação islâmica conserva todo o seu primitivismo mantendo tais povos numa quase barbárie.

2. O ódio ao Ocidente. Cada vez mais cresce o ódio ao Ocidente cristão, alimentado pelos aiatolás e mulás islâmicos, o que faz com que tais povos mais se distanciem do verdadeiro progresso social e se mantenham em seu primitivismo. Este ódio é alimentado pela revolta contra o Estado judeu na região.

3. O fascínio que desperta. Talvez desperte muito mais certo fascínio no Ocidente do que as reservas tribais de alguns povos indígenas. Isto porque possuem algo parecido com hierarquia social e uma certa riqueza cultural. Pelo menos em alguns aspectos. São mais numerosos; defendem causas universais; poderiam algum dia influir todos os povos da terra talvez pelo binômio “medo-simpatia”.

4. A autogestão islâmica. A Revolução islâmica, pois, nada mais é do que a IV Revolução tribal e autogestionária aplicada na prática. Nos mesmos moldes em que aquela Revolução foi idealizada pelos seus ideólogos: autoctonismo, falta de governo (tantas são as tribos que ás vezes alguns daqueles governos têm tido problemas para se manter no poder), curandeirismo (há muito disto no islamismo), etc. E aqui haveriam elementos mais facilitadores para um passo adiante: a quinta fase da, pois a religião islâmica abre grande espaço para a ação da feitiçaria, da magia, do curandeirismo, que é muito praticado em suas tribos arredias...

Este aspecto tribal está sendo o grande empecilho para concluir o que os americanos chamam de "democratização" de alguns países islâmicos. Esta tal "democratização" exigiria que aceitassem o costume ocidental de eleger seus governantes e que elaborassem uma Carta Magna, uma Constituição, a fim de que a nação tivesse um texto legal básico de sua existência. Mas nada disto estão dispostos a fazer: na realidade quem manda são os chefes tribais, os mulás e aiatolás, muitos deles sob influência direta dos ideólogos muçulmanos do Irã, Arábia Saudita, ou qualquer outro centro de propagação do islamismo no mundo. Apesar disso há consenso entre eles quando se trata de fazer guerra contra Israel ou o Ocidente cristão.

O historiador inglês Bernard Lewis, professor emérito da Universidade de Princenton, nos EUA, especialista em história do islã, com mais de 20 livros publicados, fala sobre estas dificuldades. Segundo Lewis a palavra democracia sequer existe entre os muçulmanos. Quando eles começaram a falar sobre democracia no século XIX se utilizaram de um termo emprestado da Europa. Nesta época houve algumas tentativas de "democratização" baseada em alguns modelos europeus, com constituição e parlamento, mas nenhuma funcionou a contento.

A Turquia foi um exemplo. A república foi proclamada em 1923, sendo eleito seu primeiro presidente. Tentou este romper com o passado islâmico e oriental, abolindo o califado e impondo a "laicização" das instituições, que nos países islâmicos são ligados á religião. Após a década de 50 a Turquia elevou ao poder o Partido Democrático, fazendo com que se fortalecessem seus vínculos com os EUA. No decorrer do século XX houve golpes de estado, eleições e tentativas de eliminar o crescimento da influência islâmica nas leis do país. Hoje, a Turquia pode-se dizer que mantém uma certa "democracia" nos moldes ocidentais, mas convivendo com múltiplos problemas internos provocados por muçulmanos e curdos. Não há outro país muçulmano que tenha regime político semelhante. A própria Arábia Saudita, por exemplo, é uma monarquia absolutista, “teocrática", como se diz, e de cunho ditatorial. Lá, a família real detém 40% de toda a riqueza do país e consegue se manter no poder graças a uma rígida legislação islâmica, que agrada aos ideólogos muçulmanos mas mantém o povo numa situação de quase escravidão e de ignorância crassa. O estilo de vida tribal secular deste povo é que o mantém preso às tradições islâmicas e obedientes aos ditames da aristocracia "sacerdotal" da religião. Tal modo de vida não condiz com o espírito ocidental e cria dificuldades para o funcionamento de uma democracia tipo americana.

O mesmo ocorre em outros países muçulmanos, como, por exemplo, o Marrocos, que tem uma monarquia islâmica liberal e moderada e com laivos de simpatias pelo Ocidente. Naquele país também foram promulgadas algumas leis para amenizar a ditadura islâmica, como uma constituição e certas liberdades para as mulheres. Há também um parlamento eleito através do sistema democrático de votos. Em 2003, o rei Mohammed IV e o parlamento aprovaram uma nova legislação sobre a família, os direitos individuais, e, obviamente, um estatuto dando proteção às mulheres e crianças. Mas fica por aí, havendo poucas possibilidades da monarquia ser menos rigorosa em outros aspectos. Há, porém, quem diga que o Marrocos é o único exemplo de um país muçulmano que se adaptou a certos costumes ocidentais e civilizatórios.

Já o mesmo não ocorre com os demais. O próprio historiador Lewis reconhece que há uma grande dificuldade para vencer as resistências seculares dos povos sob domínio islâmico para aceitar qualquer ocidentalização, da qual a "democracia" faz parte. E um fator a mais é a grande influência que tem lá dentro os aiatolás, principalmente os do Irã, onde impera uma Revolução Islâmica há mais de 40 anos tentando ser exportada para além de suas fronteiras.

O certo é que provavelmente veremos surgir ou se expandir no Iraque e nas circunvizinhanças um amontoado de regimes tribais, meio autóctones, revestidos na capa de um caráter de autenticidade, mas no fundo governados por uma rede bem urdida de mentores da Revolução Islâmica. Talvez tenha surgido aí a criação do famoso grupo terrorista denominado “Estado Islâmico”, que a partir de 2014 tentou impor um “república islâmica” entre a Síria e o Iraque, assim como outros grupos semelhantes, como o Hamas, etc.

Qual a distinção entre árabe e muçulmano?

É comum confundir-se o termo "muçulmano" com "árabe", ou até mesmo com a palavra "Islã". Na realidade, o Islã é todo o conjunto de povos que praticam a religião muçulmana, e o termo é usado também como o movimento político de expansão do maometanismo ; muçulmano é todo indivíduo que pratica aquela religião, seja árabe, turco ou marroquino. Agora, árabe é apenas aquele que nasceu na península arábica, a famosa Arábia, formada pelos países Arábia Saudita, Iêmen, Omã, Emirados Árabes, e os principados de Catar, Barein e Kuwait. Podem ser chamados de árabes todos os povos que falam o idioma árabe, mas também o termo significa todos aqueles que descendem dos ismaelitas, povo semita de origem comum com os israelitas. Então, o sujeito pode ser árabe quanto à raça, quanto à língua e quanto ao país onde nasceu, mas nem todo muçulmano é árabe quanto à nação nem quanto à língua. A maior parte das populações muçulmanas, atualmente, não é árabe nem quanto à língua nem quanto à raça.

Além dos países acima citados, temos de língua árabe os que formam o Magreb, Argélia, Tunísia e Marrocos, além da Jordânia, Líbano e Síria . Numa população mundial superior a 700 milhões de habitantes (onde a maioria vive na Ásia, com mais de 400 milhões, e em segundo lugar na África), a maior população muçulmana do mundo é a da Indonésia, 85% de seus duzentos milhões de habitantes, mas nem falam árabe nem são de origem árabe. Em seguida, temos os muçulmanos oriundos do poder otomano no Egito e na Turquia, porém nem são árabes quanto ao idioma ou quanto à raça. Na Europa oriental, no Iraque, no Afeganistão, na Índia e em diversos outros países é a mesma coisa, em alguns inclusive eles são minoria. 

Os sábios muçulmanos só por exceção eram árabes

Vejamos as observações abaixo feitas por uma historiadora moderna:

“É digno de nota o fato de que, com poucas exceções, a maioria dos sábios muçulmanos, tanto nas ciências religiosas como nas intelectuais, não terem sido árabes. Quando um sábio é de origem árabe, não é árabe de linguagem e criação e não teve professores árabes. Isto é assim, a despeito de o Islã ser uma religião arábica e o seu fundador ter sido um árabe.

A razão deste fato foi o Islã não ter tido de início ciências, nem indústrias, o que era devido às condições simples da vida no deserto. As leis religiosas, que eram os mandamentos e proibições de Deus, estavam inscritas no coração das autoridades. Conheciam as suas fontes, o Corão e os Sunnah (1) , por informação que tinham recebido diretamente do próprio Maomé e dos homens que o rodeavam. A população nessa altura era árabe. Não sabia nada acerca da instrução científica, da escrita de livros ou de trabalhos sistemáticos. Não havia incentivos ou necessidades para isso. Esta era a situação na época dos homens que rodeavam Maomé e dos homens da segunda geração...

No reinado de Al-Rashid (2), a tradição (oral) estava já muito distante. Foi necessário escrever comentários ao Corão e fixar por escrito as tradições, porque se temia que elas se perdessem... Além do mais, a língua (arábica) começava a corromper-se e era necessário estabelecer regras gramaticais.

Os fundadores da gramática foram Sîbawayh e depois dele al-Fârisî e al-Zajjâj. Nenhum deles era de ascendência árabe (3)...

Muitos dos doutores dos hadiths (4) que preservaram as tradições para os muçulmanos também não eram árabes, mas persas, ou persas na língua ou educação, porque a disciplina era profundamente cultivada no Iraque e nas regiões vizinhas. Também todos os doutores que trabalharam na ciência dos princípios da jurisprudência não eram árabes, mas persas, como é bem sabido. O mesmo se aplica aos teólogos especulativos e à maioria dos comentadores do Corão.

...Os árabes que entraram em contato com esta florescente cultura sedentária e trocaram por ela a sua atitude beduína eram afastados da escolaridade e do estudo pela sua posição de chefia na dinastia Abássida e pelas tarefas que lhes cabiam no governo. Eram os homens da dinastia, simultaneamente os seus protetores e os executores da sua política. Além do mais, nessa época, eles consideravam como uma coisa desprezível ser um mestre, porque o ensino é um ofício e os chefes políticos são sempre desdenhosos dos ofícios e profissões e de tudo o que a eles conduz...”

Notas: 1) "Corão" e "Sunah" eram compilações das tradições e costumes de acordo com as quais atuava a comunidade muçulmana. 2) Herum al-Rashid, califa de Bagdad entre 786 e 809. 3) Eram todos muçulmanos de origem persa. 4) "Hadiths" era o registro dos ditos e ações de Maomé, e de alguns de seus companheiros e sucessores. [2]

O sufismo, modelo de vida para os que praticam o islamismo

Que é o sufismo? Trata-se de regras e práticas ascéticas e místicas de um conjunto de escolas, de seitas e de confrarias muçulmanas. Em geral, a prática consiste em se despir de tudo o que é cultura, tudo o que é conforto, tudo o que leva o homem a se elevar em busca de aspirações mais altas para a alma, e se entregar inteiramente a uma vida de misérias, de fome, de quase completa inanição e indolência espiritual, em busca de uma suposta "perfeição". Com esta prática de vida, tais "monges" adquirem uma aura de "santidade" entre os crentes de sua seita e podem assim se impor em suas comunidades como verdadeiros conselheiros, pajés, feiticeiros, xamãs, guias espirituais, gurus, etc. Além disto, eles são um exemplo vivo da prática de sua religião a ser seguido pelos crentes.

Os sufistas sempre combateram os filósofos e "teólogos" do islamismo, criando uma imagem material do fundador de sua religião. As primeiras escolas do sufismo foram criadas no século IX em Bagdá. A partir do século XIII se espalharam várias confrarias (chamadas de "Tariqas"), onde os seus membros (denominados de "murid") se colocavam em busca de uma identificação com o seu deus, Alá, guiados por um espécie de guru, chamado de "cheilich" ou "murchid", praticando uma técnica chamada "dhikr", o elemento central do ritual sufista. Assim, surgiram várias organizações ou confrarias sufistas: os "quadiriyya" em Bagdá (séc. XII), os dervixes mawlawis (séc. XIII), os "naqchbandiyya", na Ásia central (séc. XIV), os "sanusiyya" no Magreb (séc. XIX). Da mesma forma, os marabutos do Norte da África pertencem à mesma confraria.

Quando os muçulmanos dominavam a Península Ibérica, a partir do século XI começaram a surgir as primeiras confrarias de inspiração sufista, como a que foi adotada pela dinastia dos Almorávidas. Provinham do continente africano, mas logo invadiram a Andaluzia e se tornaram um dos piores perigos para o domínio do resto da Europa. De onde vieram? Como surgiram?

Em 1039, o faquir Abdállah Ben Yássin (Abd Allah ibn Yasin), da tribo de Jazula, no Magreb, começou a reislamizar as tribos nômades do Saara. Seus primeiros adeptos passaram a se chamar “almorávidas” (al-morabetin) porque estavam ligados com voto especial para fazer guerra santa em “la rábida” (ou castelo fronteiriço) que o faquir havia fundado numa ilha do rio Níger. Na realidade, o castelo era uma espécie de “convento”, onde os discípulos do faquir eram recrutados entre os berberes saarianos para serem ali treinados, com formação religiosa e militar.

Abdállah levou seus discípulos à guerra santa contra os que não escutavam sua pregação, islamizando rapidamente a região do Saara. Entre as 70 cabildas irmãs da grande tribo de Sanhaja que pastoreavam seus camelos através do deserto, a dos Lantunas se distinguiu pelo zelo religioso, assim que Abdallah a escolheu e selecionou dentro dela os primeiros emires, completando a conquista do Saara e indo depois em busca do Sudão. O emir principal guiava os almorávidas na guerra, porém Abdallah era o verdadeiro soberano, pois era quem mandava no emir, sobre cujas costelas desnudas descarregava o açoite da penitência quando tinha que repreendê-lo por alguma falta cometida. Vê-se bem que há uma dupla dominando a tribo, representando o poder civil e religioso, mas é o faquir, detentor do poder religioso, quem manda realmente. Em alguns casos, como ocorre com as tribos de índios americanos, o próprio faquir é quem governa, absorvendo ele os dois poderes.

Estes primeiros almorávidas eram rigorosamente fiéis aos princípios islâmicos e moviam atroz perseguição religiosa nas terras por eles conquistadas. Impunham as leis mais absurdas, como a do matrimônio polígamo, queimavam as tendas que vendiam vinho, destruíam instrumentos musicais que julgavam corruptores dos costumes, aboliam todos os impostos que não estavam previstos no alcorão, permitindo só cobrar os dízimos e as esmolas dos muçulmanos, os tributos devidos pelos fiéis de outras religiões e o quinto do butim de guerra, isto é, da guerra santa. É exatamente desta forma que os muçulmanos agem hoje no Sudão e em alguns países onde imperam estas confrarias sufistas e fiéis aos princípios maometanos até suas últimas conseqüências. 

A filosofia islã

O termo islã, em árabe, quer dizer "obediência a Alá"  Mas esta “obediência” precisa ser melhor esclarecida, pois vem da crença de que o destino do homem é imposto arbitrariamente pela vontade daquele “deus”, sendo impossível opor-lhe a nossa vontade. O termo “islã” é usado, também, com o significado de abandono e resignação na vontade de Alá. Como se vê, uma “resignação” inteiramente fatalista.

Antes do maometanismo, os árabes daquela região (principalmente Meca e Medina, onde nasceu o movimento) mantinham tradições antigas de crença em Deus e nos Profetas do Antigo Testamento, como Abraão, de quem descendem através de Agar e Ismael. Mantinham um santuário, chamado Caaba, onde as diversas tribos adoravam seus ídolos juntamente com Alá. Não se sabe se nesta época o termo Alá já era designado como Deus, ou se era apenas um dos ídolos pagãos ali adorados. É provável que em tempos bem remotos aquele povo adorasse o verdadeiro Deus, mas aos poucos a idolatria pagã misturou seu culto com os demais. Há historiadores que afirmam que haviam naquele santuário mais de 360 ídolos pagãos, dentre eles o próprio Alá. O ídolo principal no tempo de Maomé, chamava-se Hubal e era venerado também na Caaba. [3].

Maomé, um esperto comerciante, fez-se passar por profeta de um único Deus e o impôs pela força das armas. Dizia a seus partidários: “Fazei guerra aos que não crêem em Alá, nem no seu profeta; fazei-lhes guerra até que paguem tributo e sejam humilhados”. Por isso, a chamada “guerra santa” é quase um dogma entre eles. Pelas armas Maomé impôs sua religião aos povos daquela região, começando por massacrar os habitantes de Meca que o rejeitaram no início. Depois, foi pelas armas que o islamismo foi se impondo aos outros povos, até invadir a própria Europa no século VIII, dominando toda a Península Ibérica.

Em sua origem o islamismo não era monoteísta, no sentido de um só Deus verdadeiro como crê o Cristianismo. Poderíamos dizer que era "monodeísta", isto é, Maomé mandou destruir todos os outros falsos deuses que haviam em Medina, erigindo um deles como o único, que era Alá. Então, Alá é um deus pagão escolhido como entidade venerativa e adorativa pelos maometanos. Depois que o islamismo dominava vários países e crescia no mundo, tornou-se necessário criar seu primeiro "dogma", afirmando que o deus Alá seria um ser supremo e único, infinitamente perfeito, criador do universo e juiz soberano dos homens[4]. Com o tempo a palavra Alá passou a significar "Deus", assim como se com o tempo algum povo que adorasse Júpiter ou Diana fizesse com que o nome de um desses deuses passasse a significar o termo "Deus". As mesquitas muçulmanas não expõem imagens ou qualquer figura que represente Alá. Nem sequer Maomé tem sua figura representada em alguma estátua ou pintura. Mas dizem que Alá é o único deus verdadeiro.

Onde os muçulmanos aprenderam este "dogma"? Foi, mais ou menos, a partir do século X, quatro séculos depois do surgimento do movimento, que os seus filósofos idealizaram as suas normas que hoje predominam, inclusive o "dogma" acima, em parte copiado do Cristianismo, mas tido como reflexo de estudos da filosofia aristotélica. Estes filósofos foram Alfarabi, Avicena, Averrós, e outros citados acima. Mas se estes idealizaram a "estrutura" filosófica e, digamos assim, "teológica" do islamismo, era necessário alguém criar os rituais, as leis, etc. E foi aí que surgiu o sufismo, o islamismo na prática.

Ao longo dos anos foram então criados cinco códigos legais, ou cinco atos pelos quais o muçulmano manifesta sua fidelidade ao seu ideal religioso. O primeiro é uma espécie de profissão de fé, pelo qual ele se obriga a crer que Alá é o único deus que existe no mundo. No mesmo código o fiel é obrigado a declarar que o único profeta deste deus é Maomé. Sua prece (ou "Salat") tem que ser feita virada para a cidade de Meca, umas cinco vezes ao dia, num conjunto de prosternações (com mãos no chão e de quadris para cima) e fazendo abluções. O fiel é também obrigado a cumprir o preceito de fazer uma peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida (o "hajdj'). No mês chamado de "ramadã" ele é obrigado a fazer o jejum, que é apenas diurno. Há também a obrigatoriedade da esmola legal ("zakat"), costume que hoje não existe mais. Antigamente existia o dízimo, que era direcionado unicamente para a guerra santa, ou "jihad".

Não existe um clero muçulmano propriamente dito, mas informalmente se formam o que se chama de "marabutos" ou dervixes, espécies de faquires, com rigorosas práticas de asceses através de jejuns rigorosos e vestimentas de andrajos. O livro principal deles, chamado "corão" ou "alcorão", é apenas um amontoado de frases e conselhos supostamente ditados por Maomé, mas que alguns autores supõem que foram inventados por seus seguidores. Algumas destas frases foram copiadas de outras religiões ou filosofias.

São Tomás de Aquino diz o seguinte sobre o Islamismo:

“Maomé seduziu os povos prometendo-lhes deleites carnais. .... Introduziu entre as poucas coisas verdadeiras que ensinou muitas fábulas e falsíssimas doutrinas. Não aduziu prodígios sobrenaturais, único testemunho adequado da inspiração divina. ....
Afirmou que era enviado pelas armas, sinais estes que não faltam a ladrões e tiranos. Desde o início, não acreditaram nele os homens sábios nas coisas divinas e experimentados nestas e nas humanas, mas pessoas incultas, habitantes do deserto, ignorantes de toda doutrina divina. E só mediante a multidão destes, obrigou os demais, pela violência das armas, a aceitar a sua lei.

Nenhum oráculo divino dos profetas que o precederam dá testemunho dele; ao contrário, ele desfigura totalmente o Antigo e Novo Testamento, tornando-os um relato fantasioso, como o pode confirmar quem examina seus escritos.

Por isso, proibiu astutamente a seus sequazes a leitura do Antigo e Novo Testamento, para que não percebessem a falsidade dele. (“Summa contra Gentiles”, L. I, c. 6. )








 



[1] “Revolução e Contra-Revoluçao”, Plínio Corrêa de Oliveira – Chevalerie Artes Gráficas e Editora, págs. 210/229.

[2] Apud Ibn Khaldûn. The Muqadeimah, “History of the Arabs”, de Hitti, P. K, p. 428-30, extraído do livro “História da Idade Média”, de Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez, Ed.Unesp, pp. 66/67

 [3] Seria esta crença que deu origem ao termo Al-lah, Allah ou Alá, que passou a significar “deus” para eles. Lembremos que toda palavra árabe começada pela partícula “al” (artigo “o” ou “a”) é sempre anteposta a algum título de honra. Na Espanha, a partícula “al” mudou para “el”, dando origem a termos como “el-rei” (o rei) e o famoso El Cid (O Senhor).

[4] No Alcorão são mencionados 99 atributos humanos a Alá, todos eles iniciados com a partícula “al”., "O Clemente" (Al-Rahmān), "O Querido" (Al-'Azīz), "O Criador" (Al-Khāliq), entre outros. O conjunto desses atributos recebe em árabe o nome de al-asmā' al-husnà ("os melhores nomes") – o centésimo atributo seria o próprio Allah

sábado, 11 de novembro de 2023

PREVISÕES PROFÉTICAS SOBRE O BRASIL FEITAS QUARENTA ANOS ATRÁS

 





Quase ao findar o ano de 1983, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira publicou na "Folha de São Paulo" um artigo intitulado "Quatro Dedos Sujos e Feios", onde analisava a forma misteriosa como ele via a esquerda se transformar na violência urbana que crescia assustadoramente. Passados 40 anos, vê-se hoje como aquelas previsões se cumprem, como se diz, "ao pé da letra". Após lê-lo, convém analisar como anda hoje a violência urbana no Brasil, especialmente a partir da posse do novo governo de esquerda.


Quatro Dedos Sujos e Feios


Plínio Corrêa de Oliveira


A perplexidade se dá bem com macias cadeiras de couro, nas quais o homem sente afundar-se gostosamente. É que há certa analogia entre estar atolado em questões perplexitantes, e em poltronas de molas macias. O homem perplexo, afundado em couros, fica atolado tanto de corpo como de alma, o que confere à situação dele essa unidade que nossa natureza pede insistentemente, a todo propósito.
É verdade que tal unidade não vai aí sem alguma contradição. As perplexidades constituem para a mente um atoleiro penoso. Um purgatório. Por vezes quase um inferno. Pelo contrário, os couros e as molas proporcionam ao corpo cansado um atoleiro delicioso, reparador. Mas essa contradição não fere a unidade. E diminui o tormento do homem, em vez de o acrescer.

Para prová-lo ao leitor, bastaria a este imaginar quão pior seria a situação de um homem perplexo, sentado num duro banco de madeira...

Ocorreu-me isto tudo ao recordar que, numa noite destas, chegado ao termo o jantar, resolvi refletir sobre a situação nacional, atoleiro no sentido mais preciso e sinistro do termo. E para isto me afundei instintivamente em uma profunda e macia poltrona de couro. Comecei então a pensar...

A ronda macabra dos vários problemas pátrios, ideológicos, sociais e econômicos, começou a dançar em meu espírito. A fim de ver claro, eu procurava deter a feia ciranda, de modo a analisar, uma por uma, as várias questões que a formavam. Mas estas pareciam fugir a toda avaliação exata, executando cada qual, diante de meus olhos por fim fatigados, um movimento convulsivo à maneira do "delirium tremens". Pertinaz, eu insistia. Mas elas, não menos pertinazes do que eu, aumentavam seu tremor, e de repente retomavam em galope sua ciranda.

Febre? Pesadelo? O certo é que me senti subitamente em presença de um personagem muito real, de carne e osso...

E eu, que tinha intenção de comunicar aos leitores o resultado de minhas lucubrações, fiquei reduzido a contar-lhes o que este personagem me disse.

O tal homem a-temporal me tratava de você, com uma certa superioridade que tinha seu tantinho de irônico e de condescendente. E, pondo em riste o indicador curto e pouco limpo da mão direita, como para me anunciar uma primeira lição, sentenciou: "Saiba que eu, o comunismo, fracassei neste sossegado Brasil. O PC é aqui um anão que dá vergonha. Por isso, evito de o apresentar sozinho em público. O sindicalismo não me adiantou de nada. Possuo muitos de seus chefes, mas escorre-me das mãos o domínio sobre suas bases bonacheironas ("pacifistas", diria você). Entrei pelas Cúrias, pelas casas paroquiais, seminários e conventos. Que belas conquistas eu fiz. Mas ainda aí prosperei nas cúpulas, porém a maior parte da miuçalha carola me vai escapando. Noto, Plinio, sua cara alegre ante minha envergonhada confidência. Você me reputa derrotado. Bobão! Mostrar-lhe-ei que tenho outros modos de progredir.

— Você duvida? — Sim, eu duvidava.

Então ele levantou teatralmente, ao lado do dedo indicador, o dedo médio, um pouco mais longo e não menos rejeitável. E entrou a dar sua segunda lição.

"Começarei por um sofisma. Farei o que você não imagina: a apologia do crime. Sim, direi por mil lábios, através de mil penas, milhões de vídeos e de microfones, que a onda de criminalidade, a qual tanto assusta os repugnantes burgueses, raramente nasce da maldade dos homens. Nas tribos indígenas, os crimes são mais raros do que entre os civilizados. O que quer dizer que o crime nasce entre nós das convulsões sociais originadas da fome. Elimine-se a fome, desaparece o crime. Como, aliás, também a prostituição.

"Quem você chama de criminoso é uma vítima. Sabe quem é o criminoso verdadeiro? É o proprietário. Sobretudo o grande proprietário. Principalmente este é que rouba o pobre.

"Enquanto um ladrão de penitenciária rouba um homem, o proprietário rouba um povo inteiro. Seu crime social é de uma maldade sem nome!"

O delírio leva a muita coisa. Pensei em expulsar o jactancioso idiota. Mas o comodismo me manteve atolado em minha poltrona. Furibundo e inerte, deixei-o continuar.

Ele levantou o dedo anular, feio irmão dos dois que já estavam erguidos. E prosseguiu.

"Há mais uma "seu" Plinio. À vista de tudo quanto eu disse, um governo consciente de suas obrigações tem por dever desmantelar a repressão e deixar avançar a criminalidadePois esta não é senão a revolução social em marcha. Todo assassino, todo ladrão, todo estuprador não é senão um arauto do furor popular. E por isto farei constar ao mundo inteiro que a explosão criminal no Brasil está sendo caluniada por reacionários ignóbeis. A criminalidade é a expressão deste furor justamente vindicativo das massas, que os sindicatos e a esquerda católica não souberam galvanizar."

Suspendendo o minguinho, miniatura fiel dos três dedos já em riste, meu homem riu. "Farei entrar armas no Brasil. Quando os burgueses apavorados estiverem bem persuadidos de que não há saída para mais nada, suscitarei dentre os que você chama "criminosos", um ou alguns líderes, que saberei camuflar de carismáticos. E farei algum bispo anunciar que, para evitar mal maior, é preciso que os burgueses se resignem a tratar com aqueles que têm um grau de banditismo menor.

"Vejo a sua careta. Você está achando a burguesia preparada para cometer mais esse erro. Tem razão. Assim se constituirá um governo à Kerensky, bem de esquerda. O dia seguinte será do Lênin que eu escolher."

Levantei-me para agarrar o homem. Quando fiquei de pé, acabei automaticamente de acordar. Ou cessou a febre...

Escrevi logo quanto "vira" e "ouvira", pois só até poucos minutos depois da febre ou do sono, tais impressões se podem conservar com alguma vitalidade.

Leitor, desejo que elas não lhe dêem febre. Se é que, antes de terminar a leitura, elas não lhe darão sono.

Este não será, em todo caso, um tranqüilo sono de primavera. Mas estará em consonância com essa metereologia caótica dos dias aguados e feios com que vai começando novembro.

P.S. — A Polícia paulista parece hoje em reviravolta. Que diria a isto o hominho dos quatro dedos sujos? Em São Paulo, e pelo Brasil afora, que rumo tomará o buscapé da subversão? Parar, não parará...

("Folha de S. Paulo", 16 de novembro de 1983)



Observação: não teria sentido qualquer ligação entre o personagem do Dr. Plínio, o "homenzinho de quatro dedos sujos e feios", e o presidente Lula, o qual, apesar de também possuir quatro dedos numa mão (por sinal, o "minguinho" é o único que falta nele, mas é um dos citados no artigo), na época do presente artigo nem sequer cogitava de se candidatar a presidente, embora seu partido já começasse a disputar cargos importantes como a prefeitura de São Paulo.


quinta-feira, 9 de novembro de 2023

EXCELSAS BENEVOLÊNCIAS DA MÃE DA DIVINA GRAÇA

 





A invocação de Nossa Senhora das Graças,, cuja festa se prende à aparição da Santíssima Virgem a Santa Catarina Labouré, em 27 de novembro de 1830, muito fala às nossas almas de filhos e devotos d’Ela, porém não diz tudo.  Já o título de “Mãe da Divina Graça”, rezado na Ladainha Lauretana, exprime de modo extraordinário a augusta prerrogativa de Maria enquanto medianeira e dispensadora universal dos dons de Deus. 

Significado da palavra “graça”

Para melhor compreendermos e amarmos esse atributo de Nossa Senhora, todo voltado a nosso favor, devemos antes analisar os dois sentidos da palavra “graça” na linguagem católica.

Numa primeira acepção, ela quer dizer favor.

Por exemplo, se alguém sofre de uma doença, suplica ao Céu a cura e a obtém, pode afirmar: “Recebi uma graça”. É um favor que pediu e no qual foi atendido.

Outra pessoa se encontrará em grava apuro econômico, precisando de auxílio para financiar urgentes necessidades de sua família, e roga a Nossa Senhora que lhe dê a oportunidade de ganhar o dinheiro indispensável. A ocasião se apresenta, ele alcança a soma desejada e resolve seus problemas. Foi uma graça, um favor que lhe foi proporcionado pela Divina Providência.

Há contudo, um sentido muito mais elevado da palavra “graça”. Refere-se a uma dádiva tão imensa, tão suprema, que é a graça por excelência. O que vem a ser?

Na sua infinita misericórdia, e sempre a rogos de Nossa Senhora, Deus concede a todas as almas uma força espiritual que é uma participação na própria vida incriada d’Ele.  Essa poderosa assistência divina é a graça santificante, que Ele infunde nas almas no momento do batismo, e que pode ser enriquecida pelo homem ao longo da vida, mediante reiterados atos de virtude, a freqüência aos Sacramentos, etc.

Recebendo essa participação na própria vida de Deus, a criatura humana é favorecida por um vigor, uma elevação e uma coragem de alma que caracterizam os santos e santas, beatos e beatas que, em grande quantidade, reluzem no firmamento da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Se procedêssemos a um recenseamento de quantos bem-aventurados existem  no Céu, tomando apenas em consideração o calendário litúrgico, o resultado já seria de milhares. Na verdade, porém, o número de santos é muito maior do que o registrado nas hagiografias.

Com efeito, por santo deve-se entender não só aquele que a Igreja proclamou como tal, elevando-o à honra dos altares, mas também todas as almas que, embora desconhecidas, praticaram em vida a perfeição heróica. Passaram pelo mundo de maneira humilde e apagada, não deixaram vestígios pelas veredas da terra. Contudo, ao chegar ao Céu, brilham com luz extraordinária, porque observaram a virtude de um modo igualmente extraordinário.

Esses santos serão por todos conhecidos no dia do Juízo Final, e muitos deles nos aparecerão como estrelas de primeira grandeza. Talvez surpreendidos pela formosura de alguns deles, perguntemos ao nosso Anjo da Guarda:

- Mas, aquele admirável que está lá, quem é?

- Ah, aquele? Foi um lixeiro na Terra. Porém, teve tanta resignação carregando o lixo, desempenhou tão bem a missão de limpar a cidade em que trabalhava, era tão atencioso para com as pessoas com quem tinha de tratar, e de tal maneira fazia isto só por amor de Deus, que toda vez que punha uma carreta de lixo no caminhão da limpeza era como se acendesse uma estrela no Céu. Ou seja, colecionava méritos para a eternidade...

Outro terá sido um homem cheio de poder, riquezas, talentos e posições, recebendo a todo momento elogios e referências às suas grandes qualidades, e a todo instante exposto à tentação do orgulho e da vanglória. Era-lhe fácil tornar-se ébrio de tanto entusiasmo por sua pessoa e posição, todavia compreendeu que o homem nada possui do que se orgulhar: tudo o que lhe pertenceu, recebeu de Deus e se destinava a servir a seu Eterno Benfeitor.  Se não tivessem sido empregados em vista deste fim supremo, seus dotes e tesouros não teriam valido coisa alguma. Por isso, aceitando essa verdade, ele nunca consentiu num movimento de presunção e de amor-próprio, levando toda a sua existência na mais perfeita humildade e no desprendimento dos bens terrenos. Santificou-se.

Um terceiro foi, digamos,, um governante magnífico. À passagem dele, as multidões se desatavam em cânticos e entusiasmos por suas realizações e seus triunfos. Ele venceu batalhas nas quais lutou pelo bem, pela justiça; construiu cidades, socorreu populações castigadas por inundações, epidemias, e as mais diversas catástrofes. A isto era levado não só pelo fato de ser o chefe da nação, com meios de fazê-lo, mas também porque o movia um intenso amor ao próximo e uma grande sabedoria.

Assim, se era preciso debelar uma peste que assolava certa região de seu país, ele mandava procurar os melhores médicos, conhecedores das melhores técnicas, a fim de que se combatessem com toda a rapidez possível aquele mal. Era um homem, enfim, possante em idéias e realizações, mas, sobretudo, em amor de Deus e em caridade fraterna. Virtuoso, ele passou por esta terra sem sujar-se com enlevos e comprazimentos consigo mesmo, faleceu santamente e subiu ao Céu como uma estrela. E ali refulgirá por toda a eternidade.

Como um enxerto da vida divina no homem

Todos esses santos, canonizados ou não, todas essas vitórias do espírito sobre a carne, da virtude sobre o pecado, todos os atos meritórios que qualquer fiel pratica, são frutos desta participação criada na vida incriada de Deus, ou seja, da graça. Uma participação altíssima, que poderia ser comparada, vagamente, a um enxerto.

Tome-se uma árvore comum, n a qual é enxertada a muda de uma outra árvore que dá frutos preciosíssimos. Quando chegar a hora da frutificação, esses valiosos rebentos nascerão na árvore que recebeu o enxerto. Assim também é a graça, um como que enxerto da vida incriada de Deus em cada um de nós. Se lhe correspondemos,,ele frutifica em nós, elevando-nos a inimagináveis alturas. 

A santidade, fruto da correspondência à graça

Essa correspondência à graça significa praticar a virtude, significa evitar a todo custo o pecado. Não deve nos preocupar, neste mundo, se somos muita ou  pouca coisa. O único que importa é saber se cumprimos ou não os Mandamentos de Deus, e os desígnios d’Ele a nosso respeito.

Ainda há alguns anos, a Igreja inteira celebrou a glorificação de mais uma heroína da Fé: Santa Ana Maria Taigi. Quem foi ela? Uma distinta senhora, conceituada na sociedade em que viveu, generosa nas esmolas que distribuía? Não. Foi uma cozinheira, uma modesta doméstica no palácio dos príncipes Colona de Roma, no século XIX. Desempenhou de modo perfeito as suas humildes funções, trabalhou incentivada por um ardente amor a Deus, e teve uma vida semeada de dificuldades e sofrimentos – pois ninguém vai para o Céu sem padecer – santamente suportados. Carregou de modo admirável a sua cruz, tornou-se sana e hoje está na bem-aventurança eterna. Uma simples cozinheira, diante de cuja alma, se lhes fosse dado contemplá-la, se poriam de joelhos os maiores potentados da terra...

O excelso papel de Nossa Senhora das Graças

E aqui se faz notória a gloriosa prerrogativa de Nossa Senhora que hoje recordamos.

Como acima entendida, a graça é um imensíssimo favor de Deus que nos é outorgado a todos, desde o momento do batismo, e que não nos é negado ao longo de nossa existência inteira. Até o derradeiro instante do homem, na hora de ele exalar seu último suspiro, a graça o acompanha, o convida, chama e atrai. Mesmo no fundo dos piores pecados, ainda lhe é dado ouvir o solícito apelo da graça, incitando-o à conversão.

Ora, essa recepção desse grandíssimo favor e nossa correspondência a ele, não nos é possível sem que nos venha pelas maternais e misericordiosas mãos de Maria.

Ela é a Mãe da Divina Graça, porque Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, fonte, princípio e autor de toda graça. Além disso, por disposição da Providência, Ela é também a dispensadora dos dons e favores celestiais, cuja totalidade constitui inexaurível tesouro que Deus confiou à gerência d’Ela. Nossa Senhora é, portanto, a tesoureira das riquezas divinas.

Esse magnífico predicado mariano nos faz desfrutar, junto a Deus, de uma privilegiada posição. Pois temos a interceder por nós, continuamente, aos pés d’Ele Aquela que detém a chave de todas as graças, Aquela que é a onipotência suplicante e sempre nos obtém aquilo que, por nossos próprios méritos, jamais alcançaríamos. O valor de Nossa Senhora é tal que todas as nossas orações feitas por meio d’Ela são atendidas, de modo particular as preces e os pedidos que se referem à nossa santificação.

Por outro lado, Ela é especialmente Mãe dos que necessitam das preciosas dádivas do Céu. Mãe dos que pugnam sob o estandarte da fé, Mãe dos que se debatem contra as tentações, Mãe dos miseráveis, Mãe dos pecadores, Mãe dos desamparados, Mãe daqueles que quase perderam a esperança da salvação eterna – e para todos, sem exceção, obtém Ela o poderoso auxílio dos dons de Deus.

Essa é Nossa Senhora das Graças, essa é a Mãe da Divina Graça, que tem para com cada um de seus filhos solicitudes e bondades inimagináveis!

(Revista “Dr. Plínio”, nº 32, novembro de 2000)