domingo, 26 de maio de 2019

O DEMÔNIO NÃO TEM PODERES SOBRE O CORPO MÍSTICO DE CRISTO


(Na foto, Bato Palau Y Quer, que defendia o exorcistado como Ordem Religiosa especializada)


O rumoroso caso da possessão nos Estados Unidos ocorrida em 1949

Na edição de 19 de agosto de 1949, o semanário católico “The Catholic Review”, publicou a seguinte notícia procedente de Washington:
“Um garoto de Washington, de catorze anos, cuja história de possessão diabólica foi amplamente noticiada na imprensa na semana passada, foi exorcizado com êxito por um padre, depois de ser recebido na Igreja Católica, segundo se soube aqui.
“O padre envolvido negou-se terminantemente a comentar o caso. Sabe-se, contudo, que várias tentativas foram feitas para libertar o garoto das manifestações.
Um padre católico foi chamado para ajudar. O garoto, quando expressou seu desejo de ingressar na Igreja, com o consentimento dos pais, recebeu instrução religiosa. Mais tarde o padre o batizou e realizou então com êxito o ritual do exorcismo. Os pais do garoto vitimado não são católicos”.
A partir daí a notícia foi divulgada por outros jornais, culminando pela publicação de uma reportagem do “Washington Post” em sua primeira página. Ao ler a reportagem, um estudante da Georgetown University, William Peter Blatty, resolveu estudar o caso e publicou um livro, intitulado “The Exorcist” (O Exorcista).
Posteriormente, o tema tratado no livro foi transformado num filme, rodado somente em 1973 e que teve grande sucesso. Para manter no anonimato as pessoas, foram alteradas várias partes do exorcismo, além dos nomes dos participantes, inclusive e, principalmente, do possesso, transformado numa menina.
Para que houvesse perfeita sintonia dos assuntos abordados no filme com os princípios dogmáticos da Igreja, dois teólogos deram assistência de consultoria ao filme, os padres Thomas Bermingham, S.J. e John J. Nicola.
Conta-se que ocorreram diversos acidentes no local das filmagens, o que motivou o padre Thomas Berminghan a fazer uma bênção especial exorcística naquele local. Depois disso, os acidentes pararam de acontecer...
Posteriormente, no final da década de 80, o editor da revista “National Geografic” Thomas B. Allen, soube da existência de um diário escrito pelos dois exorcistas em questão, onde se detalhou tudo sobre o caso. O padre William W. Bowdern, S.J., o principal exorcista, havia tido o cuidado de mandar registrar num diário todos os fatos no momento em que ocorriam.  O objetivo era fornecer subsídios aos futuros exorcistas sobre a matéria. Contendo 26 laudas, o diário começa no dia 7 de março e termina no dia 19 de abril de 1949.
O jornalista Thomas B. Allen não se contentou com isso e passou a pesquisar sobre o assunto, cujo objetivo era a publicação de um livro. O resultado foi a primeira edição de sua obra, intitulada “Possessed’ (Possesso) em 1993, com versão em português sob o título de “Exorcismo” publicada no ano seguinte pela Editora Nova Fronteira S.A.
Resumimos a seguir os acontecimentos relatados por Thomas B. Allen, principalmente aqueles baseados no diário do sacerdote, especialmente a partir dos momentos finais do exorcismo. Tal relato tem todos os elementos para se mostrarem críveis e de acordo com a doutrina católica sobre o assunto. Um leigo, e provavelmente não católico, ao escrever sobre o tema, baseando-se num diário de um teólogo e exorcista, dá todos os sinais de insuspeição mostrando-se fiei no seu relato. Além disso, não se vê nada que demonstre incompatibilidade entre os fatos narrados e o que diz a Doutrina Católica sobre as possessões diabólicas e seus conseqüentes exorcismos.
Os dados a seguir foram extraídos do livro “Exorcismo”, da Editora Nova Fronteira S.A, a partir dos últimos dias dos relatos publicados:

Exorcismo só surte efeito pelo poder da Santa Igreja
Certa noite, quando recitava as orações do exorcismo, o padre Bowdern foi inspirado pela frase: “...deste servo de Deus, que busca refúgio no seio da Igreja”. Imaginou então que se o garoto fosse batizado, tornando-se portanto católico, estaria sendo protegido sob o manto da Santa Igreja. Desta forma o demônio perderia sua força, pois a Igreja recebeu todo o poder de Jesus Cristo para expulsão dos demônios, mas para isto sua eficiência é maior quando o possesso é católico.
A família de Robert concordou.  O padre Bowdern mandou então preparar um quarto na sua casa paroquial a fim de acomodar Robert e seu pai. Na noite de quarta-feira, dia 24 de março, Karl Mannehin e o filho mudaram-se para a casa paroquial.  Lá, o padre passou a doutrinar Robert, ensinando-lhe os princípios da doutrina católica e algumas orações.
No primeiro dia, o demônio reagiu violentamente. Estavam presentes no quarto, além dos padres Bowdern e Bishop, o pai de Robert, Halloran e um convidado, o padre jesuíta William A. Van Roo. Quando o padre Bowdern terminou sua preleção, convidou todos a rezar juntos o Credo e os Atos de Fé, Esperança e Caridade.  Em seguida, passou a rezar a ladainha de todos os santos. Neste momento, Robert teve um acesso de possessão. Começou a dar chutes e a cuspir. Tentando a custo segurá-lo, Halloran pede ajuda do padre Van Roo. A certa altura, Robert se faz de vítima e pede para soltar seus braços que estavam doendo. O padre Van Roo, compadecido, soltou o garoto dizendo que não precisava se agir tão violentamente com aquele rapazinho tão franzino. “Não faz sentido segurar os braços dele assim com tanta força...” .  Logo em seguida, o padre Van Roo recebeu o prêmio por sua “bondade”: Robert acertou-lhe um soco no nariz, após ter atingido também o de Halloran. Ambos saíram dali com os narizes sangrando...
O exorcismo prosseguiu com uma seqüência de exibições de força e de manifestações estranhas do franzino Robert.  A certa altura, o demônio gritou:
- Eu estou no inferno! Estou te vendo! Você está no inferno. É 1957...- gritava apontando para o padre Bowderm.
O ardil do demônio quase surtiu efeito, pois o padre ficou um tanto perturbado com aquela “revelação” do futuro.  Recordou-se logo, porém, do que havia sido advertido pelo Ritual, de que o demônio procuraria inventar mentiras com intuito de confundir o exorcista. Era preciso não dar importância a nada do que ele dissesse.  Após uma breve pausa, o sacerdote retornou às orações do exorcismo.
Em outro dia, o demônio escolheu outro padre como vítima. Disse a mesma coisa, que estaria no inferno com ele em tal época: “De que adiante você está aqui? Você estará comigo no inferno em 1957!”.  O pe. Bishop não cita o nome deste sacerdote, mas afirma que mudou de vida após aquela declaração do diabo.

Robert torna-se católico
Após ter sido doutrinado, o batismo de Robert foi marcado para o dia 1o. de abril, uma sexta-feira, primeira do mês. Pairava uma grande dúvida entre os sacerdotes de como os demônios reagiriam, ou para impedir a cerimônia ou para causar qualquer problema naquele dia.  E foi o que ocorreu. Traziam Robert para a igreja o seu pai, que dirigia o carro, seu tio George e sua tia Catherine. A certo momento, manifestou-se o demônio:
- Então vocês vão me batizar? – e soltou tremenda gargalhada. – E estão pensando que vão me expulsar com a Santa Comunhão? Ah, ah, ah.
Repentinamente, Robert meteu a mão no volante e desviou o carro  para a calçada. Tio George, mesmo tomado de surpresa, conseguiu puxar o freio de mão e impedir que o carro batesse num poste. Em seguida, Robert agarrou-se ao pescoço de sua mãe, contido a custo por seu pai. A chave saltou da ignição do carro e foi projetada para o chão. Era evidente que satanás queria impedir que o garoto fosse batizado, mas seu Anjo da Guarda velava por ele e nem todas as ações diabólicas obtiveram êxito.
Todos perceberam que aquilo era uma ação satânica, e todos se uniram para cumprir sua missão e levá-lo para o batismo. Tio George e o pai agarraram o garoto com força e o tiraram de dentro do carro. Em seguida, mandaram que Catherine assumisse o volante. Assim, Robert foi introduzido novamente no carro e levado à força, imobilizado pelos dois homens. Novamente a caminho, o possesso ainda tentou novamente agredir a motorista mas foi firmemente impedido pelos dois homens.
Quando o padre Bowdern soube que Robert havia chegado naquelas condições, não permitiu que o mesmo fosse levado para o interior da igreja, temendo alguma profanação.  Levaram-no para a casa paroquial, onde seria batizado. Quando entrou na casa, fez-se mais violento ainda, lutando contra os homens que o agarravam e lançando uma cusparada atrás da outra.  Era preciso mais alguém para ajudá-los e foi chamado um servente do padre que servia no local.
Ninguém objetou que não se podia batizar alguém com violência, contra a sua vontade, pois naquele momento a vontade de Robert (manifestada antes por diversas vezes) era ser batizado. O que se manifestava nele não era sua vontade, mas a de satanás.  Chegada a hora da cerimônia, o padre Bowdern fez a pergunta prevista no Ritual:
- Renuncias a Satanás, suas obras e seus misteres?
Não houve resposta, mas uns grunhidos malcriados. O garoto apenas se contorcia, tentando desvencilhar-se dos homens e cuspindo a todo instante nos rostos deles.  O padre Bowdern repetiu a pergunta, em voz alta e autoritária, e por um instante o demônio perdeu sua influência na mente do garoto, que respondeu:
- Eu renuncio a Satanás...
Embora tivesse falado baixinho, era o que o padre esperava para crer que a vontade dele era aquela. Embora o possesso continuasse reagindo violentamente nas mãos dos que o continham, o padre prosseguiu a cerimônia do batismo.  Quando, finalmente, pronunciou as palavras do batismo: “Ego te baptizo, etc.”, o possesso reagiu com mais violência ainda. O padre lançou-lhe várias vezes água benta sobre a cabeça, tentando concluir a cerimônia, a qual levou mais de quatro horas.
Terminado o batismo, o padre iniciou imediatamente as orações do exorcismo. Novamente, o demônio fez de tudo para que a mesma não prosseguisse, seja através de gritos, de contorções, ou de cusparadas do possesso nos rostos das pessoas. Quando tudo terminou, o padre Bowdern procurou o padre Bishop para analisarem conjuntamente o caso.  Chegaram à conclusão de que aquele batismo, sim, tinha tido os efeitos, e não o que o garoto recebera anteriormente dos luteranos, pois o demônio reagira constantemente para que o mesmo não fosse efetivado. Isto porque aqueles padres ainda tinham uma crença de que alguns luteranos houveram recebido o verdadeiro batismo. Se o batismo anterior tivesse sido válido, não haveria razão para o demônio reagir tão violentamente para não ser feito o batismo católico...
Finalmente, o demônio começa a agir mais às claras. Sabendo que Robert era agora um batizado, um católico protegido pelos carismas da Igreja, satanás tornou-se de uma violência incomum, superando em tudo as anteriores. No dia seguinte, a possessão já se manifestava em plena luz do dia, coisa que anteriormente ocorrera rarissimamente, pois o demônio sempre agia quando o garoto estava sonolento, com a mente fraca.

Comunhão – mais um passo para o exorcismo ser eficaz
A luta contra o poder das trevas agora era em plena luz do dia. Logo ao acordar, no dia seguinte, Robert se manifestou com violência, debatendo-se e contorcendo-se na cama, atirando travesseiro no globo de luz do teto e quebrando-o, além de uma bacia da louça.   O padre Bowdern resolveu agir rapidamente, pois pretendia ministrar-lhe a Sagrada Comunhão antes que a possessão se tornasse mais violenta.
Os padres esperaram que o garoto voltasse à calma para só então prepara-lo para a Primeira Comunhão. Ensinaram-lhe todas as preces, inclusive o exame de consciência, embora fosse desnecessária a Confissão: tendo sido batizado recentemente, a Igreja dispensava a Confissão pois o batismo o livrara de todos os pecados acaso cometidos.  Mesmo assim, o padre Bowdern interrogou a consciência do garoto, pois ele queria ter a certeza de que ela estava limpa de qualquer pecado que pudesse tornar sacrílega a comunhão.
Para a Primeira Comunhão, além do padre Bishop foi chamado em auxílio mais dois sacerdotes.  Foi ministrada a absolvição condicional a Robert e, estando o mesmo calmo, parecia que tudo correria sem maiores problemas.  Quando o padre iniciava as preces preparatórias para a Comunhão, Robert começou a ficar inquieto e a mexer-se. Logo, os auxiliares o seguraram temendo o pior. Robert oferecia pouca resistência. Assim, o sacerdote aproximou-se com a Hóstia sob o queixo do possesso com intuito de introduzi-la na boca.
Mas, quando o padre tentou aproximar a Hóstia da boca de Robert a reação diabólica fez-se logo sentir. O primeiro fragmento de Hóstia foi cuspido da boca, o qual logo foi apanhado pelo sacerdote num dos sacramentais e guardado com cuidado.  Por duas horas seguidas, o padre tentava dar a comunhão e o possesso a recusava com violência.  Neste instante, o padre O’Flaherty, jesuíta, teve uma idéia: como era o primeiro sábado do mês, dia consagrado ao atendimento do pedido de Nossa Senhora de Fátima, rezar o rosário, confessar e comungar (que sempre faziam os padres na capela jesuíta da Faculdade), sugeriu que rezassem antes o Rosário.
Enquanto os padres iam rezando o Rosário, com as jaculatórias de Fátima e outras orações conhecidas, Robert foi aos poucos se acalmando. Nossa Senhora de Fátima cumpria sua promessa e protegia aquela alma. Até que, finalmente, após a conclusão do Rosário, estando o possesso completamente sereno e sem manifestações diabólicas, o padre Bowdern aproximou a Sagrada Hóstia de sua boca pela quinta vez, sem que houvesse qualquer reação contrária. Robert engoliu a Hóstia placidamente. Havia feito sua Primeira Comunhão. A igreja havia ganho mais uma batalha contra Satanás.
A partir daquele momento tudo iria mudar. Segundo comentário dos padres, a partir daquele dia Robert começou a ficar consciente de seu estado. Até o dia de seu batismo e Primeira Comunhão, ele não se recordava de nada do que havia acontecido nos momentos de transe. A partir de agora, relembrava-se de tudo e sabia que passava por uma possessão diabólica. O demônio começou, então, a tentá-lo com a loucura, pois deixando-o louco seria mais fácil controlar sua mente e continuar possuindo-o.  Mas Nossa Senhora velava por Robert, agora mais do que nunca, seu filho e protegido, porque tornara-se católico e continha Nosso Senhor Jesus Cristo em seu peito.
A parte protestante da família, embora sem crer com a Fé verdadeira, confiava em que o garoto se veria livre da possessão, pois agora percebiam que a Igreja Católica, sim, tinha poderes para expulsar os demônios.  Tinham apoiado a própria conversão do garoto sabendo que era necessária para conseguir o que almejavam. O seu protestantismo, embora relaxado e liberal, nada lhes oferecia de seguro e não lhes transmitia nenhuma confiança.
Mas o sofrimento da família não terminaria logo. Ainda duraria vários dias, com idas e vindas dos padres, sessões constantes de exorcismos, mas sempre dando a todos sinais de que venceriam. Agora que Robert era católico, o demônio se manifestava com mais fúria. Por isso, o padre Bowdern convenceu a família de que o garoto deveria ser internado num lugar seguro e isolado, onde os exorcismos pudessem ser feito com mais segurança. Aliás, isto estava devidamente recomendado no Ritual. Finalmente, a família concordou.
Após buscas infrutíferas em hospitais e casas paroquiais, finalmente a direção do Alexian Brothers Hospital aceitou interná-lo.  No dia 10 de abril, um Domingo de Ramos, ele foi hospedado numa sala do quinto andar aquele hospital. Lá o novo hóspede foi recebido carinhosamente pelos frades alexianos. Nem todos, mas principalmente, os diretores do Hospital, sabiam a finalidade daquela internação.

Batalhas finais
Robert foi instalado num quarto especial, no quinto andar do hospital alexiano, onde os exorcismos deverão ser feitos até o final. Estávamos no Domingo de Ramos, dia 14 de abril de 1949. Um ostensório de ouro com uma Hóstia consagrada foi posto entre duas velas acesas na capela. Frades alexianos foram destacados para fazer vigília, dia e noite, perante o Santíssimo Sacramento ali exposto, a fim de que os exorcismos obtivessem êxito.
Pouco depois das sete horas daquele dia, entrou no quarto de Robert a equipe do exorcismo, composta dos padres Bowdern, Van Roo, O’Flaberty e Bishop.  O padre Bowdern cumprimentou rapidamente o garoto e resolveu ir direto às orações do exorcismo, tomando a iniciativa antes que o menino fosse tomado de algum acesso.
Havia a esperança de que na Semana Santa o demônio perdesse sua força e o exorcismo finalmente surtisse os efeitos finais. De sorte que durante todo o tempo das orações, sejam as do exorcismo, ou mesmo durante o rosário, o garoto permaneceu calmo e sem manifestar a presença satânica. Lá pelas onze horas da noite, Robert adormeceu.
O padre Bowdern resolveu ir mais além e acordou o garoto para lhe ministrar a Sagrada Comunhão. Surpreendentemente, Robert comungou sem manifestar qualquer reação contrária. Depois, voltou a dormir placidamente.
A partir da segunda-feira, a vida de Robert passou a ser diferente. Os frades alexianos haviam feito um programa de atividades para deixá-lo ocupado o dia inteiro.  De manhã, ele tinha que arrumar sua própria cama. Depois, tomava o café e caminhava pelo pátio, sempre acompanhado de um religioso. No decorrer do dia davam-lhe aulas de Catecismo e livros para ler.
De outro lado, o ambiente do Hospital era impregnado de espiritualidade católica. Além da capela, em todos os quartos havia um crucifixo. De manhã e à tarde, orações conduzidas pelo capelão eram irradiadas pelo serviço de alto-falantes do hospital. Os frades internos tinham, naquele tempo, uma vida espiritual mais intensa: além de seus trabalhos, os frades viviam mais da prece e da meditação, geralmente perante o Santíssimo; são proibidas conversações ociosas e visitas de frades às celas dos outros, além de só saírem à rua acompanhados. Toda sexta-feira os frades jejuam: neste dia todos acordam mais cedo, pois antes da missa rezam várias orações especiais para aquele dia.
No segundo dia, 15 de abril, Segunda-Feira da Paixão, a equipe do exorcismo voltou novamente à noite. Após pronunciar as orações do exorcismo previstas no Ritual, o pe. Bowdern começou a rezar o Rosário. Mal os padres começaram a segunda dezena e Robert deu um grito de dor e levou as mãos ao peito. Um sacerdote abriu a bata que cobria seu peito e viu ali uma estranha mancha rubra. Quando as orações se reiniciaram, Robert gritou novamente por repetidas vezes. Foi aí então que todos viram em seu peito a palavra SAÍDA formada por manchas de sangue.  A mesma palavra foi vista em outras partes do corpo.
Um dos padres declarou depois: “As marcas surgiam sem mais nem menos. Às vezes eram vergões sem sentido, e muito, muito vermelhos, como se causados por espinhos, por coisas assim, que se espalhavam por todo o corpo.  Num momento, eu olhava e não via nada, mas no momento seguinte, quando olhava outra vez, já estavam lá de novo. Talvez a intervalos de dez a quinze segundos”.
Como o garoto continuasse a gritar, o padre Bowdern resolveu lhe dar a Santa Comunhão a fim de fortalecê-lo.  Pela simples menção da palavra Comunhão, o demônio enfureceu-se mais ainda e Robert começou a se agitar com violência. Foi necessário que os padres agissem com força, chegando a amarrá-lo na cama. Em seguida, os exorcistas viram que as palavras agora mudavam, começou a surgir a palavra INFERNO pelo corpo.  Sabendo que o demônio ficara furioso pela simples menção da palavra Comunhão, o padre Bowdern pressentiu quanto ele temia o Santíssimo Sacramento. Desta forma, passou a repeti-la com freqüência até que se acalmasse.
Mas, aconteceu o contrário, o demônio se enfurecia mais ainda. Numa das vezes em que o padre Bowdern tentava aproximar a Sagrada Hóstia, o possesso o agrediu.  Os padres, então, reforçaram as tiras que o amarravam na cama. O demônio conseguiu, logo depois, curvar o corpo do garoto de tal maneira que a parte posterior da cabeça encostou nos seus calcanhares. Mesmo assim, o padre exorcista não esmorecia, insistia em pronunciar as palavras que o demônio mais odiava, enquanto rezava as preces do exorcismo.
Vendo que era inútil tentar ministrar a Sagrada Comunhão ao possesso, pois corria o risco de profanar as sagradas espécies, o padre resolveu que ele receberia uma comunhão espiritual.  Para tanto, mandou que Robert fosse pronunciando as palavras: Eu quero receber Jesus na Santa Comunhão. Mas quando pronunciou a palavra “Comunhão”, uma torrente de cólera se apossou do menino. Seus gritos e blasfêmias deixaram alguns frades alexianos, ainda não acostumados com aquilo, com os nervos à flor da pele.  Por toda aquela ala do hospital, os gritos do garoto foram ouvidos por pacientes e enfermeiros. Como era a ala dos doentes mentais mais perigosos, todos já se tinham acostumado a ouvir gritos e berreiros, por isso não estranhando o que acontecia.
Aos poucos Robert foi se acalmando, até que caiu num sono profundo.  O padre Bowdern deu por concluído as funções naquela noite e mandou abrir a porta para que todos saíssem. Não foi registrada a hora.
As sessões de exorcismo se repetiram, ininterruptamente, nos dias seguintes.
Na noite de terça-feira, dia 16 de abril, nada de novidade, tudo correndo como nos dias anteriores. Imperiosamente, o exorcista ordenou que o demônio dissesse seu nome e o dia e a hora da partida. Ao que respondeu o mesmo: “Eu sou o diabo”. Mas não disse o dia e a hora da partida. Nessa noite não apareceram as marcas no corpo do possesso.
Como as reações do demônio eram mais à noite, quando a mente do garoto estava mais fraca e sujeita ao domínio diabólico, pediu o padre Bowdern que o capelão ministrasse a Comunhão pela manhã. Realmente, durante todo o dia o menino se mostrava de uma forma normal, calmo e sem sinais de possessão.  Depois de comungar, seguia-se um dia de trabalhos, leituras, etc.

Os demônios agem sobre o ambiente
Desesperado, satanás começou a agir sobre o ambiente para tentar afastar os frades e o exorcista de Robert. As pessoas começaram a sentir um estranho frio, de tal sorte que precisaram usar roupas adequadas. Em seguida, apareceu um mau cheiro, um fedor insuportável. O exorcista, o padre Bowdern, era quem mais sentia tais sensações estranhas. Declarou ele depois que o mau cheiro que exalava no quarto era quase insuportável. De outro lado, a barriga de Robert inchava misteriosamente e suas feições se retorciam tanto que pareciam de outra pessoa.
Satanás percebia o que havia de bom e ruim nas almas das pessoas que entravam naquele quarto. E assim, sabia quem estava em pecado mortal ou em estado de graças. Quando um médico entrou no quarto e o possesso não reagiu, isto foi um sinal para o padre Bowdern de que ele não estivesse em estado de graça.  O sacerdote chamou o médico e disse-lhe o que pensava, sugerindo que o mesmo fosse confessar-se antes de entrar ali, pois o demônio poderia contar seus pecados aos outros para afastá-lo.  O médico foi confessar-se e voltou alguns minutos depois, sendo recebido pelo possesso com berros. 
Passou-se o Domingo de Páscoa e nada dos demônios irem embora. Na segunda-feira, o clima ficou mais tenso ainda. Durante o dia, o possesso agredia e gritava, cuspia, blasfemava, enfim, o demônio se manifestava a todo instante. Quando os frades chegaram com a Comunhão, não tiveram coragem de oferecê-la, mas tentaram apenas que o mesmo fizesse a comunhão espiritual.  Surpreendentemente, o próprio garoto repetiu as palavras “Eu quero receber Jesus na Santa Comunhão”. Em seguida caiu exausto na cama. Mas, antes disto, os frades ouviram também uma outra voz dizer: “Só saiu um demônio. Robert tem de fazer nove comunhões para que eu saia também”.
Em seguida, a voz casquinou dizendo: “Só isso não basta. Ele tem de dizer uma palavrinha. Aliás, uma palavrona. Ele tem de fazer nove comunhões. Esta palavra ele nunca vai dizer. Eu continuo dentro dele. Posso nem sempre ter o mesmo poder, mas nele estou. Ele nunca dirá esta palavra”.  Evidente que o demônio diz estas coisas para confundir as pessoas. Algo de verdadeiro pode haver no que disse, mas sempre diz com intenção de confundir as pessoas. Os frades ficaram confusos e interrogativos: que palavra seria esta?

São Miguel expulsa o demônio
Após vários dias e noites de sofrimentos, os frades alexianos viram finalmente um sinal de que satanás iria embora. Robert estava agitadíssimo, agressivo e difícil de controle, mas os exorcistas continuavam normalmente seu ofício, apesar das cusparadas nos olhos, do mau cheiro nauseante e do clima de medo. Eis que, certo dia, após o padre Bowdern terminar as orações exorcísticas, ouve uma voz diferente bradando:
- Satanás, Satanás! Sou São Miguel e te ordeno, a ti e aos demais espíritos malignos, abandonar este corpo em nome do Senhor. Imediatamente! Agora!”
Logo após, Robert ainda se contorceu durante alguns minutos, mas logo se acalmou. Para todos os efeitos, o demônio tinha ido embora. Mas o exorcista ainda precisava de mais uma prova, um sinal claro e indubitável de que realmente ele não mais voltaria. Minutos depois, Robert contou o sonho que tivera:
Havia tido um sonho, mas parecia ser mais real do que sonho. Ele via uma figura muito bonita, de cabelo ondulado e solto, em pé sobre uma luz branca e brilhante. A vestimenta daquela figura era também alvíssima. Robert percebeu que se tratava de um Anjo sob a forma corpórea. Na mão direita o Anjo segurava uma espada ardente; com a esquerda apontava para um fosso ou uma gruta, onde satanás se mantinha entre chamas, cercado de vários outros demônios. Robert pôde sentir o calor do fogo do inferno.
Satanás, com loucas gargalhadas, avançava para o Anjo e tentava dar-lhe combate. Mas o Anjo se virou para Robert, sorriu, encarou logo a seguir o diabo e pronunciou a palavra “Dominus”. Satanás recuou para o inferno.  Ao sumirem os demônios, Robert sentiu um puxão no estômago, parecendo que algo desprendia de seu corpo, deixando-o calmo e feliz.
Mas, o sinal? Ainda faltava o sinal que comprovasse que o demônio tinha ido embora.  No dia seguinte, uma explosão semelhante a um tiro de canhão ecoou pelo hospital. Todos a escutaram e ficaram perplexos. Alguns correram para a escada, outros para o elevador, outros tiveram a idéia de ir até o quinto andar para ver o que ocorria. Quando entraram no quarto, viram Robert calmo, sorrindo e tranqüilo.  O forte barulho da explosão ecoou pelos corredores e amedrontou funcionários, enfermeiros, médicos, frades e pacientes. Mas ninguém nunca soube, na verdade, de onde veio aquele estampido.
Era o sinal que o padre Bowdern havia pedido para confirmar que o demônio havia deixado sua vítima e voltado para o inferno. A possessão havia durado mais de 90 dias, mas finalmente a Santa Igreja triunfou: não só Robert, mas seus pais e alguns parentes se tornaram católicos, e o caso serviu para mostrar que somente a Santa Igreja Católica tem poder sobre os demônios.

E a vida  volta à normalidade
Que vida levou o ex-possesso depois de tudo isto? A vida normal de qualquer pessoa, pois sua memória não registra os fatos das ações praticadas pelo demônio. Auxiliado pelos jesuítas, Robert estudou, educou-se e cresceu sob o bafejo da Santa Igreja Católica. Quando chegou a idade madura, casou-se, constituiu família e, preferindo o anonimato (por orientação dos padres), não se sabe de nada sobre seu futuro a não ser que foi pai de família exemplar.






segunda-feira, 20 de maio de 2019

OS CASTOS SEGUEM O CORDEIRO DE DEUS PARA ONDE QUER QUE ELE VÁ





Os castos terão um lugar especial reservado para eles no Céu Empíreo. É desta forma que São João fala deles no Apocalipse:
“Olhei, e eis que o Cordeiro estava de pé sobre o monte de Sião e com ele cento e quarenta e quatro mil que tinham escrito sobre suas frontes o nome dele e o nome de seu Pai. Ouvi uma voz do céu, como o rumor de muitas águas e como o estrondo de um grande trovão. A voz que ouvi, era como de tocadores de citara que tocavam as suas cítaras. Cantavam um cântico novo diante do trono, diante dos quatro animais e dos anciãos. Ninguém podia cantar este cântico, senão aqueles cento e quarenta e quatro mil, que foram resgatados da terra. Estes são os que não se contaminaram com mulheres, porque são virgens. Estes seguem o Cordeiro onde quer que ele vá. Estes foram resgatados dentre os homens como primícias para Deus e para o Cordeiro, e na sua boca não se achou mentira, porque estão sem mácula diante do trono de Deus.   (Apoc 14, 1-5).
A propósito, transcrevemos abaixo um texto publicado por Reginaldo Garrigou-Lagrange, O.P., extraído das anotações de uma Fundadora, Madre Francisca de Jesus, mística brasileira que fundou a Companhia da Virgem sob o beneplácito de São Pio X. A exemplo de Santo Inácio de Loiola, Madre Francisca de Jesus fundou também sua “Companhia”, inteiramente feminina e destinada exclusivamente a rezar pelo Papa e pelo Clero:
“A festa da encantadora santinha romana, uma de nossas mais caras Padroeiras, é particularmente propícia a uma palestra sobre a virgindade. O seu próprio nome evoca esta lembrança: Inez significa “cordeiro” da palavra latina “agnus”.  Quem não terá experimentado, à vista de um cordeirinho, uma impressão de doçura, candor e pureza? O cordeiro era uma das vítimas escolhidas, ofertadas a Deus em holocausto pelos sacerdotes do Antigo Testamento. Conheceis o “Cordeiro” assim figurado: Aquele a Quem na Santa Missa diariamente invocais por três vezes com esse nome, o que apaga os pecados do mundo, e do qual dizia São João Batista: “Ecce Agnus Dei, ecce tollit peccata mundi”;  Aquele, enfim, que sendo o Cordeiro de Deus – os outros eram apenas cordeiros dos homens – é a única Vítima pura, santa e imaculada; a única Vítima digna de Deus.
“O Sacrifício do Cordeiro de Deus perdura sempre. Deus tomou posse de sua Vítima no Calvário e dele se apoderou uma vez por todas.
“A Vítima se imolará dia por dia em nossos altares, de modo incruento embora, até ao fim dos tempos.
“No céu Ela permanecerá eternamente!
Quando em Patmos, arrebatado em espírito, São João viu na Jerusalém celeste um “cordeiro que parecia ter sido imolado”...
“O Cordeiro divino, Nosso Senhor Jesus Cristo, é o ponto central para onde tudo converge: desse ponto culminante tudo nos vem e para ele tudo se dirige. Todas as coisas por Ele nos vêm e só por Ele podemos chegar a Deus.
“Foi figurado na Antiga Aliança; é imitado na Lei Nova.
“Somente em vista de seu Sacrifício, real, completo, perfeito, é que Deus aceitava as oblações, que apenas fraca e pobremente o figuravam; é ainda só em consideração desse mesmo Sacrifício que Ele aceita as nossas homenagens, orações, pobres ofertas, e se digna recompensá-las à medida de nosso amor.
“Até ao fim imitou Inez o Cordeiro de Deus, motivo pelo qual se acha entre aqueles que São João contemplou a ocupar lugar especial: “Vi sob o altar as almas do que foram imolados por causa do Verbo de Deus e do testemunho por eles dado”.
“Inez colheu a palma do martírio na flor de sua virgindade, eis a razão de achar também entre aqueles que, segundo a palavra do mesmo São João, “não se tendo maculado, acompanham o Cordeiro por toda parte”.
“Ainda criança, a santa já compreendera a graça da virgindade e a ventura de ser toda de Jesus. “Pertencerei Àquele, repetia aos que para desposá-la procuravam afastá-la do seu noivo divino, pertencerei Àquele que me amou primeiro”, designando assim o que, sendo Deus e homem, a amara desde toda a eternidade.
“A virgindade é em si graça mui preciosa; nem a todos é dado compreendê-la: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, disse o Mestre muito amado; a fidelidade em conservá-la e desenvolvê-la, traz consigo ainda maiores graças. É tal a misericórdia do nosso Deus que a correspondência a uma graça outras atrai.
“Dest’arte a fidelidade de Inez a seu Esposo, que era também seu Deus, lhe mereceu a graça do martírio.
“Não foi também essa fidelidade que valeu a Maria tornar-se Mãe de Deus?
“A Sagrada Escritura diz que o Messias nasceria de uma Virgem. Maria, conservando a virgindade, preparava, sem o suspeitar, a vinda do Salvador.  O Autor de toda virgindade só de uma Virgem podia nascer. Fazendo-se homem, o Verbo devia a si próprio o ornar sua Mãe com essa flor dos céus, antes de a oferecer a qualquer outra criatura.
“Mãe de Deus e Virgem perpétua, Maria arrastou após si o inumerável cortejo de almas que, renunciando aos laços terrestres, aspiram à união divina simbolizada por essas núpcias. Sem diminuir de modo algum a dignidade do matrimônio, deve-se afirmar com os Santos Padres e o Concílio de Trento ser mais perfeito o estado virginal (Oh! Não há motivo para orgulho, pois se o estado é mais perfeito em si, os indivíduos o podem ser menos).
“Que é a virgindade? É a virtude que eleva as criaturas, adstritas ainda à condição dos mortais, até à semelhança dos Anjos.
“A virgindade perfeita é a abstenção de tudo o que não é Deus, ou por outras palavras: a integridade completa da obra de Deus em sua criatura. Para defender essa integridade (com a qual Deus nos dotou, dando-nos a vida da natureza e da graça) é preciso lutar, combater até ao último suspiro. A pobre natureza humana prende-se facilmente a tantas coisas capazes de atrair-lhe o espírito e o coração!
“Como poderá ser virgem a religiosa que escuta as inspirações do erro deixando-se seduzir pela linguagem do demônio, sem mais respeito pela autoridade? Como se conservará virgem a religiosa cuja consciência esteja manchada pelos estigmas de funestas doutrinas? Se a virgem destinada ao Esposo celeste deve apresentar-lhe o coração livre de qualquer pensamento mundano, a fim de lhe agradar e merecer o seu amor, poderá acaso conservar a graça da virgindade aquela que traz o coração cheio de pensamentos de independência ou contrários à caridade?
“Não, sem dúvida; embora haja conservado a pureza do corpo, a parte mais íntima e bela do ser, a alma, não deixará de assim perder a candura virginal.
“E que importa permanecer de pé as paredes exteriores do templo, estando o santuário destruído ou profanado?
“Que importa os véus e hábitos resplandecentes de brancura se o espírito está maculado?
“Deus perscruta os corações e não se detém no exterior. Aliás, a corrupção da alma destrói também a pureza de corpo. Esses juízos ocultos e temerários, gerados pelo espírito de independência e orgulho, não permanecem no fundo do coração onde nascem; saem para mancar a boca que os exprime e os ouvidos que os escutam; insinuam-se como mortal veneno e logo multiplicam suas devastações...  Agradável ao Senhor é a virgem que desde este mundo procura seguir por toda parte o Cordeiro;  são as veredas por vezes abruptas, escarpadas, mas por todas passou Ele primeiro. Aliás o Bem-Amado está sempre presente estendendo a mão protetora, à medida da generosidade da alma.  Doçura, paciência, mortificação, obediência, humildade, humildade, humildade;  eis os adornos da esposa de Cristo.
“Minhas queridas filhas, não vos orgulheis nem vos glorieis jamais de vossa virgindade. Temei antes diminuir o brilho dessa angélica virtude que alegra o  coração de Deus.
“Guardamos tesouro mui precioso em vaso de extrema fragilidade.
“Dai graças a Deus por esse tesouro e acautelai-vos com mil precauções:  sede atentas, prudentes, vigilantes.  Jesus, no entanto, vos deseja atentas sem constrangimento, prudentes sem dureza, vigilantes sem escrúpulos. Encha o vosso coração sincera caridade, e sede por amor fiéis à santa observância;  dilate esse amor a vossa alma e uma casta liberdade vos regule os atos. Caminhai com grande amor na presença do Bem-Amado que será vosso Juiz.
“Suplicai-Lhe guarde Ele próprio o precioso tesouro que vos confiou, e sua doce Mãe, que é vossa Mãe a tantos títulos o guardará também.
“Conheço as vossas almas e corações; pertencem plenamente a Deus, a seu Cristo, à sua Igreja. É ainda graça muito superior aos vossos méritos; bendizei a Deus muitas vezes, repetindo-Lhe – pura verdade! – que sem Ele nada podeis. A ação de graças será nova graça: de nós, minhas queridas filhas, só temos o pecado...
“Domo poderíamos então – sem estarmos loucas – ter sequer a tentação de nos gloriar dessa preciosa graça da virgindade! Estejamos bem certas de que só a possuímos por mera liberalidade de Deus, cuja misericórdia para conosco é infinita.  Esforcemo-nos por ser dignas, ou antes, o menos indignas possível, de tanto amor e predileção.  Se fordes fiéis, Ele usará para convosco de prodigalidade real, divina. Tão poucos Lhe são verdadeiramente fieis!
“O Senhor gostaria que a virgindade fosse virtude comum a todos os homens”, diz São João Crisóstomo, e esse desejo nos é atestado nestas palavras do Apóstolo ou antes de Cristo, que por sua boca fala: “Quisera, diz ele, que todos os homens fossem castos e puros assim como sou”. Deus, porém, é indulgente para conosco; sabe que se o espírito é pronto, a carne é fraca. Não testemunhou esse desejo sob a forma imperiosa do preceito, deixando-nos a liberdade de realizá-lo ou de a ele nos subtrair.
“Há, no entanto, convites instantes da parte de nosso Deus e esses convites Ele não os dirige do mesmo modo a toda a humanidade...
“Para com as almas que chama à Sua intimidade, mostra-se insistente, suplicante, e lhes revela com tão grande luz o radioso esplendor da virgindade, que imediatamente elas se apaixonam pela bela virtude, preferindo mil mortes a dela serem privadas.
“Conheceis todas o apelo do Mestre; vós o sentistes mendigando o vosso amor... e como Tiago e João tudo deixastes para segui-Lo.  Teríeis julgado dar-Lhe alguma coisa? Não, também neste caso vós é que recebestes.
“Bem pequenina é a nossa parte:  não fechar a porta ao seu Amor: eis tudo.
Sei que a Deus abris completamente a entrada de vosso espírito, de vosso coração, minhas queridas filhas, e quanto o Bendigo!
“Sede generosas! Jamais recueis, o que não seria digno d’Aquele que vos escolheu”.
“Só Deus, hóspede dos corações puros e amigo das almas sem mancha, vos pode elevar pela santa virgindade até à semelhança dos Anjos.
“No que vos toca, nada Lhe deveis recusar; Ele fará o resto. Há de guardar-vos e abençoar-vos, a fim de que, permanecendo sempre virgens sob as vestes de Santa Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, vos apliqueis de contínuo a fazer o que é digno de recompensa.
“Tomai vossas medidas, minhas queridas filhas, para que no grande dia do Juízo tenhais na mão a lâmpada cintilante...
“Deus não vos faltará e se lhe fordes fiéis sereis daquelas que em companhia de Santa Inez seguirão por toda parte o Cordeiro”.

(“Madre Francisca de Jesus”, de Reginaldo Garrigou-Lagrange, Tip. Beneditina Santa Maria, págs. 127/135)


sábado, 18 de maio de 2019

A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO FAZ O HOMEM SER REGENTE DO UNIVERSO





Quando se fala em civilização logo vem à mente moderna um conceito baseado em construções, edificações, algumas filosofias (como a grega), etc., No entanto, o conceito real é mais amplo, mais abrangente, porque a verdadeira civilização se inicia quando o homem consegue um convívio social mais pacífico e ordeiro possível. E foi também visando tal convívio que Nosso Senhor nos deixou  vários ensinamentos no Evangelho, um deles o mais repetido, que é amarmo-nos uns aos outros como a nós mesmos. Mas há outros, como algumas regrinhas de etiquetas sociais, respeitando o seu lugar ao sentar-se à mesa, desejando ser o último e não o primeiro, etc. Os chamados “Conselhos Evangélicos” são constantes no Novo Testamento, e destinam-se diretamente ao nosso convívio social.
Foi baseada nestes conselhos que a Civilização Cristã se estabeleceu e iniciou a construção do Reino de Cristo na terra. E uma nação onde isso mais se acentuou foi na França do “Ancien Regime”, do qual assim se expressou G. Lenotre:  “A velha França, que se prolongou com esta obstinação, se infelizmente não era santa, tinha, entretanto, restos de tudo aquilo que agrada a Deus e cativa os homens: virtudes, ciência, nobreza e opulência.  Mas alguns espíritos menos sensíveis ao charme destes encantos não a viam assim. Distinguiam nas suas instituições, nos seus costumes, uma “cascata de desprezos”. Não foi somente convivendo socialmente que o Ancien Regime atingiu este apogeu do relacionamento humano, mas porque tal convivência era sobretudo cristã, obedecia conselhos e normas oriundas do próprio Cristo. Desta forma, aperfeiçoaram-se diversas ciências sociais, como o direito, a filosofia,  a sociologia, até mesmo a antropologia, não somente pelos estudos acadêmicos, mas, sobretudo, por causa das relações sociais que eram observadas conforme os princípios que a Igreja pregava entre os povos. E o homem começou assim a aprender como auto-reger-se, aperfeiçoar-se, enfim, tornar-se santo.
Mas, foi sabendo reger-se que o homem conseguiu dominar tudo o que o rodeia, as forças da natureza, além da sua. É claro que na Civilização Cristã isso não chegou ao seu apogeu, mas foi marcadamente desta forma, conseguindo reger as forças da natureza, que o homem demonstrou estar procurando sua própria perfeição.



sexta-feira, 17 de maio de 2019

AS INCOERÊNCIAS DA DEMOCRACIA-SEM-IDÉIAS




(Transcrito de “Catolicismo, N° 491 – Dezembro de 1991 – Ano XLI, pags. 17-21. O texto deste artigo é uma condensação bastante sucinta da primeira parte da obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira "Projeto de Constituição angustia o País", Editora Vera Cruz, São Paulo, 1987. Esta obra empolgou a opinião pública a tal ponto, que os propagandistas da TFP chegaram a vender, dela, mais de mil exemplares diários).

Analisando a situação particular do Brasil, Doutor Plínio Corrêa de Oliveira teceu os comentários a seguir, em obra que analisa as propostas de reforma constitucional de 1988.
Monarquia parlamentarista, República presidencialista ou República parlamentarista?
Para entender este artigo
Democracia é a forma de governo em que a direção do Estado cabe ao povo. O pressuposto da democratização política é a igualdade de todos perante a lei.
A situação ideal na democracia é aquela em que a vontade popular é unânime. Ocorre então o chamado consenso. Mas, na prática, tal situação raramente acontece. E, quando isso se verifica, é por pouco tempo.
Assim, na democracia se atribui força decisória à maioria.
Nos países de muito pequena população, a democracia se exerce pela manifestação direta da vontade de cada cidadão, expressa em reunião plenária, em praça pública. A contagem dos votos se faz na hora. Tal é a chamada democracia direta.
Esta ocorreu, por vezes, em remotas eras. Por exemplo, na Grécia antiga. Mas, via de regra, é impraticável em nações contemporâneas. Excepcionalmente, a democracia direta ainda tem vigência, no plano municipal, em alguns cantões da Suíça atual. Um vestígio da democracia direta são o referendum e o plebiscito.
Hoje, a democracia é normalmente indireta, ou seja, representativa.
Os cidadãos elegem representantes que votam as leis e dirigem o Estado segundo as intenções do eleitorado.
O poder político de fazer ou de revogar leis (Legislativo) é exercido habitualmente, nas democracias representativas, de modo colegiado, através de parlamentos ou congressos. As decisões são tomadas pela maioria dos representantes populares (deputados ou senadores). A maioria parlamentar representa — pelo menos em princípio — a maioria do eleitorado.
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(...).
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A mais básica das condições para que uma eleição seja representativa é que o eleitor tenha efetivamente opinião formada sobre os diversos assuntos em pauta no prélio eleitoral. A opinião do eleitor sobre estes diversos assuntos constitui o critério segundo o qual ele escolhe o candidato de sua confiança.
Em outros termos, se cada eleitor não tiver opinião formada acerca desses temas, o candidato eleito será livre de agir unicamente segundo suas convicções pessoais.
Porém, neste caso, ele não representa a quem quer que seja. E uma câmara toda constituída por deputados sem representatividade é vazia de conteúdo, de significado, de atribuições, em um regime de democracia representativa.
Ou seja, ela é inexistente e incapaz de atuar.
O exercício autêntico da democracia supõe a existência, no País, de instituições privadas e públicas idôneas para estudar os problemas locais, regionais e nacionais, e propor-lhes soluções, bem como para a difusão destas em larga escala, com o propósito de suscitar a tal respeito controvérsias esclarecedoras.
Igualmente é necessária, para a formação da opinião nacional, a cooperação dos meios de comunicação social que, por sua própria natureza, dispõem de peculiar influência na missão de informar e de formar seus leitores ou ouvintes. Para tal, devem eles refletir as principais tendências da opinião e, pelo diálogo como pela polêmica, manter o público informado da atuação e das metas das várias tendências ou opiniões.
É necessário ainda que tais instituições e órgãos de comunicação social se empenhem em erradicar do espírito público certa imprevidência otimista e sistemática, muito disseminada em nosso povo. Baseada no pressuposto de que "Deus é brasileiro", essa atitude imprevidente induz a negligenciar temerariamente o estudo e a reflexão sobre os problemas do bem comum, e a imaginar suficiente o mero "palpite" (emitido em via de regra tão-só com base em simpatias ou fobias pessoais) para dar fundamento ao voto. Voto este que, assim obviamente inidôneo e irrefletido, só pode dar origem a leis ineptas e governos incompetentes, que singrem despreocupadamente os mares do absurdo.
A falta de seriedade no clima pré-eleitoral, simbolizada com dramático poder de expressão pela presença cada vez mais marcante de shows nos comícios políticos, prova que, no Brasil hodierno, o debate sério tende rapidamente a desaparecer. E, quando existe, interessa pouco. O que constitui uma prova a mais de quanto urge extirpar de nosso País o voto não sério, tornando freqüente, interessante, conclusiva a exposição — quando não o debate dialético ou polêmico dos grandes temas nacionais.
Se tal não se fizer, não adianta clamar, bradar ou uivar a favor da democracia. Presentemente, o principal fator da precariedade dela não reside em seus adversários, porém nela mesma, isto é, no estado de espírito com que a praticam tantos e tantos dos que a louvam e aclamam.
* * *
Considerada a problemática do ponto de vista não do processo eleitoral, mas dos representantes, deve-se observar que, no Brasil, "político" tornou-se freqüentemente sinônimo de "político-profissional", sobretudo quando se trata de político que não tem haveres pessoais suficientes para se manter sem o concurso dos honorários correlatos com o exercício de funções na vida pública.
Político profissional é aquele que dedica à atividade política uma parcela muito preponderante (quando só isto) de seu tempo e de suas energias; que no êxito da carreira política põe o melhor de suas esperanças e ambições; e ao qual resta, para outras atividades, uma parcela pouco expressiva de sua atuação no exercício de alguma profissão rendosa.
Assim, mesmo fora dos períodos pré-eleitoral e eleitoral, de si tão absorventes, o político-profissional passa o tempo cultivando o seu eleitorado para conseguir eleger-se, ou reeleger-se.
Sobretudo está o político-profissional atento em conseguir favores para os seus cabos eleitorais, a fim de que estes lhe consigam, por sua vez, os eleitores de que precisa.
Uma vez eleito, o exercício do mandato lhe absorve quase todo o tempo. E pouco lhe resta para outras atividades. Tanto mais quanto, logo depois de eleito, deve começar a preparar sua reeleição. A situação normal do político-profissional é a de um candidato permanente.
Em relação a tais políticos-profissionais, a opinião pública se mostra — por motivos diversos — bem pouco entusiasmada. Se bem que essa disposição de alma seja eventualmente injusta em relação a este ou àquele político-profissional, o fato é esse. E não há exagero em dizer que grande parte dos votos em branco ou nulos, das últimas eleições, se deveu à verdadeira saciedade que o público sente em relação a candidatos que figuram habitualmente no amplo rol dos políticos-profissionais.
* * *
O que seria, de outro lado, um político não profissional? Alguém que, financeiramente independente, só faz política por amor à arte, pelo gosto da fama, ou até da celebridade com que o macrocapitalismo publicitário premeia os políticos do inteiro agrado dele? Ou o homem abonado, e ao mesmo tempo lutador desinteressado, que fosse levado à ação política por mero idealismo religioso ou patriótico? Ou, por fim, o homem idealista que, embora não abonado, arrisca para si e para sua família a aventura de sacrificar gravemente sua profissão habitual, com o objetivo de se consagrar, com honestidade modelar, ao serviço da Pátria?
Tal é a elevação desse último gênero de perfil moral que, por isso mesmo, o político não profissional é inevitavelmente raro em nossos tristes e convulsionados dias.
Ademais, parece certo que a essa última categoria não se ajusta bem o qualificativo de "profissional". Pois, por homem "financeiramente independente" parece entender-se mais bem o que vive de rendas, sem profissão definida. E, portanto, com possibilidade de consagrar à política todo o seu tempo. O que contribui obviamente para serem ainda mais raros os políticos não profissionais. Pois o número de pessoas "financeiramente independentes", ou seja, abonadas, vai decrescendo rapidamente dia a dia.
Talvez fosse preferível qualificar esse gênero de homem público, de político por mero idealismo.
* * *
Entretanto, além dos políticos-profissionais e dos políticos por mero idealismo, há que considerar ainda um terceiro gênero. Ou seja, o daqueles a quem, sem fazer mero jogo de palavras, se poderia designar como profissionais-políticos.
Trata-se, neste caso, de profissionais que, tornando-se insignes pela categoria e abundância de seu trabalho profissional, adquirem realce na própria classe ou meio social.
Tendo atingido esta situação, é normal que neles pensem muitos eleitores para o exercício de altas funções públicas de caráter eletivo.
Quando alguém se destaca de modo notável em qualquer setor de atividade, na respectiva profissão por exemplo, adquire com isso uma autêntica representatividade daquele setor.
Assim, se um Carlos Chagas, ou um Oswaldo Cruz, estivesse vivo hoje, ele se destacaria certamente como representante natural da classe médica em todo o País. Na Câmara, pela natureza de sua celebridade, e pelo cunho específico de seu mandato, seria ele o porta-voz dos colegas. Porém não só deles. Os habitantes da região onde nasceu, seus companheiros e amigos no campo das relações sociais e do lazer etc., todos os brasileiros inteirados de seus feitos e de seus méritos através da mídia, se sentiriam — a um título ou a outro — representados por ele.
Análoga coisa se pode dizer de outras profissões, como comerciantes, industriais, agricultores, professores, militares, diplomatas, bem como funcionários públicos das mais diferentes atividades, engenheiros, advogados e técnicos de toda ordem.
Esta enumeração, meramente exemplificativa, de modo nenhum exclui, a seu modo, os representantes de quaisquer outros grupos sociais ou profissionais, desde os mais elevados na escala social, até os mais modestos: proprietários rurais tanto como bóias-frias ou colonos, proprietários urbanos tanto quanto locatários, empresários industriais ou comerciais como trabalhadores na indústria ou comércio. E há que incluir ainda, nessa lista, grupos ou categorias naturais de outra índole, como associações de filatelia, de enxadrismo, de esportistas, de atividades recreativas honestas etc.
Enfim, as pessoas notáveis de todos os ramos de atividade devem ser particularmente viáveis como candidatos a um mandato eletivo, especialmente quando este tem missão constituinte.
Por sua vez, estes não aspiram naturalmente a ser deputados ou senadores ad aeternum.
A eleição para um mandato legislativo lhes é honrosa, lhes enriquece o curriculum vitae. Mas a necessidade de estar sempre na vanguarda da profissão ou campo de atividade em que adquiriram destaque, impede que eles dediquem toda a sua existência à política. Sua notabilidade profissional é o pedestal de seu êxito político.
E, portanto, é só excepcionalmente que eles limitam tal atividade em benefício de sua notoriedade política. A notoriedade é a causa do seu mandato; não é o mandato a causa de sua notoriedade.
É a esse elevado tipo de profissional que se deve designar honrosamente de profissional-político.
* * *
Já aludi anteriormente à missão das grandes instituições sociais, em tal matéria. Convém tratar mais especialmente de duas delas.
Em primeiro lugar, cumpre ressaltar o papel de uma instituição de importância ímpar, ainda mesmo nos dias que correm, isto é, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Este organismo episcopal se vem utilizando do enorme prestígio — do qual gozou antes de eclodir a atual crise na Santa Igreja, e que, em certa medida, ainda conserva — para modelar a seu gosto a opinião pública, no tocante a determinados problemas sócio-econômicos de relevo. Entretanto, com isto tem ele relegado para segundo plano uma série de temas de primordial importância religiosa e moral no que diz respeito, não só ao bem comum espiritual, como ao bem comum temporal.
Essa inversão de valores é gravemente responsável pelo minguamento progressivo do prestígio da CNBB.
Fizesse ela cessar essa inversão, e reprimisse eficazmente tantas extravagâncias e abusos que, sob a ação da crise na Igreja, se tem alastrado no Brasil como alhures, e esse prestígio poderia voltar ao seu primitivo esplendor.
Em segundo lugar, cabe falar da mídia, a qual se tem mostrado muito uniforme.
Uma mídia mais ricamente diferenciada, do ponto de vista ideológico, doutrinário e cultural, poderia servir de meio de expressão e de conseqüente aglutinação de inúmeras almas que se calam. E a vida pública brasileira adquiriria assim a amplitude e a vitalidade que lhe faltam.
Não é difícil admitir que toda essa vida, comprimida pelo anonimato a que a relega o capitalismo publicitário, se "vingue", recolhendo dentro de si as riquezas de pensamento que muitas vezes possui.
Daí resulta em parte a monotonia da nossa vida pública: "monotonia" no sentido etimológico do termo. A "mono-tona ", sim, que instila o tédio político no grande público. E produz a "a-tonia" de considerável parte do eleitorado.
Concluindo. Um país que fosse movido muito mais por intuições do que por um pensamento político e por uma cogitação doutrinária séria, não poderia chamar-se um país-de-idéias. A ser ele democrático, constituiria uma democracia-sem-idéias.

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Plinio Corrêa de Oliveira: o que a TFP pensa da
Democracia-sem-idéias