Numa alusão a uma técnica de conquista da opinião pública, poderíamos dizer que na Sorbonne se utilizou da "acupuntura social", uma técnica de fazer com que as pessoas mudem de comportamento sem mudar, de imediato, de opinião. Quer dizer, você mesmo pensando de uma maneira passa a agir de forma diferente. Embora a maneira de viver termine por mudar a forma de pensar, conforme Dr. Plínio explica no estudo Revolução e Contra-Revolução, ao falar sobre a Revolução nas idéias: "Com efeito - como Paul Bourget pôs em evidência em sua célebre obra "Le Démon du Midi" - "cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu". Assim, inspiradas pelo desregramento das tendências profundas, doutrinas novas eclodem. Elas procuram por vezes, de início, um "modus vivendi" com as antigas, e se exprimem de maneira a manter com estas um simulacro de harmonia que habitualmente náo tarda em se romper em luta declarada". (op. cit. cap V, 2).
A "acupuntura social" é uma técnica que visa influenciar indiretamente o pensamento popular e impulsionar inadvertidamente as pessoas para objetivos não inteiramente explícitos. Assim como a acupuntura age sobre o corpo humano, provocando através de punções de agulhas reações neurológicas em locais diferentes daqueles tocados, da mesma forma tenta-se atingir o pensamento público e direcioná-lo para determinados objetivos pré-concebidos sem que as pessoas de algum modo percebam. Não se trata de mudar as idéias, os pensamentos das pessoas. pois na acupuntura social as pessoas podem continuar com a mesma maneira de pensar, o que se tenta é fazer com que tomem atitudes diferentes ou até contrárias ao que pensam.
Esta técnica não é nova, ela data já da Revolução Francesa de 1789. Um exemplo é a frase atribuída à rainha Maria Antonieta, hoje já sabidamente como tendo sido inventada pelos revolucionáios para torná-la antipática ao povo. Teriam dito à rainha que o povo estava pedindo pão. A rainha teria respondido: "então, dê-lhes pão". Ao responderem-lhe que não havia pão, teria dito: "Então, dê-lhes brioche". Em pouco tempo os folhetins revolucionários espalham por toda a França a suposta frase da rainha: "dê-lhes brioche!". A divulgação de tal calúnia não mudou a opinião do povo sobre a monarquia, que continuava a admirá-la e amá-la, mas fez com que muitos passassem a imaginar aquela rainha como estúpida e desdenhosa do sofrimento do povo. Qualquer violência que ela viesse a sofrer, como ocorreu depois quando foi presa e guilhotinada injustamente, as pessoas não estariam dispostas a defendê-la.
Quer dizer, com a simples divulgação de uma inventada frase os revolucionários amorteceram na população a admiração e fascínio que tinham pela monarca sem que houvesse necessidade de discursos e escritos contra ela.
Fatos corriqueiros como estes foram usados amiúdes nos dois últimos séculos para provocar reações futuras na opinião pública. Um outro exemplo bem marcante foi a obra do escritor russo Tolstoi "Guerra e Paz". Aparentemente, tratava-se de um inofensivo romance, onde se contava uma história ocorrida nas guerras napoleônicas. Devido à grande divulgação serviu, no entanto, para preparar os espíritos para a capitulaçãoi perante a revolução comunista de 1917. Naquela obra havia a pregação da dissolução do Estado, tido como coisa desnecessária e abusiva, a recusa da religião e da cultura e uma idéia fixa de "não-violência" e paz a qualquer custo. Tolstoi hauriu estes princípios na filosofia do budismo zen, de que era admirador. O budismo zen procura a paz no niilismo, no nada, na ausência de qualquer esforço mental, que deve ficar estagnada. Quando a revolução comunista explodiu, as pessoas estavam de tal forma imbuidas destes princípios pacifistas que pouco ou nada fizeram para combatê-la, ou tudo fizeram para atrapalhar quem a combatia. Resultado: em vez da sonhada paz, isto fez com que os vermelhos ficassem cada vez mais agressivos, promovendo a grande carnificina que houve na Rússia. O romance "Guerra e Paz" foi, pois, uma agulhada de acupuntura na sociedade russa para preparar as pessoas a fim de capitularem perante o monstro vermelho que vinha para lhes devorar. Mas isto não estava escrito no livro.
Um exemplo recente. A poucos dias das eleições espanholas de 2004, pesquisas apontavam para a vitória do partido governista, conservador. De repente, um terrível atentado terrorista mata mais de 200 pessoas e fere mais de mil. O medo e o terror consterna a Espanha e toda a Europa. Logo revela-se que os autores do atentado eram muçulmanos em represália pela participação espanhola na guerra do Iraque. A mídia bombardeia o Governo espanhol por ter acusado o grupo terrorista ETA. A opinião pública chocada, aterrorizada, em poucos dias se volta contra o governo e vota nos candidatos socialistas. Os socialistas voltam ao poder sem haver pregado sua doutrina, apenas por um lance de "acupuntura social" na sociedade, aplicado, não pelo partido, mas por terroristas muçulmanos que tinham interesse em que o governo perdesse as eleições.
Nas análises que iremos fazer vamos demonstrar como na Sorbonne os revolucionários usaram também do recurso da "acupuntura social".
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