sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sorbonne, maio 68: motivações imediatas, meros pretextos para a ação

Os comentários da mídia sobre a Revolução da Sorbonne, em geral sumários, falam de algumas motivações meramente corriqueiras na sociedade. Falam que haviam estudantes, trabalhadores e negros insatisfeitos com o "stablishment" (o sistema político estabelecido), e para fazer frente ao poder estatal organizavam-se em grupos, associações, em geral secretas para não serem apanhados pelas autoridades e presos. Estes grupos ou corpúsculos tinham como objetivos os direitos humanos estabelecidos na ONU. Os objetivos imediatos destes grupos eram a solução dos problemas de suas escolas, de seus sindicatos ou fábricas, enfim, daquilo a que faziam parte. De outro lado, o governo e as entidades representativas eram sempre mostrados como ineficazes, ou até prejudiciais, na solução de trais problemas. Um jornal dizia que estavam estes grupos engajados nas "reivindicações dos trabalhadores, por melhores salários; dos negros, contra a discriminação racial; dos estudantes, por uma reforma democrática no ensino, etc. Logo em seguida, vinha uma reivindicação diferente: a guerra do Vietnã - protestava-se simplesmente contra esta guerra em qualquer manifestação de outros fins. Falava-se, aqui e acolá, num movimento filosófico surgido entre tais estudantes, principalmente oriundo da tese da nova esquerda, desenvolvida por Marcuse: não só o proletariado, mas os jovens e excluídos da sociedade burguesa deveriam ser considerados força de transformação. Surgiu também outra escola de pensamento, chamada "Teoria Crítica da Escola de Frankfurt".
Nestas elucubrações filosóficas estavam delineados os fins da Revolução. Agora vejamos quais os pretextos para se desenvolver a ação. O primeiro lance, o primeiro pretexto para a ação, não foi uma invasão pura de uma faculdade ou fábrica, nem tampouco uma greve, ou mesmo algum protesto pedindo mais livros, mais horas de aulas, mais professores, etc. O primeiro movimento foi a invasão dos dormitórios das moças na Universidade de Nanterre, em março de 68, onde os rapazes protestavam contra a separação de sexos: queriam que os dormitórios fossem mistos. Desta reivindicação se passou para as outras: a partir daí, no final, ninguém nem falava mais em dormitórios coletivos ou mistos - o assunto ficou sepultado nos debates futuros porque ele serviu apenas como pretexto do início da Revolução. Já nesta manifestação de Nanterre surgiu o primeiro manifesto público do grupo que iria dirigir a Revolução de ora em diante, ou então que já vinha dirigindo desde então.

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