sexta-feira, 15 de setembro de 2017

AS SETE DORES DE NOSSA SENHORA




(Comentários de dr. plinio corrêa de oliveira sobre a santíssima virgem maria)

Hoje é festa das Sete Dores de Nossa Senhora, colocada, com muita felicidade, logo depois da festa da Exaltação da Santa Cruz. “ Festa estendida a toda Igreja por Pio VIII, em memória da proteção da Santíssima Virgem na libertação de Pio VII”.
Sobre isto comenta D. Guéranger:
“No decurso da oitava da Natividade, o pensamento do sofrimento não se apresentava ao espírito do fiel, mas se nós nos tivéssemos posto a questão “o que será essa criança”, nós teríamos visto exatamente que se todas as nações devessem um dia proclamá-la bem-aventurada, Maria deveria sofrer antes com seu Filho, para a salvação do mundo. Ela mesma, pela voz da liturgia, nos convida a considerar sua dor: “Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há uma dor igual à minha dor. Deus me pôs e estabeleceu na desolação. Minha dor é obra de Deus”.
“É Ele que, predestinando-A a ser Mãe de seu Filho, uniu indissoluvelmente sua pessoa à vida, aos mistérios, aos sofrimentos de Jesus para ser, na obra da Redenção, sua fiel cooperadora. É preciso que o sofrimento seja um bem muito considerável, para que Deus, que ama tanto Seu Filho, tenha dado sofrimento a Ele. E como depois de Seu Filho, Ele ama a Santa Virgem mais do que qualquer criatura, Ele quis dar a Ela também o sofrimento como o mais rico dos presentes. Por Maria, o sofrimento não dava só no Calvário; o sofrimento lhe veio com Jesus, “essa criança incômoda” como disse Bossuet, porque Jesus, entrando em qualquer lugar, entra com Sua cruz; e a traz com seus espinhos, e a distribui a todos que a amam”.
“A solenidade desse dia, que nos mostra, sobretudo, Maria no Calvário, nos lembra, nessa dor suprema de todas as dores, conhecidas ou não, que encheram a vida de Nossa Senhora. Se a Igreja se deteve no número de sete, é porque esse número exprime sempre a idéia de totalidade ou universalidade. Para compreender, com efeito, a extensão e intensidade dos sofrimentos de Nossa Senhora, é preciso conhecer o que foi seu amor por Jesus. E seu amor aumentou seu sofrimento. A natureza e a graça concorrem juntas para produzir no coração de Maria impressões profundas. Nada é mais forte e mais premente do que o amor que a natureza dá para um filho e aquele que a graça dá para um Deus”.
São tantos pensamentos excelentes, que se seria tentado a desenvolver excessivamente este Conferência. Mas em todo caso, vamos nos concentrar sobre duas idéias que estão aqui: a primeira das idéias é que Nosso Senhor, tendo amado com amor infinito ao Seu Verbo Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo, e tendo amado com um amor inferior a esse, mas superior a todos os outros amores, a Nossa Senhora, lhes deu tudo quanto há de bom. E por isso lhes deu aquela imensidade de cruzes que é representado pelo número sete. São sete dores, quer dizer, são todas as dores. E Nossa Senhora das Dores poderia ser chamada perfeitamente Nossa Senhora de todas as Dores, porque não houve dor que Ela não tivesse.
Por causa disso, se é verdade que todas as gerações A chamarão bem-aventurada, a um título menor, mas imensamente real, todas a gerações A poderiam ter chamado “infeliz”. Ora, se isso é assim, nós deveríamos compreender melhor, quando a dor entra na nossa vida, que é uma prova de amor de Deus. E que enquanto a dor não penetrar em nossa vida, nós não temos todas as provas de amor de Deus. E eu acrescentaria, e justificarei daqui a pouco isto, nós não temos a principal prova de amor de Deus.
O que quer dizer isto? Há muitas pessoas que eu olho e vejo a cara. E no fundo da cara vejo isto: falta-lhe ainda sofrer. Falta, no fundo, uma nota de maturidade, uma nota de estabilidade, uma nota de racionalidade, uma elevação que só tem aquele que sofreu, e aquele que sofreu muito; e quem leva uma vida sem sofrimento, leva uma vida em que essa nota não transparece na fisionomia, e o que é muito pior, não transparece na alma.
Nós devemos compreender isso, e quando começam a aparecer os contratempos, dificuldades em nosso apostolado, mal entendidos com os amigos dentro do Grupo, mal entendidos com os nossos chefes, saúde que anda mal, negócios que andam mal, encrencas dentro de casa, nós não deveríamos tomar isso como um bicho de sete cabeças, como o espírito hollywoodiano gostaria que se tomasse, quer dizer como uma coisa que não devia acontecer. Como foi que aconteceu uma coisa dessas? ... Não senhor!
Quem não sofre é que deve se perguntar: como está me acontecendo isto, pois não estou sofrendo nada? Porque o normal é sofrer. Aquele a quem Deus ama, aquele a quem Nossa Senhora ama, este sofre, porque Deus não vai recusar a este filho, aquilo que Ele deu em abundância aos dois entes que Ele mais amou, que são Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora.
Os senhores compreendem, então, que o normal é sofrer. E os senhores tenham isto por normal em sua vida: tentações, provações, crises nervosas, toda espécie de coisa, a gente deve pedir para que passem, mas na medida em que não passarem, a gente deve bendizer a Deus, bendizer a Nossa Senhora. São Luís Grignion chega a dizer que quem não sofre deve fazer peregrinações e orações pedindo sofrimento, embora ele condicione este pedido à aprovação de um diretor espiritual, porque é um pedido muito grave. Mas é porque quem não sofre, não vai indo tão bem quanto podia ir, e às vezes vai indo inteiramente mal.
Aí os senhores têm a frase estupenda de Bossuet, a respeito de Nosso Senhor Menino, “aquele menino incômodo”. Como todos aqueles que querem seguir a Nossa Senhor são incômodos! Às vezes temos a sensação experimental disso. Começamos a dar um conselho, um exemplo, começamos a pedir um sacrifício, o semblante de nosso interlocutor vai denunciando que ele nos está vendo incômodo. Como seria mais fácil dizer uma piada alegre, fazer uma brincadeira, acabar tudo com um tapinha nas costas e dispensar de uma obrigação!
Como mandar seria agradável, se fosse isto! Mas mandar é o contrário: mandar é estar exigindo que nosso subordinado tome as coisas a sério, que as olhe pelo seu lado mais profundo. Que veja as coisas pelo seu lado mais alto, mais sério, mais sublime, que veja de frente a sua própria alma, que se examine a si mesmo detidamente, que procure corrigir efetivamente e seriamente os seus defeitos. E como isto é incômodo!
Pois bem, o peso de sermos incômodos é um dos maiores pesos, e também esse nós devemos carregar. Nas nossas famílias nos acham incômodos porque lhes lembramos o dever. A resignação alegra essa incomodidade. A coragem de sermos incômodos em todas as circunstâncias; o votarmos a amizade de preferência aos nossos amigos incômodos, quando a incomodidade d’Eles consiste em nos lembrar o dever, são as virtudes que, no dia das Sete Dores de Nossa Senhora devemos pedir a Nossa Senhora.
Ela, que também teve um Filho que lhe trouxe tantos divinos incômodos, e que nos convidando a meditar sobre a dor d’Ela, nos convida a meditar sobre a seriedade e a sublimidade da sua e de nossa existência, e que a esse título é também para nós maternal e estupendamente incômoda.

("Conferência", 15 de setembro, 1965 ou 1966 )


Ver também “Revista Dr. Plínio”, nº 66, setembro de 2003

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

NOSSA SENHORA DE COROMOTO, PADROEIRA DA VENEZUELA



(COMENTÁRIOS DE DR. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA0

...Embora eu já tivesse ouvido falar várias vezes de Nossa Senhora de Coromoto, nunca soube de detalhes de sua história. Só recentemente vim a conhecê-los, e tocou-me enormemente imaginar uma imagem tão majestosa sendo o veículo para tanta misericórdia. Através dela se tem a verdadeira idéia de majestade unida à misericórdia. É uma Rainha com fisionomia extremamente elevada e nobre, com porte muito digno e olhar pairando nas mais altas paragens do espírito, e ao mesmo tempo cheia de uma misericórdia inefável. A misericórdia não é demagógica, vulgar, uma condescendência com o pecado, uma afabilidade criminosa em relação ao mal, mas um ato de bondade generoso, gratuito, de quem converte o vence o mal, que vem muito de cima, mas entra a fundo e é capaz de toda espécie de regenerações.
Há um sacrossanto contraste entre a majestade e a misericórdia. Não há verdadeira majestade sem misericórdia, nem verdadeira misericórdia sem majestade.
A história do índio Coromoto, ao qual apareceu a Santíssima Virgem, fez-me lembrar as aparições de Nossa Senhora a um índio em Guadalupe, no México. A Mãe de Deus tratou-o com uma ternura especial, uma bondade, como não se vê nas outras aparições – mesmo em Fátima, onde Ela se manifestou tão condescendente e bondosa. Esse índio sentia tanta liberdade para com Nossa Senhora que, em vez de chamá-la “minha Rainha”, tratava-A de “minha filhinha”. E a Santíssima Virgem tomou tão bem esse tratamento, que uma ampliação fotográfica recente da imagem de Guadalupe mostra que na pupila dos olhos de Nossa Senhora está a figura do índio, tornando-o imortalizado aos olhos d’Ela. Estar na menina dos olhos significa ser o centro da atenção, do cuidado, e isto realizou-se ao pé da letra.
Tudo isso levou-me também a pensar a respeito do que disse Santo Antonio Maria Claret, após assistir as últimas sessões do Concílio Vaticano I, há cem anos atrás. Vendo, já naquela época, os sinais de desagregação da Europa, afirmou querer morar na América, porque aqui floresceriam santos maiores do que os surgidos na Europa. Essa afirmação me pareceu extraordinária.
Há mais. Antes de ser confessor da Rainha da Espanha, Isabel II, Santo Antonio Maria Claret tinha sido Arcebispo de Santiago de Cuba, e saíra deste país por ser perseguido pelos inimigos da Igreja, apesar de seu apostolado com a população do lugar, em favor da qual ele praticara magníficos milagres. No navio que o conduzia, predisse o futuro próximo de Cuba, sua separação da Espanha e submissão aos Estados Unidos. E apresentava isso como uma série de apostasias e castigos. Naturalmente, uma apostasia causa outra, e por fim se chegou à atual e miserável situação de Cuba.
Parecia-me curioso que ele, falando de Cuba com tal energia e precisão, previra tanta santidade na América Latina. Isso significava a presença de um grande perdão e uma imensa misericórdia, ao lado do abismo representado pelo anúncio dessa severidade.
E, afinal, como a santidade tem sua origem, sua causa primeira, numa misericórdia de Deus para conosco, eu achava muito razoável que houvesse esse nexo entre a profecia de Santo Antonio Maria Claret, de um lado, e de outro o fato de Maria Santíssima ter-Se manifestado tão carinhosa, condescendente, em relação a esse índio do México. Nossa Senhora de Guadalupe foi proclamada pela Santa Sé Patrona da América Latina e, evidentemente, esse índio representava, para o olhar d’Ela, a América Latina inteira, e todos nós somos simbolizados por esse índio. De certo modo, pode-se dizer que cada um de nós está na menina dos olhos da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.

Apesar da extrema maldade do índio, Maria Santíssima manifesta sua inesgotável misericórdia

Essas considerações estavam reunidas em meu espírito quando soube do fato ocorrido em Guanare, Venezuela, com o índio Coromoto, em seus detalhes. Através destes, se vê que é impossível a um homem levar mais longe a obstinação no mal, e inimaginável por nós que a Mãe de Deus chegasse a  extremo sua “obstinação” em convertê-lo. Realmente é a última palavra em matéria de condescendência: depois de o índio ter querido flechar e golpear Nossa Senhora, Ela fez um milagre, deixando nas mãos dele um pergaminho com sua imagem, e depois o converteu! Não se pode excogitar misericórdia mais excelsa, mais excelente, do que essa.
Alguém poderia observar que o pecado dos que mataram Nosso Senhor Jesus Cristo foi um pecado maior do que o desse índio, tentando agredir a Santíssima Virgem. Tudo quanto toca à Pessoa Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo ultrapassa qualquer dimensão e não pode ser comparado com absolutamente nada. Porém é preciso considerar que em sua Paixão Jesus estava na prostração, na humilhação própria à sua natureza humana. Nossa Senhora, em Guanare, Se apresentou em visão, de forma esplendorosa, mostrando-Se superior a tudo quanto o índio conhecia, e de uma maneira evidente, como Nosso Senhor não fez com seus verdugos. Apesar disso, a maldade dele foi tão grande que tentou agredi-La. Não afirmo ter sido isso mais grave do que o deicídio, mas, sob certo aspecto, revela uma dureza de alma ainda maior. Pois bem, para esse homem, a Mãe de Deus manifestou tanta bondade e misericórdia.

“À sua bondade soberana ninguém resiste”

Que ensinamentos retiramos desse fato? Antes de tudo, para Nossa Senhora a maldade humana não consegue opor obstáculos decisivos. De um jeito ou de outro, se a Santíssima Virgem quer mesmo, e até o fim, Ela acaba vencendo a maldade humana. Portanto, se em determinado momento da História da Humanidade Nossa Senhora quiser praticar um ato de generosidade excelso em relação a um homem, ou a uma série de homens, Ela poderá fazê-lo e vencerá, porque à sua bondade soberana ninguém resiste.
A Santíssima Virgem é soberana em tudo, inclusive em sua bondade. Querendo, Ela derruba todos os obstáculos, como Rainha cheia de suavidade, de tal maneira que ume pessoa, liberta dos grilhões do vício, dos apegos maus, realiza o verdadeiro livre arbítrio, o qual consiste em se confiscado por Nossa Senhora. Trata-se de um verdadeiro confisco, porém a Mãe de Deus quando confisca, liberta. Ela não cobre o indivíduo de algemas, mas torna-se sua senhora, e ele torna-se senhor de suas más inclinações, de seus vícios, de seus pecados, de tudo quanto impede que sua alma voe para o bem. Essa é a própria substância da definição do livre arbítrio, segundo a Doutrina Católica.

A misericórdia de Nossa Senhora se estende aos povos e às instituições

Outra lição muito importante que decorre das aparições da Virgem Maria ao índio Coromoto é a seguinte: se Nossa Senhora fez isso com esse homem, não poderá realizá-lo com as pessoas de um continente, ou de uma parcela da Humanidade, especialmente suscitada para ser d’Ela, e para seu futuro reino? Maria Santíssima não tem o poder de provocar a conversão da América Latina? Pobre América Latina, tão endurecida, opaca e apagada na Fé que recebeu, na pureza e elevação dos costumes que já não possui; tão longe das esperanças dos santos e dos missionários que vieram cá, para fazer um novo reino de Deus, a fim de compensar, no balanço das coisas entre a Terra e o Céu, o que a Santa Igreja estava perdendo com a apostasia protestante! Essa conversão não ocorrerá de um momento para outro?
Por fim, voltamos nossos olhos para nosso Movimento.
Vendo as coisas bem de frente, tendo Nossa Senhora desígnios sobre nosso Movimento e sua atuação na América Latina, não é bem verdade que o episódio de Coromoto, a graça desse perdão, que dulcifica qualquer dureza e vence qualquer ingratidão, precisa começar dentro de casa? E que devemos pedi-la para nós e para toda essa parte da Humanidade, aonde Nossa Senhora quis fazer esse milagre extraordinário? E não é verdade também que, apesar de todas as nossas fraquezas e infidelidades, temos razões especialíssimas para confiar, e nunca devemos consentir num pensamento de desespero, à vista de uma graça tão extraordinariamente grande?
Aqui está o ponto central da meditação a respeito de Nossa Senhora de Coromoto, que visa mais especialmente nosso Movimento – porque tem uma missão muito em ordem a isso – e, dentro dele, cada um de nós. Mas essa meditação deve também ter em vista a América Latina, como sendo especial protagonista do dia de amanhã, no Reino de Maria.

Coromoto e Fátima: íntima relação

Finalmente, podemos nos perguntar qual a relação de tudo isso com as profecias de Fátima. São os mistérios de Nossa Senhora... A realização das promessas da Virgem de Fátima purificará e preparará as almas para o Grand Retour.(*) Quando ele vier, receberemos a graça da misericórdia, da conversão completa.
Com esta visualização, temos um grande enriquecimento para o conjunto de nossas concepções sobre o futuro da História, isto é, a idéia do Grand Retour fundada num milagre extraordinário como foi o de Guanare. É um fato concreto que nos dá uma esperança especial e nos explica em algo como vai ser o Grand Retour.
Poder-se-ia objetar que não foram apresentadas provas que demonstram a veracidade da história de Nossa Senhora de Coromoto. A prova é: em Guanare está o pergaminho contendo a imagem, com base na qual foi tirada essa estampa que estou comentando, colocada num belíssimo relicário de ouro. Todo o povo, desde quando ocorreu o milagre, vai venerá-lo, indicando assim que já naquele tempo se espalhou sua fama; foi, portanto, admitido por todos os que conheciam aquele índio e sua família, que os fatos relacionados à imagem e a eles eram reais. E essa versão e essa crença foram conservadas através das gerações.
Mas, para mim, isso que poderia ser uma prova histórica muito boa é de pouca importância. O importante é saber que Nossa Senhora é assim, conforme nos ensina a Doutrina Católica. Portanto, ainda que as aparições de Nossa Senhora de Coromoto não tivessem acontecido, elas são reais na sua substância: a misericórdia de Maria Santíssima pode chegar até lá. Se pedirmos, seremos atendidos.
E, para esse efeito, poderíamos fazer uso da seguinte jaculatória: “Nossa Senhora de Coromoto, cuja misericórdia a dureza do coração do índio pecador não conseguiu deter, tende pena de mim, entretanto tão pecador e tão endurecido”.

(Conferência de 16/7/72).

(Excerto de texto publicado na revista “Dr. Plínio” n. 139, de outubro de 2009, págs. 19/23)


(*) Na revista “Dr. Plínio” n. 86, de maio de 2005, está explicitado o que seja o “Grand Retour”, ou “Grande Retorno” em português, ao seio da Igreja.: “Uma conversão completa, um total repúdio a todo o mal que havíamos feito, e um amor inteiro às virtudes e a todo o bem que éramos chamados a praticar e a realizar. Em suma, um vôo à santidade, que abarca o perfeito amor a Deus e ao próximo, com o deliberado propósito de extinguir a Revolução sobre a face da Terra”.


sábado, 9 de setembro de 2017

ORAÇÃO APROPRIADA PARA AS CALAMIDADES PÚBLICAS




TRISÁGIO À SANTÍSSIMA TRINDADE  - Origem do triságio

O santíssimo triságio não é invenção do engenho humano, senão obra do mesmo Deus, que Ele inspirou ao profeta Isaías quando este ouviu que o cantavam os Serafins, para exaltarem a glória do Criador.
Na escola dos mesmos Serafins e na dos outros coros angélicos foi onde o aprendeu milagrosamente aquele menino que, como São Paulo, foi arrebatado ao céu, segundo referem as histórias eclesiásticas. No ano 447, e sendo Teodósio Júnior imperador do Oriente, sentiu-se um terremoto quase universal, violentíssimo, e que pela sua duração e espantosos estragos se fez o mais célebre de todos quantos até então se tinham visto. Foram incalculáveis os prejuízos que seis meses de abalos quase contínuos causaram nos mais suntuosos edifícios de Constaninopla e em toda a famosa muralha do Quersoneso. Abriu-se a terra em muitos pontos e ficaram sepultadas em suas entranhas cidades inteiras; secaram-se as fontes e apareciam outras novas, e era tal a violência dos abalos que arrancava árvores corpulentíssimas, apareciam montanhas onde primeiro havia planuras, e profundos abismos onde havia antes montanhas. O mar lançava às praias peixes de grandeza enorme; e as praias e navios ficavam sem águas, que iam inundar grandes ilhas.
Em semelhante conflito, achou-se prudente abandonar os povoados e assim o fizeram os habitantes de Constantinopla com o imperador Teodósio, sua irmã Pulquéria, São Proclo, então patriarca daquela Igreja, e todo o clero. Reunidos num lugar chamado Campo dirigem ao céu grandes clamores e fervorosas súplicas, pedindo o socorro em necessidade tão apertada. Um dia, entre oito e nove horas da manhã, foi tão extraordinário o abalo que fez a terra, que pouco faltou para que não causasse os mesmos estragos que o dilúvio universal. A este espanto sucedeu admiração do prodígio seguinte:
Um menino de poucos anos foi arrebatado pelos ares à vista de todos os do Campo, que o viram subir até perdê-lo de vista. Depois de algum tempo desceu à terra, do mesmo modo que subira ao céu, e logo em presença do Patriarca, do Imperador e da multidão pasmada, contou que sendo admitido nos coros celestes ouviu os anjos cantarem estas palavras: Santo Deus, Santo forte, Santo imortal, tende misericórdia de nós; e que ao mesmo tempo lhe mandaram que comunicasse a todos esta visão. Ditas estas palavras, aquele inocente menino morreu.
São Proclo e o Imperador, ouvida esta relação, mandaram unanimemente que todos entoassem em público este sagrado cântico, e imediatamente cessou o terremoto, e ficou quieta a terra.
Daqui nasceu o uso do Triságio, que o Concílio geral Calcedonense prescreveu a todos os fiéis, como um formulário para invocar a Santíssima Trindade nos tempos funestos e nas calamidades; daqui veio merecer a aprovação de tantos Prelados da Igreja, que apoiaram o uso dele, enriquecendo-o com o tesouro das indulgências e daqui finalmente veio que se pusesse método, que se imprimisse e reimprimisse tantas vezes, e sempre com universal aplauso e aceitação dos fiéis, que o consideram como um escudo impenetrável contra todos os males que Deus manda à terra em castigo de nossos pecados. (1)

 Oferecimento

Para ganhar as indulgências, os que rezarem o Triságio

Rogamos-te, Senhor, pelo estado da Santa Igreja e Prelados dela; pela exaltação da fé católica, extirpação das heresias, paz e concórdia entre os príncipes cristãos, conversão de todos os infiéis, hereges e pecadores; pelos agonizantes e caminhantes, pelas benditas almas do purgatório e mais piedosos fins de nossa Santa Madre Igreja. Amém.
V. Bendita seja a santa e indivídua Trindade, agora e sempre por todos os séculos dos séculos.
R. Amém.
V. Abri, Senhor, meus lábios.
R. E a minha boca anunciará vossos louvores.
V. Meu Deus, em meu favor benigno atende.
R. Senhor, apressai-vos a socorrer-me.
V. Glória seja ao Eterno Pai.
    Glória seja ao Eterno Filho.
    Glória ao Espírito Santo.
R. Amém. Aleluia.

(no tempo da Quaresma se diz conforme abaixo):

Louvor seja a ti, Senhor, Rei da eterna glória.

Ato de Contrição

Amorosísimo Deus, trino e uno, Pai, Filho e Espírito Santo, em quem creio, em quem espero, a quem amo com todo o meu coração, corpo, alma, sentidos e potências; por serdes Vós meu Pai, meu Senhor e meu Deus, infinitamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas; pesa-me, Trindade Santíssima, pesa-me, Trindade misericordiosíssima, pesa-me, Trindade amabilíssima, de vos ter ofendido só por serdes Vós quem sois; proponho, e vos dou palavra, de nunca mais vos ofender e de morrer antes do que pecar; espero de vossa suma bondade e misericórdia infinita, que me perdoareis todos os meus pecados, e me dareis graças para perseverar num verdadeiro amor e cordialíssima devoção a vossa sempre amabilíssima Trindade. Amém.

Hino

Já se afasta o sol radioso,
Ó luz perene, ó Trindade,
Infunde em nós ardoroso
O fogo da caridade.

Na alvorada te louvamos
E na hora vespertina;
Concede-nos que o façamos
Também na glória divina.

Ao Pai, ao Filho e a Ti,
Espírito consolador,
Sem cessar como até aqui
Se dê eterno louvor. Amém.

Oração ao Pai

Ó Pai Eterno, fora o prazer de vos possuir, eu não vejo mais do que tristeza e tormento, embora digam outra coisa os amadores da vaidade. Que me importa que diga o sensual que sua felicidade está em gozar de seus prazeres? Que me importa que diga também o ambicioso que seu maior contentamento é gozar de sua glória vã? Eu pela minha parte nunca cessarei de repetir com vossos Profetas e Apóstolos, que a minha suma felicidade, meu tesouro e minha glória é unir-me a meu Deus, e manter-me inviolavelmente unido a Ele.
Recita-se um Pai-Nosso, uma Ave-Maria, e nove vezes:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos, cheios estão os céus e a terra de vosso glória.
(responde-se, se possível em coro):
Glória ao Pai, glória ao Filho, glória ao Espírito Santo.

Oração ao Filho

Ó Verdade eterna, fora da qual eu não vejo outra coisa senão enganos e mentiras. Oh! E como tudo me aborrece à vista de vossos suaves atrativos! Oh! Como me parecem mentirosos e asquerosos os discursos dos homens, em comparação das palavras da vida, com as quais Vós falais ao coração daqueles que vos escutam. Ah! Quando será a hora em que Vós me tratareis sem enigma e me falareis claramenteno no seio de vossa glória? Oh! Que trato! Que beleza! Que luz!

Recita-se um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e nove vezes:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus, etc.

Oração ao Espírito Santo

Ó Amor, ó Dom do Altíssimo, centro das doçuras e da felicidade do mesmo Deus; que atrativo para uma alma ver-se no abismo de vossa bondade e toda cheia de vossas inefáveis consolações! Ah! Prazeres enganadores! Como haveis de poder comparar-vos com a menor das doçuras que um Deus, quando quer, sabe derramar sobre uma alma fiel? Oh! Se uma só partícula delas é tão deliciosa, quanto mais será quando Vós as derramardes como uma torrente sem medida e sem reserva? Quando será isto, meu Deus, quando será?

Recita-se um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e nove vezes:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus, etc.

Antífona

A ti, Deus Pai, a ti, Filho Unigênito, a ti, Espírito Santo, Paráclito, santa e indivídua Trindade, de todo coração te confessamos, louvamos e bendizemos. A ti seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
V. Bendigamos ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Louvemo-lo e exaltemo-lo em todos os séculos.

Oração

Senhor Deus uno e trino, dai-me continuamente vossa graça, vossa caridade e a vossa comunicação para que no tempo e na eternidade vos amemos e glorifiquemos. Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo numa deidade por todos os séculos dos séculos. Amém.

Deprecação devota à Santíssima Trindade

(A cada invocação se responde: ”Toda criatura vos ame e glorifique”)

V. Pai eterno, onipotente Deus;
R. Toda criatura, etc.
V. Verbo divino, imenso Deus;
R. Toda criatura, etc.
V. Espírito Santo, infinito Deus;
- Santíssima Trindade e um só Deus verdaeiro;
- Rei dos Céus, imortal e invisível;
- Criador, conservador, governador de todo o criado;
- Vida nossa, em quem, de quem e por quem vivemos;
- Vida divina, e uma em três pessoas;
- Céu divino de excelsitude majestosa;
- Céu supremo do céu, oculto aos homens;
- Sol divino e incriado;
- Círculo perfeitíssimo de capacidade infinita;
- Alimento divino dos anjos;
- Belo iris, arco de clemência;
- Astro primeiro e trino, que iluminais o mundo;

(A cada invocação, responde-se: “Livrai-nos, trino Senhor”)

V. De todo mal de alma e corpo;
R. Livrai-nos, etc.
- De todo pecado e ocasião de culpa;
- De vossa ira e indignação;
- Da morte repentina e improvisa;
- Das insídias e assaltos do demônio;
- Do espírito de desonestidade e das suas sugestões;
- Da concupiscência da carne;
- De toda ira, ódio e má vontade;
- Das pragas da peste, fome, guerra e terremoto;
- Dos inimigos da fé católica;
- De nossos inimigos e de suas maquinações;
- Da morte eterna;
- Por vossa Unidade em Trindade e Trindade em Unidade;
- Pela igualdade essencial de vossas pessoas;
- Pela sublimidade do mistério de vossa Trindade;
- Pelo inefável nome de vossa Trindade;
- Pelo portentoso de vosso nome, uno e trino;
- Pelo muito que vos agradam as almas que são devotas de vossa Santíssima Trindade;
- Pelo grande amor com que livrais de males aos povos onde há algum devoto de vossa Trindade amável;
- Pela virtude divina, que nos devotos de vossa Trindade santíssima, reconhecem os demônios contra si mesmos;

(A cada invocação, responde-se: “Rogamo-Vos, ouvi-nos”)

V. Nós pecadores;
R. Rogamo-Vos, etc.
- Que saibamos resistir ao demônio com as armas da devoção à vossa Trindade;
- Que embelezeis cada dia mais, com as cores da vossa graça, vossa imagem que está em nossas almas;
- Que todos os fiéis se esmerem em ser muito devotos de vossa Santíssima Trindade;
- Que todos alcancemos as muitas felicidades que estão vinculadas para os devotos dessa vossa Trindade adorável;
- Que ao confessarmos o mistério de vossa Trindade, se desfaçam os erros dos infiéis;
- Que todas as almas do purgatório gozem muito refrigério em virtude do mistério de vossa Trindade;
- Que vos digneis ouvir-nos pela vossa piedade;
- Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, livrai-nos, Senhor, de todo mal.(2)

Obséquios ou oferecimentos à Santíssima Trindade

1. Ó beatíssima Trindade, eu vos prometo que com todo esforço e empenho hei de procurar salvar minha alma, visto como Vós a criastes à vossa imagem e semelhança e para o céu. E também por amor vosso procurarei salvar as almas de meu próximo.
2. Para salvar minha alma e dar-vos glória e louvor, sei que hei de guardar a divina lei; eu empenho minha palavra de a guardar como a menina de meus olhos e procurar, outrossim, que os outros a guardem.
3. Aqui na terra hei de exercitar-me em louvar-Vos e espero fazê-lo depois com maior perfeição no céu; e por isso com freqüência rezarei o triságio e o verso: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”. E procurarei, além disso, que os outros Vos louvem. Amém.

Fonte:  “Caminho Reto e Seguro para se chegar ao Céu”, de Santo Antonio Maria Claret. Editora Ave Maria, São Paulo - págs. 155/166)
  
(1)  - O Papa Clemente XIV concedeu 100 dias de indulgência para cada dia que se reze: 100 mais três vezes no dia, nos domingos, na festa da Santíssima Trindade e durante a sua oitava, e Indulgência Plenária a qauem o rezar todos os dias durante um mês, confessando e comungando no dia do m~es que se escolher.

(2) -  Invocação semelhante Nosso Senhor ensinou à Santa Faustina: “Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, tende piedade de mim e de todos os pecadores, etc” , jaculatória que a Santa rezava entre uma dezena e outra do terço.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

EM SUA NATIVIDADE NASCEU COM NOSSA SENHORA TODAS AS SUAS GRANDEZAS



(COMENTÁRIOS DE DR. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)

Hoje é festa da Natividade de Nossa Senhora e coincidem quatro festas de Nossa Senhora ao mesmo tempo. É festa de Nossa Senhora de Covadonga. Os senhores sabem que esta festa foi instituída para comemorar a grande vitória dos espanhóis sobre os mouros em Covadonga, no ano de 722, graças à intervenção miraculosa da Santíssima Virgem que deu início à Reconquista espanhola.
As festas de Nossa Senhora que coincidem hoje são: Nossa Senhora da Saúde, patrona do grupo da Saúde; Nossa Senhora do Amparo, que é patrona do Êremo do Amparo de Nossa Senhora; Nossa Senhora da Luz, que é padroeira de Curitiba e Nossa Senhora de Covadonga da qual acabo de ler algumas palavras.
[...]
Quando Nossa Senhora nasceu – já que estamos na festa da Natividade de Nossa Senhora – temos exatamente isto: todas essas grandezas nascem ao mesmo tempo, porque n’Ela está a raiz de tudo quanto d’Ela depois se disse, todas essas perfeições nasceram ao mesmo tempo. Ela foi perfeita desde o primeiro instante de Seu ser, não só porque foi concebida sem mancha de pecado original, mas porque foi desde logo constituída por Deus – no primeiro instante de Seu ser – num grau de graça inimaginável por nós!
Quer dizer, se fôssemos sondar simplesmente as graças que Ela teve no primeiro instante do Seu ser, não saberíamos dizer, não conseguiríamos compreender, nem conseguiríamos amar adequadamente! De lá para cá, até o fim da vida d’Ela, Ela não fez senão crescer continuamente e corresponder perfeitamente a tudo. De maneira que este insondável se tornou insondavelmente insondável quando Ela chegou ao termo de Sua vida, mas a aurora dessas insondabilidades foi no primeiro instante do ser d’Ela. Esse dia, portanto, contém em gérmen todas as invocações; e não é fora de propósito, portanto, que comemoremos Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora do Amparo, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora de Covadonga, porque tudo isto estava em gérmen quando Nossa Senhora nasceu. Nossa Senhora da Natividade contém tudo isto.
O que é que devemos dizer da invocação de Nossa Senhora da Saúde? Na consideração mais imediata Nossa Senhora da Saúde é Nossa Senhora tendo pena da saúde dos homens, vendo os homens aflitos por doenças de toda a ordem. Não há um órgão humano no qual não caibam, ao menos em potência, as mais variadas perebas e doenças aflitivas. E aquilo que pode acontecer, acontece. Logo, os homens que podem adoecer de tudo adoecem, de fato, de tudo, e recorrem a Nossa Senhora para conseguir a sua cura.
É mau que os homens peçam a cura a Nossa Senhora? De nenhum modo, é até muito bom. Por quê é bom? Porque Nossa Senhora permite as doenças, permite as provações, em grande número de vezes, para que os homens peçam a cura e para que através da cura eles sintam a bondade materna d’Ela e sentindo essa bondade se sintam mais atraídos por Ela, mais conquistados por Ela. Então, Nossa Senhora da Saúde, em primeiro plano, é Nossa Senhora restituindo a saúde dos homens.
Será só isto? Nossa Senhora só é mãe quando cuida de nossa saúde? Quando ela, às vezes, permite que adoeçamos, Ela não nos concede também uma graça insigne? E quando permite que nossas doenças durem, também não nos dá uma graça insigne? Muitas vezes, sim. As doenças são meios de nos aproximarmos d’Ela, de tomarmos distância das coisas do mundo, de compreendermos de como vale pouco a vida, de, pelo sofrimento, purificarmos nossa alma de muitos pecados e de muitos defeitos. Muitas e muitas vezes a doença é um bem para nós.
Então, quando pedimos a saúde devemos dizer a Nossa Senhora que desejamos a saúde, que pedimos que Ela no-la dê, na medida em que for um bem para a nossa alma. Se a doença for melhor, que Ela nos deixe doentes. Se a morte for melhor, que Ela nos dê a morte. Mas podemos fazer uma coisa, podemos dizer a Ela: "Se a doença for melhor para minha alma, eu aceito, mas Vós, que podeis tanto, talvez possais dar um jeito com os desígnios de Deus de maneira que a saúde ainda me faça mais bem do que a doença." Porque não pedir uma coisa dessas? "E se tal for, se até lá chegar Vossa misericórdia, se os pecados não constituírem obstáculo à Vossa misericórdia, eu Vos peço que então me sareis, senão eu aceito com humildade o que Vós destinardes".
Houve um rei no Antigo Testamento – não me lembro mais quem era – que adoeceu e um dos profetas chegou a ele e disse: "Você vai morrer." Ele virou doutro lado, para a parede, diz a Bíblia, e chorou. O que acho muito pitoresco! Isto corresponde, numa linguagem caseira que eu censurei, ao sujeito ficar "jururu". Vira para a parede, chora e depois diz: "Mas, meu Deus etc., mas eu não tinha vontade de morrer". E Deus deu a ele 15 anos de vida ainda. O que para os senhores mais moços deve parecer uma eternidade! Depois de 60 anos parece um prazo módico. Deus deu a ele mais 15 anos de vida. É claro que Deus mandou o profeta avisá-lo que ia morrer para que ele pedisse para não morrer. Devemos fazer, então, a oração como Nosso Senhor no Horto: "Pater, si vis, transfer calicem istum a me; verumtamen non mea voluntas sed tua fiat" (Lc. 22-42). "Meu Pai, se for possível afastai de mim esse cálice, se não for faça-se a Vossa vontade e não a Minha". A mesma coisa com a morte.
Nossa Senhora da Saúde no-la restitui nesse contexto, dentro dessa visão. Evidentemente Nossa Senhora, que é nossa Mãe e que quer para nós toda a espécie de bens, se nos dá a saúde do corpo, mais ainda quer dar-nos a saúde da alma, porque a saúde da alma vale incomparavelmente mais que a do corpo, pois a alma vale mais do que o corpo. E como estou partindo de baixo para cima, — estou falando do corpo primeiro, — tratando da alma eu falo da saúde psíquica, antes de tudo. Aqueles que têm enfermidades físicas que prejudicam o bom andamento das faculdades mentais, enfermidades nervosas, etc., podem e devem dirigir-se a Nossa Senhora da Saúde para que os cure.
Mas, sobretudo, devem dirigir-se a Nossa Senhora os pecadores para que Ela restitua a saúde à alma que se tornou enferma da pior das enfermidades, que é o pecado. Assim temos em ordem ascendente os vários sentidos desta invocação e os nossos amigos da “Saúde” compreenderão melhor debaixo de quantos prismas a invocação que protege o grupo d’Eles pode ser considerada.
A segunda invocação é de Nossa Senhora do Amparo. Eu não sei bem se a geração muito nova tem idéia do que quer dizer um indivíduo desamparado. Um indivíduo desamparado não é apenas um indivíduo a quem falta algo, mas é um indivíduo que recorreu a todos os meios humanos para obter aquilo que lhe faz falta e não conseguiu. É aquele que está, portanto, desamparado, quer dizer, desajudado de tudo. O amparo é um sustentáculo, o amparo é um apoio, o amparo é um arrimo. Um indivíduo que não tem nem sustentáculo, nem apoio, nem arrimo, que está só, que está abandonado, que não tem em quem se fiar, um indivíduo que tem uma dificuldade qualquer aguda, em que a sua vida inteira está empenhada, não tem terrenamente quem o ajude.
Qual é a invocação, o significado de Nossa Senhora do Amparo? Nossa Senhora do Amparo é exatamente Aquela que tem uma particular pena dos que estão desamparados. Seja desamparados do ponto de vista da alma, seja desamparados do ponto de vista do corpo. E que com aquela compaixão especial que a mãe tem do filho aflito e precisado, faz coisas inimagináveis para ajudá-lo! Quer dizer, é Nossa Senhora de todas as solicitudes, é Nossa Senhora de todas as compaixões, é Nossa Senhora de todos os instantes em que o homem precisa de alguma coisa e recorre a Ela.
É um amparo de Mãe, é um amparo que não se limita a receber, mas atrai. Faz, portanto, como o pai do filho pródigo, mas vai mais longe do que o pai do filho pródigo. Porque do pai do filho pródigo, diz a parábola, que ele ficou olhando para ver se o filho vinha. Aí o amparo foi mais longe, foi atrás do filho e pegou longe e reconduziu para a casa paterna.
Nós devemos dizer algo de Nossa Senhora da Luz, padroeira de Curitiba e também em São Paulo no chamado Bairro da Luz, o convento da Luz, Estação da Luz, invocação lindíssima!
Por quê? Porque Nossa Senhora é Aquela que gerou a Luz. A Luz do mundo é Ele. Todo o resto são canais, mas a Luz do mundo é Ele. É a Luz que brilhou das trevas e que as trevas não conseguiram abarcar, não conseguiram envolver, não conseguiram impedir que fosse vista pelo mundo. Nossa Senhora da Luz é Nossa Senhora enquanto foco da Luz. Ela não é a Luz, mas é o meio pelo qual a Luz chega até nós. Ela é a que conduz a Luz até nós. Ela é a portadora da Luz. Ela, de algum modo, é a Luz. Em que sentido? Que há luzes de Nosso Senhor que Ele só dá a quem muito especialmente invoca Nossa Senhora. E Ela parece tão iluminada com a luz que vem d’Ele que quase se diria que Ela mesma é a Luz. E por isso nós tanto podemos cantar como a Igreja canta d’Ela, Ave Virgo gloriosa, ex tua luce mundo exorta, "Ave, ó Virgem gloriosa, da qual saiu a Luz do mundo", como podemos dizer a Ela que Ela é a nossa luz. Ela toda refulge de luz.
Nós devemos pedir a Nossa Senhora que encha a nossa alma desta luz, evitando as trevas da Revolução. A Revolução é o negrume, a Revolução é o erro, é o vício, é o crime, o mal. Nossa Senhora da Luz é Nossa Senhora da Contra-Revolução. As trevas que procuram abarcar a luz e impedem que a luz brilhe, essas são as trevas da Revolução. A luz que racha a treva e que chega até os homens, essa luz é a Contra-Revolução. Nossa Senhora da Luz é Nossa Senhora da Contra-Revolução. Que Ela toque cada vez mais para frente o nosso querido grupo de Curitiba. Com isto está dada a vista global dessas várias invocações. Fui um pouco longe mas, pelo menos, tenho a alegria de não ter deixado de atender pedidos tão justos, sobretudo de ter tentado aproximar, tocar um pouco mais a cada um de nós de Nossa Senhora com esta meditação.

("Conferência", 8 de setembro de 1970)



segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA



(COMENTÁRIOS DE PLINIO CORREA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)

É um costume comum festejar-se o aniversário das pessoas. A razão disso está em que o aniversário da pessoa representa o momento em que a pessoa entrou na cena dessa vida, e o momento em que o ambiente em que essa pessoa é destinada a viver se enriquece com mais uma presença.
Em princípio, todo nascimento é um favor, é uma graça de Deus, é um enriquecimento para a sociedade humana, porque todo homem tem um grande valor.
Ainda que ele seja concebido em pecado original, ainda que a natureza humana seja inferior à natureza angélica, ainda que o homem, além do pecado original, traga algum vício moral existente na família, cada homem é uma criatura de grande valor. Cada criatura que aparece na Terra representa um enriquecimento altamente ponderável para essa obra de Deus em seu conjunto, que é a humanidade.
Assim, quando se festeja o aniversário de uma pessoa, festeja-se a entrada de alguém no mundo, se festeja a entrada daquele na cena do mundo com tudo quanto ele trouxe e que lhe é característico de luz primordial, de virtudes que deverá realizar, de riquezas de alma que tem dentro de si. E até mesmo o pecado original, com os defeitos que a pessoa leva dentro de si, como coisa a ser vencida e combatida, como aumento de glória, representa também algo no nascimento da pessoa e no enriquecimento em relação à humanidade.

Concebida sem pecado, com todas as riquezas naturais próprias à condição feminina e cheia de Graças: predicados de Nossa Senhora

Nestas condições, a festa da Natividade de Nossa Senhora leva-nos a perguntar qual o enriquecimento que Ela trouxe para a humanidade e a que título especial a humanidade deve festejar seu nascimento. Se nos colocarmos nessa perspectiva quase não se sabe o que dizer. Porque na ordem da natureza, Nossa Senhora foi concebida sem pecado original.
Assim Ela, única no mundo desde o pecado original, isenta de todas as manchas, um lírio incomparável na formosura do gênero humano, algo, portanto, que deveria dar alegria à terra inteira e a todos os coros angélicos. Apareceu nesse exílio, no meio dessa humanidade, uma criatura sem pecado original.
Mas acontece que, além disso, Nossa Senhora trazia consigo todas as riquezas naturais que dentro de uma mulher possam caber. Nosso Senhor deu a Ela, segundo a ordem da natureza, uma personalidade riquíssima, preciosíssima, valiosíssima e, a esse título, a presença d’Ela entre os homens representava outro tesouro verdadeiramente incalculável.
Mas, se a tudo isso juntarmos os tesouros das graças que vinham com Ela, que Ela tinha consigo e que são as maiores graças que Deus Nosso Senhor tenha concedido a alguém, graças verdadeiramente incomensuráveis, compreendemos então o que representa a entrada de Nossa Senhora no mundo.
O nascer do sol é uma realidade pálida em relação à entrada de Nossa Senhora no mundo. Todos os fenômenos mais grandiosos da natureza que representem algo de precioso, algo de inestimável, nada são em comparação disso. A entrada mais solene que se possa imaginar de um rei ou de uma rainha no seu reino, não é nada em comparação disso.
A alegria de todos os Anjos do Céu, a alegria talvez de muitas almas justas que tenham ficado cientes desse fato, talvez sentimentos confusos de alegria espalhados por aqui e por lá nas almas boas, tudo isso deve ter saudado o momento bendito em que Nossa Senhora entrou no mundo.
Há uma frase de Jó, que eu gosto muito de citar e que me parece adequada para isso: “Bendito o dia que me viu nascer, benditas as estrelas que me viram pequenino, bendito o momento em que minha mãe disse: nasceu um varão”.
Também se poderia dizer: “Bendito o dia em que viu Nossa Senhora nascer, benditas as estrelas que brilharam sobre Nossa Senhora quando pequenina, bendito o momento em que os pais de Nossa Senhora verificaram que tinha nascido a criatura virginal que era chamada a ser a Mãe do Salvador”!

O nascimento de Nossa Senhora num mundo imerso no paganismo e as irrupções da ação d’Ela na alma dos fiéis nos períodos de provação

A Natividade de Nossa Senhora nos traz outro pensamento. O mundo estava prostrado no paganismo. A situação do mundo naquele tempo era parecida com a do mundo de hoje; todos os vícios imperavam, todas as formas de idolatria tinham dominado a terra, a abominação tinha penetrado na própria religião judaica, que era o prenúncio da religião católica; o mal e o demônio venciam inteiramente.
Mas, no momento decretado por Deus em sua misericórdia, Ele arrebenta a muralha, começa a derrocada da ordem do demônio quando menos se podia imaginar, faz nascer Nossa Senhora e, com o nascimento de Nossa Senhora que era a raiz bendita de onde nasceria Nosso Senhor, começava a obra de derrocamento do demônio.
Quantas vezes não se passa coisa semelhante na vida espiritual do católico! Quantas vezes a alma deste, daquele, daquele outro, está em luta, está com problemas, contorcendo e revolvendo-se em dificuldades! A pobre alma nem se dá idéia de quando virá o dia bendito em que uma grande graça, um grande favor irá acabar com seus tormentos, com suas lutas e, afinal de contas, proporcionar-lhe um grande progresso na vida espiritual.
Há aqui o nascimento, num sentido especial da palavra, das irrupções de Nossa Senhora na alma do fiel. E que na noite das maiores dificuldades, das maiores trevas, de repente Nossa Senhora aparece e começa a quebrar as dificuldades com que ele se defronta.
Ela aparece como uma aurora em sua vida e começa a representar algo de novo em sua vida espiritual, que ele nem conhecia.
Há outra consideração também: Nossa Senhora parece tão ausente!
O mundo de hoje é tão parecido com o mundo daquele tempo que, se levarmos em conta que de um momento para o outro Nossa Senhora pode começar a agir, pode tornar sua atividade mais constante, mais contínua, mais intensa do que tem sido até aqui para a restauração de seu Reino, podem começar a acontecer fatos extraordinários que façam sentir sua presença, aí teremos mais uma irrupção de Nossa Senhora no mundo.
E essa irrupção poderia se fazer através do nosso Movimento com tudo quanto ele tem de humanamente pobre, de humanamente fraco. Mas que, como David, pela fé, pela dedicação e pelo uso das táticas da RCR, poderia derrubar e esmagar o gigante da Revolução. Uma ação assim seria uma irrupção de Nossa Senhora na História do mundo, uma manifestação do desejo de Nossa Senhora de vencer. As muralhas que temos derrubado, as graças de que, embora indignos, temos sido canais, não podem representar senão a manifestação da vontade do Imaculado Coração de Maria de implantar seu Reino.
Então, tudo isso nos deve dar muita alegria e muita esperança, com a certeza de que Nossa Senhora nunca abandona seus filhos, e que mesmo nas ocasiões mais difíceis Ela os visita, sua presença como que irrompe entre eles, resolve seus problemas, cura suas dores, dá-lhes a combatividade e a coragem necessárias para cumprirem seu dever até o fim, por mais árduo que seja.

Devemos pedir para haver uma irrupção de Nossa Senhora nos dia de hoje
Um prelado conversava comigo ontem dizendo que sustenta uma tese, para a qual ele até pretende recolher material, que é a seguinte:
Há elementos históricos para dizer que todas as grandes almas que lutaram contra os hereges, os grandes martelos das heresias aparecidos através dos séculos, têm sido escolhidos especialmente por Nossa Senhora, pessoalmente por Nossa Senhora.
A suscitação dessas almas realmente lembra algo de muito bonito existente no brasão dos padres do Imaculado Coração de Maria! Coração de Nossa Senhora e no alto do brasão, São Miguel Arcanjo, e depois essas palavras: “Os filhos d'Ela se levantaram e A proclamaram Bem-aventurada”.
Essa presença de guerreiros espirituais que, como soldados de São Miguel Arcanjo, armados com o gládio da Fé se levantam para combater o adversário, proclamando o Coração de Maria bem-aventurado, isto não seria também uma irrupção de Nossa Senhora na História?
Eu acreditaria que fosse. E devemos pedir que venham esses guerreiros indomáveis, de um ódio implacável ao demônio e aos seus sequazes, à Revolução e às suas obras, desejosos de liquidar - segundo a Lei de Deus e dos homens - a Revolução! Desse ódio à Revolução é que devem estar cheios os corações daqueles que amam realmente Nossa Senhora.
Vamos pedir a Nossa Senhora essa graça especial: que haja uma irrupção d'Ela no mundo de hoje, almas armadas de espírito de luta legal e doutrinária, de espírito implacável de hostilidade à Revolução satânica,  para humilhá-la, para restabelecer definitivamente a glória da Igreja, tão conspurcada pela Revolução neste momento.
De maneira tal que, quando morrerem, se possa colocar na sepultura de cada um d’Eles, esta expressão: Este foi um filho d'Ela, que se levantou e a proclamou Bem-aventurada nessa época de apostasia, de humilhação e desfalecimento da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.

 Nossa Senhora teve o uso da razão desde o primeiro instante de seu ser e já neste momento começou a influir no destino da humanidade

A festa da Natividade está para Nossa Senhora como o Natal para Nosso Senhor. Assim como a festa do Natal celebra o momento bendito em que Nosso Senhor entrou no mundo e começou a fazer visivelmente parte da sociedade humana, a festa da Natividade celebra o momento em que Nossa Senhora entrou no mundo e começou a fazer parte da sociedade humana.
Os senhores me dirão: ­ “Mas o que representa para a sociedade humana a entrada de um bebê nessa sociedade? Uma criança que não tem o uso da palavra, o uso da razão, uma criança que, afinal de contas, não pesa no convívio dos homens...”
Com Nossa Senhora isto não houve. Como Ela era concebida sem pecado original, teve o uso da razão desde o primeiro instante de seu ser; e já a partir do ventre materno Nossa Senhora pensava, e tinha pensamentos elevadíssimos e sublimíssimos, vivendo no seio de Santa Ana como num verdadeiro tabernáculo.
Temos uma confirmação indireta disso no que conta o Evangelho sobre São João Batista. Quando São João Batista - que não foi isento do pecado original, mas teria sido purificado dele ao ouvir a saudação de Maria a Santa Isabel - estremeceu de alegria no seio de Santa Isabel ao ouvir a voz de Nossa Senhora cantando, saudando Santa Isabel. E Santa Isabel disse isso a Nossa Senhora.
Assim também, Nossa Senhora viveu no seio de Santa Ana e desde ali Ela começou a rezar pela humanidade, começou com a ciência altíssima que tinha recebido pela graça de Deus, começou a pedir a vinda do Messias, começou a pedir pela queda de todo Mal no gênero humano, e desde ali formou-se, com certeza, em seu espírito, aquele intuito elevadíssimo, de vir a ser uma servidora do Salvador, que pudesse servir a Mãe do Salvador e ajudá-la. Na realidade, por essa forma Nossa Senhora já começou a influir nos destinos da humanidade.
Mas acontece também que sua presença na terra já era uma fonte de graças para todos aqueles que se aproximavam d’Ela na sua infância e mesmo antes d'Ela nascer.
Se a Escritura nos diz que da túnica de Nosso Senhor saía uma virtude que curava todos, ou melhor, os que tocavam em seu manto beneficiavam-se de uma virtude curativa, quanto mais a Mãe de Nosso Senhor, Aquela que estava escolhida como vaso de eleição.
A presença de Nossa Senhora nessa terra, já como menina, mesmo como criancinha, era uma fonte enorme de graças.
Por isso se pode dizer que, embora Ela fosse criancinha, já em seu natal graças enormes começaram a raiar para a humanidade; já aí o demônio começou a ser esmagado e a vitória da Contra-Revolução começou a ser afirmada e o demônio começou a perceber que algo de seu cetro estava partido e que nunca mais se consertaria.
Compreende-se então como a vinda de Nossa Senhora à terra foi uma graça para todos os homens e compreende-se a importância da festa que celebramos hoje.

Semelhante a “aurora” do luar é o “natal” de Nossa Senhora. Nesta noite devemos pedir a Nossa Senhora uma graça que Ela queira nos conceder

Para resumir, tenham os senhores em mente uma noite de Natal. Há 1963 anos e tanto - simplificando os dados cronológicos - que Nosso Senhor nasceu.
Há 1963 anos que essa festa se repete e em toda noite de Natal tem-se a sensação de que uma bênção enorme desce de Céu sobre a terra e que, de algum modo, as energias espirituais de todos os homens se renovam. Há uma verdadeira aurora.
É por causa disso que a noite de Natal é única no ano. Isso que se dá com a noite de Natal nos dá uma idéia do que foi a primeira noite de Natal, em que Nosso Senhor nasceu.
Ora, como tudo quanto é de Nossa Senhora é muito parecido com o de Nosso Senhor, tudo quanto diz respeito a Ela tem uma íntima conexão com o que diz respeito a Ele, pode-se também imaginar assim na noite de hoje.
Seria bonito que numa noite como a de hoje, tivéssemos uma noção mais viva e mais concreta da Natividade de Nossa Senhora. Que semelhança há entre um e outro? Quando se fala em Natal de Nosso Senhor, lembramo-nos do nascer do sol. Mas se Nosso Senhor é o sol, Nossa Senhora é, muitas vezes, comparada à lua.
E como é bonito vermos a luz que nasce! O nascer da lua não tem a glória do nascer do sol e nem é o nascer do sol; mas quanto tem de parecido, de análogo com o nascer do sol. Como ele é benfazejo, como ele alegra, como ele estimula, como ele consola. Isso nos poderia dar a idéia do que foi esse bendito natal de Nossa Senhora. E como somos - estímulo muito particular - filhos de Nossa Senhora pela consagração a seu Sapiencial e Imaculado Coração conforme o método de São Luis Maria Grignion de Montfort, não por méritos nossos, mas pela vontade d’Ela, podemos pedir nesta noite de hoje, que Nossa Senhora nos dê alguma graça especial.
Já se disse que nas revelações privadas de muitos santos conta-se que nas festas especiais de Nossa Senhora Ela desce ao Purgatório, concede um grande número de graças e leva um número enorme de almas para o Céu e, por outro lado, melhora as condições de muitas almas que não leva para o Céu.
Isto nos dá um pouco a idéia do que Ela faz na Igreja militante. Sua graça baixa sobre nós e nos obtém uma porção de favores. É o momento de pedirmos a Nossa Senhora que nos conceda um favor.
Qual o favor que devemos pedir? Que cada um se recolha um pouco, se concentre e peça uma graça qualquer.
Mas eu sugiro que esteja presente, de modo especial, essa graça: de Nossa Senhora estabelecer com cada um de nós, como que uma aliança especial. Como que constituir vínculos de uma filiação especial na nossa relação com Ela, de maneira que nos tome debaixo de seu amparo particular e que a esse título, nos cure da chaga da alma que Ela mais entenda que nos deva curar. Às vezes não é bem o que imaginamos, mas outra coisa. Aquilo de que mais necessitar nossa alma, que Ela nos dê nessa sua noite de natal.

(“Conferência”, 08 de setembro de 1963)