segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

É FALSA PROFECIA PREGAR A PAZ A UM POVO PECADOR

 



Seria autêntica a pregação moderna da paz a um povo que vive mergulhado no pecado e na ofensa a Deus? Vejamos o que diz a Sagrada Escritura.

“Então eu disse: Ah! Ah! Ah!  Senhor Deus, os profetas dizem-lhe: Não vereis espada, e não haverá fome entre vós, mas ele vos dará paz verdadeira neste lugar. E o Senhor disse-me: Esses profetas falsamente vaticinam em meu nome; não os enviei, nem lho mandei, nem lhes falei; tudo o que vos profetizam é uma visão mentirosa, uma adivinhação, impostura, engano do seu coração. Portanto isto diz o Senhor: Acerca dos profetas, que profetizam em meu nome, sem terem sido enviados por mim, dizendo: A espada e a fome não afligirão esta terra; estes profetas hão de perecer à espada e à fome. Os povos, a quem profetizam, serão lançados nas ruas de Jerusalém, vítimas da fome e da espada, e não haverá quem os sepulte, a eles e suas mulheres, a seus filhos e filhas; e derramarei (o castigo) da sua maldade sobre eles”  (Jer 14, 13-16).

 Mentem os profetas que apregoam a paz

“Aos profetas; o meu coração está feito em pedaços dentro de mim mesmo, todos os meus ossos se abalaram, tornei-me como um homem ébrio, como um homem cheio de vinho, contemplando a face do Senhor, e à vista das suas santas palavras. Porque a terra está cheia de adúlteros, porque a terra chora à vista da maldição; secaram-se os campos dos desertos, a sua carreira tornou-se má, a sua fortaleza já não é a mesma. Porque o profeta e o sacerdote se corromperam e na minha casa encontrei os males que eles lá cometeram, diz o Senhor. Por isso o seu caminho será como um caminho escorregadio nas trevas; serão impelidos e cairão nele; porque farei vir sobre eles males no tempo em que eu os visitar, diz o Senhor.

“Nos profetas da Samaria vi extravagância; profetizavam em nome de Baal, seduziam o meu povo, povo de Israel. Aos profetas de Jerusalém vi imitar os adúlteros e ir após a mentira; fortificaram as mãos dos malvados, para que nenhum se convertesse da sua malícia; tornaram-se todos para mim como Sodoma, e os moradores de Jerusalém como Gomorra.  Portanto isto diz o Senhor dos exércitos aos profetas: Eis que os alimentarei com absinto e lhes darei a beber fel; porque dos profetas de Jerusalém é que se derramou a corrupção sobre toda a terra”.

“Isto diz o Senhor dos exércitos: Não queirais ouvir as palavras dos profetas, que vos profetizam e vos enganam; contam as visões do seu coração, e não (a que sai) da boca do Senhor. Dizem àqueles que blasfemam: O Senhor disse: Vós tereis a paz; e todos aqueles que seguem a perversidade do seu coração disseram: Não virá sobre nós mal algum. Mas qual deles assistiu ao conselho do Senhor, viu e ouviu a sua palavra? Quem considerou a sua palavra e a ouviu?  Eis que se levantará o redemoinho  da indignação do Senhor, e a tempestade desencadeada cairá sobre a cabeça dos ímpios.  O furor do Senhor não retrocederá até que efetua e cumpra o desígnio do seu coração; nos últimos dias entendereis o seu desígnio.  Eu não enviava estes profetas e eles corriam; não lhes dizia nada, e eles profetizavam. Se tivessem assistido ao meu conselho, e tivessem feito saber as minhas palavras ao meu povo, eu os teria certamente desviado do seu mau caminho e dos seus tão depravados pensamentos

“...Eu ouvi o que disseram os profetas, que em meu nome profetizam a mentira, e dizem: Tive um sonho, tive um sonho.  Até quando há de durar isto no coração dos profetas que vaticinam a mentira e que profetizam as ilusões do seu coração?...

“Por esta causa eis que venho contra esses profetas, diz o Senhor, que roubam as minhas palavras cada um ao seu vizinho. Eis que venho contra os profetas, diz o Senhor, que tomam em suas línguas estas palavras e dizem: Oráculo do Senhor. Eis que venho contra os profetas que sonham mentiras, diz o Senhor, que as contam e enganam o meu povo com suas mentiras e os seus milagres, não os tendo eu enviado, nem dado ordem alguma a esses (homens),que nenhum bem têm feito a este povo, diz o Senhor”   (Jer 23, 9-32).

“Isto diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, a Acab, filho de Colias, e a Sedecias, filho de Massias, que vos profetizam falsamente em meu nome: Eis que os entregarei nas mãos de Nabucodonosor, rei de Babilônia, o qual os mandará matar diante dos vossos olhos. Todo o cativo de Judá, que está em Babilônia, se servirá deles para maldizer, dizendo: O Senhor te trate como tratou Sedecias e Acab, que o rei de Babilônia mandou frigir no fogo, por causa de terem feito loucuras em Israel, e adulterado com as mulheres de seus amigos, e pronunciado falsamente em meu nome palavras que eu lhes não tinha mandado dizer  (Jer 29, 21-23).

“Manda dizer a todos os deportados: Isto diz o Senhor a Semeias, neelamita: Porque vos profetizou Semeias, e eu não o enviei; e ele fez com que vós confiásseis na mentira; portanto isto diz o Senhor: Eis que castigarei Semeias, neelamita, e a sua geração; não haverá dele descendente que viva no meio deste povo, e não verá o bem que eu faço ao meu povo, diz o Senhor, porque profetizou a revolta contra o Senhor”  (Jer 29, 31-32).

“Os teus profetas vaticinaram-te coisas falsas e insensatas, e não te manifestavam a tua iniqüidade, para te excitarem à penitência; mas profetizaram-te falsamente sucessos e a expulsão”.  (Lam 2, 14-15).



quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A CONVERSÃO DE SÃO PAULO CONTADA POR ELE MESMO

 




Inicialmente é preciso notar que Quem o converteu foi o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, mas quem o encaminhou para a Igreja, batizando-o e catequizando-o, foram os membros do Corpo Místico de Cristo, ao qual ele perseguia. Estando em Jerusalém, já famoso por suas pregações, São Paulo foi acusado de profanar o templo ao trazer até ali gregos, ou seja, não judeus.  Ao ser preso, fez o seguinte discurso, conforme consta nos Atos:

“Estando para ser recolhido à fortaleza, disse Paulo ao tribuno: “É-me permitido dizer-te uma palavra?” Replicou o tribuno: “Sabes o grego? Não és tu, acaso, o egípcio que, dias atrás, sublevou e arrastou ao deserto quatro bandidos?” Respondeu-lhe Paulo: “Eu sou judeu, de Tarso, da Cilícia, cidadão de uma cidade insigne.  Agora, porém, peço-te: permite-me falar ao povo”. Dando-lhe ele a permissão, Paulo, de pé sobre os degraus, fez sinal com a mão ao povo. Fazendo-se grande silêncio, dirigiu-lhes a palavra em língua hebraica;

“Irmãos e pais, escutai a minha defesa, que tenho agora a vos apresentar”. Tendo ouvido que lhes dirigia a palavra em língua hebraica, fizeram mais silêncio ainda. Ele prosseguiu: “Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui criado aqui nesta cidade. Como discípulo de Gamaliel, fui instruído em todo o rigor da Lei de nossos antepassados, tornando-me zeloso da causa de Deus, como acontece hoje convosco. Persegui até à morte os que seguiam este Caminho, prendendo homens e mulheres e jogando-os na prisão. Disso são minhas testemunhas o Sumo Sacerdote e todo o conselho dos anciãos. Eles deram-me cartas de recomendação para os irmãos de Damasco. Fui para lá, a fim de prender todos os que encontrasse e trazê-los para Jerusalém, a fim de serem castigados. Ora, aconteceu que, na viagem, estando já perto de Damasco, pelo meio-dia, de repente uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, por que me persegues?’ Eu perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ Ele me respondeu: ‘Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu estás perseguindo’. Meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. Então perguntei: ‘Que devo fazer, Senhor?’ O Senhor me respondeu: ‘Levanta-te e vai para Damasco. Ali te explicarão tudo o que deves fazer’. Como eu não podia enxergar, por causa do brilho daquela luz, cheguei a Damasco guiado pela mão dos meus companheiros.

Um certo Ananias, homem piedoso e fiel à Lei, com boa reputação junto de todos os judeus que aí moravam, veio encontrar-me e disse: ‘Saulo, meu irmão, recupera a vista!’ No mesmo instante, recuperei a vista e pude vê-lo. Ele, então, me disse: ‘O Deus de nossos antepassados escolheu-te para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires a sua própria voz. Porque tu serás a sua testemunha diante de todos os homens daquilo que viste e ouviste. E agora, o que estás esperando? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o nome dele!'” (At 21, 37-40 e 22,1-16).

Notemos outra particularidade: quando São Paulo se diz judeu é porque ele tinha participado da religião judaica e não porque havia nascido na Judéia. O termo “judeu” é usado, tanto por ele quanto por São João, no seu Evangelho, para caracterizar os descendentes da tribo de Judá e que dominavam a nação e a religião, tendo alterado todo seu conteúdo ao longo dos anos, isto é, tratava-se de uma elite que formava uma conjuração política e religiosa.  Usou espertamente este título de judeu em seu discurso para atrair a simpatia do povo. Ele se refere a seu batismo como cristão, mas não fala aí do momento em que recebeu o sacramento da Ordem ao ter sobre ele as mãos impostas por um Apóstolo.

São Paulo, o primeiro Apóstolo do Corpo Místico de Cristo

O primeiro a revelar no interior de São Paulo a existência de Seu Corpo Místico nesta terra foi o próprio Cristo, no famoso e conhecido episódio em que o censurava por persegui-Lo e o encaminhava para os cuidados dos primeiros cristãos. Não se fala como o Apóstolo foi sagrado padre e bispo, a não ser que o gesto de Ananias (At 9, 1-17) seja considerado não somente como seu batismo, mas também sua ordenação, quer dizer, recebeu dois sacramentos ao mesmo tempo. Na aparição de Jesus a Ananias já estava prevista a missão de São Paulo como Apóstolo: “... este homem é para mim instrumento de escol para levar o meu nome diante das nações pagãs...” (At 9, 15). Quer dizer, Nosso Senhor instrui o que fazer sobre seu neo convertido, mas quem faz tudo é seu Corpo Místico através de seus membros, apóstolos, sacerdotes ou bispos.

No episódio da conversão de São Paulo poderemos ver uma forma diferente da Providência agir no interior das almas. No seu apostolado em vida, Nosso Senhor Jesus Cristo usava dos sentidos humanos para converter as pessoas, aguardando que a ação do Pai e do Espírito Santo no interior das almas seja correspondida. Assim, Ele discursava e operava maravilhas, no entanto deixando o interior das almas por conta de cada um e das outras 2 Pessoas da Santíssima Trindade. Após Sua subida aos Céus a ação conjunta da Santíssima Trindade passou a ser mais apropriada, operando assim um grande poder de conversão na Igreja nascente.

Discípulos que realizam obras maiores do que o Fundador

Mesmo na companhia de Jesus Cristo, os Apóstolos não realizaram milagres ou pregaram como deviam, nem sequer um exorcismo conseguiram fazer. E, no entanto, Nosso Senhor disse que “aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará outras ainda maiores...” (Jo 14, 12). E porque a ação da Santíssima Trindade neles passou a ser mais eficaz após o Pentecostes e por intermédio de uma intercessão poderosa que é o Corpo Místico aqui deixado entre nós.  Foi assim que a Providência nos deixou os Sacramentos, a Confissão, a Comunhão, a Santa Missa, etc., meios com que as almas puderam mais eficazmente santificar-se.  Os primeiros mártires, como Santo Estêvão, receberam os dons sagrados desta vida divina através do Corpo Místico de Cristo, por intermédio de seus membros aqui na terra. Jesus Cristo, enquanto vivia entre nós, não tinha disposto a coisa assim, mas apenas operava prodígios a fim de conseguir formar seu grupo de seguidores, de discípulos e apóstolos, os quais deveriam ser membros de Seu Corpo Místico após sua morte. E desta forma a Igreja Católica, criada por Ele, conseguiu dá início à fundação de Seu Reino entre nós.

Segundo definição de São João, em seu Evangelho, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade era o Verbo, era a Palavra, como se diz. São Tomás de Aquino na Suma, assim fala sobre o poder da Palavra processar outra Pessoa Divina:

“Nas pessoas divinas há duas processões: a da Palavra e outra. Para demonstrá-lo há que ter presente que nas pessoas divinas não há processão mais que enquanto ação que não tende para algo externo, mas que permanece no mesmo agente. Assim, esta ação na natureza intelectual é ação da vontade. A processão da Palavra corresponde à ação intelectual. Pela operação da vontade em nós se encontra outra processão, a do amor, pela qual o amado está em quem ama, como pela concepção da palavra o dito ou entendido está em quem tem entendimento. Por isso, ademais da processão da Palavra há outra processão nas pessoas divinas, e é a geração do amor. (I, Q. 27, art. 3) »

Quer dizer, é mais ou menos isso que pode significar a razão de São Paulo haver tido um tal grau de santidade, a ponto de ter-se equiparado ao próprio São Pedro como peça fundamental na propagação da Fé Cristã. Por que São Paulo aparentemente recebeu ou correspondeu mais às graças da vocação do que os outros Apóstolos, os quais, no entanto, foram doutrinados pelo próprio Cristo em vida? É que a ação na alma dele foi direta do Espírito Santo e do Pai, diferente dos outros que usavam mais os sentidos humanos para entender as pregações de Jesus Cristo, e, também de uma forma interior, mas menos intensa. Quer dizer, a ação do Corpo Místico de Cristo, agora dirigido por Ele diretamente do Céu com as outras 2 Pessoas divinas, passou a ser mais eficiente. O novo cristão recebia não só a pregação, a doutrina, mas agora tinha o poder dos Sacramentos, o Batismo, a Confissão, a Santa Missa, a Confissão e todos os demais. As 3 Pessoas da Santíssima Trindade passavam a habitar completamente as almas.

Há vários episódios na História em que os discípulos realizaram maiores feitos do que os Fundadores. No Antigo Testamento consta, por exemplo, os casos de Josué que venceu mais reis (cerca de 33) do que Moisés, Eliseu que realizou mais milagres do que Elias (inclusive uma ressurreição), e na história da Igreja há os casos de São Francisco Xavier, o qual realizou mais portentosos milagres do que Santo Inácio. E o caso especialíssimo de São Tiago de Compostela, que fez milagre maior do que Cristo ressuscitando Lázaro, pois ressuscitou um judeu que jazia na sepultura há vários anos, o qual foi batizado e tornou-se o primeiro bispo da península ibérica, São Pedro de Rates, de Braga, Portugal.

A doutrina de São Paulo sobre o Corpo Místico de Cristo

Quando Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a São Paulo e lhe disse: “Saulo, por que me persegues?” – deixou bem claro que era seu Corpo Místico que estava sendo perseguido. É claro que Saulo não entendeu, no momento, o que queriam dizer estas palavras, mas só algum tempo depois com as inspirações interiores recebidas do Espírito Santo. E compreendeu tão bem seus significados que procurou explicitá-las, deixando esparsa em algumas epístolas de suas cartas a sua doutrina sobre o Corpo Místico de Cristo, como, por exemplo:

“Porventura não sabeis que os vossos membros são templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus e que não pertenceis a vós mesmos?” (I Cor 6, 19)

“[Cristo] É a cabeça da Igreja, que é seu Corpo”  (Col 1, 18). “O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Cl 1, 24); “O constituiu chefe supremo da Igreja, que é o seu corpo” (Ef 1, 22-23); “A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo” (Ef 4, 11-12); “Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador (Ef 5, 23); “como Cristo faz à sua Igreja, porque somos membros de seu corpo” (Ef 5, 29). "Pois, assim como num só corpo, temos muitos membros e os membros não têm a mesma função, de modo análogo, nós somos muitos e formamos um só corpo em Cristo, e todos e cada um membros uns dos outros" (Rm 12, 4-5)

 “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só Espírito para formar um só Corpo, judeus ou gentios, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito. O corpo não se compõe de um só membro, mas de muitos. Se o pé disser: Mão eu não sou, logo eu não pertenço ao corpo, nem por isto deixará de fazer parte do corpo. E se a orelha disser: Olho eu não sou, logo não pertenço ao corpo, nem por isto deixará de fazer parte do corpo. Se o corpo fosse todo olho, onde estaria a audição? Se fosse todo ouvido, onde estaria o olfato?

Mas, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se o conjunto fosse um só membro, onde estaria o corpo? Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: Não preciso de ti; nem tampouco pode a cabeça dizer aos pés: Não preciso de vós.

Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são os mais necessários, e aqueles que parecem menos dignos de honra do corpo, são os que cercamos de mais honra, e nossos membros que são menos decentes, nós os tratamos com mais decência; os que são decentes não precisam de mais cuidados. Mas Deus dispôs o corpo de modo conceder maior honra ao que é menos nobre, a fim de que não haja divisão no corpo, mas os membros tenham igual solicitude  uns com os outros. Se um membro sofre, todos os membros compartilham o seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros compartilham a sua alegria.

Ora, vós sois o Corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, doutores... Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência, do governo e o de falar diversas línguas " (l Cor 12, 12-28).

Em outro oportunidade, o Apóstolo chega a afirmar que um membro pode também contribuir para a formação de outros membros do Corpo Místico de Cristo, como ele próprio o fazia: “Quos iterum parturio, donec formetur Christus in vobis” (Gal 4, 19): Dou à luz todos os dias os filhos de Deus, até que Jesus Cristo seja nele formado em toda a plenitude de sua idade.

 


terça-feira, 24 de janeiro de 2023

SÃO FRANCISCO DE SALES

 




 Apontando-nos os Santos como exemplo, a Igreja Católica destrói, sem argumentar, a pretensa ignorância e humildade de condição dos que seguem os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Encontramos, de fato, entre eles, muitos que se dedicaram durante a vida a misteres mais humildes e que, muitas vezes, desdenharam a instrução, para cultivarem apenas a verdadeira sabedoria, que é o amor de Deus. Porém, ao lado deles, e em não menor número, se acham reis, rainhas, nobres e sábios, relembrando quotidianamente, e com a força irrecusável dos fatos, que seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo nada mais exige do que a boa vontade.

A condição social e a ciência são, separadamente, os dois obstáculos que os incrédulos julgam existir para a difusão da Igreja. E a Igreja responde-lhes com a vida de um São Francisco de Salles, que aliava à nobreza de sua família uma ciência invulgar adquirida com brilhantismo nos melhores colégios de França.

São Francisco foi enviado pelo pai a Paris para estudar. Sua mãe, no entanto, que temia pela virtude do filho assim abandonado numa grande cidade, despediu-se dele recomendando-lhe insistentemente a frequência aos Sacramentos, afirmando preferir vê-lo morto a saber que um dia tivesse cometido um pecado mortal.

São Francisco progrediu rapidamente nos estudos, fazendo-se admirado pelos professores e colegas, não só pela sua inteligência, como pela virtude que conseguia manter no meio de tantos perigos, recebendo frequentemente os Sacramentos.

Nosso Senhor desejava, no entanto, grandes coisas de São Francisco e por isso submeteu-o a uma aridez completa com a ideia de que estava predestinado ao inferno, de nada lhe valendo todo o esforço empregado para se salvar.

Obcecado por essa ideia, São Francisco, um dia, ajoelhou-se aos pés de Nossa Senhora, e entre lágrimas, rezou a oração de São Bernardo (o “Lembrai-vos”), acrescentando-lhe: “Ó minha Senhora e Rainha, sede minha intercessora junto de Vosso Filho, perante o qual não me atrevo a comparecer. Queridíssima Mãe, se tiver a infelicidade de não amar a Deus no outro mundo, alcançai-me a graça de amá-lo o mais possível enquanto aqui estou!”

Desde esse dia cessou completamente essa tentação. Nosso Senhor ouviu a oração belíssima de São Francisco, que se entregava completamente à sua vontade, a ponto de não titubear em amá-Lo e servi-Lo neste mundo sem nenhuma recompensa no outro.

Acabados os estudos, São Francisco ordenou-se apesar da oposição do pai e o Papa nomeou-o preboste de Genebra, que era o centro da heresia calvinista.

Desdobrou-se São Francisco em atividade, procurando por todas as formas destruir a heresia. Setenta e dois mil calvinistas ele trouxe para o seio da Igreja Católica, e quando pela morte do Bispo de Genebra a diocese passou para suas mãos, visitou-a inteira a pé exortando os fiéis à perseverança e procurando mostrar aos hereges os seus erros.

Vinte anos ele dirigiu a diocese de Genebra, apesar das ciladas que armavam os calvinistas, para retirar do seu caminho o grande Bispo que tantos claros abria em suas fileiras, apenas com a palavra, a mansidão e o exemplo.

Aos 56 anos, São Francisco entregou a Deus a sua alma. 23 anos depois o Papa Alexandre VII inseriu o seu nome no catálogo dos Santos e em 1933 foi declarado Doutor da Igreja e Padroeiro da Imprensa e dos jornalistas.

São Francisco foi durante a vida um verdadeiro lutador da Igreja contra a heresia, e hoje em dia a imprensa católica é também obrigada, ao mesmo combate, pois o mundo se abisma cada vez mais na heresia e na dissolução dos costumes, com a cumplicidade da chamada imprensa neutra.

Só a Imprensa Católica se oporá a essa onda, e só o espírito de sacrifício, que animava São Francisco de Sales a combater a heresia calvinista em sua própria sede, poderá fazer com que ela vença a indiferença que a cerca e possa combater eficientemente contra a Imprensa neutra, que esconde atrás de sua suposta neutralidade, um verdadeiro ódio à Igreja de Nosso Senhor.

Que São Francisco de Sales interceda junto a Nosso Senhor, d’Ele conseguindo a graça sem a qual nada poderá ser feito e dando a todos os jornalistas católicos o espírito de sacrifício necessário para sua obra.

 (Plínio Corrêa de Oliveira – “Legionário”, 23 de janeiro de 1938, pág. 5)

 


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

DESPONSÓRIOS DA VIRGEM MARIA COM SÃO JOSÉ

 



Maria vivia entretanto no Templo com muitas outras jovens sob a custódia das piedosas matronas, ocupadas em bordar, em tecer e em trabalhos para as cortinas do Templo e as vestimentas sacerdotais. Também limpavam as vestimentas e outros objetos destinados ao culto divino. Quando chegava o tempo da maioridade se casavam. Seus pais as haviam entregue totalmente a Deus e entre os israelitas mais piedosas existia o pressentimento de que de um desses matrimônios se produziria o advento do Messias. Quando Maria tinha quatorze anos e devia sair logo do Templo para casar-se, junto com outras sete jovens, vi Santa Ana visita-la no Templo. Ao anunciar a Maria que devia abandonar o Templo para casar-se a vi profundamente comovida, declarando ao sacerdote que não desejava abandonar o Templo, pois se havia consagrado somente a Deus e não tinha inclinação para o matrimônio. A tudo isto foi respondido que devia aceitar algum esposo. A vi logo em seu oratório, rezando a Deus com muito fervor. Recordo que, tendo muita sede, desceu com seu pequeno cântaro para recolher água de uma fonte ou reservatório e que ali, sem aparição visível, escutou uma voz que a consolou, fazendo-lhe saber ao mesmo tempo que era necessário aceitar esse casamento. Aquilo não era a Anunciação, que me foi dado ver mais tarde em Nazaré. Acreditei, sem embargo, haver visto desta vez a aparição de um anjo. Em minha juventude confundi às vezes este fato com a Anunciação, acreditando que havia ocorrido no Templo.

Vi um sacerdote muito idoso, o qual não podia caminhar: devia ser o Sumo Pontífice. Foi levado por outros sacerdotes  até o Santo dos Santos e enquanto preparava um sacrifício de  incenso lia as orações num rolo de pergaminho colocado sobre uma espécie de átrio. Achando-se arrebatado em êxtase teve uma aparição e seu dedo foi levado sobre o pergaminho à seguinte passagem de Isaías: “Um rebroto sairá da raiz de Jessé e uma flor surgirá dessa raiz”.[1] Quando o ancião voltou a si leu esta passagem e teve conhecimento de algo a respeito.

Logo foram enviadas mensagens a todas as regiões do país convocando ao Templo todos os homens da estirpe de David que não eram casados. Quando vários deles se encontravam reunidos no Templo, em trajes de festa, lhes foi apresentada Maria. Entre eles vi um jovem muito piedoso de Belém, o qual havia pedido a Deus, com grande fervor, o cumprimento da promessa: em seu coração vi um grande desejo de ser eleito por esposo de Maria. Quanto a esta, voltou para sua cela e derramou muitas lágrimas, sem poder imaginar sequer que haveria de permanecer sempre virgem.

Depois disto vi o Sumo Sacerdote, obedecendo a um impulso interior, presentear uns ramos aos assistentes, ordenando que cada um deles marcasse um ramo com seu nome e o mantivesse na mão durante a oração e o sacrifício. Quando fizeram isso os ramos foram tomados novamente de suas mãos e colocados num altar diante do Santo dos Santos, sendo lhes anunciado que aqueles dentre eles cujo ramo florescesse seria o designado pelo Senhor para ser o esposo de Maria de Nazaré. Enquanto os ramos estavam diante do Santo dos Santos seguiu celebrando-se o sacrifício e continuou a oração. Durante este tempo vi um jovem, cujo nome não recordo, invocar a Deus numa sala do Templo, com os braços estendidos e derramando ardentes lágrimas, quando após o tempo marcado lhes foram devolvidos os ramos “anunciando-lhes que nenhum deles havia sido designado por Deus para ser esposo daquela Virgem”. Voltaram os homens para suas casas e o jovem retirou-se para o Monte Carmelo, junto com os sacerdotes que viviam ali desde o tempo de Elias, ficando com eles e rezando continuamente o cumprimento das Promessas.

Logo vi os sacerdotes do Templo buscando novamente nos registros das famílias se ficava algum descendente da família de David que não havia sido chamado. Encontraram a indicação de seis irmãos que habitavam em Belém, um dos quais era desconhecido e andava ausente há muito tempo. Buscaram o domicílio de José, encontrando-o a pouca distância de Samaria, num lugar situado perto de um riacho. Habitava à margem do rio e trabalhava sob as ordens de um carpinteiro. Obedecendo às ordens do Sumo Sacerdote acudiu José a Jerusalém e apresentou-se no Templo. Enquanto rezavam e ofereciam sacrifícios puseram-lhe também nas mãos uma vara, e no momento em que ele se dispunha a deixa-la sobre altar, diante do Santo dos Santos, brotou da vara uma flor branca, semelhante a uma açucena; e pude ver uma aparição luminosa descer sobre ele: era como se nesse momento José houvesse recebido o Espírito Santo. Assim se soube que este era o homem designado por Deus para ser prometido de Maria Santíssima, e os sacerdotes o apresentaram a Maria em presença de sua mãe. Maria, resignada com a vontade de Deus o aceitou humildemente, sabendo que Deus tudo podia, posto que Ele havia recebido seu voto de pertencer somente a Ele.

As bodas de Maria e José, que duraram de seis a sete dias, foram celebradas em Jerusalém numa casa situada perto da montanha de Sion que se alugava amiúde para ocasiões semelhantes. Além das mestras e companheiras de Maria da escola do Templo, assistiram muitos parentes de Joaquim e de Ana, entre outros um matrimônio de Gofna com as filhas. As bodas foram solenes e suntuosas e se ofereceram e se imolaram muitos cordeiros como sacrifício no Templo.

Pude ver muito bem a Maria com seu vestido nupcial. Levava uma túnica muito ampla e aberta pela frente, com amplas mangas. Era de fundo azul, com grandes rosas coloridas, brancas e amarelas, mescladas com folhas verdes, a modo das ricas casulas dos tempos antigos. A borda inferior estava adornada com franjas e bordados. Por cima do traje levava um véu celeste parecido a um grande pano. Além deste manto, as mulheres judias portavam em certas ocasiões  algo assim como um abrigo sob um manto com mangas. O manto de Maria lhe caía sobre os ombros volvendo para a frente por ambos os lados e terminando numa cola. Levava na mão esquerda uma pequena coroa de rosas brancas e roxas de seda; na direita tinha, a modo de cetro, um formoso candeeiro de ouro sem pé, com uma pequena bandeja sobreposta em que ardia algo que produzia uma chama branquinha.

As jovens do Templo arrumaram o cabelo de Maria, terminando o toucado em muito pouco tempo. Ana havia trazido o vestido das bodas, e Maria, em sua humildade, não queria coloca-lo depois dos esponsais. Seus cabelos foram ajustados em torno da cabeça, do qual pendia um véu branco que caía por debaixo dos ombros. Sobre este véu lhe foi posto uma coroa. A cabeleira de Maria era abundante, de cor ruiva dourada, sobrancelhas negras e altas, grandes olhos de pálpebras habitualmente entornadas com largas pestanas negras, nariz de bela forma um pouco alargada, boca nobre e graciosa, e fino queixo. Sua estatura era mediana. Vestida com seu formoso traje, seu andar era cheio de graça, decência e gravidade. Vestiu-se logo para o matrimônio com outro  atavio menos adornado, do qual possuo um pequeno pedaço que guardo em minhas relíquias. Portava estre traje listrado em Caná e em outras ocasiões solenes. Às vezes voltava a colocar seu vestido de casamento quando ia ao Templo. Pessoas acomodadas mudavam três ou quatro vezes seus vestidos nas bodas. Nesse traje de gala Maria me recordava certas mulheres ilustres de outras épocas, por exemplo, Santa Helena e Santa Cunegundes, ainda que distinguindo-se delas pelo manto em que se envolviam as mulheres judias, mas parecido ao das damas romanas. Havia em Sion, na vizinhança do Cenáculo, algumas mulheres que preparavam formosas telas de todas as classes, segundo pude ver a propósito de seus vestidos. José levava um traje largo, muito amplo, de cor azul com largas mangas e presas às costas por cordões. Em volta do pescoço tinha uma capa parda ou melhor uma ampla estola, e no peito duas tiras brancas.

Vi todos os pormenores dos esponsais de Maria e José: a comida da festa e as demais solenidades; porém vi ao mesmo tempo outras tantas coisas. Encontro-me tão enferma, tão molesta de mil diversas formas, que não me atrevo a dizer mais para não introduzir confusão em certos relatos.

 (LA VIDA DE JESUCRISTO Y DE SU MADRE SANTÍSSIMA (Desde el nascimiento de Maria Santíssima hasta la muerte de San José) – Segun las visiones de la Ven. Catalina Emmerick - TOMO II – Revisa Cristandad y Editgorial Surgite – páginas 68/71)

 



[1] Isaías 11, 1


quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

PRESIDENTE JUSCELINO E O PAPA PIO XII

 





DISCURSO DO PAPA PIO XII
POR OCASIÃO DA VISITA DO PRESIDENTE ELEITO
DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL SUA EXCELÊNCIA
O SENHOR JUCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA*

Quinta-feira, 19 de Janeiro de 1956

 

A Vossa visita, Senhor Presidente, se honra altamente a vossa fé, a Nós consola-Nos vivamente, porque Nos assegura mais um período de boa inteligência e de amistosa cooperação entre a Igreja e o Estado, para bem e prosperidade do Brasil.

Chamada a eleger o Chefe do Estado para o novo período presidencial, a Nação, com o seu voto, reconhecia e consagrava os altos méritos de Vossa Excelência, a energia dinâmica e as exímias qualidades administrativas por tantos anos demonstradas no Estado de Minas e na sua capital « coração do Brasil », e simultaneamente manifestava o desejo de as ver resplandecer em mais vasto campo, no governo de todo o Pais.

São bem conhecidos os propósitos de V. E., de fazer o possível pelo desenvolvimento económico e industrial do Brasil, pondo em eficiência os imensos tesouros de riquezas naturais com que a próvida mão do Criador o enriqueceu.

Sabemos também dos esforços feitos no passado e dos propósitos atuais de empenhar maiores diligências ainda, para elevar económica e socialmente o nível de vida das classes mais deserdadas e humildes, de modo que todos possam viver mais desafogada e honradamente, como cidadãos da mesma pátria, como irmãos da mesma família, da grande Pátria Brasileira, da grande família dos filhos de Deus.

E Nós, conhecendo os sentimentos de V. E., estamos certo de que a par da elevação económica e material, terá sumamente a peito a elevação do nível espiritual, que dê àquela a sua verdadeira fisionomia e dignidade, animando-a e vivificando-a com a caridade cristã, de modo que, prevenindo ou atalhando antagonismos e lutas de classe, se estreite cada vez mais a mútua união e concórdia de todos os cidadãos e consequentemente de todos os Estados.

Com estes propósitos de governo e confiado na Providência do Todo-poderoso, sem cuja assistência não há casa que se edifique sòlidamente, nem cidade a cuja defesa baste a vigilância dos que a guardam, pode V. E. encarar serenamente o futuro, segundo a áurea máxima do maior dos seus oradores : « Agradar e servir a Deus, e logo confiar animosamente ».

As incertezas da hora presente são grandes, a propaganda deletéria, múltipla e eficazmente conduzida por toda a parte; nem o Brasil se pode considerar tão protegido, que não tenha motivos de se guardar e estar alerta.

Mas confiamos na Bondade omnipotente de Cristo Redentor e no auxílio da Virgem Imaculada, Padroeira do Brasil, que assistirão sempre V. E. e seus dignos colaboradores, de modo que o período do seu governo seja de verdadeira Ordem e Progresso, de prosperidade material e espiritual, nacional e internacional do povo e Nação Brasileira.


AAS 48 (1956), p.93-94.

Discorsi e radiomessaggi XVII, p.483-484.

L’Osservatore Romano 20.1.1956, p.1.


terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A CLASSE MÉDIA, SEMPRE A CLASSE MÉDIA

 A CLASSE MÉDIA, SEMPRE A CLASSE MÉDIA!


Este diálogo, imaginado na peça teatral “Le Diable Rouge”, de Antoine Rault, entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, é bem atual. 

Colbert:- Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…

Mazarino:- Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas e não consegue honra-las, vai parar na prisão. Mas o Estado é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

Colbert:- Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino:- Criando outros.

Colbert:- Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino:- Sim, é impossível.

Colbert:- E sobre os ricos?

Mazarino: -E os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta, faz viver centenas de pobres.

Colbert: - Então, como faremos?

Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

 

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Descrição dos personagens acima:

Mazarino – ou Jules Mazarin (1602-1661) (na Itália o chamavam de Giulio Mazarini), político italiano que se destacou como regente do trono francês (após ter sucedido Richelieu como primeiro ministro de Luís XIV). Recebeu o título de Cardeal, como era conhecido e chamado, mas não nunca foi eclesiástico, e sim um simples leigo. 

Colbert (Jean-Baptiste Colbert 1619-1683), político francês, destacou-se como ministro da economia de Luís XIV


domingo, 15 de janeiro de 2023

SOBRE A CASTIDADE MATRIMONIAL - VI

 


Exemplos de mães que cumpriram seu papel na formação moral familiar em busca da santidade

 Santa Mônica, a mãe do grande Santo Agostinho, teve importante papel na conversão do mesmo.  Conta santo Afonso de Ligório: "Santo Agostinho nos ensina que sua mãe, Santa Mônica, vivia em paz com seu marido, apesar de ele ser de um caráter difícil e irascível. Suas vizinhas, em cujas casas reinava frequentemente a discórdia, lhe perguntaram um dia como ela fazia para conservar a paz de que gozava. A Santa lhes respondeu: "Os desagrados que sentis de parte de vossos maridos, estai persuadidas de que não são tanto causados pelos defeitos deles, mas pelos vossos: replicando-lhes, vós amargurareis o humor deles, e caireis assim continuamente na confusão. Quando vejo meu marido de mau humor, não digo nada, suporto-o pacientemente, e rezo a Deus por ele; deste modo, vivo em paz. Fazei assim, e vivereis também vós em paz".

Mais recentemente, São João Batista Vianey, o Cura d'Ars, quando era felicitado por causa de seu prematuro gosto pela piedade, dizia: "Depois de Deus, isto é obra de minha mãe. Como era prudente! A virtude passa facilmente do coração das mães para o coração dos filhos...  Jamais um filho que tem a felicidade de ter uma boa mãe deveria olhá-la ou pensar nela sem chorar". A mãe dele, enquanto se ocupava dos afazeres do lar, instruía seu pequeno filho por meio de palavras simples, com frases infantis. Foi assim que ela lhe ensinou, com o Pater e a Ave Maria, as noções elementares sobre Deus e sobre a alma. Quando iam à Missa, ela ficava ajoelhada no banquinho da família e explicava ao filho os diversos movimentos do Padre. O menino rapidamente tomou gosto pelas cerimônias santas. 

"Mamma Margherita", cujo nome era Margherita Occhiena foi outra mãe que formou de forma extraordinária seu filho, São João Bosco. Margherita Occhiena nasceu em Capriglio, (Asti, norte da Itália), a 1 de abril de 1788. Casada com Francesco Bosco, mudou-se depois para I Becchi. Depois da morte de seu marido, aos 29 anos, teve que tomar conta da família sozinha numa época muito atribulada.

Mulher forte, de ideias claras, de fé rija, muito decidida, seguia um estilo de vida simples e preocupou-se principalmente em dá uma educação católica a seus filhos. Teve que mandar estudar fora ao menor dos filhos, João Bosco, com o objetivo de oferecer-lhe melhores oportunidades e também de trazer mais paz no lar, pois os mais velhos o tratavam muito mal.

Quando São João Bosco foi ordenado sacerdote, em 1848, Margherita resolveu acompanhá-lo, contando ela então com seus 58 anos de idade, e o seguiu em sua missão entre os meninos pobres e abandonados de Turim. Durante 10 anos mãe e filho uniram suas vidas com o início da Congregação Salesiana.  Foi ela de capital importância para São João Bosco absorver os princípios que praticou, especialmente o “Sistema Preventivo” aplicado por ele aos seus pupilos.

É tida como co-fundadora da Família Salesiana, capaz de formar tantos santos, como São Domingos Sávio, Miguel Ruas e outros. Era analfabeta, mas vivia cheia daquela sabedoria que vem do alto e que só a posse de Deus o concede aos justos e santos como ela. Para ela Deus era o primeiro em tudo, consumindo sua vida no serviço divino, na pobreza, na oração e no martírio.

Vejam o conselho que ela dá ao filho logo após sua ordenação sacerdotal: "João, agora és Padre! Agora dirás Missa todos os dias. Lembra-te bem disso: começar a dizer missa é começar a sofrer. Não o perceberás logo; mas um dia, mais tarde, verás que tua mãe tinha razão. Todas as manhãs, tenho certeza, hás de rezar por mim. Não te peço outra coisa. De hoje em diante pensa somente na salvação das almas e não te preocupes absolutamente comigo". Este conselho apenas reflete toda uma educação de décadas que a mãe dera àquele filho, quando incutiu-lhe o espírito de oração e de sacrifícios, de tal forma que o fez tornar-se santo.

Não restam dúvidas de que "Mamma Margherita" era santa e dotada do dom de discernimento dos espíritos. Tinha agudíssima percepção dos perigos que ameaçavam o filho e sempre lhe prevenia, principalmente na época em que ele sofreu vários atentados e foi avisado por ela.

Desde a infância de Dom Bosco, Mamma Margherita procurou incutir-lhe um verdadeiro horror pela impureza, grande amor á pobreza, entranhado enlevo pelas coisas da Igreja Católica e piedosa devoção à Nossa Senhora. O filho via que sua mãe era uma pessoa de grande temperança, sem febricitações, maus humores ou atitudes extravagantes. Formava seus filhos contando-lhes histórias de guerreiros, príncipes, castelos e princesas. A História Sagrada era contada para eles de forma cativante.  Dom Bosco dizia que era uma boa narradora de histórias para crianças.

Naquela época havia uma falsa idéia de que a Primeira Comunhão só deveria ser dada quando a pessoa ficasse adulta. Ao contrário, Mamma Margherita preparou Dom Bosco desde cedo para receber Cristo Sacramentado. Aos onze anos de idade, compareceu ele perante o Sacerdote para ser interrogado se estava preparado para receber a Sagra Hóstia. O padre ficou surpreso quando soube que a humilde camponesa havia preparado o próprio filho. E no dia da Comunhão, ela não o deixou falar com ninguém antes da Missa, fazendo-o ver que aquele era um dia especial e muito solene para sua alma. Depois, ajudou-o na Ação de Graças e deu-lhes estes conselhos: comungar sempre, dizer tudo na confissão, jamais cometer sacrilégio comungando indignamente e fugir das más companhias como se foge da peste.

Apesar de ser uma pobre camponesa, sabia se manter sempre bem composta no trajar, asseada e com a roupa alinhada. Mantinha uma conversação tão agradável que atraía pessoas de alta projeção social, como o Marquês de Pallavicini e alguns hierarcas famosos, os quais se deliciavam ouvindo-a conversar. A todos recebia com cândida naturalidade.  Seu amor à pobreza era tão grande que fez a seguinte advertência quando soube que o filho queria ser sacerdote: "Se resolver seguir a carreira de padre secular e, por desgraça, tornar-se rico, não lhe farei uma só visita, nunca porei os pés na sua casa".

No leito de morte, Mamma Margherita afirmou a São João Bosco: "Se você soubesse como o amei. Mas na eternidade ainda será melhor. Fiz tudo o que pude. Se algumas vezes pareci severa, foi para o bem. Diga às crianças que trabalhei por elas como uma mãe".  Alguns anos após sua morte, ela apareceu em sonhos ao filho e disse que estava no céu, tendo passado antes pelo purgatório. Depois, concluiu: "Eu o espero, porque você e eu não podemos estar separados".

A 31 de janeiro de 1940, afirmou o Papa Pio XII, referindo-se a ambos: "A mãe que ele teve explica, em grande parte, o pai que foi para os outros".  Mamma Margherita havia falecido no ano de 1856. Através de decreto publicado pela Congregação para a Causa dos Santos o Papa Bento XVI a declarou Venerável no dia 23 de outubro de 2006.  A notícia ocorre a poucos dias de se festejar o sesquicentenário (150 anos) de sua morte,  a 26 de novembro de 2006. Os salesianos afirmam que a Congregação Salesiana nasceu no regaço de Mamá Margherita, que lhes legou sua presença maternal e feminina no Sistema Preventivo da escola de Dom Bosco. Morreu aos 68 anos, em Turim, no dia 26 de novembro de 1856.

Santa Clotilde, esposa de Clóvis, rei dos francos (séc. V e VI), era muito obediente e submissa a seu marido; e assim conseguiu ganhá-lo para Cristo. Costumava ela dizer: "Deixei minha própria vontade esquecida na casa de meus pais. Aqui não tenho outra que a de meu marido". Por isso Clóvis disse mais de uma vez: "Eu venci cem batalhas, mas fui vencido por Clotilde".

Santa Hedviges (séc. XIII), era de sangue real (Condessa, filha do Conde Bertoldo, duque de Caríntia, margrave de Meran e conde do Tirol) e foi tornada mais ilustre ainda pela inocência e pureza de sua vida. Normalmente se tem idéia de que toda santa ou santo provém de uma Ordem religiosa. No entanto, existem muitos santos leigos,  às vezes até casados e pais de família. Ou, melhor dizendo, santas casadas e mães de família. Santa Hedviges tinha apenas 12 anos quando seus pais a casaram com Henrique, duque da Polônia. Foi santo este casamento; dele nasceram  seis filhos que ela educou no temor de Deus.

Aos vinte anos, de comum acordo com seu esposo, tomou a resolução de viver em completa continência, e ambos fizeram votos neste sentido perante a autoridade eclesiástica local. Com permissão de seu esposo, Santa Hedviges dedicava os dias de festa, bem como a Quaresma, a exercícios de mortificações. Um de seus lemas era: "Quanto mais ilustre for pela origem, tanto mais a pessoa se deve distinguir pela virtude, e quanto mais alta a posição social, tanto maior obrigação se tem de edificar o próximo pelo bom exemplo". Este lema ela fazia cumprir em ações, era parte de sua vida, e foi exemplo vivo ao esposo e filhos.

 

Santa Isabel de Portugal foi outra santa de sangue real, rainha de Portugal, uma perfeita mãe de família. Demonstrou-o pelo terno afeto e submissão de que deu provas a seu indigno esposo, que a perseguiu tenazmente, para o qual conseguiu com suas orações a graça de uma santa morte. Maior desvelo ela manifestou pelos filhos que lhe foram rebeldes, aos quais ela sempre dedicou esmerado cuidado em ministrar uma educação cristã. 

É considerada a mais querida e popular rainha de Portugal. Com doze anos apenas, veio para Portugal, tendo se casado em Trancoso com Dom Dinis. Trazia consigo a fama de excepcionais virtudes que a natureza acrescentara aos dotes físicos de uma beleza pouco vulgar, calma e equilibrada. Tão maravilhado ficou o rei-poeta que logo lhe fez tantas doações de senhorios e terras como nenhuma outra rainha portuguesa até então possuíra . Uma antiga “Relação” descreve do seguinte modo a benemerência desta mulher sem par: mandava Santa Isabel vestir os esfarrapados que avistava, visitava os enfermos ulcerosos, punha sem repugnância as mãos sobre as cabeças dos doentes e fazia-os tratar pelos seus médicos e enfermeiros. Distribuía nos dias solenes do ano numerosos socorros pelos domicílios, às pessoas necessitadas e a muitos mosteiros, tanto no reino como no estrangeiro.

Procurava com ardor dissolver as discórdias que haviam entre as casas nobres. Tentava por todos os modos proteger donzelas e viúvas para que a miséria não as lançasse na perdição. Os seus costumes eram em tudo modestos , humildes e castos .

Porem esta mulher que toda a vida tentou distribuir e dar amor, não foi correspondida inteiramente por seu esposo. Quantas vezes esquecida pelo marido,  Santa Isabel procurou manter sempre uma serenidade exemplar e tratou frequentemente de apaziguar os ódios e lutas que as intrigas palacianas acendiam nos filhos, especialmente o futuro rei Afonso IV. O próprio milagre das rosas aconteceu numa época em que Dom Dinis decidira pôr cobro àquilo que dizia ser um esbanjamento do tesouro público por sua mulher.

Dom Dinis foi avisado por um homem do Paço que no dia seguinte, contrariando as ordens reais, sairia Isabel com ouro e prata para distribuir aos pobres. Exaltado, Dom Dinis resolveu imediatamente que no outro dia iria surpreender a rainha quando ela fosse sair com o seu carregamento de esmolas. Na manhã seguinte, uma gélida manhã de janeiro, estava já D. Isabel com as aias no jardim trazendo a ponta do manto recolhida e cheia de moedas quando lhe surgiu el-rei fingindo-se encontrado.  Empalideceu a Rainha conhecendo como conhecia os acessos do marido, receosa do que diria se descobrisse o dinheiro que trazia.

Saudaram-se, contudo, cortêsmente, e Dom Dinis perguntou:

- Aonde vais senhora, tão cêdo?

- Armar os altares de Santa Cruz, meu senhor!

- E que levais no regaço, minha rainha?

Houve um instante de hesitação antes que a rainha lhe respondesse:

- São rosas, senhor! 

- Rosas, senhora rainha.- gritou irado Dom Dinis - rosas em janeiro ?! Quereis, sem duvida, enganar-me!!

Digna e muito lentamente, largando a ponta do manto, respondeu Santa Isabel:

- Senhor, não mente uma rainha de Portugal.

E todos viram cair-lhe do manto, do local onde sabiam só haver moedas, uma chuva belíssima de rosas brancas de impar beleza.

Santa Isabel da Hungria, nascida em 1207, aos quatro anos foi prometida em casamento ao duque Luís IV, da Turíngia, com quem casou-se aos 14 anos de idade. Constituíam os dois um casal muito unido, tendo Isabel influído muito no espírito de seu esposo para a prática da caridade cristã.  Seu esposo morreu numa Cruzada, a caminho da Terra Santa, pouco depois de haver nascido sua última filha.  A santa entregou-se, então, à prática desinteressada da caridade, o que motivou o ódio de seus familiares. Embora sofrendo perseguições, conseguiu realizar seu grande desejo, que foi a construção de um hospital em honra de São Francisco. Dedicou o resto de sua vida aos pobres, falecendo aos 24 anos de idade como terciária da Ordem franciscana.

Santa Margarida, rainha da Escócia, foi outra maravilhosa mãe e esposa cristã que nos legou um grande exemplo de vida. Quando nasceu, em torno do ano 1046, sua família vivia no exílio, provavelmente na Hungria.  Seu tio-avô, Santo Eduardo, subiu ao trono na Inglaterra, permitindo-lhes voltar para a pátria. Novo exílio ocorreu quando subiu ao trono Guilherme da Normandia, desta vez para a Escócia.  Foram ali bem recebidos pelo rei, Malcome III, que pediu a mão de Margarida em casamento.  Nasceram-lhe oito filhos: os príncipes Eduardo, Etelredo, Edmundo, Edgardo, Alexandre e Davi, e as princesas Edite e Maria. Dois de seus filhos, Edite (que chegou a ser rainha-consorte da Inglaterra) e Davi, eram venerados como santos pelo povo inglês.

O rei Malcome III era de costumes um tanto rudes, mas não tinha más inclinações: venerava tanto os livros de que sua esposa se servia mais para suas orações que os beijava e acariciava. O rei gostava de ouvir os conselhos da rainha na administração dos problemas de seu reino, seguindo-os sempre. Mesmo assim,  ela precisou discutir com o rei durante três dias para convencê-lo a admitir os costumes da Santa Igreja na Escócia e reprimir certos desvios, como o descuido das obrigações sacramentais, a celebração da Santa Missa acompanhada de ritos pagãos ou profanos e o costume de realizar casamentos entre parentes.

Santa Margarida conseguiu também introduzir a pompa, solenidade e e grandeza na corte escocesa: mandou vir do estrangeiro os vestuários mais variados e ricos, instruindo também o rei para que andasse sempre acompanhado de guardas de honra vestidos digna e pomposamente.  A rainha também era assídua e incansável na oração e caridade:  à noite costumava levantar-se para rezar e nas matinas rezava as orações da Santíssima Trindade, da Santa Cruz e de Nossa Senhora, o ofício dos defuntos, o saltério inteiro (ainda não havia o costume de se rezar o rosário) e as laudes. Geralmente pela manhã, lavava os pés de seis pobres e servia nove órfãos, indo descansar um pouco, mas, logo depois, ajudada pelo próprio rei servia refeições a 300  pobres. Assistia diariamente a cinco ou seis missas. Trabalhou também incansavelmente para a libertação de vários prisioneiros ingleses detidos na Escócia e mandou construir hospedarias para os viajantes. Faleceu no dia 16 de novembro de 1093, sendo um exemplo de santidade para seu esposo, seus filhos e seu povo.

Santa Brígida, de descendência nobre, foi casada com o príncipe de Nírice, chamado Ulf. Ela o levou, pelos exemplos e pela persuasão de suas palavras, a imitar a piedade de sua vida. Pôs todo o coração em educar seus filhos, todo o seu zelo em socorrer os pobres e os doentes, aos quais tinha costume de oscular os pés em sinal de humildade e como provas de amor a Deus.

Santa Francisca Romana (séc. XV) foi outra que recebeu o Sacramento do matrimônio.  Casada desde os doze anos de idade, conviveu com seu esposo, o aristocrata Lourenço de Ponziani, durante mais de 40 anos. Em toda a sua vida praticara tais obras de alta perfeição que a tornaram objeto de complacência do Céu, ao mesmo tempo que as doces qualidades de seu coração lhe asseguravam a ternura e a admiração de seu esposo e de seus filhos, que foram três.

Beata Anna Maria Taigi, nasceu na cidade de Siena, a 29 de maio de 1769, e faleceu em Roma, a 09 de junho de 1837. Contava apenas cinco anos de idade quando foi tomada por um êxtase, os quais duraram quase toda sua vida. Recebeu primorosa educação religiosa e doméstica. Aos vinte anos casou-se com Domenico Taigi, um criado da nobre família dos Chigi, com quem conviveu durante quarenta e oito anos, e do qual teve sete filhos. Sentindo forte atração para a vida religiosa, mas sendo casada, foi admitida na Ordem Terceira das Trinitárias. Durante muitos anos a Santa foi privilegiada com êxtases e visões sobrenaturais. Admite-se que seus sofrimentos místicos a fez vítima expiatória, e toda a sua santificação deu-se no convívio de seu lar.

Sofreu muito por causa das rabugices de seu marido, o qual sempre entrava em casa irritado. Vivia se amaldiçoando por achar que tinha sido enganado pela esposa, mas a Santa fugia do confronto e o tratava com amabilidade.  Era serena, afetuosa, ordenado nas suas coisas e sempre alegre. Educou bem os filhos.  Todos os sete, sem exceção, declararam depois que tinham tido uma infância feliz ao lado dela.

Declarou Domenico, seu esposo:

“Quando chegava em minha casa encontrava-a cheia de gente desconhecida que vinha consultar minha mulher. Porém ela tão pronto me via, deixava quem quer que fosse, seja monsenhor ou alguma grande senhora, e vinha atender-me, a servir-me a comida, e a ajudar-me com esse imenso carinho de esposa que sempre teve para comigo. Para mim para meus filhos, Ana Maria era a felicidade da família. Ela mantinha a paz no lugar, apesar de que éramos bastantes e de muito diferentes temperamentos. A nora era muito mandona e autoritária e a fazia sofrer bastante, porém jamais Ana Maria demonstrava ira ou mal gênio. Fazia as observações e correções que tinha que fazer, porém com a mais estrita amabilidade. Às vezes eu chegava à casa cansado e de mal humor e estalava em arrebatações de ira, porém ela sabia tratar-me de tal maneira bem que eu tinha que acalmar-me em poucos instantes. Cada manhã nos reunia a todos em casa para uma pequena oração, e cada noite nos voltava a reunir para a leitura de um livro espiritual. Aos meninos os levava sempre à Santa Missa aos domingos e se esmerava muito em que recebessem a melhor educação possível’

 

... e também de ser esposa

“Quantas famílias chegaram assim, pelas mulheres, ao mais alto grau de consideração e prosperidade, e também quantas famílias decaídas foram reerguidas por elas!

No século XVI, Luís de Gonzaga estava prestes a entrar em falência. A sua mulher, Henriqueta de Clèves, assume o governo da Casa e restabelece a ordem. Outra mulher, Joana de Schomberg, irmã do segundo dos marechais deste nome, verificando a ruína das finanças do marido, disse: “Verei eu mesma e examinarei com cuidado todos os nossos negócios, de acordo com a capacidade que Deus me der. Antes de começar, procurarei elevar o meu coração ao Espírito Santo, para Lhe pedir o dom do conselho e da força, a fim agir em tudo com prudência e firmeza”.  Santa Joana de Chantal foi posta pelo seu casamento numa casa “com negócios muito enredados”. Começou a reparar o mal na própria manhã seguinte à das núpcias. “Habituou-se a acordar muito cedo, e já tinha colocado ordem na casa e enviado os empregados para o trabalho, quando o seu marido se levantava...”

Em todos os meios sociais encontramos exemplos semelhantes.

“Nas famílias operárias – diz Augustin Cochin – a figura dominante é a da mulher, a da mãe; tudo depende da sua virtude e acaba por ser modelado por ela. Ao marido compete o trabalho e as rendas da casa; à mulher, os cuidados e a direção interior; o marido ganha, a mulher poupa; o marido alimenta os filhos, a mulher educa-os; o marido é o chefe da família, e mulher é o seu elo de união; o marido é a honra do lar, a mulher, a sua bênção”

A feliz influência da mulher cristã estende-se muito além do lar.

“Deus suscitou entre nós – escreveu o visconde de Maumigny – numerosas gerações de mulheres piedosas, às quais devemos o nosso caráter nacional, como Roma deve o seu aos grandes Papas. Ele deu-nos as Clotildes, e as Batildes, as Radegundas e as Brancas, as Isabeis e as Joanas e, nestes últimos séculos, piedosas rainhas dignas delas. As pastoras rivalizam com as princesas. Uma legião de santas mulheres de todas as classes e condições – das donzelas de Vaudouleurs e de Nanterre, a Germaine de Pibrac e a Benoîte du Laus – difundem em toda a parte a doce influência de Maria, seu modelo.

“Assim, enquanto a salvação da Itália vem, antes de tudo, dos seus grandes Pontífices, para nós veio sobretudo do apostolado das mulheres. No século XVIII, reis e magistrados, sábios e até Pontífices repousavam numa despreocupada apatia; mas as mulheres permaneciam heroicamente fiéis. E quando os homens diziam: Não conheço este Homem, o seu reino não é deste mundo, as mulheres seguiam a Cristo e ao seu Vigário sem desfalecer até ao Calvário.

Devemos às nossas mães e irmãs o fundo de honra e devotamento cavalheiresco que é a vida da França. Devemos-lhes a fé católica. Discípulas da Rainha dos Apóstolos e dos Mártires, as mulheres transmitiram aos filhos o que lhes ia no coração.

“Em França, as mulheres são a alma de todas as boas obras; do Óbulo de São Pedro até a Propagação da Fé; e foi o entusiasmo das mães e das irmãs que conduziu a Roma os defensores da Santa Sé. Conheço mais de um jovem que estaria entre os zuavos, se tivesse seguido o conselho da sua mãe, mas não conheço um só cuja mãe que o tivesse impedido. O pai poderia fraquejar, mas a mãe nunca: nem antes, nem durante, nem depois. Um filho mutilado era o seu orgulho e quando, diante do cadáver do mártir, Deus lhe dizia no fundo do coração: O teu filho está comigo, a gratidão sufocava a sua dor. Mais que o sangue do filho, ela amava a glória dele

“Maria, o modelo das mães, tinha-lhes ensinado como se pode chegar a sacrificar um filho único por Deus e pela Igreja. Ao ouvir a narração dessas imolações sublimes, Pio IX comentava: Não, a França que produziu tais santas não há de perecer!

“A primeira vez que a heróica viúva do grande zuavo Pimodan viu o Papa, não lhe disse: Santo Padre, devolvei-me o marido!, mas antes: Oh! Dizei-me que ele está no Céu! E quando Pio IX respondeu: Já não rezo por ele, ela não perguntou mais nada, pois entendeu que era viúva de um mártir, e isso bastava.

“As mulheres são a alma de tudo o que moveu a França e o mundo. Em Castelfidardo, os zuavos combatiam sob o olhar das suas mães, presentes no seu pensamento e sob os muros do santuário onde a Rainha dos Mártires gerou o Rei dos Mártires. Ao avançar contra o inimigo, repetiam todos esta frase de um deles: A minha alma a Deus, o meu coração à minha mãe, o meu corpo a Loreto.  À mãe deles e a Maria, que a todos inspirava, reverte a glória da batalha. Como outrora os cavaleiros, como mais tarde os vandeanos, foi ao colo das mães que eles aprenderam a dar a vida por Deus, pela Igreja e pela Pátria”.

Num dos seus interessantes estudos, Faivière mostra como a civilização moderna se liga nas suas origens à antiguidade greco-latina: “Se por um lado o Evangelho as diferencia, também as une, por causa da afinidade existente entre elas. Essa afinidade vem do fato de que a Grécia e Roma, contrariamente ao que acontecia no Oriente, não tinham excluído a mulher da vida social, de modo que o gênio feminino tomara parte no desenvolvimento da sua civilização.  Por isso mesmo, esta tornou-se mais apta do que as civilizações orientais para receber a influência do Evangelho”.

Os germanos, ao estabelecer-se no império romano, trouxeram consigo o respeito supersticioso que tinham pela mulher. A Igreja purificou este sentimento, levou os homens a estimar a pureza dos costumes – abrindo assim sobre o mundo os tesouros do coração e da inteligência da mulher – multiplicou os recursos e o campo de ação do progresso.

“É da mulher – diz Favière – que as nações cristãs alcançaram o dom da piedade, é delas que receberam a faculdade das emoções comunicativas que sacodem as multidões, a capacidade de despertar súbita e irresistivelmente os povos, colocando-os acima de si mesmos, dos seus interesses mercantis e do seu repouso, para os lançar na via das aventuras sublimes que são as grandes etapas da humanidade.

“A mulher associou-se à obra do progresso, não somente pelo coração; ela elevou a civilização cristã acima de tudo o que mundo tinha visto até então, não só pelo seu entusiasmo e impulso, mas também pela sua inteligência.  A inteligência rápida e instintiva da mulher sobre o mundo moral supera a  inteligência masculina...  Ela cultiva na família o senso do bem, dando-lhe o entendimento das verdades primeiras, ensinando-as pelos seus atos e juízos, pelas manifestações da sua estima, ou pela sua repreensão”.

Há poucos homens entre nós, nestes dois últimos séculos, que, mesmo sem querer, não se tenham deixado envolver pela Revolução. As mulheres, pelo contrário, têm o instinto da verdade como o da caridade. Qualquer apostasia, qualquer traição, qualquer fraqueza de espírito ou de coração encontra nelas juízes inflexíveis. Elas amam a Igreja e a Pátria, a Cristo e sua Mãe. Amam-nos mais que a si mesmas, mais que as riquezas, mais que os próprios filhos. E este amor é para elas uma ciência. Elas são, entre nós, o grande apoio da sociedade e da Igreja. A Revolução sabe bem disso. Ela conhece o número de irmãos, de filhos e de maridos preservados, afastados das sociedades secretas por simples operárias, por simples camponesas. Sem cessar, o revolucionário é encurralado por essa guerra feminina. Daí as suas queixas, as suas conspirações para perverter o coração da mulher” .

(Extraído de “A Felicidade Através da Castidade”, -Págs. 296/306 – Desejando receber o texto integral desta obra enviar mensagem para meu e.mail juracuca@gmail.com )