quarta-feira, 31 de julho de 2013

A verdadeira "Igreja das ruas"


Num de seus discursos feitos no Brasil, dirigido aos argentinos, o Papa Francisco frisou bem que a Igreja tem que ir às ruas.  O que quer dizer isso, da Igreja ir às ruas?

Com sua mensagem essencialmente espiritual toda e qualquer manifestação da Igreja é no campo meramente religioso, penetrando às vezes no campo temporal apenas quando há questões morais e de doutrina envolvidas, de tal sorte que seja necessária sua intervenção. Por exemplo, os religiosos são normalmente aconselhados pelos bispos a não se envolverem em política partidária; é significativo o último caso do bispo Fernando Lugo, paraguaio, que se candidatou a presidente, mas foi afastado de ordens por causa disso.

Muitos podem pensar que a idéia da Igreja sair às ruas quer dizer que os católicos, doravante, engrossarão o número dos que fazem manifestações políticas do tipo das que houve ultimamente no Brasil. Ou então que deverão também participar de comícios e manifestações de cunho marcadamente político-partidárias.

Não, não se trata disso. Com seu caráter meramente espiritual e superior a todos os setores sociais, a Igreja, através de seus fiéis, já vem se manifestando nas ruas de nosso país. São comuns tais manifestações em nosso povo, como as dezenas ou centenas de procissões de Corpus Christi, a do Círio de Belém (no Pará), a da nossa Padroeira, em Aparecida, a do Bom Jesus da Lapa, na Bahia, a do Pai Divino, em Goiás, etc.  E não são poucos os que participam destas romarias e procissões.  Na de Nossa Senhora da Assunção, Padroeira de Fortaleza, as multidões da última somavam mais de um milhão de peregrinos na rua. É ou não é uma manifestação típica dos católicos?

Mas, se já são tão comuns o que deseja o Papa ao conclamar a Igreja a sair às ruas? Será que ele deseja que os católicos façam passeatas e manifestações mais freqüentes contra o aborto? Ou que se manifestem publicamente contra a corrupção política? Pela moralidade pública? Enfim, são tantos os problemas morais perante os quais os católicos podem se manifestar! Participar deles como anônimos não é caso, pois já o fazem: toda e qualquer manifestação que houve nestes últimos dias a presença de católicos foi uma constante. O importante é que o evento seja feito sob a bandeira da Igreja, patrocinada por ela e organizada pelos católicos, não é verdade? Se não for assim, não se pode dizer que os católicos saíram às ruas como tais.

Vamos agora resumir o pensamento do Papa. Ele deseja, então, que os católicos saiam do comodismo (a Igreja não é uma ONG, disse ele), e, com o título de católicos, guiados por seus bispos, se manifestem publicamente sobre questões em que a Igreja é mestra e mãe, que são as questões morais e doutrinárias, demonstrando à toda a sociedade a força da nossa Igreja. Não bastam as procissões e congressos eucarísticos, os católicos têm que se manifestar na praça pública e defender os princípios morais e religiosos de sua Igreja. E só isso basta, pois se os motivos das manifestações de rua não forem estes ela não será mais católica.

Mas, esta conclamação não é uma novidade: Bento XVI já o fez anteriormente, por ocasião da visita que lhe fez os bispos brasileiros em outubro de 2010. 
Eis, na íntegra, o que disse ele:




DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL
DOS BISPOS DO BRASIL (REGIONAL NORDESTE V)
EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»
Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010
Amados Irmãos no Episcopado,
«Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (2 Cor1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.
Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.
Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna.
 Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. Gaudium et spes, 76).
Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância.
 Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal?Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem,82).
Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja"» (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3).
 Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. Gaudium et spes 75).
Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17 de setembro de 2010).
Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.
Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.
Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.

© Copyright 2010 - Libreria Editrice Vaticana
 



terça-feira, 30 de julho de 2013

O impacto de Francisco



Quando o Papa Francisco deixou o solo brasileiro já era consagrado, tanto pela mídia quando pela opinião geral, com apoteótica saudação de um homem simples, humilde, sincero e popular. Sua simplicidade começou a se sobressair desde o momento em que foi eleito no Conclave, quando então fez declarações impactantes neste sentido: afirmou que foram buscar um Papa no “fim do mundo”; não desejaria usar o anel de ouro, mas de prata; iria residir na casa “Santa Marta”, onde, segundo ele, reside muita gente com os quais quer conviver, etc. Aos poucos foram surgindo outras afirmações impactantes, inclusive uma suposta aceitação dos membros da teologia da libertação; chegaram a afirmar que ele dissera que gostaria de ler um livro de Leonardo Boff e outras afirmações condescendentes com os membros daquele movimento, que, outrora, foi censurado por papas anteriores. Declarou aos jovens da JMJ, alto e bom som, antes de embarcar do Rio para Roma: “sejam revolucionários!”. Trata-se, talvez, da afirmação ou conclamação mais impactante que o mesmo fez até hoje. Mereceria uma explicação pelo seu porta-voz, uma vez que a atitude revolucionária é visceralmente contrária ao espírito cristão.
Mas, é preciso frisar, não é novidade que um Papa aja da forma como o vem fazendo o Papa Francisco. O primeiro foi João XXIII, que tomou várias atitudes impactantes em seu pontificado, todas elas na linha de modernização e de menosprezo por alguns resquícios do passado. Com a conclamação do Concílio, João XXIII iniciou uma série de atitudes nessa linha, deixando campo livre para diversas manifestações de grupos modernistas e progressistas, a ponto de mudarem quase que completamente os rituais sagrados da Santa Missa. Com a atitude ecumênica, deixou para sempre uma como que nova missão da Igreja: atrair os irmãos separados. Mas, não só os irmãos separados – o ecumenismo passou a querer atrair todos os não católicos, de judeus a ateus. E teve como dolorosa lição o solene desprezo de tais “irmãos”, os quais além de não desejarem nunca a união com a Igreja, a desprezam e se aproveitam do ecumenismo para arregimentar os próprios católicos para suas fileiras. Enquanto a preocupação maior era os “irmãos separados”, os próprios filhos eram abandonados nas mãos dos lobos.
Com Paulo VI não foi diferente. Uma de suas primeiras medidas foi abolir, algum tempo após a sua eleição, o tradicional sólio pontifício em que o Papa era carregado solenemente pelos membros da nobreza italiana (hoje, temos o “papamóvel”).  Suprimiu em 1970 a Guarda Palatina do Vaticano, que atuava desde o século XIX.  Ao mesmo tempo que deu continuidade a medidas de condescendências com os revolucionários dentro da Igreja, fez, ele mesmo, várias coisas neste caminho. Uma das atitudes mais constrangedoras foi a passividade perante o avanço do comunismo no mundo. Paulo VI, inclusive, prestigiou pessoalmente os padres e religiosas que colaboravam com a seita vermelha, e a outros que faziam agitação sem declarar abertamente o apoio ao comunismo. Foi o caso, por exemplo, do apoio dado a D. Pedro Casaldáliga, um bispo espanhol que veio ao Brasil com visíveis propósitos de incrementar guerrilhas e subversões sociais.
Após PauloVI, veio João Paulo I, com um sorriso que esbanjava simpatia e popularidade. Mas durou pouco. Sua morte misteriosa ainda hoje não foi inteiramente esclarecida. Seu pontificado de pouco mais de um mês prometia ser algo de impactante, mas, provavelmente, carregado de sentidos ainda tradicionais da Igreja. João Paulo II o substituiu e realizou um antigo desejo: o de escolher um Papa não italiano. Nos primeiros anos de seu pontificado, João Paulo II procurou trilhar a mesma linha de Paulo VI, deixando marcas profundas de condescendências com os erros dos membros do clero e procurando, acima de tudo, promover o ecumenismo. Ao longo dos anos, porém, foi sendo feita uma transformação paulatina, até que os rumos fossem alterados. Talvez o atentado sofrido na Praça de São Pedro, exatamente no dia 13 de maio, dia de Nossa Senhora de Fátima, tenha produzido alguma reviravolta em seu pontificado. O último sinal de seu ecumenismo ficou gravado na reunião promovida no ano 2000, no monte Sinai, entre ele e os dirigentes das principais religiões do mundo. Aos poucos, porém, seu pontificado foi tomando rumos diferentes daqueles que o iniciou. Foi uma das peças importantes no desmoronamento do comunismo em seu país e no resto do Leste europeu, embora nunca tenha condenado explicitamente a seita vermelha. Talvez a atitude mais marcante contra o comunismo tenha sido a reprimenda pública feita a um padre guerrilheiro da Nicarágua.
Sendo assim, Bento XVI assumiu seu pontificado já no meio de uma guinada de rumos, numa mudança tênue, mas constante, com sentidos um tanto tradicionais. Procurou enriquecer os rituais, os símbolos que antes eram desprezados, e tomou muitas atitudes disciplinares e teológicas necessárias. Deixou de dar ênfase ao ecumenismo, embora o mesmo continuasse atuante por causa de correntes ainda defensoras da comunhão geral e aglutinação das religiões numa só. Sua atitude menos compreendida até hoje foi a renúncia. Deixou o trono de São Pedro numa situação que alguns consideraram semelhante a de São Pedro que fugia de Roma com medo do martírio.
Enfim, chegamos ao impactante Francisco. Suas atitudes, tidas como simplistas e afetivas junto ao povo, deixa, entretanto, um vazio em outros setores da Igreja. Todos sabem que lavra dentro da Igreja um grande incêndio de religiosos que tramam uma Revolução, não aceitam a autoridade do Papa, alguns nem dos bispos, subvertem os rituais e os fazem cada vez mais prosaicos e até ofensivos ao culto divino, difundem, assim, a falta de fé em vez da sacralidade ou então da própria santidade. São estes que causam o afastamento dos fiéis e não seria a missa pop e as danças litúrgicas que fariam trazê-los de volta. E há tanta impunidade para religiosos que cometem até crimes horrendos, alguns contra a castidade e contra a infância, por causa dessa condescendência geral com os revolucionários que tomou conta da Igreja. Esta, sim, é a principal causa do afastamento de fiéis.
Ninguém se iluda: a conclamação de Francisco na JMJ, no sentido de que todos devem ser missionários para pregar o Evangelho, não surtirá os efeitos desejados se não houver uma profunda reforma interna, nos homens, nas almas, na espiritualidade, na própria disciplina interna da Igreja. Quem é que vai pregar este Evangelho? Não digam que são a maioria daqueles rapazes e daquelas moças que estavam na praia de Copacabana dançando, pulando, gritando, alguns em trajes de banho, em vez de rezando e dando culto a Deus! Não venham me dizer que a alegria das danças agrada a Deus! Não venham me dizer que aquela gente vai conseguir levar o Evangelho aos demais do jeito que estavam ali! Terminada a JMJ, todos voltam para suas casas e a vida vai continuar a ser a mesma. Alguns com as fotos, os vídeos, com muitas saudades da presença suave e sorridente de Francisco, mas, nada mais! O efeito impactante de coisas tão superficiais dura pouco!
Tudo indica que chegou para a Igreja o seu Domingo de Ramos. Nessa bonança e alegria, todos estão contentes e ao lado do Papa. Mas, como ocorreu a Cristo, se vierem dias mais dolorosos e tristes, todos o abandonarão.  Como prevê a imagem da última visão que a Irmã Lúcia disse ter visto, onde o Papa sobe, sozinho, uma colina e é morto por seus inimigos...
Se um dia isto ocorrer produzirá um impacto muito maior do que aqueles produzidos por Francisco.


Uma tese de teologia sobre o "Big Bang"?



Uma tese de teologia sobre o “Big Bang”?



Entre as teses de licenciatura em Teologia apresentadas neste ano na Universidade Gregoriana, de Roma, chamou a atenção, por sua originalidade, uma intitulada "A teologia de interpretação do ‘Big Bang'". Seu autor, que recebeu a nota máxima - "Summa cum laude" - explica os motivos pelos quais escolheu o sugestivo tema.

Pe. Eduardo Miguel Caballero Baza, EP

Na atualidade parece que a ciência nunca será capaz de levantar o véu que encobre o mistério da criação. Para o cientista que durante toda a sua vida se guiou pela crença no poder da razão, esta história termina como um pesadelo. Ele escalou as montanhas da ignorância e está a ponto de chegar ao mais alto pico; quando consegue alcançar a última rocha, é recebido por um grupo de teólogos que ali estão sentados há séculos".1

Esse testemunho pessoal de Robert Jastrow, renomado cientista norte- americano, fundador do Goddard Institute for Space Studies (GISS) da NASA, ilustra bem como a Teologia não está alheia às questões científicas, mas as explica e transcende.

Aspecto pouco conhecido da história científica

Os pioneiros das ciências naturais no século XVII, assim como muitos de seus continuadores nos séculos seguintes, eram homens profundamente religiosos, persuadidos de que suas investigações não passavam de uma contribuição para desvendar a obra do Criador.
Basta pensar nos importantes estudos do Bispo dinamarquês Beato Niels Stensen (1638-1686) sobre geologia e mineralogia, pelos quais ele é considerado o fundador da geologia moderna. Ou nos filhos espirituais de Santo Inácio de Loyola - entre os quais o padre Athanasius Kircher (1602-1680), erudito em inúmeros campos científicos; o padre Giovanni Battista Riccioli (1598-1671), cuja enciclopédia astronômica marcou época; o padre Francesco Maria Grimaldi (1618-1663), descobridor da difração da luz; o padre Ruggero Boscovich (1711-1787), considerado o criador da física atômica fundamental - que contribuíram significativamente para as conquistas da ciência e da técnica, e foram correspondentes assíduos de cientistas influentes de sua época.2

Depois desses pioneiros, não têm faltado católicos fervorosos na vanguarda dos mais diversos campos da ciência. O francês Augustin Louis Cauchy (1789-1857) - cujo nome figura inúmeras vezes nos livros de ciências exatas, física e engenharia - era católico convicto, membro da Sociedade de São Vicente de Paulo. Um dos maiores cientistas da História, Louis Pasteur (1822-1895), foi um católico exemplar em pleno século do positivismo ateu e do racionalismo agnóstico. Seu contemporâneo, o abade agostiniano austríaco Gregor Johann Mendel (1822- 1884), é considerado o pai da genética. O físico italiano Alessandro Volta (1745-1827), inventor da pilha elétrica, 3 era homem de Missa e Rosário diários, enquanto seu contemporâneo, o cientista francês André-Marie Ampère (1775-1836), fundador da eletrodinâmica, 4 tem uma obra intitulada Provas históricas da divindade do Cristianismo.
E muitos outros poderiam ser citados como exemplo até nossos dias.

A ciência e a Fé se complementam

De outro lado, o Magistério Pontifício tem sido unânime em mostrar como ciência e Fé convergem para a única verdade, por vias diversas mas complementares.5 

O Concílio Vaticano II confirmou isso, lembrando que as realidades profanas e as da Fé têm origem no mesmo Deus:
 "A investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será realmente oposta à Fé, já que as realidades profanas e as da Fé têm origem no mesmo Deus. Antes, quem se esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da natureza, é, mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o que são".6 

Ora, para ser possível uma relação frutuosa entre ciência e Fé, é necessária a mediação de uma filosofia realista, reconhecedora de que as entidades materiais observadas pela ciência são reais, que existem independentemente do observador, que possuem uma racionalidade coerente, que estão governadas por leis determinadas e que formam um todo ordenado.
 

Diz-se que a sã filosofia é aquela que diz coisas evidentes, mas que não são ditas por ninguém; pois bem, essa é a filosofia realista, a filosofia de São Tomás de Aquino e de tantos outros pensadores católicos.

O cosmos: uma dimensão da realidade inatingível pela ciência

A ciência - mesmo quando se baseie numa filosofia realista e considere o universo como contingente - deve estar consciente de que nunca poderá revelar todos os mistérios do cosmos, por mais que progrida a técnica, pois há toda uma série de dimensões da realidade que escapam completamente a seu alcance. Por isso, a ciência jamais poderá demonstrar a existência de Deus nem tampouco negá-la; simplesmente não tem autoridade para se pronunciar sobre tal matéria.

Quem observa o céu estrelado com um mínimo de espírito contemplativo é naturalmente levado a formular a si mesmo uma série de perguntas para as quais a astrofísica não tem resposta: Por que existe o universo? Por que possui a ordem que observamos nele? É fruto de um projeto inteligente? Teve origem? Quando e como? Sempre foi assim como o vemos hoje?

A ciência procura dar resposta a essas e outras perguntas do gênero por meio da cosmologia, um ramo do saber que trata, de um lado, da formação do universo, de sua estrutura e evolução (aspecto físico ou científico), e de outro, de sua origem e finalidade (aspecto filosófico-teológico). Na realidade, a cosmologia é uma disciplina fronteiriça entre as ciências naturais, a Filosofia e a Teologia. É uma ciência da totalidade, que, entre outras coisas, busca a resposta à pergunta sobre a totalidade do universo no sentido ontológico. A resposta a essa pergunta, porém, não se encontra na totalidade física do universo, que é o objeto de estudo da cosmologia, mas fora dela; a totalidade do universo encontra sua explicação somente em uma Causa superior que transcende sua realidade física.

As questões relacionadas com a origem do universo e sua evolução, portanto, suscitam fortemente perguntas fundamentais como essas, que de um modo natural põem em relação à Fé e a ciência. Esta é a razão que me levou a escolher o Big Bang como tema para a tese de licenciatura em Teologia, na Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia Gregoriana, na especialidade de Teologia Fundamental, pois a Teologia não só tem o direito de dizer uma palavra no debate científico, mas, mais do que isso, sua voz é indispensável para se poder entender em profundidade a realidade do universo.

Influiu também poderosamente na minha escolha o Revmo. Pe. Paul Haffner, da diocese de Portsmouth (Grã Bretanha), licenciado em Física pela Universidade de Oxford e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, da qual é Professor convidado. Autor de mais de 30 livros e 150 artigos, estudou ele durante décadas as relações entre religião e ciência, com especial ênfase na cosmologia e na obra do Revmo. Pe. Stanley L. Jaki, OSB, que conhece em profundidade.
Por fim, não foi alheia a essa escolha minha formação acadêmica de Engenheiro Aeronáutico pela Universidade Politécnica de Madri, embora nunca tenha exercido a profissão, pois, logo após o término de meus estudos, tive a graça de dedicar-me inteiramente ao serviço da Igreja.

Aspectos filosóficos e teológicos da origem do universo

Hoje, os astrônomos sustentam quase unanimemente que o universo primitivo começou a expandir-se a uma grande velocidade - num processo tão rápido quanto violento, denominado "inflação cósmica" - faz uns 13 bilhões de anos, a partir de uma minúscula e incrivelmente quente "bola de fogo". É o denominado "modelo standard" do universo, ou "modelo do Big Bang".

Em torno desta concepção e de outros modelos cosmológicos, existe hoje em dia um aceso debate relacionado com os aspectos mais estritamente científicos, como a história térmica do universo, a causa do deslocamento para o vermelho dos espectros eletromagnéticos das radiações estelares, radiação cósmica de fundo de microondas, a suposta existência da matéria escura e da energia escura, a explicação da abundância relativa dos elementos químicos que se observa no universo, a descrição do nucleossíntese estelar, bem como dos processos de formação das estrelas e das galáxias, e tantos outros. Mas o debate não se limita aos aspectos científicos da questão. Estão em jogo concepções filosóficas e teológicas da maior importância.

Se o modelo do Big Bang explica a origem do universo a partir do nada, que necessidade há de um Criador? Podem ser separadas a dependência temporal do universo e sua dependência ontológica em relação ao Criador? O cosmos é autossuficiente e conduzido exclusivamente por uma causalidade cega, ou obedece à amorosa Providência Divina?

Como justificar, então, a existência de leis naturais imutáveis? Por outro lado, se Deus intervém na criação, que sentido têm os fenômenos puramente casuais? Como se harmonizam a autonomia das criaturas e sua dependência essencial do Criador, imanência e transcendência? Uma das variantes do modelo do Big Bang postula uma futura contração paulatina cada vez mais rápida do universo, culminando num colapso gravitacional sobre si mesmo. Quer isso dizer que o modelo do Big Bang prevê o fim do mundo?
 

Responder aqui a cada uma dessas perguntas alongaria demasiadamente esta matéria e me obrigaria a tratar de forma sumária um assunto rico e apaixonante. Proponho, portanto, voltar ao tema em outros artigos. Assim poderei compartilhar com nossos leitores a preparação de minha futura tese de doutorado. 
(Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2009, n. 95, p. 37 à 39)


Notas: 
1 Cf. R. Jastrow. God and the Astronomers. New York: 1978, p. 116.
2 Entre outros com os quais mantinham frequente correspondência, cabe mencionar os seguintes: o matemático francês Pierre de Fermat (1601- 1665), pai do cálculo diferencial; o astrônomo, matemático e físico holandês Christiaan Huygens (1629-1695), inventor do relógio de pêndulo; o alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646- 1716), espírito multifacetado que formulou os princípios fundamentais do cálculo infinitesimal; ou o britânico Isaac Newton (1642-1727), que deduziu a lei da gravidade universal.
3 Em sua honra, chama-se "volt" a unidade de medida da tensão elétrica.
4 Em sua honra, denominase "ampère" a unidade de medida da intensidade da corrente elétrica.
5 Neste sentido, ver por exemplo, P. HAFFNER. Creazione e scienze. Roma: 2008, p. 1-60.
6 Constituição pastoral Gaudium et spes, 7/12/1965, n. 36.


(O Autor, quando então era Diácono, cumprimentando o Papa Bento XVI)



quarta-feira, 24 de julho de 2013

O problema da certeza



O “problema da certeza” envolve o homem desde o começo do mundo. Estar convicto de que se está de posse da verdade, de que se está no caminho certo a seguir ou de que as idéias concebidas são corretas, é um estado de espírito que, afirmamos COM CERTEZA, é mais comum em pessoas que têm Fé, porque esta é a Virtude da certeza por excelência. A certeza provém da Verdade, mas esta precisa ser aceita pacificamente; do contrário, ocorre como o episódio de Pilatos que perguntou a Nosso Senhor Jesus Cristo o que é a verdade, e Ele nada respondeu. Por quê? Porque de nada adiantaria lhe falar sobre o que é a Verdade (que é Ele mesmo), pois para um homem cheio de dúvidas, assoberbado de incertezas, naquele momento não seria uma simples resposta que lhe faria ter certezas. Era preciso algo mais.
Há pessoas que não acreditam em coisas sobrenaturais, como, por exemplo, em milagres, mas aceitam de bom grado e acreditam nas informações recebidas de um professor em sala de aula, mesmo que este seja um homem materialista, ateu, agnóstico, etc. Por quê? Porque as informações para serem mais facilmente cridas têm que partir de uma fonte que tenha credibilidade para o ouvinte. E o professor tem credibilidade perante o aluno pelo simples fato de ser seu mestre, de outro modo ele não estaria ali para aprender com ele. A partir do momento que o aluno acredita no que o professor diz passa então a ter certezas. É claro que num clima social todo cético e agnóstico como no mundo moderno, talvez nem um professor consiga fazer determinado aluno acreditar no sobrenatural, pois agora isso vai depender de muitos outros fatores.
Do mesmo modo o filho acredita em seus pais e ouve deles ensinamentos e deles tira uma série de conclusões e certezas, com as quais vai guiar os passos de sua vida. O motivo é o mesmo: a fonte de informações que lhe deu aquelas certezas, frutos da crença no que lhe disseram, tem credibilidade e merece confiança. Um outro fator que faz com que alguém acredite no outro é uma questão afetiva, uma simpatia, um pendor por aquele que lhe transmite a informação. Um ateu, por exemplo, acredita mais numa prostituta com quem convive, mesmo esporadicamente, do que num sacerdote quando ouve informações sobre prazer ou sobre um tema prosaico qualquer.
Existem, assim, fontes fidedignas de várias naturezas. As fontes históricas, por exemplo. Em primeiro lugar estas são compostas pelas testemunhas oculares dos fatos; em seguida vêm os documentos escritos, as crônicas, as cartas, etc., mas muitas destas também se reportam às testemunhas vivas que presenciaram os fatos. Em terceiro lugar, há as fontes oriundas de pesquisas dos historiadores, muitos deles vivendo numa época muito afastada das que ocorreram os fatos. Assim, numa tradição ou mesmo através de documentações pesquisadas, surgem fontes históricas fidedignas e que transmitem a quem as consulta crença e certeza de que aqueles fatos ocorreram verdadeiramente. Após estudar um filósofo grego durante um período letivo, determinado estudante vai aos poucos adquirindo simpatia e afeto por aquele personagem, embora ele tenha vivido muitos séculos atrás, e, no final, vai acreditar e ter algumas certezas sobre seus ensinamentos que os professores lhe repassam em sala de aula.
Mas, existem outras certezas. A certeza moral, por exemplo. Um juiz pode acreditar num réu porque, moralmente, ao ouvi-lo num processo, considera-o digno de fé e passa a ter certeza de que ele é inocente, mesmo que não haja provas materiais para isso.  Uma mãe que conhece bem seu filho pode concluir, por uma certeza moral, que seja inocente ou culpado perante alguma calúnia. Um político pode ter uma certeza moral quando ouve uma pesquisa e se diz que seus eleitores, porque gostam dele, vão lhe dar seus votos. Assim, a questão da certeza é muito abrangente e muitas são as ocasiões em que ela pode ou não enraizar-se no espírito de uma pessoa. E, por isso, a certeza é algo muito próprio aos que têm Fé.
Segue abaixo, uma palestra de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, dividida em dois artigos, sobre como adquirir certezas:


Como adquirir certezas

Quase toda a filosofia moderna – inclusive os sistemas mais opostos entre si, desde o idealismo de Kant até o mais crasso materialismo -, procede de Descartas (1596-1650). Este considera que, para se conhecer com certeza alguma coisa, é preciso rejeitar o testemunho dos sentidos, duvidando-se de todas as impressões adquiridas, e começar do zero a elaboração da análise.
Na verdade, Descartes tentou transplantar a certeza matemática para todos os campos do saber, acabando por gerar um método geométrico, abstrato e apriorístico (segundo Saisset), com “raciocínios por demais generalizadores e aéreos” (segundo Leibniz).
Nada mais natural que Dr. Plínio se opusesse ao método cartesiano. Era ele adepto entusiasta da Escolástica – o ensinamento dos mestres católicos medievais aprovados pela Igreja -, aos quais Descartes tinha verdadeiro horror. A base para as cogitações filosóficas plinianas é principalmente São Tomás de Aquino, a par de outros astros do saber católico, como São Boaventura.

         "Conforme me pediram, passo a tratar a respeito da verdade e do erro, e depois falarei sobre a questão da incerteza.
No tocante ao primeiro tema, é necessário antes apontar uma doutrina que devemos repudiar completamente. É a tese de Descartes, que hoje é adotada subconscientemente por milhões de pessoas.
Descartes – famoso filósofo francês do século XVII – afirmava o seguinte: antes de alguém estudar um assunto, deve duvidar de tudo o que já aprendeu a respeito dele, e começar a raciocinar de novo.
Por exemplo, se quero estudar a natureza das velas acesas diante de uma imagem de Nossa Senhora, preciso cancelar tudo o que jáestá na minha cabeça a respeito de vela, pois não tem valor algum. Devo começar as minhas deduções prescindindo disto.
Ora, ignorar todo o conhecimento anterior gera uma conseqüência psicológica, da qual Descartes não tratou, mas que é um dos resultados do seu sistema.
Que conseqüência é essa? Como é impossível que alguém consiga estudar todas as coisas que deve conhecer utilizando o método por ele preconizado – ignorando o que já aprendeu por meio das impressões, etc. -, a solução é buscar esse conhecimento nos livros. Se alguém não pode coordenar tudo o que sabe, começa por ler. E o conhecer uma ampla bibliografia sobre o assunto é, então, o primeiro passo de um estudo. Assim, o pensamento começa pela leitura.
Não julgo isto correto. Volto ao exemplo da vela: tenho já uma idéia embrionária sobre velas, embora seja a mais rudimentar e vaga possível. Se fosse começar a pensar sobre as velas, talvez tratasse primeiro de reunir o que já sei, e ordenar um pouco essas idéias; depois, fazer algumas observações. Quando o que está na minha cabeça e o que eu poderia pensar por mim mesmo sobre velas tivesse chegado a um certo ponto, aí, sim, eu ia ler sobre o assunto em algum livro.
O livro não pode ser a pista do meu pensamento, mas uma espécie de bomba de gasolina que eu tenho à margem do caminho. E eu me abasteço tanto quanto queira, mas não é meu pensar. O livro é um servo a quem eu mando que me traga materiais para o meu pensamento. Mas vou refletir segundo minas coordenadas, meus antecedentes, meus modos de ver, etc.
Esta é a maneira de pensar característica da nossa escola. Estudamos nos livros para nos completarmos.
Quem é da outra escola, começa por procurar nas bibliotecas tudo quanto outros pensaram sobre uma matéria, para depois tirar suas conclusões. Ele faz o estudo, ou com o intuito de aprender o que outros concluíram, ou para derrubar tudo em função do que outros disseram, ou ainda para acrescentar algo às opiniões de outros.
Não sei se percebem que a finalidade do estudo se deslocou. Notem bem: não estou afirmando que Descartes recomendou isto; estou dizendo que o método dele, como é inumano, na ordem prática das coisas produz, por via de extrapolação, esse resultado.
O mais curioso é que, na concepção de Descartes, uma certeza adquirida previamente ao estudo é considerada um preconceito. A certeza, para o cartesianismo, é um fruto só do estudo: depois de ter estudado fantasticamente, ele adquirirá a certeza. Eu nego que isto seja assim.

Um conceito de estudo formado com base no bom senso

Parece-me chegado o momento de exprimir o nosso conceito de estudo. Ele consiste no seguinte: tenho na mente dados de bom senso – incluindo o senso lógico – que constituem um patrimônio comum de todos os homens.
Ou seja, assim como nasci nascendo mover os olhos para ver o que quero, também nasci sabendo raciocinar. Ninguém precisa de um “tratado de movimentação dos olhos” para saber como fazer. Isto poderá ser necessário para algum doente, mas não para uma pessoa normal. Toda criança mexe naturalmente os olhos, a cabeça, etc.
O senso lógico é assim também. Está na condição humana. Portanto, aprendi diretamente, no contato como mundo externo, uma série de verdades primevas que não necessitam de demonstração. Isto forma em mim um patrimônio de certezas que são inteiramente lógicas, naturais, primeiras. Considerar isto sem valor seria insensatez.
Essas certezas são os pressupostos com os quais vou analisar e pensar.
Alguém poderá me objetar:
- Não pode haver erro nessas certezas primeiras?
- Pode. Como ocorre com tudo o que é humano, é normal que haja.
- Então, rejeite-ase parta do zero.
Para mim, um conselho deste tipo equivale a dizer:
- O senhor não pode ter algum defeito na vista?
- Posso.
- Então, antes de começar a olhar qualquer coisa, arranque os olhos.
Quem age assim com suas certezas iniciais não vê mais nada. Cai na noite da incerteza.
O fundamento da certeza é, portanto, esse patrimônio primeiro, semi-explícito, semi-implícito, que são as certezas iniciais.

Relação entre as certezas e o senso do bem e do mal

Alguém pode retrucar: mas qual é o valor lógico dessa certeza? Como o senhor pode se certificar de que dentro desses dados não haja uma grande série de erros?
A minha resposta é: a imensa maioria dos erros vem de apegos. Para alguém ter confiança nas suas certezas primeiras, precisa ter possuído um senso do bem e do mal muito vivo. Porque, neste caso, seu olho é límpido para ver. As deformações “visuais” se originam, em sua quase totalidade, da vontade.
Quem, com a alma limpa, procura conhecer assim essa verdade primeira, poderá cometer erros acidentais, poderá cometer erros secundários, mas o grosso do conhecimento sobre determinada coisa, ele obtém. Ou seja, na linha-mestra não erra. É do senso natural. Isto é ainda mais verdade quando ele é batizado e assistido pela graça.
Qual é, então, o sistema de conquista da verdade? Esta começa por uma lenta explicitação do que já se sabe. E uma ordenação das coisas novas que se vai sabendo, mas em função do bom senso fundamental desses dados primeiros.

A marcha “de proche em proche” para atingir a verdade última

Sem isso, o senso da verdade não existe. Chega-se à verdade mais ou menos numa marcha de procheenproche(“da próxima à próxima”). Das verdades primeiras, não se deve saltar logo para as últimas, mas é preciso caminhar modestamente para verdades mais próximas. E assim, de uma para outra, embora já se possa ter intuído a verdade última – costuma acontecer que muita gente a intui -, é preciso construir uma demonstração de procheenproche. Construí-la sem aparato, sem espalhafato, sem agitação, mas humilde, sólida e organicamente.
A esse respeito, sustento que o nosso melhor livro somos nós mesmos. Não somos só um livro, cada um de nós é uma biblioteca que contém imensamente mais do que as bibliotecas em que estão os livros. Jamais alguém escreveu tudo o que possa haver na mente de um homem.
Por exemplo: ao repararmos, num tecido,o contraste entre o vermelho e o azul, há milhares de impressões que saltam no nosso subconsciente. Se tomarmos o trabalho de as explicitar, teremos muito mais que numa biblioteca. Este é o grande trabalho intelectual ao qual devemos nos dedicar.
Qual é, então, o papel do livro? Ele me ajuda a colher dados de que eu preciso, me transmite alguma consideração interessante de alguém, etc. Mas nunca devo “entornar” o livro na minha cabeça. Ele deve servir de depósito de material para a minha construção.

Há alguns anos, fui almoçar com um grande medievalista francês, escritor de vários livros e com obras laureadas. Eu não havia lido nem a terça parte do que ele lera sobre a Idade Média. Contudo, no meio da nossa conversa, após eu ter feito alguns comentários sobre coisas medievais, ele me disse: “Caro amigo! O senhor precisa indicar-me sua bibliografia. De que livros o senhor tirou essas observações?” Quase respondi: li a minha própria cabeça...
É assim. E não é sério levantar a objeção de que em algumas mentes há mais do que noutras. Quando alguém quer saber mais do que tem na cabeça, não adianta afundar-se em leituras. Primeiro ele precisa saber aproveitar o que já possui. Um homem que saiba bem aproveitar todo o cabedal que já adquiriu é um talento, um gênio.
Dessas considerações concluo: no analisar determinado assunto, não é preciso ler tudo sobre eles, nem é o caso de dar todos os argumentos a respeito dele, Necessário mesmo é ter dele uma noção básica sólida. Pode até acontecer que não saibamos fundamentar alguns pontos numa discussão. Ora, discussão não é teste de certeza. Pensa-se home em dia que sim: “Discuti com Fulano, ele ficou sem resposta; logo, quem tem razão sou eu”. Esta dedução não se justifica.
Qual é, então, o teste da certeza? Sustento que é a verificação da consonância entre aquilo que se afirma e os dados do bom senso que todos possuem. É uma certeza inicial que, procheenproche, vai se desenvolvendo.
Contudo, ela mesma não é, no fundo, senão uma projeção do senso do bem e do mal e desse senso nativo da verdade e do erro, que se apóiam e se vão tornando mais vigorosos.

(Revista “Dr. Plínio”, nº 36, março de 2001)
  
  
O senso católico e o desabrochar das certezas

 Para cartesianos e empiristas [seguidores da doutrina da tabula rasa, de John Locke], tudo é explicável pela razão, e se houver algo para o que não se encontra uma explicação, esse algo deve ser rejeitado[1]
Há algum tempo atrás, li numa revista de história francesa, a crítica que um alemão fazia a esse método errado de raciocínio, adotado por certos historiógrafos. Com muito critério, ponderava ele o seguinte:
Um livro de história escrito por um cartesiano é uma maravilha de clareza. O leitor entende tudo perfeitamente. Mas, afinal, essa capacidade de explicar é qualidade ou defeito?  Ora, dado que a realidade tem plumas e tem brumas, o cartesiano, ao se recusar a incluir na sua narrativa o aspecto brumoso da história, e se limita a contar apenas aquilo que ele entendeu, não faz uma descrição abrangente. Ele oculta as incógnitas que não compreendeu.
Parece-me uma objeção magistral. Aliás, tratava-se de um francês que resumia a objeção do alemão, e talvez daí viesse esse punhal incisivo cravado na cultura cartesiana. O pensamento, porém, aponta de modo expressivamente germânico esse equívoco proveniente do espírito cartesiano, para o qual um fato sem explicação é como uma vergonha que precisa ser ocultada, pois, pensa ele, o cartesiano: “Só devemos fazer a história do explicável”.
Como já disse, não concordo com esses métodos. Para mim, a marcha do pensamento é comparável ao desenvolvimento de um corpo, que nasce e cresce como tudo quanto é vivo: aos poucos, célula por célula, tomando em conta as verdades e certezas primeiras, nascidas daquele bom senso que é patrimônio comum de todos os homens.

Bom senso versus cartesianismo em face da Religião Católica

Essa diferença de procedimentos intelectuais se torna mais viva quando o assunto é religião. Por exemplo, diante da necessidade de demonstrar que a Religião Católica é verdadeira. Segundo o método do cartesianismo e afins, um estudo para provar essa veracidade deve partir do zero e incluir etapas como estas:
Primeiro, a verificação da autenticidade e inautenticidade dos livros, historicidade das revelações havidas, críticas dos testemunhos, etc., em todas as religiões.
Segundo, confronto das doutrinas de todas as religiões.
Terceiro, qualquer conclusão sobre o assunto: tal religião é verdadeira; nenhuma é verdadeira; todas são verdadeiras, etc.
Quarto, respostas a objeções. Poder-se-ia dizer que só esta etapa já ocuparia vinte vidas de vinte homens que iniciarem o primeiro balbucio sobre a matéria.
Os adeptos do sistema cartesiano e de tudo o que se baseou nele consideram pura idiotice um estudo baseado em métodos diferentes. Se, na discussão com um deles, para justificarmos nossa adesão à Igreja Católica, não fornecemos essa batelada de análises, comparações, gráficos, etc., acharão a demonstração insuficiente. Dirão tratar-se de uma religiosidade rotineira, supersticiosa, derivada da indolência e de atavismos.
Ora, nós temos uma idéia, ainda que sumária, das várias religiões. Temos, também, um bom senso nutrido pelo Batismo, com o qual a Religião Católica se harmoniza inteiramente. A esse respeito, lembro-me das minhas meditações enlevadas no meu tempo de menino: “Como a Religião Católica satisfaz por completo a necessidade da alma humana! Que maravilha! Pode-se dizer que, de algum modo, é a religião do homem! Porque, se a Religião Católica não existisse, e quiséssemos imaginar aquilo capaz de fazer com que o homem fosse o melhor possível, era preciso inventá-la!”
O que mais me chamava a atenção era a sensatez de tudo o que havia no catolicismo: como as verdades aparentemente mais opostas se fundiam numa síntese equilibrada superior, sem nunca a Igreja tremer com esses contrastes, mas guardando toda a serenidade, e tirando daí uma verdade líquida, límpida, extraordinária.
Recordo-me, por exemplo, do meu entusiasmo de criança tanto com o luxo do Papa, quanto com a pobreza dos religiosos. Eu pensava: “Caramba! Essas coisas devem chocar-se. Entretanto, os católicos que conheço acham a coexistência desses contrastes a coisa mais natural do mundo. Aceitam isso, porque há uma superior posição onde tudo se ordena. Como isso é humano! Como a vida não seria vida se não fosse assim! Como tudo seria inexplicável se a Religião Católica não fosse verdadeira!”
Devo dizer que nunca me interessei por provar que a Religião Católica e autêntica. Trata-se de uma preocupação que jamais me passou pela mente. Não condeno que se façam pesquisas e estudos aprofundados sobre a questão. Pelo contrário, louvo que assim procedam, mas considero que o objetivo não deve ser provar a veracidade da Religião Católica, e sim acrescentar novos testemunhos de que ela o é.[2] Essa convicção parte da minha certeza nativa,,do meu bom senso calmo, planturoso [abundante, copioso], embrionário, do meu gosto pelas coisas como elas devem ser, e também da minha rejeição a tudo quanto seja atitude ou doutrina que não se coaduna com a natureza humana, e assim faz pressão sobre meus nervos.
Com efeito, todas as verdades têm de ser coerentes com os nervos do homem. Aquilo que os abala é errado, do mesmo modo que não pode ser verdade o que é contrário à boa ordem da natureza humana.
Temos assim, a propósito da Igreja, uma visão do modo pelo qual, do senso do bem e do mal, acrescido do bom senso e do senso católico, nasce uma flor, alva, calma, perfumada, de vida longa, resistente a insetos e ao mesmo tempo muito delicada: a certeza.

 Bom senso e método científico devem andar juntos

Eu pergunto: alguém pode adquirir a Fé católica pelo processo científico?
Se um homem passasse a vida inteira estudando, creio que chegaria alogicamente á Fé.Mas, com quantas possibilidades de se enganar ao longo dessa vida? Por aí podemos perceber que esse processo é inidôneo para a aquisição da certeza.
Alguém poderia me objetar:
- O senhor então condena a pesquisa e o método de dedução científica?
Não! Longe de mim condená-los! Aceito-os. Contudo, não começando com a dúvida metódica de Descartes nem com a tabula rasa do empirismo, nem tampouco afirmando que só por esses métodos se alcançam as grandes certezas. Digo mais. A convicção da própria certeza científica se adquire por causa dessas certezas anteriores que se depreendem do bom senso e iluminam o método científico.
Eu condeno, sim, a ruptura entre o bom senso e o processo científico.
Para uma demonstração ter validade, é preciso que suas grandes linhas, as linhas capitais, estejam de acordo e em consonância com as grandes linhas do bom senso. Essa consonância e esse acordo é que têm importância; o resto são pormenores que, se em algo são falhos, não comprometem a visão correta o raciocínio. Poe exemplo, se estou apresentando a visão correta de um fato histórico, mas me equivoco a respeito do nome de um personagem (digamos, de um rei), e alguém me corrige: “Não, não é tal rei assim, é tal outro”, eu não fico esmagado por causa do meu engano. Agradeço a retificação e digo: “Ah, meu bom secretário, é tal rei? Vou tomar uma nota, porque já tinha me esquecido desse pormenor”. Está acabado.

Realidades inesgotáveis, equilíbrio e nervosismo

Concluo acrescentando mais um dado.
Um dos pressupostos dos sistemas derivados do cartesianismo é que uma realidade pode ser conhecida e esgotada por inteiro. Daí ouvirmos perguntas deste tipo (feitas, aliás, de modo excitado):
- Você já leu tudo sobre tal coisa?
Ou seja, para um adepto de tais sistemas a realidade sobre um determinado ponto é completamente esgotável pelo estudo. Por causa disso, fazendo-se duzentos estudos, esgotando-se duzentas realidades, chega-se a tal certeza. Esse modo de pensar revela uma limitação e uma falta de aristocracia de espírito a toda prova.  Pois toda realidade é inesgotável,o que se traduz até por uma atitude física: em vez de olhar para uma realidade de perto, a fim de devorá-la, preciso considerá-la meio de longe, com recuo e panorama.
Dou-lhes um exemplo. Imaginemos que, em determinada universidade norte-americana, alguém com uma mentalidade como essa que descrevemos se interesse em pesquisar as algas marinhas. Começa, então, por formar um pequeno departamento de algas no Instituto de Botânica Oceanográfica adstrito ao Setor de Geografia da Faculdade de Ciências, etc. (porque, é claro, tudo ali já é ultra-especializado).
Depois, trata-se de conseguir do Governo uma verba de tantos bilhões de dólares para fundar uma própria Universidade de Algas,, a qual, por sua vez, se divide em diversas Faculdades e em várias seções.
Pois bem: ao cabo de dois mil anos desse sistema, o desdobramento ainda não teria terminado, nem a pesquisa terá chegado a seu fim. Porque, em última análise, cada alga é uma realidade inesgotável, e para se estudar um minúsculo pedaço de alga, uma universidade não basta.
Então não se deve estudar as algas? Sim, deve-se pesquisá-las, não com o objetivo de esgotar a análise, mas para se descobrirem os aspectos dominantes dessa realidade chamada alga. Esse é o modo de procedermais ordenativo, mais calmo e mais nobre da mente humana.
Claro que se alguém quiser dar a um de nós um pormenor sobre a alga, devemos aceitar gratamente essa contribuição. Mas com a condição de a nova informação não dominar a nossa visão. E de, com nossas linhas gerais, sermos donos do assunto, e não uns eruditos.
Um espírito equilibrado possui não apenas os três sensos já mencionados (o senso do bem e do mal, obom senso e o senso católico), mas ainda o senso do metafísico, o do orgânico, enfim, todos os sensos inerentes a uma reta inteligência.
Ora, os cartesianos e os empiristas querem esgotar o inesgotável, e desejam que isso caiba na mente do homem. É o erro deles, que acaba originando problemas nervosos, pois, sem a ordenação e a serenidade interiores, a pessoa acaba se jogando num precipício de gagueiras. Por isso sou da opinião de que muitos dos distúrbios psiquiátricos verificados hoje em dia vêm do fato de que a formação em certos ambientes modernos já falseia na criança esse equilíbrio interior primeiro. E uma vez falseado, o indivíduo fica lesado em sua paz de alma e não vive bem.

Um inevitável círculo vicioso

Em resumo, eu afirmo que da nossa escola sai a certeza. Das outras escolas saem apenas afirmações categóricas, aliás, temporárias, pois só serão válidas até nova descoberta.
Imaginemos que vem dar uma conferência um professor universitário, especialista em algas do Baixo-Mediterrâneo. Informadíssimo, mas não e homem de certezas. Ora, alguém que seja muito bem informado, mas não possua certezas, pode até ser muito inteligente – presto homenagem à inteligência dele – mas é um pobre coitado.
A um sábio desse gênero, eu gostaria de propor esta questão:
- O senhor deseja, naturalmente, construir seu raciocínio sobre umas primeiras noções. Mas que certeza o senhor tem de que o raciocínio humano conduz à verdade? Se o senhor afirmar isto sem prova, estará formando um preconceito. Não seria melhor partir de um estudo sobre esse problema criteriológico?
O sábio me responderá:
- Perfeito. Então eu vou começar por aí...
- Não, não, devagar! Há uma dificuldade. O senhor vai provar por meio de raciocínios que o raciocínio conduz à verdade. Ora, existe aí uma petição de princípio, porque o senhor vai usar o raciocínio para justificar a si próprio. Para provar que o raciocínio conduz à verdade, é preciso haver um elemento anterior a ele. O senhor quer me dizer em que sua certeza se funda? Qual é o início?
Ora, se for considerada como certa a tabula rasa do empirismo, não há uma base para o começo! É o mesmo problema da dúvida metódica cartesiana, que ignora tudo o que é adquirido anteriormente ao raciocínio abstrato[3].
Na realidade, há verdades primeiras[4] – São Tomás de Aquino o demonstra muito bem – que são evidentes por si mesmas, e sem as quais não há como adquirir a certeza".

(Revista “Dr. Plínio”, nº 37, abril de 2001).


Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno. A sua contribuição à epistemologia é essencial, assim como às ciências naturais por ter estabelecido um método que ajudou no seu desenvolvimento. Descartes criou, em suas obras "Discurso sobre o método" e "Meditações" - a primeira escrita em francês, a segunda escrita em latim, língua tradicionalmente utilizada nos textos eruditos de sua época - as bases da ciência contemporânea.
O método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico - que nada tem a ver com a atitude cética: duvida-se de cada idéia que não seja clara e distinta. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser etc., Descartes instituiu a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, sendo o ato de duvidar indubitável. Baseado nisso, Descartes busca provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - ego cogito ergo sum- eu que penso, logo existo) e de Deus.
Também consiste o método de quatro regras básicas:
  • verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
  • analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples;
  • sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro;
  • enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.
Observação: Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein, ainda quando judia) avançou nos estudos da chamada “Fenomenologia” ao afirmar que há a certeza de que as coisas existem porque estas se manifestam pelos fenômenos de suas naturezas intrínsecas, não dependendo, portanto, de nosso conhecimento. Isso derruba tanto o cartesianismo (a dúvida como ponto de partida) como o empirismo (pelo qual, todo conhecimento só se comprova com as experimentações empíricas). A certeza da existência de seres espirituais, como os Anjos, não provém de experiências empíricas nem de puros raciocínios, mas porque há manifestações deles através de fenômenos percebidos e testemunhados pelos homens.



[1] Uma esclarecedora amostra do empirismo é encontrada no seguinte trecho de Hume: “Se tomarmos nas mãos qualquer volume de teologia ou metafísica escolástica, por exemplo, perguntemos: ‘Contém ele algum raciocínio abstrato a respeito da quantidade ou número?’ Não. ‘Contém algum raciocínio experimental a respeito de assuntos de fato e existência?’ Não. Entregue-o então às chamas, pois não poderá conter nada senão sofistaria e ilusão. (Peter Gay, “A ilha da razão”, in Folha de São Paulo, caderno Mais!, 15/4/2001).
[2]Claro está que Dr. Plínio excetua aqui as necessidades apologéticas, das quais era entusiasta.
[3] Foi para tentar sanar essa fatal lacuna de seu sistema que Descartes imaginou a tese da existência deidéias inatas, considerada absurda pela sã filosofia.
[4] A primeira e básica de todas as verdades é a Revelação divina. Todo o conhecimento humano é, assim, oriundo de alguma revelação, ou de Deus ou de um Anjo,ou de um outro homem. A certeza, muitas vezes, se origina da credibilidade que se da à fonte de onde provém a revelação. O aluno adquire a certeza porque confia no professor... e é este quem “revela” ao aluno as verdades por ele antes desconhecidas.