quarta-feira, 30 de outubro de 2013

ORIGENS PRETERNATURAIS DA COMOÇÃO SOCIAL




Que utilidade tem para um telespectador ou leitor de jornal, aqui no Brasil, ficar sabendo que um carro atropelou e matou dez pessoas no interior da Índia; ou que um sujeito estuprou várias mulheres em qualquer parte do mundo; ou que um atirador matou dezenas de pessoas nos Estados Unidos e se suicidou em seguida;  ou, ainda, que crianças estão sofrendo assédios e ataques de pedófilos em várias partes do mundo? Que utilidade há para nós em saber, e ver, um sujeito pular do alto de um prédio rumo à morte? Que utilidade, enfim, teve uma notícia, com a filmagem exposta na TV, onde se vê um preso assassinar outro barbaramente dentro da cadeia? Nenhuma utilidade? Não, há uma utilidade, sim, não para o público, mas para os promotores de uma nova revolução: causar comoção social.
 Comoção é abalo, agitação de ânimo; social, quando ela parte de um ânimo coletivo.  É possível haver um ânimo coletivo? Sim, quando há disposição semelhante entre as pessoas que convivem entre si, no modo de agir coletivamente. Se o ânimo é pacífico produz a paz social, mas se é abalado por comoções promove o contrário: clima de contendas, de rivalidades, etc.
A paz social ocorre quando os ânimos encontram-se em ordem, sem abalos ou agitações, permitindo às multidões um agir coletivo sereno, reto e pacifico, com vistas ao bem comum.
O senso de orientação permite às pessoas e aos povos saber  conduzir-se , inclusive perante a perspectiva do futuro, próximo ou remoto.  A perda desse senso de orientação leva as pessoas a perder  também a paz interior, segurança no agir, até atingir à comoção conjunta com os outros habitantes da mesma localidade.
Quais são os agentes (modernamente falando) dessa comoção social?  Em primeiro lugar está a mídia e os corifeus da Revolução.  Como se sabe, a mídia é composta pelos órgãos de imprensa, rádios, jornais e TVs; quanto aos corifeus da Revolução, estão eles em todas as partes, até na própria mídia, mas em geral são compostos por grupos organizados secretamente nas universidades e outras organizações, dirigidos às vezes por interesses ou grupos internacionais, filosóficos e ideológicos. Tem se destacado ultimamente dentre tais grupos revolucionários os anarquistas, e o mais atuante, o chamado “black bloc”, um movimento que visa destruir toda a estrutura social vigente  e a volta ao tribalismo.
É claro que, antes de tudo, devemos levar em consideração as fontes de onde se originam os fatos, as notícias, que é, além dos protagonistas dos mesmos, a própria policia e a justiça que os leva aos jornais. Entretanto, é preciso notar que o próprio demônio (por ser um anjo regente dos revolucionários, e inteligente como é) procura produzir os fatos que possam gerar comoção social. Isso não é mais feito, como antigamente sempre o foi, pela pura ação das forças secretas, grupos revolucionários ou as pessoas isoladamente. Hoje, podemos dizer que a ação diabólica representa papel preponderante nestas ações. Ele possui, é certo, seus agentes humanos, mas, às vezes,  age também por si mesmo.  Segundo os princípios da “Regência Universal”, o demônio conseguiu os “direitos” de regência sobre seus seguidores, servos ou apenas “alienados” e, ou os impele a agir ou age por eles.  Assim, quando um anjo das trevas possui de fato um atirador para fazer um massacre nos Estados Unidos, como tem acontecido com frequência ultimamente, outros demônios inspiram órgãos da mídia a dar àquele fato o destaque necessário a criar uma comoção em toda a sociedade.
A possessão, vista como a clássica posse dos corpos humanos, já não é tanto visível quanto outrora. No mundo moderno, o que ele põe em uso é um tipo de possessão diferente, onde a regência sobre os maus é feita por efeitos indiretos e não pela imposição da força. Em primeiro lugar, há a regência sobre os homens em estado de pecado, cegando-os, levando-os a agir por impulsos e desregradamente.  Depois vem a fase seguinte, que é a dureza de coração, a qual faz as pessoas ficarem inflexíveis e sem piedade ou cordura perante os semelhantes. Isso não ocorre somente com bandidos, mas até mesmo com pessoas tidas como boas e ordeiras e que praticam certos pecados. Os chamados “atos irrefletidos” dos indivíduos passam a ser feitos conjuntamente, mas já agora sob a regência diabólica. Tendo, pois, a regência sobre indivíduos e grupos sociais, fica fácil aos anjos das trevas levá-los a atingir seus objetivos, dentre os quais está a comoção e, como consequência desta, a desesperança.
Coadjuvando esta ação de regência dos anjos maus (que é direta sobre as pessoas possuídas pelo espírito de revolta e cheias de pecados),  vem a ação da mídia excitando as populações através do realce que dão aos atentados, aos crimes hediondos, as tragédias “inexplicáveis”, cuja repercussão na população é de desânimo, desesperança, etc. Se prestarmos atenção, verificaremos que todo noticiário que envolve tragédias é  feito deixando propositadamente várias dúvidas ou falta de esclarecimento aos ouvintes:  o destaque é dado ao crime insolúvel, ao bandido que ainda não foi preso, ao roubo e tráfico de drogas feitos bem próximos de delegacias ou de viaturas policiais – até mesmo o fato de faltar água nas mangueiras dos bombeiros é chamado a atenção, com o visível intuito de causar a descrença e desconfiança da população na ação dos órgãos policiais.
Isso demonstra que há uma certa regência diabólica para a condução de tais fatos, com o fim de causar desesperança nas populações. Como se viu, não se caracteriza tal regência como uma possessão clássica, mas um domínio coletivo sobre grupos de indivíduos com vistas a um fim específico.
Como ocorre uma comoção social? De modo geral se inicia excitando nas populações uma predisposição ao inconformismo: todo crime bárbaro é apresentado com destaque e se dá a entender que sempre ficam impunes – o que campeia é a impunidade – servindo isso para gerar e incrementar o inconformismo; astutamente a mídia incita a que se peça “justiça”, quando, na realidade, as pessoas estão manifestando o desejo de vingança. Contribui também para incrementar tal inconformismo a ineficácia dos órgãos policiais e da própria justiça, esta última com sua morosidade e real impunidade. Da mesma forma, serve para incrementar tal comoção as manifestações dos inconformados, em geral passeatas e bloqueios de ruas com pneus queimados, às vezes simplesmente protestando contra a violência – coisa inócua e ineficaz para tal fim.  Pois não são manifestações desordenadas, em geral feitas por elementos exaltados que poderia ter como efeito a diminuição da violência urbana; pode até inspirar o aumento da mesma, pois o bloqueio de ruas e estradas já é uma violência em si.
O que é justiça? O que é justiça social? A definição mais básica de justiça diz que é dar a cada um o que lhe é devido ou que lhe é direito, no caso, o mérito ou o castigo.  No entanto, quando o povo é insuflado a “pedir justiça”, muitas vezes se está incrementando o desejo de vingança pura e simplesmente. Ademais, a justiça verdadeira não visa somente o castigo, mas também o perdão.  A  perda desse sentimento de perdão leva as pessoas a desejar até mesmo fazer justiça com as próprias mãos. Assim, a justiça social é a distribuição da mesma a toda sociedade, mas inclui castigo e perdão. As anistias existem pra isso e estão previstas em todos os estatutos legais.
No final, sempre ocorre que essa inconformidade não gera a paz de alma das pessoas, mas uma comoção interior, e, no âmbito geral uma comoção social. Aqui entra o anjo das trevas para, através da comoção social, produzir o espírito de desesperança em todo o corpo social, levando as pessoas a praticar atos irrefletidos de toda natureza, até chegar ao suicídio. Como tem sido comum ultimamente: o assassinato de uma pessoa (ou mais) da própria família (sendo o mais comum da própria esposa) seguido de suicídio do criminoso. Há coisa mais diabólica do que isso? Pois bem: mais diabólico ainda é o destaque do fato que a mídia dá em seguida, não gerando outra coisa senão comoção coletiva, pois esta se constitui no caldo de cultura de outros crimes e suicídios que virão depois.
Vejamos, abaixo, alguns exemplos:
Veladamente nota-se um estímulo às torcidas de futebol insatisfeitas com o fracasso de seus times, as quais são levadas a agir intempestivamente praticando violências inauditas nos estádios e até nas ruas, ocorrendo às vezes crimes de mortes entre elas. No entanto, ninguém censura a mídia quando elogia alguma torcida por ser “fanática” – no caso de futebol o fanatismo é plenamente justificável, embora tenha produzido tantos crimes e violências.  
Mas, os casos mais comuns, que são usados pelos instrumentos de promover comoções sociais são:  crimes de estupros, pedofilias, assassinatos chocantes e brutais, crimes políticos e contra crianças, velhos e mulheres (chegou-se a dar destaque a violências contra índios, e fala-se a toda a hora em assassinatos de negros), os altos impostos dos governos, a questão da droga sem solução, a violência em família (pais contra filhos e filhos contra pais, ou marido contra mulher e vice-versa), altos salários de “marajás”,  propinas, etc. Qualquer notícia dos gêneros acima facilmente movimenta em segundos um batalhão de repórteres e câmaras de TV.  Estas estão sempre presentes em alguns casos com a idéia de ação imediata, dando a impressão à população de que aqueles casos são corriqueiros. Em todas as capitais e principais cidades do Brasil há uma infinidade de programas televisivos dedicados exclusivamente a divulgar cenas de violências. Muitos deles com caro aparato de cobertura, composto até de helicópteros.
O último caso mais clamoroso de comoção social foi o da boate Kiss, de Santa Maria. O clamor por justiça tornou-se até um apelo insano, pois não se fala, em nenhum momento, em perdoar os culpados. De outro lado, quando os inconformados comemoram a data do evento, ou quando fazem alguma manifestação sobre o mesmo, fazem apenas “um minuto de barulho”, dando a entender que são pessoas desregradas e descontroladas, sem saber o que fazer para de alguma forma reparar a dor que sofre as famílias das vítimas. E por que não, um minuto de oração?  É disso que mais precisam as almas dos falecidos naquele trágico evento... Falamos de um caso clamoroso, que chamou a atenção de todo o Brasil; mas, casos semelhantes, embora de menor gravidade, ocorrem diariamente em nossas grandes cidades, ocupando a maior parte do noticiário de jornais, rádios e TVs.
O caso mais clamoroso de comoção social produzida pela mídia foi o ocorrido em Ruanda, quando uma etnia entrou em luta contra outra e perpetrou um genocídio.  Depois ficou se sabendo que tudo foi promovido por um canal de TV e uma emissora de rádio. Os culpados foram julgados e condenados, pois tudo foi apurado por organizações internacionais. Os  fatos, embora cheios de lances romanescos do cinema, estão retratados no filme “Hotel Ruanda” e podem ocorrer a qualquer hora também no Brasil, não por etnias, mas por grupos organizados. No caso de Ruanda foram mortas mais de 800 mil pessoas, por motivos torpes e étnicos.  Os casos esparsos, de menor gravidade, que ocorrem em vários países (como o Brasil e Estados Unidos) parece indicar que é um mero treinamento para um grande e trágico lance de comoção geral que a mídia está preparando em todas as nações. E, como visto, contando com a ação diabólica que lhes fornece diariamente a matéria prima que são os crimes hediondos que causam comoções sociais.
Veja postagem sobre o  genocídio de Ruanda:

A Rádio e Televisão Livre de Mil Colinas (RTLM), através de seu proprietário, Ferdinand Nahimana, e o jornal “Kangura”, por intermédio também de seu dono, Hassan Ngeze, extremista hutu, fizeram diversas reportagens conclamando os hutus à vingança. Um outro que foi responsabilizado diretamente pelo genocídio, conforme julgamento feito na própria ONU, foi o jornalista Jean-Bosco Barayagwiza, co-proprietário da RTLM. As transmissões da TV eram feitas sob toques marciais de tambores para incitar o ódio dos hutus contra os tutsis. Os jornalistas, em suas reportagens, exortavam abertamente a população ao massacre.
Um ex-repórter da RTLM, Georges Ruggin, declarou que a emissora recebia informações de milicianos hutus sobre operações que pretendiam desencadear e emitia boletins radiofônicos que ajudavam a localizar e capturar as vítimas, a grande maioria civis, e até mesmo padres e freiras. (dados tirados da “Folha de São Paulo”, 04.12.2003, A-13)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A participação dos Anjos na História da Salvação


DIA DOS ANJOS CUSTÓDIOS - 2 DE OUTUBRO 

(Audiência geral de João Paulo II, de quarta-feira, 6 de agosto de 1986, publicado pelo L’Ossevartore Romano)

1. Nas últimas catequeses vimos como a Igreja, iluminada pela luz que provém da Sagrada Escritura, tem professado ao longo dos séculos a verdade sobre a existência dos anjos como seres puramente espirituais, criados por Deus. O tem feito desde o começo com o Símbolo niceo-constantinopolitano e o tem confirmado no Concílio Lateranense IV (1215), cuja formulação voltou no Concílio Vaticano I no contexto da doutrina sobre a criação: Deus “criou do nada juntamente ao princípio do tempo, a ambas classes de criaturas: as espirituais  e as corporais, quer dizer, o mundo angélico e o mundo terrestre; e depois, a criatura humana que, composta de espírito e corpo, os abarca, de certo modo, aos dois”  (Const. De fide Cath... DS 3002).  Ou seja: Deus criou desde o princípio ambas realidades: a espiritual e a corporal, o mundo terreno e o angélico. Tudo o que Ele criou juntamente (“simul”) em ordem à criação do homem, constituído de espírito e de matéria e colocado segundo a narração bíblica no quadro de um mundo já estabelecido segundo suas leis e já medido pelo tempo (“deinde”). 
2. Juntamente com a existência, a fé da Igreja reconhece certos graus distintivos da natureza dos anjos.  Sua fé puramente espiritual implica antes de tudo sua não materialidade e sua imortalidade. Os anjos não têm “corpo”  (se bem que em determinadas circunstâncias se manifestam sob formas visíveis por causa de sua missão em favor dos homens), e portanto não estão submetidos à lei da corruptibilidade que une todo o mundo material  Jesus mesmo, referindo-se à condição angélica, dirá que na vida futura os ressuscitados “não podem morrer e são semelhantes aos anjos”  (Lc 20, 36).
3. Enquanto criaturas de natureza espiritual, os anjos estão dotados de inteligência e de livre vontade, como o homem, porém em grau superior a ele, se bem que sempre finito, pelo limite que é inerente a todas as criaturas. Os anjos são, pois, seres pessoais e, enquanto tais, são também eles “imagem e semelhança” de Deus.  A Sagrada Escritura se refere aos anjos utilizando sempre apelativos não só pessoais (como os nomes próprios de: Rafael, Gabriel, Miguel), senão também “coletivos”  (com as qualificações de: Serafins, Querubins, Tronos, Potestades, Dominações, Principados), assim como realiza uma distinção entre Anjos e Arcanjos. Ainda tendo em conta a linguagem analógica e representativa do texto sacro, podemos deduzir que estes seres-pessoas, quase agrupados em sociedade, se subdividem em ordens e graus, correspondentes à medida de sua perfeição e às tarefas que se lhes confia. Os autores antigos e a mesma liturgia falam também dos coros angélicos (nove, segundo Dionísio o Areopagita). A teologia, a especialmente a patrística medieval, não tem recusado estas representações, tratando em troca de dar-lhe uma explicação doutrinária e mística, porém sem atribuir-lhes um valor absoluto. São Tomás preferiu aprofundar as investigações sobre a elevação espiritual destas criaturas puramente espirituais, tanto por sua dignidade na escala dos seres, como porque nelas podia aprofundar melhor as capacidades e atividades próprias do espírito no estado puro, tirando disso não pouca luz para iluminar os problemas de fundo que desde sempre agitam a estimulam o pensamento humano:  o conhecimento, o amor, a liberdade, a docilidade a Deus, a consecução de seu reino.
4. O tema a que temos aludido poderá parecer “alheio” ou “menos vital’ à mentalidade do homem moderno. E sem embargo a Igreja, propondo com franqueza toda a verdade sobre Deus criador inclusive dos anjos, crê prestar um grande serviço ao homem. O homem tem a convicção de que em Cristo, Homem-Deus, é ele (e não os anjos) que se acha no centro da Divina Revelação. Pois bem, o encontro religioso com o mundo dos seres puramente espirituais se converte em preciosa revelação de que seu ser não é só corpo, mas também espírito, e de sua pertinência a um projeto de salvação verdadeiramente grande e eficaz dentro de uma comunidade de seres pessoais que para o homem e com o homem servem ao desígnio providencial de Deus.
5. Notamos que a Sagrada Escritura e a Tradição chamam propriamente anjos àqueles espíritos puros que na prova fundamental de liberdade elegeram a Deus mediante o amor consumado que brota da visão beatífica face a face, da Santíssima Trindade. O diz o mesmo Jesus: ”Seus anjos vêem de contínuo no céu a face de meu Pai, que está nos céus”  (Mt 18, 10). Esse “ver de contínuo a face do Pai” é a manifestação mais alta da adoração de Deus. Se pode dizer que constitui essa “liturgia celeste”, realizada em nome de todo o universo, à qual se associa incessantemente a liturgia terrena da Igreja, especialmente em seus momentos culminantes. Baste recordar aqui o ato com que a Igreja, cada dia e cada hora, no mundo inteiro, antes de dar início à prece eucarística no coração da Santa Missa, se apela “aos Anjos e aos Arcanjos” para cantar a glória de Deus três vezes Santo, unindo-se assim àqueles primeiros adoradores de Deus, no culto e no amoroso conhecimento do mistério inefável de sua santidade.
6. Também segundo a Revelação, os anjos que participam na vida da Trindade na luz da glória, estão também chamados a ter sua parte na história da salvação dos homens, nos momentos estabelecidos pelo desígnio da Providência Divina. “Não são todos esses espíritos ministros, enviados para serviço em favor dos que vão herdar a salvação?”, pergunta o autor da Carta aos Hebreus (1, 14). E isto crê e ensina a Igreja, baseando-se na Sagrada Escritura, pela qual sabemos que é tarefa dos anjos bons a proteção dos homens e a solicitude por sua salvação.
Encontramos estas expressões em diversas passagens da Sagrada Escritura, como por exemplo no Salmo 90/91, citado já repetidas vezes: “Pois te encomendarás a seus anjos para que te guardem em todos teus caminhos, e eles te carregarão em suas mãos para que teus pés não tropecem nas pedras” (Sl 90/91, 11-12). Jesus mesmo, falando dos meninos e admoestando a não escandalizá-los, apela a seus “anjos”  (Mt 18, 10). Ademais, atribui aos anjos a função de testemunhos no supremo juízo divino sobre a sorte de quem tiver reconhecido ou renegado a Cristo: “A quem me confessar diante dos homens, o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus”  (Lc 12, 8-9; cf Apoc 3, 5). Estas palavras são significativas porque se os anjos tomam parte no juízo de Deus, estão interessados na vida do homem. Interesse e participação que parecem receber uma acentuação no discurso escatológico, em que Jesus faz intervir os anjos na parusia , ou seja, na vinda definitiva de Cristo ao final da história (cf Mt 24, 31; 25,31-41).
7. Entre os livros do Novo Testamento, os Atos dos Apóstolos nos fazem conhecer especialmente alguns episódios que testemunham a solicitude dos anjos pelo homem e sua salvação. Assim, quando o anjo de Deus liberta os Apóstolos da prisão (ct. At 5, 18-20), e antes de todos a Pedro, que estava ameaçado de morte por mão de Herodes (cf At 12, 5-10).  Ou quando guia a atividade de Pedro a respeito do centurião Cornélio, o primeiro pagão convertido (At 10, 3-8; 11, 12-13), e analogamente a atividade do diácono Felipe no caminho de Jerusalém a Gaza (At 8, 26-29).
Destes poucos fatos citados a título de exemplo, se compreende como na consciência da Igreja se pode formar a persuasão sobre o ministério cofiado aos anjos em favor dos homens. Por isso a Igreja confessa sua fé nos anjos custódios, venerando-os na liturgia com uma festa especial, e recomendando  o recurso à sua proteção com uma oração freqüente, como na invocação do “Anjo de Deus”. Esta oração parece enriquecer as belas palavras de São Basílio: “Todo fiel tem junto a si um anjo como tutor e pastor para levá-lo à vida”  (cf. São Basílio, Adv. Eunomium, III, 1; veja-se também São Tomás, S. Th., I, q. 11, a.3).
8. Finalmente é oportuno anotar que a Igreja honra com culto litúrgico a três figuras de anjos, que na Sagrada Escritura se lhes chama com um nome. O primeiro é Miguel Arcanjo ( cf. Dan 10, 13-20;  Apoc. 12, 7; Judas 1, 9). Seu nome expressa sinteticamente a atitude essencial dos espíritos bons. “Mica-El significa com efeito: “Quem como Deus?”.  Neste nome se acha expressa pois a eleição salvífica graças à qual os anjos “vêem a face do Pai” que está nos céus. O segundo é Gabriel: figura vinculada sobretudo ao mistério da Encarnação do Filho de Deus (cf Lc 1, 19-26). Seu nome significa: “Meu poder é Deus” ou “Poder de Deus”, como para dizer que o ápice da criação, a Encarnação, é o sinal supremo do Pai Onipotente. Finalmente o terceiro arcanjo se chama Rafael. “Rafa-El’ significa: “Deus cura”. Ele se fez conhecer pela história de Tobias no Antigo Testamento (cf Tob 12, 15-20), etc.). É muito significativo o fato de que Deus confie aos anjos seus pequenos filhos, sempre necessitados de custódia, cuidado e proteção. Refletindo bem se vê que cada uma destas três figuras: Mical-El, Gabri-El e Rafa-El refletem de modo particular a verdade contida na pergunta posta pelo autor da Carta aos Hebreus: “Não são todos esses espíritos ministros, enviados para serviço em favor dos que vão herdar a salvação?”  (Heb 1, 14). 


(texto extraído do livro “Juan Pablo II: Los Ângeles”, Secretariado del Opus Angelorum de Bogotá, e adaptado pelas Servas dos Corações Traspassados de Jesus e Maria).