sábado, 31 de dezembro de 2016

COMO ESTÁ O BRASIL NO CONCERTO DAS NAÇÕES?




Pelo que se divulga na mídia nunca o Brasil foi tão mal quanto neste último ano.  No entanto, é bom ponderarmos alguns aspectos que nos fazem ver a coisa de forma diferente.
No plano político, a nação que deveria ser o exemplo de paz social é o EUA. Como modelo desta paz apresentam a política eleitoral de lá como exemplar.  E dizem que a democracia moderna, para assegurar representatividade autêntica, deve ser baseada na maioria simples.  Nesta última eleição ficou demonstrado que a representatividade americana não está na maioria simples, mas na de representantes indiretos que são os delegados. Não se considera lá os votos da maioria simples da população, mas de um grupo de elite representado pelos delegados. Foi isso que deu a Trump a vitória nas últimas eleições.  Quer dizer, de nada adiantou o voto popular. Embora aqui se acuse de haver impunemente fraude com as urnas eletrônicas, ainda se respeita o princípio de maioria simples. O que, aliás, não ocorre em alguns outros países da Europa.
Quanto à violência e seu combate jurídico e policial, demos show de eficiência. Terrorista aqui não tem vez e a polícia conseguiu desfazer as tramas para um atentado nas olimpíadas do Rio, coisa que as melhores polícias européias não conseguiram evitar por lá. Inclusive uma das mais rigorosas delas, a alemã, não foi mais competente do que a nossa.  Mas não ficamos só nisso. Dois crimes elucidados numa semana mostram nossa maior eficiência.  Primeiro, o crime dos arruaceiros que mataram a pontapés o ambulante no metrô, elucidado em dois dias. Segundo, o crime do embaixador grego, também elucidado por nossa polícia em dois dias. Quando o embaixador sumiu e encontraram o corpo  carbonizado as agências de noticias se apressaram em divulgar o fato como fruto do clima de violência no Rio. Todos sabem que não é só no Brasil, não é só no Rio, mas em toda parte do mundo. E nossa policia trabalhou rápido e eficiente no caso:  Já ouviram falar em maior eficiência? Alguma polícia européia ou oriental já fez trabalho mais eficiente e eficaz do que a nossa polícia? O crime do embaixador russo na Turquia não entra em questão, pois foi bem flagrantemente visto por câmaras, ao vivo. Mas, por lá, restam algumas dúvidas, como certas suspeitas de que o terrorista matou o cara errado:  e se ele pretendia matar uma autoridade governamental e errou o alvo? Se houve isso, tudo vai ficar obscuro.  Para sempre.
Mas, nossa eficiência policial e jurídica tem sua explicação: o constante exercício perante a grande quantidade e diversidade de crimes.  Talvez. Mas, vejo a coisa por outro lado. Há uma tendência no continente europeu de ver o homem como remido do pecado original e puro em suas intenções, como na Holanda, onde se suprime as cadeias alegando falta de criminosos. Constatou-se que não é falta de quem cometa delitos, mas ausência de leis.  Uma infinidade de delitos muito comuns, por exemplo, no Brasil, lá não é mais crime, como tráfico de drogas, aborto, eutanásia, etc.  Quer dizer, as pessoas continuam praticando crimes, mas a lei do país os considera como coisas normais.  Lá o STF está disseminado por toda a legislação do país.
E a corrupção só existe no Brasil? São santos os políticos ingleses, alemães, franceses ou americanos? Aqui temos um judiciário e uma polícia federal causando assombro de tanta eficiência, prendendo até políticos influentes.  E lá nos países do primeiro mundo não existem políticos corruptos, tanto ou mais corruptos do que os nossos?  Será que não existem ou a justiça  e polícia de lá são manobrados e nada revelam, exatamente para dar ao mundo uma idéia errada sobre a sociedade deles?  Querem transmitir ao mundo uma idéia de que lá tudo ocorre às mil maravilhas, e que a paz social, fruto do progresso econômico e financeiro, é completa.  E para não deixar que o mundo saiba a podridão que cheira mal no submundo do crime, a única saída é esconder tudo debaixo do tapete. Por isso estamos sendo mais eficientes do que eles.
Antigamente éramos os campeões somente no futebol e no carnaval. Agora, não. Chegou a vez do Brasil mostrar ao mundo que as coisas de um país devem ser vistas com clareza, sem subterfúgios e sutilezas, para que haja uma renovação mundial nos dirigentes dos povos.
E nossa situação econômica e financeira, com tanto desemprego?  Estamos pagando caro pelos pecados de governos anteriores. Dilapidaram nossos recursos. Mas, tudo está às claras, nada se esconde por aqui. Será que somente o Brasil passa por isso?  Não se fala mais na situação calamitosa de países europeus, como Portugal, Espanha e Grécia, dilapidados por governos socialistas durante décadas. Fala-se nos países nórdicos, especialmente a Suécia e Dinamarca, modelos de paz social e riqueza. Mas, modelos também de suicídios e de gente frustrada, onde a riqueza e prazer não lhes deram nenhuma paz de espírito.  Hoje, os idosos fogem da Suécia e da Holanda para não morrerem em seus asilos, vítimas da eutanásia. Aqueles mesmos idosos que são modelo de previdência social, com vantajosas aposentadorias.  Condenados à morte. Também não se fala na crise por que passa a China, tida como uma potência a concorrer com os EUA, mas cheia de fracassos econômicos e crises de toda ordem, também escondidas pelo regime comunista que controla tudo.  Abafaram a guerra da Rússia com a Ucrânia e ninguém sabe o que o colosso russo fez com o infeliz vizinho, esmagado e sem defesa.  Sim, e cadê a riqueza e poder do antigo império soviético? Não diziam que era a segunda potência do mundo? Onde foi parar tanto poder?
E qual a situação dos EUA e do resto da Europa? Não há uma só capital européia que não esteja hoje, véspera do Ano novo, cheia de policiais armados. O terror toma conta de todos. No meio de certa tranqüilidade e gozo das festas, perdura um clima de insegurança.  Alguns poderão até mesmo ter inveja da situação do Brasil neste aspecto, por aqui o terror é dos bandidos, mas há mais possibilidade das pessoas se protegerem do que o terrorismo internacional, mais violento e astuto.

Viva o Brasil!  Ainda o melhor país para se viver. O brasileiro, mesmo desempregado, é feliz. Quando o Papa João XXIII viu pela primeira vez o que dizia todo o segredo de Fátima, exclamou: “Feliz do Brasil!”  Até hoje ninguém explicou o motivo desta exclamação: então o segredo de Fátima faz menção do Brasil? E isso é motivo para sermos felizes?

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O CRISTIANISMO É A ÚNICA SOLUÇÃO PARA A PAZ NA PALESTINA



De 1948 até nossos dias o Estado de Israel não teve um só dia de paz. Depois da guerra de 1948, veio a de 1956 (em 29 de outubro, a “campanha do Sinai), apoiados por forças anglo-francesas, e a grande guerra dos seis dias em 1967. A ONU tem procurado sempre estar favorável a Israel, e nunca suas resoluções foram cumpridas, porque aquela organização tem se mostrado inteiramente incapaz de solucionar os conflitos internacionais. Vejamos como as coisas, no âmbito da ONU, ocorreram até os dias atuais:
-          Em data de 29 de novembro de 1947 (apenas dois anos depois da formal criação da ONU), foi aprovada a resolução n. 181, que decide pela divisão do território palestino em dois Estados, um judeu e outro composto pelos atuais ocupantes da região. O Estado judeu foi criado logo no ano seguinte, por decisão e imposição dos mesmos, mas o palestino nunca o foi até nossos dias;
-          Resolução n. 303, de 9 de dezembro de 1949, determina que a cidade de Jerusalém tenha “status”  internacional e seja administrada pela ONU. Hoje, os judeus mandam na cidade, embora ainda tolerem algumas áreas cristãs e muçulmanas;
-          Após a guerra dos seis dias, a 22 de novembro de 1967, resolução n. 242 do Conselho de Segurança da ONU determina que Israel se retire dos territórios ocupados naquela guerra. Nada se cumpriu até o momento;
-          Resolução n. 3379, de 10.11.75, qualifica o sionismo como uma forma de racismo e de discriminação racial. Mas tudo no papel, nada na prática, pois nenhum país ousou pôr em uso contra o sionismo as leis que eles criaram contra o nazismo e outras formas de racismo;
-          Em março de 1978 são aprovadas duas resoluções, de n. 425 e 426, exigindo o fim das ações bélicas de Israel contra o Líbano e decide criar uma força internacional da ONU na região. Em parte, isto foi cumprido, mas após terrível massacre dos judeus contra palestinos em Sabra e Chatilla;
-          Em 14 de dezembro de 1978, a resolução 33/71 da Assembléia Geral da ONU proíbe seus integrantes de cooperação bélica com Israel e de lhe fornecer qualquer equipamento militar. Sabe-se que os Estados Unidos até hoje mantêm forte cooperação e ajuda militar a Israel, sem qualquer censura do inócuo organismo da ONU;
-          Mais uma resolução é feita, em 30 de junho de 1980, a de n. 476, determinando que Israel se retire dos territórios ocupados na guerra de 1967. Tal resolução, como as demais, foi ignorada por Israel;
-          Com violência inaudita, o exército de Israel lança tanques de guerra contra loucos atiradores de pedras, forçando mais uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, em 07 de outubro de 2000, a de n. 1322, que condena tais ações bélicas. Israel continua surdo ao que determina o máximo organismo internacional de paz entre as nações.
- Dezembro de 2016: a ONU aprova nova resolução, pela qual Israel tem que parar de ocupar e colonizar terras palestinas. Os EUA ficam neutros e a resolução é aprovada, mas sem efeito prático, pois o governo de Israel declara publicamente que não vai cumpri-la. E agora?
A impressão que se tem é que o judaísmo, infiltrado e poderoso em vários setores chaves dos postos de mando (ONU, Estados Unidos, etc), consegue “abafar” normas que possam impedir o crescimento do Estado judaico. Mas de outro lado, quanto mais este Estado cresce, mais aumenta o ódio de seus vizinhos contra ele. Assim, aquilo que poderia ser tido como um desafio ao próprio Deus, que lhes amaldiçoou com a dispersão pelo mundo por causa do deicídio praticado em Jesus Cristo, trouxe aos judeus amargos frutos, uma convivência difícil com vizinhos inconformados e justamente revoltados, a ponto talvez de provocar, ou melhor suscitar, um sentimento de repúdio entre eles para com o Ocidente Cristão e a deflagração de uma Revolução islâmica universal. Pior ainda: suscitou entre eles a formação de redes terroristas capazes de horríveis ataques suicidas, com bombas atadas ao próprio corpo do atacante, e com a morte de inúmeras vítimas civis inocentes. 
O problema da Palestina é tão importante para a revolução islâmica que todos os terroristas e dirigentes muçulmanos em geral o alegam como principal ódio que mantêm contra a América do Norte. Quando Israel os guerreia, os combate com seu exército, com seus tanques e bombas “legais”, está diretamente lhes açulando o ódio contra os Estados Unidos e contra todo o Ocidente cristão. Pesquisa publicada pelo jornal “Al Watan” (em abril de 2002), da família real da Arábia Saudita, constatou que 60% dos sauditas odeiam os EUA. Perante a pergunta “Você odeia o Ocidente em geral?”, 49% responderam que sim, 30% não, e o restante se manteve indiferente. Perguntados qual a razão deste ódio, 75% responderam que era por causa do apoio logístico que os americanos davam aos judeus no conflito israelo-palestino.
E assim, tanto Israel quanto o Próprio EUA e a ONU ficam num impasse: precisam acalmar os beligerantes palestinos islâmicos e lhes prometem criar um Estado, um País onde possam viver; mas como manter este povo na fronteira de Israel com perigo constante para seu território? Mais cedo ou mais tarde, estando a Palestina estruturada como País e com assento na ONU, o Estado de Israel correria perigo. Da mesma forma os judeus não abrem mão de seu território, conquistado a ferro e fogo. Como sair do impasse? Aparentemente como as coisas andam no momento, não há saída. O impasse continua, as guerras continuam e Israel terá que conviver sem paz...
A solução para o problema encontra-se por enquanto nas elucubrações teóricas utópicas: todos os judeus se tornarem muçulmanos ou então todos muçulmanos tornarem-se judeus, ou, mais difícil ainda, quase impossível, muçulmanos e judeus tornarem-se cristãos. Provavelmente, será a única solução para a Palestina, embora hoje pareça utópica e irrealizável.


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A ATITUDE DE NOSSA SENHORA DIANTE DA ANUNCIAÇÃO DO ANJO




(Comentários de Dr.  Plínio sobre a Santíssima Virgem Maria – 18)
O Evangelho referente a este acontecimento é o seguinte: São Lucas:
“E, (estando Isabel ) no sexto mês, foi enviado por Deus o Anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um varão que se chamava José, da tribo, ou melhor, da casa de David. E o nome da Virgem era Maria. E, entrando o Anjo onde ela estava disse-lhe: Deus te Salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.
 E Ela, tendo ouvido estas coisas, turbou-se com as suas palavras e discorria pensativa que saudação seria essa. E o Anjo lhe disse: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado o Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David; e reinará eternamente na casa de Jacó; e o seu reino não terá fim.
E Maria disse ao Anjo: Como se fará isso, pois eu não conheço varão? E, respondendo o Anjo, disse-lhe: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. E, por isso mesmo, o Santo que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus. Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível. Então disse Maria: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. E o Anjo afastou-se d’Ela." ( Lc., I, 26-38 )
Este Evangelho é cheio de matizes que me parecem interessantes. Em primeiro lugar, como fica demonstrado, o anonimato em que vivia a Sagrada Família, o anonimato da cidade e de tudo. O plano é assim: Deus, do alto do Céu, chegada a plenitude dos tempos, manda o Arcanjo Gabriel à terra. Mas manda-o a um lugar de tal maneira desconhecido de todos que nos impressiona: manda a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré. Fica aí entendido que era um lugarejo. A uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi. Uma cidade desconhecida, uma virgem desconhecida, casada com um homem desconhecido. A única coisa de ilustre que se tem para dizer é que é da Casa de Davi. O nome da virgem era Maria. E entrando o Anjo onde ela estava, disse: “Deus te Salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”.
Este “entrando o Anjo onde ela estava” dá a impressão de que era um lugar recolhido, isolado; a ação de entrar insinua muito a idéia de recolhimento, de clausura, de uma coisa que se viola.
Quer dizer, Nossa Senhora estava num lugar inteiramente sozinha. É o cúmulo do que o mundo detesta: a pessoa sozinha, isolada, desconhecida, decadente e, o que é pior ainda, no seu isolamento rezando. É para essa pessoa que vem essa mensagem. Os senhores podem imaginar o Anjo que paira dos mais altos páramos celestes, encarregado de uma enorme missão, e que vai ao ponto que menos se poderia imaginar: um lugarejo, um casalzinho, uma mulher que está recolhida no seu quarto, e ali ele leva a mais importante mensagem da História. Tudo isto fica insinuado na linguagem do texto, e é muito bonito ver como a linguagem introduz tudo isto.
Depois da saudação do Anjo, a reação. Espera-se a reação: “compreenderam o valor que tenho e, afinal, me fazem justiça...”. Ou imagina-se o Anjo de um modo tal, que ele desce inteiramente tranqüilizador, inteiramente afável, pacífico.
É uma coisa curiosa: em todas as visões de Nossa Senhora que tenho lido, repete-se essa cena. Há qualquer coisa de terrível no aparecimento da visão, que incute medo. A idéia da afabilidade, da bondade, etc. vem, mas a idéia que fica é a de medo. As crianças de Fátima sentiam medo, as crianças de La Salette também; também Santa Bernadette Soubirous. É a desproporção de duas naturezas diferentes e de algo tão fabulosamente majestoso, que Ela sentiu medo.
E o Evangelho diz: "E ela, tendo ouvido estas coisas, turbou-se com as suas palavras e discorria pensativa que saudação seria essa". Os senhores percebem que é uma manifestação de distância psíquica maravilhosa. Perturbou-se com essas palavras, quer dizer, Ela teve atenção suficiente para entender o conteúdo do que era dito, e isto A perturbou. “...e discorria pensativa”: que bonita expressão para indicar a análise ponto por ponto! Ela analisou pensativa a mensagem, perguntando para si mesma que saudação seria essa.
No total, o que é isso? Vejam bem o que é o espírito de Nossa Senhora: diante de uma coisa, mesmo tão elevada e com todas as características de vir de Deus, uma análise, e uma análise racional do conteúdo, palavra por palavra, daquilo que lhe era dito.
Devemos ser assim também. Não perder a cabeça mesmo diante da coisa mais pasmosa, mais inesperada, mais maravilhosa: discorrer pensativos sobre aquilo.
Em outro episódio, depois do nascimento de Nosso Senhor, o Evangelho nos diz que "Maria conservava todas essas coisas, meditando-as no Seu Coração" ( Lc., II, 19 ). Eminentemente analítica, pensativa, o que não está de acordo com as expressões das imagens sentimentais, que nos apresentam exatamente uma pessoa não pensativa, abobada e com uma carinha de boneca.
E aqui está o exemplo para nós. Ser uma pessoa de discernimento. Até o que vem de Deus analisar, não desconfiada mas refletidamente. Sei que aqui se pode fazer outro comentário sobre a humildade; mas esse comentário já é tão conhecido, que os senhores me permitam fazer um comentário não habitualmente feito do Evangelho.
O Anjo, que conhecia por permissão de Deus o que n'Ela se passava - note-se que Ela não fez nenhuma pergunta ao Anjo, como se estivesse estudando que pergunta fazer, e que não tinha formulado ainda sua pergunta - quando o Anjo interveio: “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus”. Quer dizer, nada tens a temer, porque Deus tem sobre ti uma complacência plena. Certamente essas palavras do Anjo foram acompanhadas de uma graça de paz; a paz surgiu dentro d'Ela, e uma paz enorme.
Vejam uma coisa curiosa: o respeito de Deus pela criatura que tem discernimento e que pensa, pela criatura que analisa. Ela tinha uma perturbação justa, e o Anjo esclareceu, como que aprovando que Ela quisesse saber que saudação era aquela. E a razão que o Anjo dá é uma razão que explica a dúvida d'Ela. O Anjo diz a Ela, com a autoridade de quem pode falar, que Ela de fato encontrou graça diante de Deus. É tão santa, tão virtuosa, Deus lhe deu tantas graças, que aquela saudação era merecida. E então Ela se tranqüilizou.
Preparado n'Ela o terreno psicológico, e preparada a humildade d'Ela para receber isto, entra a explicação: “eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado o Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David; e reinará eternamente na casa de Jacó; e o seu reino não terá fim”. O povo judaico estava cheio de esperanças de um rei que subisse ao trono, e que governasse toda a terra. A promessa feita a Ela era uma promessa de molde a justificar a esperança terrena dessa natureza: era o Messias, que se sabia que devia nascer de David e que iria nascer d'Ela, e ia ser o rei, o esperado das nações. Mas isto do trono de David é o que todo mundo estava esperando, uma realeza terrena, material. Sabemos depois como as coisas se passaram.
Muitas vezes Deus fala no interior de nossas almas; e Deus acende misteriosamente numa alma uma esperança. A alma entende de um modo o que Deus a fez esperar e Deus dá de um modo completamente diferente do que a alma estava esperando. Por exemplo, diz: tu serás grande. Vai ser mesmo: depois de morto vai ser canonizado e ser colocado no alto da Basílica de São Pedro. Mas em vida vai ser lixeiro. Deus diz: “Meu filho, eu te escolhi para exaltar o teu nome entre todas as nações; serás até o fim dos séculos lembrado como exemplo memorável etc., e os povos vindos do oriente e do ocidente, do meridiano e do setentrião, hão de se curvar diante de ti”.
É verdade. Na Basílica, no dia da canonização, tem X,Y,Z e a promessa se cumpre de um modo diferente do que a pessoa entendeu no dia em que foi feita.
Em nossa vocação, quantas vezes há algo de semelhante com isso. Deus faz a promessa de um jeito, o indivíduo entende de outro. E é assim que Deus trata os seus mais amados; é assim que Ele encaminha os seus planos mais maravilhosos. Por causa disso preparemo-nos, porque a própria Anunciação continha uma formulação que o povo judeu entendia de um modo diferente. São os caminhos de Deus que nos importa conhecer.
Vejam agora que, depois de uma coisa estupenda dessas, vem uma objeção. E uma objeção de caráter moral. Porque Ela podia intuir: afinal de contas, Deus tudo resolve, não preciso perguntar. Mas vem uma objeção. Notem a firmeza de personalidade, que lembra os Exercícios de Santo Inácio de Loyola bem pregados e não adocicados. Maria disse ao Anjo: “Como se fará isso, pois eu não conheço varão?”. E respondendo o Anjo lhe disse: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. E, por isso mesmo, o Santo que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus".
Aí vem então, como prêmio da pergunta d'Ela, aprovando que Ela tenha sido tão exigente, que tenha perguntado, a realidade da mensagem que vai se desdobrando. É como se Deus quisesse que Ela perguntasse para a mensagem ser desenvolvida. Aí a maravilha da mensagem se completa: primeiro é a maternidade divina, depois, a maternidade virginal e por isso mesmo é que Ele será Filho de Deus. Está aí toda a explicação da maravilha que se vai realizar.
E vem uma espécie de ratificação apologética. Como para Deus tudo é possível e para explicar também o plano, o Anjo diz: "Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível". É como que uma indicação dizendo que, afinal de contas, ali Ela veria com fatos externos a inteira confirmação do fato interno que n’Ela se estava operando.
Tudo isto explicado - não que houvesse dúvida, mas porque o homem age racionalmente - entra a aceitação de Nossa Senhora. E então disse Maria: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Aqui há uma atitude inteiramente conseqüente. O comentário d'Ela foi de quem entendeu a lição em sua essência: se Deus comunicou-me isto, é porque quer minha adesão. Então, dou o que Deus mandou pedir. Vê-se uma profundidade, uma lógica, uma força de alma que eu nunca vi pregador nenhum acentuar.
Deixo os comentários comuns e volto-me a essas considerações que nos fazem ver a alma insondavelmente santa de Nossa Senhora. E então compreender esse espírito lógico, cheio de fé, de obediência, mas coerente e que quer ver claro dentro das coisas, não por dúvida, nem por desconfiança, mas porque a lógica é verdade.
O Anjo afastou-se d’Ela. Segundo os melhores teólogos, imediatamente deu-se a concepção. Uma insondável operação do Divino Espírito Santo operada em Nossa Senhora; o Anjo afastou-se, mas a profecia cumpriu-se imediatamente. É um mistério que só saberemos na eternidade. Esse aspecto vago que fica depois e onde se pode conjeturar tudo, só nos deixa uma idéia: o fato é tão grande que, haja o que tenha havido, ultrapassa toda intelecção humana. Há uma pausa cheia de vazio. O resto não se fala. É o silêncio absoluto que o Evangelho deixa passar sobre as coisas, e que é o ambiente próprio ao recolhimento, para a meditação, própria às coisas sagradas e litúrgicas.
Por causa disso, em alguns ritos do oriente, na hora da consagração, corria-se um véu em torno do sacerdote, tão sagrada e misteriosa era a ação.
Vê-se então aqui que o senso religioso pede um certo senso do mistério, e que as coisas de Deus ao mesmo tempo dizem e calam muito; e não se sabe pelo que dizem mais: se pelo que falam ou pelo que calam. Compreende-se então que fazer tudo simplesinho, explicadinho, acompanhadinho, certinho é diferente das alturas dessas missões sublimes.
Façamos disso uma reserva para nossa alma para podermos amar assim essas grandezas imensas dentro de uma lógica inflexível. Aí está o verdadeiro senso da dignidade das coisas de Deus. Peçamos a Nossa Senhora que nos cubra com o manto de seu espírito nessa linha e nesses termos: espírito virginal, termos a clareza e a coerência de espírito. A castidade é uma grande coerência e a coerência uma grande castidade. Peçamos esse dom na noite de hoje.
("Conferência" – 25 de março 1965)



sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O "ESTRESSE DA FELICIDADE" E AS FESTAS DE FIM DE ANO



O espírito de festas do fim de ano pode causar problemas neurológicos? Segundo reportagem do jornal "Folha de São Paulo", de 15.12.2002, as festas de fim de ano podem causar "estresse da felicidade". O que vem a ser isso? "Tudo conspira para que seja assim: deve-se ficar feliz no Natal, o Réveillon tem de ser inesquecível, todas as festinhas precisam ser alegres, e a pressão da mídia, da família, dos colegas e dos amigos acaba acarretando, no fim de mais um ano, um desgaste paradoxal: pessoas ficam infelizes porque se sentem  na obrigação de estarem "bem", "pra cima" 
O médico Artur Zular, que é especialista em medicina psicossomática e dirige o Instituto Qualidade de Vida, diz: "... Os profissionais de saúde sabem disso: cresce a procura por tratamentos porque aumenta esse estresse. E por que ocorre? Porque, ao longo desse mês, as pessoas estão buscando desesperadamente uma felicidade que deverá ocorrer em determinada noite, no Natal ou no Ano Novo". Segundo Zular existe, sim, uma ansiedade no ar, já que "hoje em dia há famílias desintegradas, casais separados, há conflitos pessoais e profissionais de diversas ordens, e você vai ter de encarar tudo isso dentro de uma perspectiva de que deve ser bom, ser feliz. Acaba sofrendo por antecipação".
  Outros profissionais prestam depoimento sobre o mesmo tema acima e confirmam o mesmo pensamento exposto pelo Dr. Zular e pela reportagem.
A razão disso está em que a vida moderna afasta completamente as pessoas de Deus, deixando um vazio nas almas. Como os especialistas da área só vêm o problema do ponto de vista dito científico, nunca conseguirão resolver tais problemas naqueles que os sofrem.
Se houvesse menos psicólogos e mais sacerdotes fazendo confissões muitos destes problemas seriam mais facilmente resolvidos.

Veja o texto completo da reportagem da “Folha” no site da UOL:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

AGRADECIMENTOS AO REDENTOR QUE NASCEU E MORREU POR NÓS







"Não podemos esquecer os incontáveis agradecimentos que devemos a Deus, e dizer:
Agradeço-vos, ó Jesus, a vida que destes a meu corpo no momento em que insuflastes minha alma.
Agradeço o plano eterno que tínheis a respeito de mim — um plano determinado e individual que, pelos vossos desígnios, deveria eu ocupar lugar no enorme mosaico de criaturas humanas que devem subir ao Céu.
Agradeço-vos por terdes apresentado uma luta em meu caminho, para que eu pudesse tornar-me herói.
Agradeço-vos a força que me concedestes para resistir, combater e rezar — a Dios orando y con el mazo dando (a Deus rezando, e golpeando com o cajado), como dizia Santo Antonio Maria Claret.
Agradeço-vos tudo isso, e também todos os anos de minha vida que já se foram e se tenham passado na vossa graça.
Agradeço-vos os anos que não se passaram em vossa graça, pois Vós os encerrastes em determinado momento com vossa graça, abandonando eu o caminho do pecado para entrar de novo na vossa amizade.
Agradeço-vos, Divino Infante, a hora em que vos procurei. Agradeço-vos tudo o que fiz de árduo para combater meus defeitos. Agradeço-vos por não vos terdes impacientado comigo e por me terdes concedido tempo para corrigi-los até a hora da morte.
E se uma prece vos posso dirigir nesta noite de Natal, Senhor Jesus, é a que se encontra em um salmo: "Não me chameis na metade dos meus dias" (Salmo 101). Transformando-a um pouco, não quero saber quantos serão os meus dias, que talvez já tenham tido uma duração exorbitante, mas altero-a suplicando: "Não me tireis os dias na metade da minha obra". Peço-vos que me ajudeis, para que meus olhos não se fechem pela morte, meus músculos não percam seu vigor, minha alma não perca sua força e agilidade antes que eu tenha, por vossa glória, vencido em mim todos os meus defeitos, galgado todas as alturas interiores para as quais fui criado; e que, no vosso campo de batalha, eu tenha prestado a Vós, por feitos heróicos, toda a glória que esperáveis de mim quando me criastes".

(PLINIO CORREA DE OLIVEIRA - Conferência proferida em 23-12-1988)


COMO ESTARIA O CATOLICISMO HOJE NA AMÉRICA?



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Como Bento XVI encontrou a Igreja nos EUA em 2008

Situação da Igreja nos Estados Unidos da América
O padre John McCloskey pertence ao Opus Dei, é investigador do “Reason Institute” e escreve para numerosos órgãos de imprensa como o “Catholic World Report”, “Crisis Magazine”, “The Wall Street Journal, “National Catholic Register”, “Washington Times”, “New York Times” e “ACI Prensa”Recentemente o padre McCloskey analisou a situação da Igreja nos Estados Unidos. Sua análise abrange o período que vai o pós-Concílio Vaticano II, isto é, 1965, até o ano 2005.
A análise começa por mensurar a situação do sacerdócio naquele país, um indicador que ele julga importante para verificar o estado geral da Igreja. Em muitos sentidos as estatísticas nos Estados Unidos são parecidas com as da Europa, onde o hedonismo no Ocidente e o comunismo no Leste têm feito muitos estragos a partir da Segunda Guerra. No entanto, a principal causa da queda do número de católicos praticantes, tanto lá quanto cá, foi a grande confusão do pós-concílio.
Vejamos os dados. Em 1965, ao término do Concílio, havia nos Estados Unidos 58 mil sacerdotes; agora eles somam apenas 41 mil. A continuar esta queda, teremos no ano 2020 somente 31 mil sacerdotes, a metade deles com mais de 70 anos de idade. Em 1965, foram ordenados 1575 sacerdotes nos Estados Unidos; em 2005, foram ordenados apenas 454. Quer dizer, um decréscimo de mais de 60%. Deve-se levar em conta que a população católica americana cresceu 50%, passando de 45 para 67 milhões de fiéis. Nisto se verifica um mistério: enquanto cresce a quantidade de fiéis, decrescem as vocações.
No período analisado, o número de seminaristas decresceu de 50 mil, em 1965, para apenas 5 mil em 2005, quer dizer, uma queda de 90%.
É preciso se frisar que alguns bispos, incentivados já no pontificado de João Paulo II, estiveram promovendo um incremento das vocações sacerdotais, mas não houve crescimento significativo até 2005. Um fator que também tem contribuído para a pouca adesão dos jovens ao sacerdócio são os últimos escândalos envolvendo alguns padres. Espera-se que as vistorias feitas em alguns seminários e o cumprimento das recomendações da Santa Sé possam trazer uma maior fidelidade aos ensinamentos da Igreja, um ambiente moral mais sadio nos seminários e, como resultado, maior atração para os jovens realmente piedosos e possuidores de vocação.
Comunidades de vida conventual
Há também um decréscimo dos que levam vida consagrada em comunidades religiosas. Em 1965 havia nos Estados Unidos 22.707 sacerdotes pertencentes a comunidades de vida consagrada, enquanto o número em 2005 era de apenas 14.137, com grande quantidade deles já anciãos e perto do fim da vida. O número de irmãos leigos decresceu, no período, de 12.271 para 5.451. Mais assombroso ainda é o decréscimo das religiosas, que eram 179 mil em 1965 e caíram para 68 mil em 2005 – uma queda de mais de 90%.
O padre McCloskey ressalta que esta diminuição do número de religiosos em sua maioria não é decorrente de mortes, mas sim de apostasia às vocações. Da mesma forma, o fato de algumas ordens terem abandonado o cumprimento rigoroso de suas regras tem afastado os simpatizantes para as novas vocações e não ajudam no recrutamento, mas, ao contrário, está trazendo desalento na juventude. Enquanto isto, aqueles ou aquelas que perseveram vêm-se rodeados de pessoas idosas e sem muito entusiasmo pela vocação. As únicas congregações que denotam algum sinal de vitalidade e atrativo para novas vocações são as rigorosamente fiéis aos princípios evangelizadores, como aquelas que vestem hábitos completos e mantêm sólida vida de oração na comunidade.
O ensino religioso
Sobre o ensino religioso, disse o padre McCloskey:
“Podemos falar agora sobre o que, antes do Concílio, era gozo e coroa da Igreja católica nos Estados Unidos: o sistema educativo, que abarcava desde os colégios secundários até as centenas de escolas universitárias e universidades católicas.
“Na história da Igreja nunca tinha havido um sistema educativo tão amplo e, ao menos na aparência, tão sadio. A educação primária era atendida pela paróquia, onde se emulava o trabalho pioneiro de São João Neumann. As paróquias também dirigiam muitos institutos, porém vários outros eram fundados por grupos de religiosos e de religiosas. A maior parte destes institutos eram de educação diferenciada; outros admitiam meninos e meninas no mesmo edifício, porém o educavam separadamente”.
Após comentar sobre a decadência das famílias como uma das causas da crise nas escolas católicas, acrescenta: “Tudo isso desapareceu em grande parte. Quase a metade das escolas católicas que existiam em 1965 foram fechadas. Em meados da década de 1960 quatro milhões e meio de estudantes assistiam em colégios católicos; hoje são aproximadamente a metade.
“Porém, maior ainda é o problema da educação religiosa que se oferece nos colégios que ficam. Muitos de seus programas catequéticos são inapropriados e dirigidos por leigos de pouca formação... que têm sérias dificuldades com alguns pontos da doutrina e moral católicas”.
“Assim, por exemplo, somente 10% dos professores leigos de Religião aceitam o ensinamento católico sobre anticoncepção; 53% pensam que uma mulher pode abortar e continuar sendo católica; 65% dizem que um católica pode divorciar-se e voltar a se casar. Em fins da última década, numa pesquisa feita pelo New York Times, 70% dos católicos entre 18 e 54 anos deviam considerar a Sagrada Eucaristia como uma mera “recordação simbólica” de Jesus”.
Quanto ao nível superior, atualmente existem apenas 224 universidades e escolas universitárias formalmente reconhecidas como “católicas” pelos bispos. Apenas duas delas – Georgetown e Notre Dame Univesity – estão entre as 25 melhores do país.
O termo “católica”, porém, representa apenas uma fachada. Somente 6% destas universidades recebem aprovação oficial da autoridade eclesiástica, cumprindo exigências da Congregação para a Educação Católica baseadas na Constituição Apostólica “Ex Corde Ecclesiae”, de 1990.
A vida religiosa dos fiéis
Mas a assistência dos católicos às Missas e aos sacramentos não segue o mesmo sentido do crescimento de fiéis, pois são cada vezes menos estas freqüências. Antes do Concílio, 75% dos católicos americanos iam à Missa todos os domingos, enquanto hoje este índice ficou reduzido a 32%. Este índice chega a 40% daqueles que assistem á Missa em um dia qualquer da semana. Mais preocupante ainda é a quantidade daqueles que deixam de freqüentar os sacramentos, como da Confissão, Comunhão e até batizados. Também campeia a indiferença religiosa, permitindo que muitos católicos vivam às vezes em estado de pecado, participando mesmo assim de algum sacramento e aceitando divórcio e o até o aborto como coisa natural.
No final, o padre McCloskey aventa uma saída meio prática para a crise: a imigração de latinos, os quais, por serem em geral católicos mais fiéis e de proles mais numerosas poderão futuramente minorar a situação da Igreja nos Estado Unidos.
Tomara que a mensagem de Esperança, levada agora por Bento XVI em sua visita àquele país, faça com que todos entendam que a única coisa que fará a Igreja crescer é a santidade.

domingo, 18 de dezembro de 2016

NOSSA SENHORA DO Ó OU DA EXPECTAÇÃO




(COMENTÁRIOS DE DR. PLÍNIO CORREA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)


Em 18 de dezembro inicia-se a última semana do Advento, denominada pela Igreja de “semana de expectação”, já com as vistas postas na festa do Natal. Durante esse período, a Esposa Mística de Cristo imagina o júbilo e a esperança da Santíssima Virgem diante do fato de que o Messias haveria de nascer, e Ela veria por fim a face bendita do Filho que estava gerando em seu imaculado seio.

Novos esplendores conhecidos pela divina Mãe

Há anos Nossa Senhora vinha suplicando a Deus que apressasse a chegada do Redentor e, sendo sua oração insondavelmente agradável ao Padre Eterno, d’Ele tudo alcançando, foi atendida nos seus rogos, e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade afinal tomaria nossa natureza e habitaria entre nós. Maria foi convidada a ser a Mãe do Verbo, aceitou e gerou em seu claustro virginal o Filho do Altíssimo.
Ao longo dos nove meses de gestação, ia Ela concebendo a fisionomia adorável que Ele teria, e ao contemplar a face do Menino já nascido conhecerá um esplendor novo, uma maravilha nova a respeito da alma e da personalidade d’Ele. Verá chega a redenção para a humanidade e o triunfo da glória de Deus sobre um estado de coisas marcado, durante milênios, pelo pecado original e pela influência do demônio.
Numa palavra, a Santíssima Virgem sente aproximar-se o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, restando apenas uma semana para que, pelo nascimento do Salvador, o império de Satanás sofra um golpe mortal e comece a derrocar.

A expectativa de todos os séculos posta na véspera do Natal

Tal conjuntura cumula de esperança a alma da Mãe de Deus, e por isso Ela é chamada, nesse período, Nossa Senhora da Expectação, ou Nossa Senhora da Esperança, ou ainda Nossa Senhora do Ó.
Esta última invocação se explica pelo fato de que, em cada um desses sete dias, a Igreja canta no Ofício Divino, uma antífona que começa pela exclamação “Ó”.
Exprimem elas as alegrias de Nossa Senhora ao perceber dentro de si o Corpo de Jesus já completo, seus primeiros movimentos, e a idéia de que Ele ali orava ao Pai, como de dentro do mais prodigioso dos sacrários, assim como o Santíssimo Sacramento, hoje, hoje, reza no interior dos tabernáculos nos altares de todo o mundo.
O intenso desejo de Nossa Senhora de dar à luz o Verbo Encarnado continha e sublimava os anseios de todos os profetas do Antigo Testamento por Aquele que, afinal, viesse a redimir o gênero humano, esmagar o cetro de fumaça do demônio e apagar, pelo sacramento do Batismo por Ele instituído, a mancha original herdada de nossos primeiros pais. De fato, as exclamações “vinde, ó Emanuel! Ó Rei das nações!”, etc., expressam os pedidos de Adão, o qual, após a queda, recebeu de Deus a promessa do Salvador, e ele viveu e morreu com essa esperança. Viveu e morreu na alegria penitencial de ser o antepassado do Redentor que, agora, achava-se no claustro imaculado de Maria Virgem.
Portanto, todas as expectativas de todos os séculos se concentravam nesses dias e nesses momentos que antecediam de tão perto o Natal.

Realização dos anseios do Antigo Testamento

Consideremos, pois, essas invocações.
Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os confins todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.
Ó Adonai, chefe da casa de Israel, que aparecestes a Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a Lei no Monte Sinai, vinde restaurar-nos com a força de vosso braço.
Há mais de mil anos os hebreus meditavam sobre o episódio da sarça ardente e sabiam que Deus apareceria ao povo eleito de um modo muito mais real e palpável do que a Moisés. Donde o pedido que assim poderia ser expresso: “Vinde, ó Senhor, renova aquele feito, porém com uma excelência incomparavelmente maior”.
Ó Raiz de Jessé, que estais de pé como sinal dos povos, diante do qual os reis guardarão silêncio e a quem os povos hão de invocar, vinde libertar-nos, não tardeis.
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu da raiz de Jessé, ou seja, da Casa real de David (filho de Jessé), à qual pertencia a Virgem Maria. Diz a antífona que Jesus será invocado por todos os povos da Terra e diante d’Ele todos os reis ficarão mudos. Por isso implora: “vinde a nós, não tardeis”, pois a humanidade geme e não pode mais esperar pela libertação.

“Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!”

Ó Chave de David e cetro da Casa de Israel, que abris e ninguém fecha, fechais e ninguém abre, vinde e tirai do cárcere o prisioneiro imerso nas trevas e nas sombras da morte.
Nosso Senhor fecha e ninguém abre, abre e ninguém fecha, quer dizer, Ele possui o domínio de todas as coisas.
Ó oriente, esplendor da luz eterna e sol de justiça, vinde e iluminai aqueles que estão envolvidos pelas sombras da morte.
Em linguagem teológica, “justiça” designa o conjunto de todas as virtudes, o estado de graça.
O Redentor Divino é o “esplendor da luz eterna” e, por outro lado, o sol de todas as virtudes, iluminando os que vivem nas trevas e nas sombras da morte, ou seja, presos dos vícios e dos pecados.
De fato, Nosso Senhor veio ao mundo e da sua luz infinita nasceu a civilização cristã, com seus fulgores de santidade bafejada pela graça.
Ó Rei das nações e por elas desejado, pedra angular que reunis os dois povos [judeus e gentis], vinde e salvai o homem que formastes do lodo da terra!
Jesus Cristo é a pedra angular de toda a ordem humana e n’Ele os dissídios se reconciliam verdadeiramente, e não de um modo relativista. Além disso, o Filho de Deus salva o homem, criado do limo da terra.
E estando o Natal iminente, exclama-se:
Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação das nações, vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!
São exclamações de tal maneira repassadas pelo desejo e fervor que quase se sente Cristo prestes a nascer, bem como a alegria de todas as nações esperando seu Salvador.


Pedir a implantação do Reino de Maria

Essas belas antífonas nos sugerem uma consideração sobre a época atual.
Disse o Papa Pio XI em sua encíclica Divini Redemptoris, escrita em 1932, que o mundo resgatado por Nosso Senhor Jesus Cristo se encontrava naquela época numa situação lastimável, ameaçado de cair mais baixo do que antes da Redenção.
Ora, com o passar das décadas esse estado lastimável do mundo não fez senão se agravar, a impiedade e a imoralidade grassando sem freios nos mais diversos ambientes da sociedade humana.
Razão pela qual ansiamos por uma renovação da face da Terra, um como que irresistível revigoramento dos frutos da Redenção  - de si definitiva e super-eficiente – aplicado aos homens de nosso tempo, para que, regenerados e reconciliados com o Divino Salvador, trabalhem pela implantação do Reino de Maria.
Nas vésperas do Natal, essas antífonas devem exprimir um pedido ao Menino por intercessão de Nossa Senhora: assim como Ele atendeu a prece da Virgem Santíssima e apressou sua vinda ao mundo, abrevie igualmente os presentes dias e faça sentir sua ação mais enérgica, triunfal, invencível para reimplantar seu reino. E reimplantá-lo sob o aspecto mais requintado, magnífico, ou seja, Nosso Senhor reinar por Maria, com Maria e em Maria.
Rezemos com a firma confiança de que essa graça insigne nos será concedida, e assim transporemos com alegria, não só os dias piedosos que circundam a festa de Natal, mas também os umbrais do ano vindouro.


(Revista “Dr. Plínio”, n. 105, dezembro de 2006, pp.  19/22)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A ANUNCIAÇÃO DO ANJO A NOSSA SENHORA E A ENCARNAÇÃO DO VERBO


(COMENTÁRIOS DE DR. PLINIO SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)




- Nossa Senhora colocada numa casinha pequena, modesta, limpíssima e colocada em inteira ordem. Ela no claustro, composto de umas pobres arcadazinhas [...] em certo ponto, no chão, um vaso ingênuo do qual sai um lírio reto como uma bengala e em cima, perpendicular, um lírio que abre a boca, ao coração, aos olhos... e que é símbolo da Virgem Maria. Ela sentada sobre um banquinho, com material de meditação [...] na mão; paz em volta; uma paliçadazinha assim também muito pobre, muito ingênua, muito novinha e muito bem conservada, que fecha a propriedade em relação aos vizinhos e que garante a solidão. Ela está lá e diante está um anjo.[...]
Há quatro mil anos, talvez mais, a humanidade esperava Aquele que deveria vir[...] Em virtude do pecado  original os homens estavam num caos e numa desordem medonha... Não só num caos e numa desordem, a pior das formas da desordem, que é a desordem organizada, como a do Império Romano, organizada ao revés, em que todos os princípios da ordem estão com as pernas para o ar e que constitui uma ordem. Não só assim estavam os povos pagãos, mas assim também estava o povo eleito. O povo judaico, o povo que tinha sido escolhido para a promessa, esse povo estava na maior decadência, e no maior afastamento de Deus Nosso Senhor. Na Terra nada mais se salvava.[...]
Uma Virgem pura, concebida Ela mesma sem pecado original, expressamente para essa missão, essa Virgem nascera de Santa Ana e de São Joaquim, e esta Virgem casada, virginalmente, com o esposo-virgem São José, meditava; e sabendo que a única solução era a vinda do Messias, que a única solução era que viesse o Redentor do gênero humano, o Salvador, Ela meditava, Ela lia a Bíblia, da qual Ela tinha uma inteligência maior do que jamais ninguém teve, e Ela via as promessas e Ela pensava a respeito do Messias.
Esta obra prima da sabedoria d’Ela, da virtude e do Amor de Deus d’Ela, essa sabedoria, apenas composta e quando Ela na paz de sua meditação acabava de dar o último traço para imaginar como Nosso Senhor Jesus Cristo seria... uma iluminação dentro do jardim! Aparece um anjo e lhe diz: "Ave Maria Cheia de Graça, Bendita Tu és entre as mulheres” [...]
Ela se perturbou e não sabia qual era essa saudação. O anjo, então explicou a Ela, [...] que Ela seria Mãe do Filho de Deus e que o Verbo de Deus, o Messias, nasceria d’Ela. Os Srs. podem imaginar o humílimo susto d’Ela. Ela que se julgava indigna de ser a escrava da Mãe do Messias e pedia a Deus que lhe desse a graça de conhecer a Mãe do Messias e servi-la, era um favor ao qual Ela aspirava, considerando esse favor arrojado; de repente recebe esse recado: Mãe do Messias? Serás Tu! Mais ainda, Mãe do Messias só, Não! Quem vai ser o pai desse Menino? A natureza humana Ele a receberá de Ti, ó Maria! Mas a união com Deus como é? Tu serás a Esposa do Espírito Santo![...] o Espírito Santo engendrará em Ti, divinamente, espiritualmente, Ele engendrará em Ti o Filho que vai nascer.
[...] é um tal cúmulo de graças, um tal cúmulo de favores, tanta generosidade, que é difícil calcular como Nossa Senhora se sentiu confundida naquele momento, mas ao mesmo tempo elevada, porque Ela era perfeita e vendo tais obras de Deus Ela não podia deixar de se alegrar enormemente, e vendo que Deus A escolhera para tais obras a gratidão d’Ela não tinha limites e o prazer de se sentir unida com Deus, a alegria de se sentir unida com Deus, devia ser maior na alma d’Ela do que todos os mares e todos os oceanos.
Entretanto, a resposta humílima. Com Deus não se discute: "Eis a Escrava do Senhor; faça-se em Mim segundo a  vossa palavra!" Quer dizer, Ela aceita, Deus manda n’Ela o que Deus quer que se faça. Ela não vai discutir que Ela não é digna; Ela não vai analisar-se a si mesma. Deus quer, é perfeito. Ali está Ela, faça-se! E nesse instante, um mistério divino, do qual nós não temos noção [...] o Espírito Santo ali, no claustro de Maria, gerou a Nosso Senhor Jesus Cristo.
E desde o primeiro instante do ser em que esse primeiro elemento do Corpo d’Ele começou a existir, como Ele era perfeito – começou a existir, começou a pensar; começou a pensar, começou a orar – e conhecendo perfeitamente de que Mãe era Filho, Ele certamente disse a Ela uma palavra de amor. Os Srs. podem calcular qual foi essa primeira palavra de amor d’Ele para Nossa Senhora e qual foi a resposta de Nossa Senhora, sentindo esse carinho que Lhe vinha do Filho Deus... Como é que Ela disse a Ele? Ela disse: Meu Deus?... Ela disse: Meu filho?... Ela não teria dito: Filhinho?... Que riqueza de alma era preciso ter para responder adequadamente a esse primeiro carinho! Que noção dos matizes! Que noção das situações! Que perfeita disponibilidade da alma para corresponder a tudo perfeitamente e oferecer a Ele esta primícia incomparável: o primeiro ato de amor que o gênero humano Lhe oferecia!
É muito bonito na vida de Nossa Senhora fazer-se a correlação entre as coisas. O primeiro ato de amor que Ele deu a Ela quando Ele se encarnou e o último ato de amor que Ele deu a Ela quando Ele morreu. Porque eu não tenho dúvida que Ele antes de morrer disse a Ela, ao menos com a Alma, alguma coisa que Ela entendeu e que era o ato de amor último que fechava o circuito desta vida, que era o ato de amor-rei por onde todo o amor que Ele tinha tido a Ela durante a vida inteira se condensava numa veneração e numa carícia suprema. Ela também. O primeiro ato de amor d’Ela, como terá sido? Como terá sido o último ato de amor d’Ela a este Filho que Ela viu morrer naquela situação tão trágica, tão terrível e que quanto mais sofredor, mais e mais, e mais e mais Ela amava? Ela não se teria lembrado naquele momento extremo e último do primeiro afago, da primeira troca de carícias? Ela não teria se lembrado como é Este que eles estão matando? Oh!... Oh!... Meu Adorado!... [...]
O Srs. podem imaginar o que isso representa de santidade e de união. Nós não temos, não podemos aprofundar isto, nem de longe, mas nem de longe![...] Quanto mistério! Quanta maravilha! Um segredo dentro do Segredo.
Mas se nós, numa pequena meditação pensamos tantas coisas a respeito disto, e nós não somos senão nós, eu pergunto: o que terá Ela pensado durante todo esse tempo?[...]
[...] no Céu aonde Nossa Senhora foi levada, não só em alma, mas em corpo e alma [...] nós veremos Nossa Senhora de perto... Os Srs. não teriam, depois desta reflexão, vontade de se aproximar d’Ela e imaginar que Ela no Seu Trono, tão junto do Trono do Divino filho, se debruça para saber o que os Srs. querem... Os Srs. já se imaginaram pessoalmente nessa situação? E um dos Srs. ou, talvez eu, fazer a Ela esta pergunta: "Minha Senhora, Minha Mãe, podeis me contar tudo o que meditastes desde o momento da Encarnação até ao momento do nascimento de Vosso Filho? Mas eu queria saber tudo, não queria que nada me ficasse ignoto, eu queria conhecer ponto por ponto e... Minha Mãe, perdoai meu atrevimento, mas eu queria contado por Vós mesma!"... Os Srs. podem imaginar o que seria Nossa Senhora, Régia, Magnífica, Bondosíssima, Melíflua como A chamou São Bernardo... - "Filho, começou assim..." Se assim se pudesse dizer, dez eternidades, cem eternidades, mil eternidades... para ouvir só isso... ó que maravilha! E talvez, se o número fosse conectável com o conceito de eternidade (não é conectável), mil eternidades não bastariam para nós sabermos tudo isto que Ela pensou só durante esse tempo; tudo quanto Ele disse a Ela; tudo quanto Ela respondeu; e todas as graças que Lhe deu; e todas as ações de graças d’Ela; e Ela que rezou por este e por aquele, e por aquele outro... Quem sabe se já ali Ela conheceu profeticamente a existência de todos nós e por todos nós rezou?! E que surpresa vendo-A contar, de repente: "e nesse passo, meu filho, eu rezei por ti".
Que alegria! Que comoção! Que agradecimento! E que cântico! Uma vez que é certo que no Céu saberemos todos cantar.


(Conferência de 24 de Março de 1984)[1]





[1] Ver também revista “Dr. Plínio”, n. 108, de março de 2007.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

INTERPRETAÇÃO DE GRANDE JURISTA CONSTITUCIONALISTA SOBRE A ABERRANTE DECISÃO DO STF QUE QUIS LEGALIZAR O CASAMENTO HOMOSSEXUAL



A disciplina jurídica do homossexualismo 

Ives Gandra Martins

O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 5 de maio de 2011, que a união entre dois homens ou duas mulheres de natureza afetiva gozará do mesmo “status” da união estável entre um homem e uma mulher, a qual, pela Constituição, artigo 256, § 3º, é considerada entidade familiar.

Nada obstante, os constituintes não terem elevado a união homossexual a tal nível, nada obstante o direito privado dar-lhes garantias próprias de uma união de fato, a Suprema Corte outorgou-se o direito de substituir o Congresso Nacional e a Constituinte, legislando sobre a matéria e acrescentando ao texto da Lei Maior que também a união “estável” entre um homem e um homem ou uma mulher e uma mulher conformam entidade familiar.

Apesar de ser esta a posição atual do Pretório Excelso, inúmeros juristas têm tecido considerações de natureza jurídico-constitucional discordando de tal interpretação, entre elas destacando-se a do eminente professor de direito constitucional, Lenio Streck que em entrevista ao jornal Estado de São Paulo (na edição do dia 6 de maio de 2011) declarou: “Isso é o espaço para discussão do legislador, como se fez na Espanha e em Portugal. Lá esse assunto foi discutido pelo Parlamento. O Judiciário neste ponto não pode substituir o legislador”. 

Neste artigo, pretendo exclusivamente ofertar a minha interpretação da Constituição Federal, para que o leitor possa conhecer os argumentos daqueles que entendem que a união homossexual não constitui uma família, por ter sido esta a vontade do constituinte, ao promulgar a Constituição em 5 de outubro de 1988.

Entendo que a corrente dos constitucionalistas, que se opõe ao ativismo judicial (o Judiciário substituindo por auto-outorga de poderes o Legislativo), à qual me filio, está com a razão, pois apenas o Congresso Nacional, com poderes constituintes derivados (duas votações com 3/5 de senadores e deputados decidindo a favor) pode introduzir qualquer modificação na lei suprema.

Alegou-se, em tese hospedada por alguns Ministros desta Corte, que a não concessão dos mesmos direitos às uniões de pessoas do mesmo sexo em relação àqueles que têm os de sexo oposto, feriria a dignidade humana (art. 1º, inciso III da Constituição Federal), a igualdade de cidadania (5º, caput), a segurança jurídica (5º caput) e a liberdade (art. 5º caput) (1).

Vejamos se tais princípios foram feridos à luz da Constituição Federal.

Claramente, o princípio da dignidade humana não se encontra ferido pelo tratamento que até o presente vem sendo dado à união entre dois homens e duas mulheres, que, por opção sexual, podem se unir, celebrar um contrato à luz do direito civil com previsão de obrigações e direitos mútuos, inclusive de natureza patrimonial, o que a Constituição não proíbe. Não há mácula, pois, à dignidade humana neste caso, por todos reconhecida, como própria do ser humano e que independe de sua opção sexual.

Nem se tisna, por outro lado, o princípio da liberdade, já que o próprio reconhecimento de que poderão contrair obrigações e deveres, viver juntos, participar socialmente de qualquer reunião, cursar qualquer universidade ou ter qualquer emprego, mostra que sua liberdade de escolha homossexual em nada é manchada pela lei civil, genericamente considerada, nem pela lei suprema.

E, em relação à segurança jurídica, têm os pares de homens com homens e mulheres com mulheres a mesma segurança de qualquer cidadão e de qualquer casal.

O outro argumento mencionado é que merecerá maiores considerações, pois é aquele que merece reflexão mais aprofundada.

O respeito à dignidade humana e a liberdade de união dos pares de homens e homens ou mulheres e mulheres é que não justifica que se considere que tais uniões sejam iguais àquelas constituídas por um homem e uma mulher.

São diferentes, jurídica e faticamente, sem que esta diferença represente qualquer “capitis diminutio” na dignidade dos seres humanos, que optaram por uma união entre iguais.

A diferença reside em que são pares que, biologicamente, não podem gerar filhos, o que não ocorre com os casais constituídos por um homem e uma mulher. A união sexual de dois homens é impossível de gerar prole, como também a união sexual de duas mulheres. Podem externar nesta união afeto, mas a grande diferença é que não podem gerar filhos de sua relação sexual.

Ora, dizer que, perante a Constituição, são iguais uniões que são biologicamente diferentes, tendo em vista que somente a que ocorre entre um homem e uma mulher é capaz de garantir a perpetuação da espécie, constitui, de rigor, uma falácia. Se todos os homens se unissem com outros homens e todas as mulheres se unissem com outras mulheres, sem utilização de qualquer artifício (inseminação artificial), a humanidade se extinguiria!

Há, pois, nítida diferença biológica e jurídica entre os casais de homens e mulheres e aquelas uniões entre homens e homens e mulheres e mulheres. E a diferença – capacidade de gerar prole pelos meios naturais - é tão essencial e de tal magnitude, que impede a equiparação.

E, neste aspecto, é que reside, a meu ver, a razão de ser do capítulo da família na Constituição, já agora passando a desvendar a questão referente ao artigo 1723 do Código Civil assim redigido:
“Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
Tenho entendido, em vários escritos, que o mais relevante princípio da Constituição, depois do direito à vida, é a proteção à família. Assim não fosse, não teria o constituinte com particular ênfase, declarado, no “caput” do art. 226, que a família é a base da sociedade:
“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado” (grifo meus).
Do dispositivo duas considerações essenciais podem ser tiradas, ou seja, que:a) sem família não há Estado e, por esta razão, o Estado deve dar b) especial proteção à família. 

A proteção é de tal ordem, que o casamento passa a ser o ideal maior do Estado, não só ao permitir sua celebração gratuita:
“§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração”
Como ao dar ao casamento religioso efeito civil:
“§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.”
Como se vê, os dois parágrafos acima deixam nítido que, para dar maior estabilidade à “base da sociedade”, o casamento é o desiderato maior do Estado. Pretendeu o constituinte – e a maioria esmagadora entende que constituinte originário - dar o máximo de estabilidade possível à constituição da família e à prole nela gerada pela segurança do casamento, nivelando o casamento religioso ao civil, nos termos da lei.

Compreende-se tal escopo. É de se lembrar que, hoje, na maioria dos países europeus, todos os governos estão a incentivar o aumento das proles familiares, com benefícios de toda a natureza. Ora, tal não é possível, sem métodos artificiais, pela união de um homem com um homem ou de uma mulher com uma mulher.

Simone Veil, quando presidiu o Parlamento Europeu, em célebre frase, afirmou que “os europeus tinham aprendido a fabricar tudo, mas esqueceram de “fabricar” europeus”.

Esta é a razão pela qual o casamento religioso tem o mesmo “status” do casamento civil e, nas grandes religiões, aquelas que mudaram a história do mundo, segundo Toynbee, no livro Um estudo da História, o casamento religiososó pode ocorrer entre um homem e uma mulher.

A família, pois, decorrente da união de um homem com uma mulher, que biologicamente pode gerar proles que dão continuidade à sociedade, no tempo, é que o constituinte pretendeu proteger, a meu ver, sendo todos os dispositivos referentes à entidade familiar, cláusulas pétreas, pois dizem respeito aos direitos individuais mais relevantes, ou seja, de perpetuação da espécie e de preservação do Estado.

Sensível, todavia, à realidade moderna de que muitas uniões entre casais (homens e mulheres) não ganham o patamar de casamento, houve por bem, o constituinte, reconhecer tal união –sempre entre homem e mulher- como “entidade familiar”, mas, demonstrando, mais uma vez, a relevância do matrimônio, declarou que o Estado tudo faria para transformar aquela “união estável” em “casamento”, como se lê no artigo 226, § 3º:
“§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (grifos meus).
Ainda aqui se percebe nitidamente, os dois objetivos primordiais de preservar a família como base do Estado, capaz de dar perpetuidade ao Estado e à sociedade, garantindo a união estável entre um homem e uma mulher, como entidade familiar.

E a prova mais inequívoca de que foi esta a intenção do constituinte - e este o princípio constitucional - está em que, na sequência, o § 4º declara:
“§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes” (grifos meus).
Ora, qual é o descendente naturalmente gerado pela união entre um homem e um homem e uma mulher e uma mulher? Sem artificialismos genéticos ou técnicas médicas utilizando espermatozóides ou óvulos de terceiros, são incapazes de gerar descendentes.

Compreende-se, também, o intuito do § 4º do art. 226, ou seja, reconhecer outra realidade: pela morte ou separação conjugal, pode um dos cônjuges ter que sustentar sozinho seus descendentes, não deixando de ser, portanto, uma entidade familiar, o cônjuge remanescente e seus filhos.

Parece-me que o § 4º unido ao § 3º do artigo 226 demonstra, claramente, a impossibilidade de se considerar unidade familiar a união entre homens e homens e mulheres e mulheres, que não podem “Motu Proprio” gerar descendentes e que mantêm, biologicamente, um relacionamento sexual diferente daquele que caracteriza a união entre um homem e uma mulher.

O próprio § 5º assim redigido:
“§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”
reforça a inteligência que tenho do dispositivo. 

Ainda aqui só se fala em homem e mulher, em meridiana demonstração de quehomens e mulheres são iguais na condução da própria família.

Da união de pessoas de sexo diferente –e exclusivamente dela- cuidou o constituinte, deixando às uniões homossexuais – é diferente a união, por opção sexual, não geradora de prole - o direito a outras alternativas para alcançar a segurança jurídica, mas não a de ter “status” de unidade familiar.

Tanto é diferente que o Governo, por sua Secretaria dedicada aos Direitos da Mulher, entende não ser aplicável a lei “Maria da Penha” à agressão de um homem a um outro homem, numa união homossexual.

E, à união surgida desta forma de opção sexual - que não é a opção natural da maioria esmagadora das pessoas, em que a atração física é capaz de gerar prole -, o Estado pode garantir direitos e obrigações. Pode dar-lhe “status” de uma união civil, de obrigações mútuas, mas não de família, aquela que constitui a base da sociedade capaz de gerar sua perpetuação.

Ora, o artigo 1723 do Código Civil, reproduz, claramente, o que está na lei suprema e sua dicção, em nada, difere daquela exposta na lei suprema.

Nem há que se falar de interpretação conforme, visto que o que decidiu o Supremo Tribunal Federal foi um acréscimo ao texto para nele abrigar situação nele não prevista, o que difere, a meu ver, do que se entende por interpretação conforme. Essa modalidade de controle concentrado implica retirar de um texto abrangente situação que, se por ele fosse abrigada, representaria uma inconstitucionalidade. É que, levando em conta a pretendida distinção entre “inconstitucionalidade sem redução de texto” e “a interpretação conforme”, se se admitisse nesta, o acréscimo de hipóteses ao texto legal não produzidas pela lei, estar-se-ia, de rigor, transformando o Poder Judiciário em Poder Legislativo.

Mesmo para os constitucionalistas, que consideram a interpretação conforme como desventradora de situação implícita, contida na norma –por isto distinguem-na daquela sem redução do texto-, não se pode admitir que esta revelação do “não expresso” represente alargamento da hipótese legal sem autorização legislativa.

Para mim, na interpretação conforme, o texto contém mais do que deveria conter. Por esta razão o que está a mais é retirado sem alteração do texto, a fim de que o Judiciário não se transforme em legislador positivo.

Em conclusão, o texto constitucional contém rigorosamente o que deveria conter, e o que o Supremo Tribunal Federal fez foi acrescentar ao texto situação não prevista nem pelo constituinte, nem pelo legislador, transformando o Pretório Excelso em autêntico constituinte derivado, ou seja, acrescentando disposição constitucional que o constituinte originário não produziu. Em outras palavras, sem o processo das duas votações nas duas Casas, com 3/5 de todos os segmentos do povo, a Suprema Corte, criou norma constitucional inexistente, acrescentando situações e palavras ao texto supremo, que, como acabo de mostrar, jamais foi intenção do constituinte acrescentar.

Ainda em outros termos, o Congresso Nacional eleito por 130 milhões de brasileiros e com poder de alterar a Constituição pelo voto de 3/5 de sua composição, em dois escrutínios, foi substituído por um colegiado de 11 pessoas eleitas por um homem só!

Nada obstante, a decisão do Supremo Tribunal Federal, que impõe a todo o Judiciário que seja seguida, considero que a correta interpretação é aquela aqui exposta e que representa também a inteligência de inúmeros juristas. Dizia, com o respeito devido, Santa Catarina de Sena aos Cardeais de sua época, quando erravam “Vossas Eminências cometem eminentíssimos erros”. Infelizmente, sou obrigado a dizer dos Ministros da Suprema Corte “Vossas Excelências cometem excelentíssimos erros”.

Concluo, finalmente, transcrevendo parte de recentíssima decisão do Conselho Constitucional da França de 27 de janeiro de 2011, em linha, a meu ver corretíssima e em franca oposição à do órgão máximo da Justiça Brasileira:
“9. Considerando de outra parte que o artigo 6 da Declaração de 1789 dispõe que a lei deve ser a mesma para todos, seja quando ela protege, seja quando ela pune: que o princípio da igualdade não se opõe a que o legislador que regule de maneira diferentes situações diferentes, nem a que se derrogue a legalidade por razões de interesse geral, visto que, em um ou outro caso, a diferença de tratamento de que daí resulta seja vinculado diretamente ao objeto da lei que o estabelece; que, no momento, o princípio segundo o qual o casamento é a união entre um homem e uma mulher, o legislador tem, no exercício da competência que lhe atribui o art. 34 da Constituição, considerando que a diferença de situação entre casais do mesmo sexo e casais compostos de um homem e de uma mulher podem justificar uma diferença de tratamento quanto às regras do direito de família; que não cabe ao Conselho Constitucional de substituir sua apreciação àquela do legislador, sob o prisma, nesta matéria, desta diferença de situação; que, por consequência, a pretendida maculação do artigo 6 da Declaração de 1789 deve ser descartada;
"10. Assim sendo, pois, que disto resultou de que no que concerne a limitação que atenta contra a liberdade de casamento deve ser afastada; 
"11. Concluindo que as disposições constantes são contrárias a nenhum direito ou liberdade que a Constituição garante;
"Decide: 
"1) A letra última do artigo 75 e o artigo 144 do Código Civil (união entre homem e mulher) estão conformes a Constituição; 
"2) A decisão será publicada no jornal oficial da República Francesa" (grifos meus).

Ives Gandra da Silva Martins é advogado e presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Foi também um dos juristas que colaborou nos trabalhos de nossa constituição de 1988.