sexta-feira, 8 de abril de 2022

Retiro Espiritual - 5ª Meditação - A arte de aproveitar das próprias faltas

Retiro Espiritual - 3ª Meditação - Os três pecados – Exame de consciência

Retiro Espiritual - 4ª Meditação - Novíssimos do homem

Retiro Espiritual - 2ª Meditação - Regras do Tanto Quanto e Indiferença

Retiro Espiritual - 1ª Meditação: Reunião preliminar ⎜Princípio e Funda...

O SONHO IRREALIZÁVEL QUE O DEMÔNIO PROCURA CONCRETIZAR COM A REVOLUÇÃO IGUALITÁRIA

 



Ao concluir uma série de palestras sobre o igualitarismo, realizadas em 1957, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira tratou deste tema: como se explica que o demônio, tão inteligente quanto anjo, procure lutar contra a ordem do universo e contra Deus se ele sabe que tudo o que faz redundará, ao final, sempre na maior glória de Deus? Já que nada pode contra Deus, porque não fica inerte? O igualitarismo, por exemplo, é um sonho irrealizável, mas ele prega isso aos homens e luta por tal utopia. Iludidos, seus prosélitos aqui na terra não imaginam que, ao final, não vão ter uma igualdade entre si, mas uma desigualdade desumana e cruel como a que virá com a provável consumação do corpo místico do demônio através do Anti-Cristo.

Mistério da iniqüidade

Muitas destas cogitações ficarão ininteligíveis, inexplicáveis e obscuras para o homem nesta vida, talvez só compreendidas na eternidade. Nas aparições da russa Fanny Moisseieva, a seguir transcritas, Lúcifer responde uma pergunta muito intrigante a respeito do comportamento dos demônios: ele diz que faz todos sofrerem no inferno porque foi amaldiçoado. No entanto, isso não responde tudo, pois, mesmo amaldiçoado, ela poderia pelo menos usar de inteligência e ver que seria melhor para ele não fazer os outros sofrer, mas procurar produzir um inferno agradável a fim de cativar aqueles que para lá ele leva. Ou sua inteligência, apesar de rutilante, não compreende isso, ou sua condição de amaldiçoado o impede de fazê-lo. Há uma expressão popular que diz: “o demônio faz agradável o caminho para o inferno, mas não consegue fazer o mesmo com os que já estão lá”. Realmente, é um dos mistérios da iniqüidade.

Notar que o termo “sonho” deve ser entendido como utopia, isto é, algo irrealizável, uma quimera, uma ilusão ou sonho de olhos abertos. Vejamos parte do que disse Doutor Plínio ao encerrar sua palestra sobre a igualdade:

“A conjuração do demônio visa levar os homens à heresia gnóstica

Em geral, os tratadistas que falam de forças igualitárias, revolucionárias, colocam-se muito devidamente no plano da Providência. E tratam de estudar por que, dentro do plano da Providência, Deus permite esta conspiração, até onde querem chegar. Contudo, eles também tratam de outra questão, mas muito menos profundamente: aonde é que o demônio quer chegar quando faz isto?

Porque não devemos perder de vista que, se bem que o governo de todo o universo e de todos os seres seja de Deus, Ele quis que os homens fossem livres, e deu também uma inteligência e uma vontade aos Anjos. E o demônio, apesar de estar precipitado no inferno e condenado às penas eternas, conserva uma inteligência angélica, e é um ser dotado de vontade. Então, é o caso de sabermos, com os dados intelectuais que temos, por que o demônio quer fazer tal conjuração?

Se o demônio é o elemento motor da conjuração revolucionária, é da maior importância sabermos para onde esse motor se dirige

Em primeiro lugar, o que ele vê e, em segundo lugar, o que ele quer, o que o move a fazer toda essa conjuração.

Parece-me que o estudo desta questão é muito importante para nós, porque a priori se poderia afirmar o fato de que, se afinal de contas o demônio é o elemento motor da conjuração, para sabermos onde uma conjuração vai ter, é da maior importância sabermos para onde esse motor se dirige.

Mas isto é, sobretudo, importante para compreendermos bem que a gnose – entendida a expressão gnose no sentido em que ela deve ser entendida -, a gnose é o pólo, por assim dizer, necessário para onde tende e tem que tender a conjuração do demônio. E que ele, por uma decorrência lógica e inelutável das circunstâncias nas quais ele se encontra, de fato, tem que querer que a humanidade seja gnóstica. Não interessa tanto a ele que a humanidade caia numa heresia qualquer, mas que a humanidade caia nesta heresia, a gnóstica.

A “psicologia” do demônio: o eterno derrotado

Naturalmente, para compreendermos bem isto, temos que nos colocar diante de uma preliminar: o demônio é um anjo. Mas um anjo ruim e derrotado, colocado numa situação sumamente contraditória consigo mesmo. Ele é, propriamente, a contradição, o fracasso e a derrota; é o esmagado. Foi precipitado por Deus do alto de seu trono até o fundo do inferno; continuou a existir, mas a sua primeira contradição é esta: ele sabe que Deus é Deus, que é digno de toda homenagem e adoração, mas ele não quer prestar sua homenagem, levado por um amor desregrado de si mesmo. Então, ainda que Deus permitisse a ele de adorá-Lo, ele não quereria adorá-Lo. É verdade que Deus não permite. Ele não quer adorar a Deus. Está no inferno por livre e espontânea vontade, porque não quer aceitar uma realidade que lhe entra pelos poros, antropomorficamente falando.

Ora, um ser assim colocado está como que retorcido, está desviado daquilo que é seu fim reto e verdadeiro, e voltado para uma coisa que ele sabe não ser seu fim. Ele sabe que aquilo não é direito, que ele não merece aquela adoração de si mesmo, mas ele quer aquilo porque quer. Percebe-se, portanto, uma formidável contradição que existe dentro do demônio.

É em função desta situação contraditória que devemos procurar uma explicação para o plano que o anjo tem em relação a todo o movimento conspiratório do universo.

Por que um ser colocado na situação contraditória deseja fazer toda essa heresia e toda essa coisa, e como é que se liga o desejo dele de fazer todo o seu plano em função da  profunda contradição em que ele está?

Para compreendermos bem isto, devemos começar lembrando-nos de que o demônio sabe perfeitamente que tudo quanto ele faça, em última análise,  redunda na glória de Deus. E que na partida que ele joga contra Deus, ele é o eterno derrotado.

Não seria mais inteligente se o demônio se mantivesse numa perpétua inação?

Ele é incapaz de um pensamento, de uma volição, de uma ação incapaz de um efeito que não redunde, de um modo direto ou indireto, na glória de Deus. Então, é o caso de perguntar se ele se move por ódio a Deus. E devemos responder que ele é incapaz de se mover a não ser por ódio.

Mas, se ele se move por ódio, seria o caso de perguntar se ele não agiria mais inteligentemente mantendo-se numa perpétua inação, num perpétuo não mover e não fazer as coisas. Essa perpétua imobilidade não seria, por acaso, um meio de diminuir a glória de Deus? Como é que se explica que ele entenda estar trabalhando contra a glória de Deus por meio desse plano conspiratório? 

Após comentar sobre alguns aspectos dos sonhos entre nós, humanos, Dr. Plínio volta a falar sobre tais quimeras na mente do demônio.

“O sonho do demônio não tem nenhuma possibilidade de se realizar

A desgraça do demônio é tão profunda que nem isto propriamente ele pode ter.

O demônio é um espírito angélico lucidíssimo, e ele sabe perfeitamente que não consegue iludir-se a respeito de suas próprias condições. Não consegue iludir-se a respeito da situação que foi criada por ele. Mas, de algum modo ele pode – também ele – ter o seu sonho. E esse sonho consiste no seguinte: quando ele percebe que conseguirá, por meio de suas astúcias e fraudes, fazer com que muitas pessoas acreditem naquilo que ele gostaria que fosse o universo, e ver muitas pessoas viverem para ele em função de toda essa idéia que criou.

De algum modo, aquilo a que ele tenderia se realiza por esta forma”.

O corpo místico do demônio será um dia consumado?

O império de Satanás poderá um dia ser consumado ao conseguir ele formar por completo seu “corpo místico”, pois somente assim exercerá plena regência sobre os homens e, por conseqüência, sobre aquele universo que estará sob domínio deste corpo maldito. Mas, a igualdade não será a consumação deste império e sim a imposição da mais odiosa desigualdade, com a regência despótica de seu poder.

Quando caiu no inferno, Lúcifer e seus prosélitos perderam grande parte de sua inteligência e poder, daí tendo dificuldades para entender como Deus rege o Universo. Ou então, entendendo algo não conseguem seus intuitos por intervenção divina, a não ser em parte e por consentimento de Deus e dos homens que a ele aderirem. Um dos princípios universais de tal regência é aquele pelo qual tudo é feito por intermédio de intercessores: Deus rege o Universo utilizando-se de Anjos e homens e não de uma forma direta.

Lúcifer, por orgulho e ódio à Criação, não entendeu isso desta forma, ou então se o compreende não o executa corretamente, impedido ora por seu orgulho, ora pelo próprio Deus. Assim, ele ainda tem a pretensão de pessoalmente reger tudo, tentando manifestar todo o seu aparente poder sobre os seres criados por Deus. Seria este mais um de seus sonhos utópicos?

A formação de seu corpo místico é uma das formas com que ele vem tentando reger os homens. Um dos planos dele é destruir a Igreja de Cristo, o Corpo Místico por excelência, que foi criado para a Santíssima Trindade reger e salvar os homens para darem glórias a Deus. Com tal intuito sairão levas e mais levas de demônios dos infernos e virão à terra, tentando com violência eliminar a Igreja e levar os homens ao desespero e revolta universal contra Deus. Sua intenção é fazer disso um tal movimento universal de almas que possa suscitar a formação do corpo místico satânico. Mas, eles não sabem, ou sabem mas não conseguirão fazê-lo, que para que se forme tal corpo místico torna-se necessário que surjam homens com carismas excepcionais de liderança e poder, e dentre estes um somente que se torne o seu representante ou modelo na terra, seria o Anti-Cristo.

No período atual, com a completa guerra movida contra a Igreja através do que chamamos de “bagarre”, onde haverá perseguições monumentais, guerras, pestes e desastres naturais, tudo para mover os homens ao desespero e ódio contra Deus, falta-lhes entretanto a existência de alguns homens malditos que possuam carismas extraordinários de liderança. E que um deles se destaque sobre os demais. Os próprios demônios virão pessoalmente aterrorizar os homens, tal a pouca confiança que eles têm sobre seus prosélitos entre nós. E nisso consistirá um dos motivos naturais de sua derrota, pois sem homens que encarnem o poder satânico do seu corpo místico a vitória será do Corpo Místico de Cristo, não somente por causas naturais, mas por causa da intervenção de Nossa Senhora, a qual colocará homens santos e carismáticos na liderança da luta contra os filhos das trevas. Como conseqüência da derrota do demônio, virá o Reino de Maria.

O Anti-Cristo seria o intercessor perfeito e acabado do corpo místico de Satanás?

 Em todas as visões sobre o inferno uma das características principais é os demônios sob as ordens de Lúcifer impondo sofrimentos atrozes aos condenados. Fanny Moisseieva foi uma vidente russa que teve várias visões sobre o Céu e o Inferno. No texto que ela divulgou sobre o inferno a vidente coloca a pergunta, que é feita por um personagem indagando a razão disso.  O diálogo foi o seguinte:

 “Assim é que você existe realmente”. E Satanás, com uma risada irônica, respondeu: “– Sim”. E o velho continuou: “– Mas, por que vive deste modo? Por que está sempre em meio a estas frias trevas e passa séculos inteiros em hostilidades vazias contra todo o Universo e envolve na mais profunda dor aos homens que lhe servem? Que necessidade tem de todos estes tormentos e deste diabólico ruído?”

A gente em silêncio conteve a respiração com a ânsia de saber o que ia acontecer. “– Por que não quer recomeçar o caminho reto, voltar a ser bom e terminar em um bom dia com todo o mal que faz?” Com o olhar fixo à distância, Satanás respondeu sombriamente: “–Porque fui amaldiçoado.”

Sim, uma das razões é porque foi amaldiçoado, mas também porque (talvez por causa da própria maldição) manifesta constantemente seu ódio contra Deus nos seres criados por Ele, como os homens, e a maneira mais apropriada de manifestar tal ódio é fazendo com que os precitos sofram e não tenham nenhum momento de alegria ou felicidade, por toda a eternidade... O ódio não podendo ser dirigido diretamente a Deus, ao Qual ele não pode impor nenhum sofrimento ou perca, dirige-o então contra a Obra divina, refletida nos homens. O objetivo é fazer com que os homens se desesperem e passem a odiar a Deus, e assim consumando nos outros seres sua vingança contra Aquele que o amaldiçoou. No entanto, o que lucra ele com isso? Nada. Nem sequer diminui a glória de Deus, mas, até a aumenta por contrapor o ódio contra o amor.

Mais adiante, a vidente conta como Lúcifer pretende impor seu império sobre os homens não diretamente, mas usando um intercessor, que será o Anti-Cristo:

 “O olhar de Satanás brilhou sinistramente pelo ódio e murmurou com voz que soava a ameaça: “– Enviarei ao mundo o Anti-Cristo e ainda e sempre lutarei contra Aquele que me amaldiçoou!”

“– O Anti-Cristo?”, perguntou assombrado o velho. “– Sim, o Anti-Cristo”, exclamou Satanás.

Seu olhar ficou ainda mais triste. Depois de uma pausa, Satanás continuou:

“– Virá o tempo em que em um lugar, que já tenho designado, viverá uma cortesã que terá uma filha ainda mais perversa do que ela. Ela a seu tempo parirá outra cortesã e assim durante onze gerações consecutivas. Na décima segunda geração, nascerá uma mulher que superará em depravação, perversidade e imoralidade todas as outras. Esta será a que porá no mundo aquele que deverá ser a perdição da humanidade inteira. Ele será o Anti-Cristo. Nem se saberá quem é o pai porque será concebido em estado de embriaguez imunda. Desde seu nascimento, eu viverei nele e ele em mim. A mãe notará muitos sinais incompreensíveis no momento do nascimento, mas eu a induzirei ao silêncio”.

Será um homem de uma inteligência extraordinária, que superará em muito a inteligência de seus contemporâneos. Terá também uma vastíssima cultura. Quando alcançar a idade adulta, sentirá dentro de si uma desenfreada avidez de comando e encontrará o apoio de um povo que será seu predileto. Por-lhe-ei nas mãos riquezas imensas, e por meio delas será grande e poderoso. E quando se desencadear uma grande guerra, na qual participará todo o mundo, o Anti-Cristo participará nela em qualidade de simples oficial.

Devido a suas capacidades, a sua bravura e coragem, ele fará em pouco tempo uma brilhantíssima carreira e ocupará os mais altos postos da hierarquia. Não conhecerá os fracassos e, conseguindo uma vitória atrás da outra, ganhará uma popularidade sem limites e infundirá em todos a simpatia e a confiança em sua pessoa.

Nenhum projétil poderá alcançá-lo nunca e as armas de todos os tipos lhe farão apenas sorrir. Em qualquer posto em que se encontre, será sinal seguro de que este posto não poderá ser tomado. Os barcos e os aviões que se encontrem ao seu comando terão a vitória segura.

Eu farei de maneira que a água, o fogo e os outros elementos da natureza lhe estejam submetidos. Vencerá e destruirá os poderes de todos os outros povos, de modo que ainda aumentará mais a admiração por ele entre as populações. Destronará reis, expulsará ditadores e presidentes e subjugará, por último, a todos os povos que se inclinarão diante de seu poderio e o reconhecerão por líder supremo. Reinará sobre todo o mundo e será o verdadeiro dono e senhor de toda a terra[1][2]. E eu lhe darei o poder de operar milagres, de forma que o mundo acreditará que ele é o próprio Cristo[3]. Ainda sem compreender seus atos, não se atreverão a criticá-lo e assim, por meio dele, eu corromperei a todo o gênero humano, empurrando-o à busca de novos conceitos no campo da filosofia e colocando-os em contradição com a religião.

Destruiremos também todas as leis da moralidade e, através do escárnio, cultivaremos na terra o sacrilégio e a blasfêmia, faremos que ocorra toda classe de acontecimentos desagradáveis ao extremo. Em todas as partes criaremos um número incrível de obstáculos e envolveremos a todos os homens e a todas as mulheres na sede das mais refinadas depravações. Recolheremos deliciosos frutos nos campos do mal. Durante o reinado do Anti-Cristo enviado por mim, meus servos fiéis assumirão formas tais que não deixarão supor que sejam demônios. Levarão a tentação às mentes e os homens perderão sua personalidade e sua capacidade de governar os próprios instintos. E deste modo o mal reinará.

Teremos que realizar muito esforço nesse período, porque cada invocação e cada oração dirigidas a Jesus Cristo serão suficientes para converter uma alma.[4] Mas nós continuaremos sem trégua em nosso terrível avanço: criaremos uma vida absurda e brutal, destruiremos tudo e teremos constrangido a todos os povos entre nossas mãos.

Destruiremos e devastaremos os templos, apagaremos todas as lâmpadas acesas em honra ao Altíssimo. Ó, como eu odeio aos que rezam nos templos! Odeio as Missas, as predicações e os cantos litúrgicos. Em meu reinado do Anti-Cristo só haverá maldade e sofrimentos em tal quantidade, que desde que o mundo é mundo não se terá visto tanta.

Então, em um excesso de dor e de louco desespero, os homens começarão, gemendo, a murmurar e culpar a Deus. Esta será a culminação de todos os meus desejos. Este será meu reinado, reino do mal e do ódio eternos”, assim gritava Satanás, flamejando com seus terríveis olhos”. [5]

 Notar que a geração deste ser maldito não será feita de uma forma normal, ele não terá nem sequer um pai reconhecido como tal. No entanto, Lúcifer vai produzi-lo inteligentemente através de uma sucessão de gerações “matriarcais”, 12 segundo a vidente. Tendo criado assim um ser com tais características, maldito, mas, com carismas herdados de uma forma natural (e alguns preternaturais colocados por ele), consegue ter uma espécie de fundador de seu corpo místico. Tenta copiar, de alguma forma, a geração de Jesus Cristo, o verdadeiro fundador do Corpo Místico divino, que seguiu uma sucessão de gerações até ser gerado no seio da Virgem Maria. Quem gerou o Homem-Deus foi o Espírito Santo, mas, certamente o fez de uma forma natural, utilizando provavelmente um sêmen natural criado por Deus e detentor de qualidades e carismas vindos de várias gerações de homens bons e tementes a Deus. Pois bem, Lúcifer vai utilizar o mesmo processo, que sua inteligência compreendeu, mas a depender de um período de várias gerações, uma depois da outra se superando em maldades e fidelidade ao próprio demônio.

Possuindo um “intercessor”, criado e sustentado por ele, Lúcifer poderá conseguir reger os homens copiando a forma como Deus rege o Universo, não o fazendo diretamente (como tentou na “bagarre”) mas por via deste maldito ser. Ele se utilizará de um método de regência todo divino para tentar fazer uma suma obra de ódio a Deus, que é reger, mas imperiosamente e pela força e o logro, através da intermediação. Nesse sentido ele terá como opositor não um, mas dois grandes santos, Elias e Enoch, que manterão vivo o Corpo Místico de Cristo, e, mesmo após mortos, serão aceitos por Deus como vítimas expiatórias exorcísticas, fazendo com que o próprio Cristo desça do céu e mate o Anti-Cristo com um sopro de sua boca. Como o Sr. Dr. Plínio falou nessa reunião, o demônio nunca dá o que promete, e quando dá algo, como vai dar ao Anti-Cristo, tira mais do que o que deu. Todos seus carismas e todo seu poder serão destruídos pelo simples sopro da boca de Jesus, e depois virarão pó nas profundezas do Inferno


 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Parte de uma série de treze conferências pronunciadas pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira em 1957 sobre o tema do Igualitarismo. O texto integral delas foi divulgado pelo Ufficio Tradizione Famiglia Proprietà (grupo da TFP na Itália) em seu site, lembrando que, apesar de ser matéria doutrinária não revista pelo Autor, podendo haver erros na transcrição do áudio, no entanto pela coerência do que está aqui exposto há inteira concordância com o seu pensamento exposto na obra “Revolução e Contra-Revolução

[2] Evangelho de São João 5, 43: “Eu vim em nome de Meu Pai e vocês não me receberam, se outro vier em seu próprio nome, a esse o receberão.”

[3] ...a vinda dele é por obra de Satanás, com todo o poder, com sinais e prodígios mentirosos e com todas as seduções da iniqüidade para aqueles que se perdem... (II Tessalonicenses 2. 9-10)

[4] Daí a importância de Elias e Enoch para sustentar a fidelidade dos poucos bons que perseverarão.

[5] Fanny Moisseieva - MEU SONO LETÁRGICO DE NOVE DIAS - PARTE IV – O INFERNOFonte: www.recadosaarao.com.br


quinta-feira, 7 de abril de 2022

SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE

 



Temos uma ficha para hoje sobre São João Batista de la Salle, cujos dados biográficos são tirados do livro “Saints de France”, de Henri Pourrat:

“São João Batista nasceu em Reims, em 1651, de uma família de magistrados. Menino ainda, em meio a uma festa, sentiu uma náusea profunda de tudo quanto o rodeava. Dirigiu-se a uma prima, que só conseguiu consolá-lo, lendo uma vida dos Santos. Com 17 anos, tornou-se cônego, colocando-se sob a direção de M. Troçont, conhecido como excelente diretor espiritual. Perdendo seus pais, precisou cuidar de seus irmãos.

“Nessa época, em Rouen, uma senhora fundara uma escola gratuita para meninos órfãos. Em Reims, quiseram imitar esse exemplo, mas para os meninos. M. Nille, encarregado de iniciar as suas funções em Reims, foi hospedado por São João Batista que escreveu então: “Se eu soubesse que os cuidados, a simples caridade que eu tomava para com os mestres de escola, transformar-se-iam no dever de morar com eles, eu os teria abandonado. Porque como eu os colocava abaixo de meus criados, as pessoas que trabalhavam em escolas, o único pensamento de que seria obrigado, a viver com eles, me pareceria insuportáve”l.

“E assim começou a missão de São João Batista. A organização do ensino primário católico gratuito, e os irmãos das escolas cristãs. E com isso, seus sofrimentos. Sua cidade natal, seus parentes, puseram-se contra ele.

“Escrevendo suas regras para seus irmãos, quis que vivessem confiados na Providência. Seus companheiros murmuraram que isso era fácil para ele, cônego. Abandonou então a sua posição e distribuiu seus bens. Os discípulos murmuraram agora ser crime distribuir bens senão entre eles mesmos. Organizado o Instituto e as escolas, começaram as perseguições dos mestres-leigos. Seu hábito simples, mereceu-lhe vaias na rua, e que lhe lançassem lama no rosto.

“Mais tarde, difundindo a comunhão frequente, e recebendo cheio de alegria e submissão a bula "Unigenitus", João Batista é atacado pelos jansenistas, e abandonado pelos próprios irmãos. Idoso e alquebrado por suas austeridades, em 1717, la Salle pensa em descansar no noviciado de Saint Ior, mas o padre que o serve em suas doenças, o maltrata. E dois dias antes de sua morte, em suas querelas religiosas, o arcebispo de Rouen, tira-lhe todos os poderes, como a um padre indigno.

‘Espere - diz João Batista com um sorriso - que logo serei libertado do Egito, para ser introduzido na verdadeira terra prometida dos eleitos’. E ele conseguiu isso, na Sexta-Feira Santa, de 1719.”

Vida bonita, mas unilateral

Esta vida é uma vida muito bonita de um lado, mas por outro é unilateral, pois ela apresenta apenas o “rio chinês”, as dificuldades e não mostra como o “rio chinês” chegou ao mar, ou seja, como os caminhos da Providência acabaram por se dar.

A realidade das coisas põe-se nos seguintes termos: na época em que este Santo viveu, em virtude das guerras de religião, que foram muito profundas na França, entre protestantes e católicos, e que desorganizaram a estrutura eclesiástica da Igreja Católica, de um lado. Depois, havia o fato de que estavam se reintroduzindo no clero francês um grande relaxamento de costumes e de empenho apostólico.

Acontece que o apostolado junto aos mais ricos era muito procurado pelo clero. Ou seja, junto aos nobres, às pessoas importantes da corte, aos magistrados, enfim, a quem - a qualquer título - tivesse uma situação social. Mas desdenhava-se muito o apostolado junto aos pobres e, sobretudo, dentre os pobres, junto aos meninos.

Compreende-se esta orientação completamente errada. Uma vez que se tratava de uma sociedade fortemente hierárquica, as maiores vantagens só podiam provir do convívio com as pessoas mais importantes. E então Padres sem zelo, relaxados, procuravam os penitentes que lhes pudessem trazer vantagens, ou relações que lhes pudessem trazer vantagens, e desprezavam o povinho.

O resultado é que uma quantidade enorme de crianças do povo se formavam sem ter ensino religioso. Havia mestres de escolas, mas eram de escolas leigas e assim uma multidão de elementos da França nova, que vinham nascendo, as gerações novas ficavam completamente paganizadas.

Hoje em dia, o clero novamente caindo na decadência, procura não os ricos mas os soprados pela demagogia

Era uma situação, até certo ponto, diametralmente oposta à de hoje. Os senhores vêem o clero infelizmente caindo de novo no relaxamento, bajular os grandes do dia. Mas acontece que estes últimos já não são mais os ricos, muito menos ainda o são os nobres, também não são os intelectuais. Os grandes do dia são os homens soprados pela demagogia, quer dizer, são os chefes populares, os líderes operários, os elementos que dirigem sindicatos etc., e com os quais parece estar o poder no dia de amanhã. São os meios esquerdistas bafejados pela imprensa e que proporcionam uma publicidade lisonjeira às pessoas que os apóiam.

E então os senhores vêem mais uma vez o clero, como disse antes, caindo em decadência, e, pois, anti-hierárquico, anti-aristocrático, desdenhando os intelectuais e procurando os revolucionários.

Mas naquele tempo em que a Revolução não tinha destruído a ordem de coisas como veio a fazer, o clero relaxado por análogas razões, desdenhava os pequenos e procurava os que então eram grandes. Mas numa ou noutra situação, a constante é a mesma: o clero relaxado procurando os grandes.

Segue uma orientação diversa do clero decadente e vai procurar os que estão sendo abandonados

Acontece que São João Batista de la Salle, que era de uma família entre burguesia e nobre, portanto sem ser uma grande família, era de certa categoria, além do que era cônego, e todos os cônegos naquela época tinham rendas. Assim sendo, ele que podia seguir o movimento geral e candidatar-se para frequentar meios mais altos que os dele, para fazer carreira, eventualmente ficar bispo, talvez cardeal, São João Batista de la Salle segue uma orientação diversa.

Como pessoa modelar que era, abnegado, desinteressado dos bens desse mundo, vai à busca dos que estão sendo abandonados. Em nossa época, ele procuraria quem a Revolução desdenha, portanto a classe oposta daquela que procurou naquele tempo. E constituiu uma Congregação Religiosa de irmãos leigos, especialmente destinados a ensinar a religião para as crianças.

Vantagens do apostolado feito com crianças

Os senhores me dirão: "Mas Dr. Plínio, esse apostolado de ensinar Religião para crianças, não é um apostolado muito “mocorongo”, de último nível? Um apostolado com criancinhas em que todos levantam, cantam uma coisinha, sentam e depois vem o bê-á-bá? Vale a pena um homem de maior vôo, de inteligência maior consagrar toda a sua vida a este tipo de apostolado?"

Respondo da seguinte maneira: temos de distinguir. Em nossos dias, uma pessoa com vocação para o apostolado católico e contra-revolucionário da TFP, é chamada para algo de muito mais alto e de muito mais eficiente do que apostolado junto a crianças de grupo primário, evidentemente.

Não obstante isto, fazer apostolado em grupo primário, em si - não tomando a comparação com a TFP - se faz uma coisa muito boa. Porque qualquer apostolado é uma grande coisa. Qualquer alma, do último meninote de escola, foi remida pelo sangue infinitamente precioso de Cristo, quem somos nós para julgar pouco fazer bem para esta alma? Qualquer atividade apostólica, em si, é digníssima, é esplêndida, é digna de toda a veneração.

De maneira que entre um homem passar a vida procurando defender exclusivamente os seus interesses e não fazer apostolado, ou ele fazer apostolado - ainda que seja o modesto apostolado com crianças para ensinar catecismo - de algum modo, trabalhou pelo Reino de Deus, salvou almas. Fez, portanto, muito melhor porque trabalhou para a eternidade, do que se tivesse meramente acumulado fortuna, honras desse mundo, que são coisas que os vermes da terra hão de comer. Quando morrermos, não levaremos nem nossas honrarias, nem nossas fortunas; levamos nossas boas obras. Ensinar crianças, é uma muito boa obra!

Mas acontece uma outra coisa sobretudo que devemos observar: São João Batista de la Salle, não era um desses professorezinhos de Religião que se vê lecionar por aí, com um ensino “mocorongo” de Catecismo. Ou seja, um ensino tal que as crianças papagaiam o Catecismo, mas este absolutamente não lhes entrou na alma e não lhes marcou um rumo para a vida inteira, sendo que há meios de lecionar o Catecismo em nível primário, de maneira que isto não ocorra.

Para estudar a vida de um Santo, deve-se conhecer sua mentalidade, suas intenções, para se conhecer o verdadeiro alcance da obra que fundou

Há na vida de São João Batista de la Salle, como de grandes outros Santos catequistas, pessoas em grande quantidade que permaneceram católicas por toda a vida graças a um ensino de Catecismo bem dado. Quer dizer, não devemos imaginar que ele desse aulinhas de Catecismo...

Suscitou vocações de homens que deixavam o mundo para se consagrarem exclusivamente ao ensino do Catecismo

Devemos imaginar algo que nós não vimos - pelo menos eu não vi, e tenho razões sérias, sólidas e robustas para imaginar que os senhores também não viram -, ou seja um ensino ministrado com toda a atenção, o recolhimento, a influência que a aula de um Catecismo dada por um Santo tem...

Acresce ainda que ele fez coisa muito melhor: não só deu aulas de Catecismo, mas fundou uma Congregação Religiosa inteira! Quer dizer, ele suscitou - no sentido humano da palavra - vocações de homens que deixavam o mundo para se consagrarem exclusivamente ao ensino do Catecismo. E, para simplificar - a terminologia canônica não é muito correta - ele fundou uma Ordem Religiosa, especialmente destinada ao ensino do Catecismo.

Os senhores estão vendo, portanto, que são centenas, milhares de pessoas, que ao longo de séculos, passaram ensinando o Catecismo. Se essas pessoas tivessem sido fiéis à orientação dele até nossos dias, só sua Congregação - e que se estendeu por inúmeros países, que ainda existe e é uma das pujantes da Igreja Católica - já seria um baluarte de Contra-Revolução admirável.

Uma vez que estamos estudando a vida de um Santo, devemos conhecer sua mentalidade. E para tal devemos conhecer sua intenção, o que é possível conhecendo o verdadeiro alcance da obra que ele fundou. E é por causa disso, que eu estou me empenhando em mostrar, que realmente, S. João Batista de la Salle teve em vista uma obra de grande elevação.

Não seria talvez a obra mais indispensável a ser realizada, a obra mais necessária, mas é uma obra necessária; não seria talvez a mais necessária, mas necessária porque é preciso que haja quem dê o Catecismo para as crianças, de um lado.

Nem todo o mundo foi chamado por Deus para fazer as mais altas obras

De outro lado, nem todo o mundo foi chamado por Deus para fazer as mais altas obras. Também nas vocações dadas por Deus, há uma hierarquia. E é excelente que uma pessoa que não tenha sido chamada para o mais alto, faça de um modo altíssimo aquilo a que foi chamada, e foi exatamente essa bonita realização de São João Batista de la Salle.

Os senhores vêem que ele teve êxito nisto. Sua Congregação se estende por toda a Terra e, durante muitos séculos, fez muito bem. Quer dizer, esta é a linha mestra de seu apostolado. É um homem chamado, que se esforçou e realizou aquilo para o que foi chamado. Esta é a linha mestra.

Em torno disto que é reto e claro, e de um traçado límpido como é um canal, se estabelece o ziguezague do “rio chinês”.

Então, os senhores têm todas essas dificuldades, que sua ficha biográfica menciona, e que ele teve para de fato reunir sua Congregação.

Aí é que os senhores vêem, na sua verdadeira perspectiva, sua vida e a obra por ele realizada. Os senhores compreendem, então, como é belo, ter tido de lutar com tantas dificuldades, incompreensões, das quais certamente as mais dolorosas, foram as que teve entre os seus, quer dizer, os que foram chamados para trabalharem consigo. Parece não ter sido uma turma acomodatícia... Os senhores viram que primeiro ele queria que o pessoal todo vivesse com muita pobreza, confiados só à Providência, sem ter capitais... e o pessoal resmungou: "Você é cônego, tem bom ordenado, é fácil confiar na Providência quando tem todos os meses uma diocese que paga um dinheiro para você; nós, coitados, onde está o nosso dinheiro? Nós queremos patrimônio!"

Ele vai e renuncia ao patrimônio:

– Está aí, eu estou pobre como vocês.

– Que loucura, vai pôr fora esse dinheiro; era só o que nós tínhamos, por pouco que fosse ainda dividia conosco...

Quer dizer, era um pessoal que não estava compreendendo grande coisa do que ele estava querendo fazer.

 

É próprio das vidas dos Santos mal escritas que não contam os aspectos mais interessantes

Como é que chegou a se esclarecer esse conjunto de pessoas e como nessa turma rebarbativa – e, se se pudesse dizer isto, inóspita, no sentido de dizer que no meio deles não devia ser agradável estar... - clareou o zelo, limpou os horizontes e depois se tornou à altura do santo, isto exatamente a ficha não diz...

Porque é próprio da vida dos Santos mal escritas, que elas não contam os pontos interessantes. Como foi alcançada esta grande vitória interna, a ficha não o diz.

A gente vê que isso lhe custou muito. Porque como os senhores perceberam, ele tinha um sumo desprezo pelos professores primários. Ele dizia que achava o ofício de professor primário, uma coisa tão inferior, que preferia ser criado da casa dele mesmo, do que ser professor primário...

Vem a Providência e o chama: "Meu filho, eu o convido para professor primário"...

"Está bem, eu vou deixar esta gente toda, vou viver no meio dos professores primários"...

Reúne os professores primários, uma companhia que deveria ser pelo visto – aliás, eu não participo desse desprezo pelos professores primários como os senhores viram há pouco – desagradável para ele; digamos uma palavra muito forte, mas talvez verdadeira para o caso, nauseá-lo. Ele podia esperar ali, entre professores primários, de ser bem tratado, porque era o único que era mais que os professores primários. Qual o quê?! Entra na surra! Incompreensões, vistas limitadas, estupidez etc.

Nossa Senhora quis que São João Batista de la Salle com seu sangue regasse a semente que tinha sido incumbido de plantar e de fazer vicejar

De outro lado, os senhores viram bem... que ele manuseou o trabalho que costumamos conhecer: "Não, onde é que se viu! Você, tão inteligente, vai entrar para essa história e coisa e tal...".

Ele adota um hábito muito simples para indicar a modéstia da profissão e das condições. Qual o resultado de sua atitude?

Na rua, as pessoas chegam a jogar lama nele. Volta-se para o clero e este o maltrata de todos os modos. Mas a obra indo para a frente... Eis aí o ponto interessante.

Nossa Senhora quis que ele sofresse essas coisas todas para, com os méritos de seus sofrimentos, com seu sangue portanto, regar a semente que ele tinha sido incumbido de plantar e fazê-la vicejar.

Esta é uma regra à qual não escapa, meus caros, nenhuma forma de apostolado!

O verdadeiro apóstolo ou sofre pela obra que deseja realizar, mas mete sangue e dá a alma dentro disso... Coisa muito pior do que sangue do corpo, muito pior, um verdadeiro apóstolo ou mete sangue da alma e sofre por aquilo que ele quer realizar ou ele absolutamente não é apóstolo.

Todo apóstolo tem que ter sofrimentos. E um dos sofrimentos mais pungentes é a gente se sentir, de um lado, chamado para realizar uma vocação; e de outro perceber as ondas contrárias que parecem tornar sem sentido o chamado que se recebeu. Esta coação ou esta coarctação da vocação, este enfrentar obstáculos que parecem opor-se à via do Espírito Santo, isto é uma das dilacerações mais penosas que uma alma pode sofrer.

De maneira que São João Batista de la Salle agiu como verdadeiro homem de Deus, aguentando todas essas coisas. Afinal de contas, a morte o libertou de tudo isto e ele encontrou a sua coroa no Paraíso.

Por que razão eu insisti de um modo especial a respeito desta vida de Santo?

Os senhores poderão me dizer que é uma vida de um Santo bem diferente da vida que caracteriza um membro da TFP. E que, debaixo deste ponto de vista, talvez não valesse a pena desenvolver tanto essa biografia.

Mas foi intencionalmente que eu a desenvolvi. Porque eu não quisera jamais que - por mais chamada, por mais perdoada e por mais abençoada que seja a TFP - nossas vistas fossem tão estreitas que não víssemos a Igreja a não ser dentro da TFP!

A Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana - instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, direta e pessoalmente por Ele - é infinitamente maior do que a TFP. E o valor da TFP é de ser um grãozinho cheio de suco da Santa Igreja.

Mas o bom, o santo, o verdadeiro está na Igreja. E é da Igreja que vem a TFP, que é um corpúsculo da Igreja. Da Igreja vem à TFP a seiva, a vitalidade, a santidade que torna a TFP estimável.

Então, o bom membro da TFP, que deve ser uma pessoa penetrada até o fundo de sua alma, de intelecção, de compreensão nesse sentido superior da palavra, de amor, de veneração, de ternura, para com a Igreja Católica verdadeira, eterna. E deve ter uma compreensão admirativa por tudo aquilo que fizeram os Santos por mais que suas atividades e suas vidas tenham sido diferentes das da TFP, porque é só a gente tendo essa compreensão e a gente percebe tudo isto que tesouro é; é só assim que a gente compreende o que é a TFP.


 (Plínio Corrêa de Oliveira – Santo do Dia, 15 de maio de 1971 – Extraído de  “São João Batista de la Salle e os esplendores da Santa Igreja Católica” -
https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_710515_Sao_Joao_Batista_de_la_Salle.htm#.Yk9W4fnMK1s )

 


terça-feira, 5 de abril de 2022

SÃO VICENTE FERRER, “O ANJO DO APOCALIPSE”

 



(São Vicente Ferrer foi poderoso taumaturgo, converteu milhares de judeus e muçulmanos e foram contados para sua canonização 873 milagres, enquanto seus cronistas afirmam que fez mais de 40 mil. Doutor Plínio comenta sobre este grande santo num "Santo do Dia")

Hoje é aniversário da morte de Francisco Marto, a quem Nossa Senhora apareceu em Fátima. Ele faleceu em 1919.

Amanhã será a festa de São Vicente Ferrer, Confessor, “que contribuiu para a extinção do grande cisma do Ocidente no século XIV”. A seu respeito, temos os seguintes dados:

“Vicente Ferrer nasceu na Espanha, em 1357. Sua vocação foi anunciada a seus pais de forma miraculosa, antes de seu nascimento. A seu batismo acorreu toda a cidade de Valença, sendo seus padrinhos os membros do Conselho Municipal.

“Entrou para a Ordem Dominicana aos 18 anos, revelando logo rara inteligência e dotes para a pregação. Acompanhou o cardeal Pedro de Luna a Avinhão, sendo que algum tempo depois este foi eleito papa sob o nome de Bento XIII, na época do grande cisma que dividia a Igreja. O novo papa quis que Vicente fosse seu auxiliar, mas o santo sabia que esta não era a sua missão. Assim deu início à grande obra de evangelização como pregador.

“Percorreu a França, Espanha, Itália e Inglaterra, esta última por especial pedido do rei Henrique IV. Os pecadores mais endurecidos não resistiam às suas palavras, assim como numerosíssimos judeus, muçulmanos e cismáticos se convertiam. A ignorância e a corrupção dos costumes, coisas comuns da guerra e do cisma, tornavam necessárias as missões de Vicente. Era preciso um apóstolo cuja voz terrível pudesse abalar as consciências a fim de arrancar os pecadores às suas desordens. O Santo tratava comumente somente dos temas mais assustadores do cristianismo tais como o pecado, o juízo de Deus, o inferno e a eternidade. Tinha, além disso, o dom de pronunciar seus discursos da maneira a mais patética. Não se contentando em ser veemente, ele falava ainda de uma maneira proporcionada à compreensão dos ouvintes. A santidade de sua vida dava nova força às suas palavras.

“Sua fama chegou ao reino mouro de Granada, cujo soberano Mohamed Yusuf III quis ouvi-lo. São Vicente começou a promover tantas conversões que os ministros do rei, temerosos do que sucederia à crença muçulmana, pediram-lhe que afastasse dali o grande pregador.

“Depois de uma existência toda consagrada a levar almas para Deus, pontilhada por milagres sem conta e pela luta contra o doloroso cisma de Avinhão, que culminou pela condenação pelo Santo do antipapa Pedro de Luna e a aceitação completa de Martinho V, que fora escolhido pelo concílio de Constança, São Vicente veio a falecer na Bretanha, em 1419, aos 62 anos de idade.”

Tenho a impressão de que poucas coisas são tão bonitas na hagiografia quanto o nós situarmos a missão do santo no panorama proposto pela RCR (Revolução e Contra-Revolução). Segundo tal panorama, no século XIV, a Cristandade começava a decair. Era uma decadência eclesiástica tremenda que se atestava pelo fato de haver ao mesmo tempo papas exilados em Avinhão, que estavam sob a férula dos reis de França. E um cisma tremendo: três papas que se combatiam reciprocamente, dos quais, naturalmente, um só era válido. Mas estava de tal maneira a confusão na Cristandade, que para cada pseudo-papa ou papa, havia santos que estavam do seu lado. Os senhores compreendem o que significava, para isso ser possível, a putrefação toda do clero. Mas esta acarretava, por sua vez, como conseqüência, a degenerescência dos fiéis. E era toda a Idade Média que entrava em decomposição, de caráter mais moral do que intelectual; era uma explosão de orgulho e de sensualidade que começava, a qual devia depois gerar os desvios intelectuais que são os erros da Revolução.

Então a Providência manda, muito adequadamente, para essa época, um santo que foi grande na sua Ordem como, por exemplo, foi grande na sua esfera própria, São Tomás de Aquino. Porque se se pode dizer, de um lado, que São Tomás de Aquino foi Doutor Comum, o filósofo dos filósofos, o teólogo dos teólogos, pode-se dizer que como pregador popular – depois dos Apóstolos – ninguém excedeu provavelmente São Vicente Ferrer, nem mesmo, no século XIX, Santo Antônio Maria Claret, que foi um pregador assombroso.

São Vicente Ferrer dizia de si mesmo que era o “Anjo do Apocalipse”, que tinha vindo para anunciar a derrocada da Civilização Cristã e o começo do fim do mundo. E de fato ele lutou enormemente para a moralização dos costumes, lutou para que exatamente essa decadência moral se sustasse.

Essa ficha biográfica que acabei de ler aqui é muito sintomática, porque menciona as conversões que São Vicente Ferrer obteve, mas como fatos colaterais, não digo secundários, mas de uma importância menor dentro do conjunto de sua obra. O grande fato era o poder de sua pregação, por onde sacudia as consciências meio adormecidas e por onde ele era, por excelência, o santo oposto à tibieza. Porque esse tipo de santo que fala sobre inferno, pecados, que tonitroa, que pede o castigo do Céu, é exatamente o santo chamado sobretudo para falar às almas tíbias, porque de outro modo não poderia converter. Então compreendemos o número colossal de conversões que operou. Porém essas conversões, por mais numerosas que tenham sido, foram insuficientes. Delas não nasceu um movimento, uma onda organizada para combater a Revolução que surgia. E o resultado é que converteu muitas almas, mas não a sociedade enquanto tal. Em outros termos, ele não foi tão ouvido pelos homens de seu tempo quanto era devido. São Vicente Ferrer foi o dique que a Providência levantou, mas que a maldade

Mas na abertura dessa torrente que começa a cair para o abismo, fica de pé sua figura grandiosa, anunciando as catástrofes que provinham do fato de ele não ter sido ouvido. Exatamente como de um profeta do Antigo Testamento anunciando desgraças ao povo de Deus, porque não tinha ouvido o enviado de Deus.

Assim, fica sua imensa figura pairando sobre o firmamento da Igreja no fim de um pórtico que é o fim da Idade Média e que pode ser considerado o começo da Revolução.

Aí está a imensa figura de São Vicente Ferrer e a explicação histórica de seu estilo de pregar, dos dons com que foi favorecido e da missão que recebeu de Deus.


(Plínio Corrêa de Oliveira - Santo do Dia, 04 de abril de 1966)