segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O DESCANSO DIVINO

Descanso – No Gênesis está escrito que Deus ao concluir o Universo, descansou (Gên 2, 3). Quer dizer, foi dormir? Não, vendo que sua obra era boa passou a desfrutá-la, gozar dela. Na linguagem corriqueira descansar é livrar-se do cansaço, da fadiga do trabalho, etc, ou então, deixar de ter preocupações, esquecer-se dos problemas e repousar a mente e o pensamento, obter tranqüilidade. Também quando a pessoa morre diz que “descansou no Senhor” ou obteve o “descanso eterno”. Há, contudo, um sentido mais profundo, o qual explica o que diz o Gênesis ao falar do “descanso” divino. São Paulo condena acerbamente os hebreus porque não ouviram as palavras divinas e, por isso, perderam o direito do “descanso”: Para penetrar no Significado de “descanso”, precisamos fazer as seguintes indagações: o que é o verdadeiro descanso? Em que lugar se descansa? O lugar melhor para o descanso são as moradas, ou as interiores ou as celestes; e o verdadeiro descanso é a paz de espírito. Disse o Apóstolo: “Temamos, pois que, desprezando a promessa (de Deus) de entrar no seu descanso, haja algum dentre vós que dele seja excluído. Da mesma forma que eles (israelitas), também nós recebemos a boa nova; porém a palavra que eles ouviram, não lhes aproveitou, por não ser acompanhada da fé por parte daqueles que a tinham ouvido. Porém, nós, que cremos, entraremos no descanso (do céu), segundo disse: “Como jurei na minha ira, não entrarão no meu descanso”; e com certeza, concluídas as suas obras depois da criação do mundo. Com efeito, em certo lugar falou assim do sétimo dia: “E Deus descansou no sétimo dia de todas as suas obras”. E outra vez: “Não entrarão no meu descanso”. Como, pois, resta que alguns entrem nele, e que aqueles, a quem primeiro foi anunciada a boa nova, não entraram por causa de sua incredulidade, fixa de novo certo dia falando de hoje, dizendo por meio de Davi, tanto tempo depois, como acima foi dito: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não queirais endurecer os vossos corações”. De fato, se Josué lhes tivesse dado o descanso, (Deus) não falaria, depois disso, de outro dia. Resta portanto um sabatismo para o povo de Deus. Realmente aquele que entrou no seu descanso, também descansou das suas obras, como Deus das suas” (Heb 4, 1-10). São Paulo refere-se ao Salmo 94-8 e 11, quando disse “Hoje, dizendo por meio de Davi”, que reza assim: “Se hoje ouvirdes a sua voz, não queirais endurecer os vossos corações”; e “Não conheceram os meus caminhos; pelo que jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso”. Continua São Paulo: “Apressemo-nos, pois, a entrar naquele descanso, para que ninguém caia em tal exemplo de incredulidade. Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que toda a espada de dois gumes; chega até à separação da alma e do espírito, das junturas e das medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração. Não há nenhuma criatura invisível na sua presença mas todas as coisas estão a nu e a descoberto, aos olhos daquele de quem falamos” (Heb 4, 11-13). Entrar no descanso de Deus, enquanto estamos vivos, Significa simplesmente penetrar nas moradas interiores. Para tanto, basta ouvir a Palavra de Deus, que, no caso, pode ser manifestada de várias formas, sendo a mais importante aquela que ressoa no interior de nossos corações. É tão forte esta palavra que São Paulo diz que é mais cortante do que uma espada de dois gumes, chegando até àquele lugar da “separação da alma e do espírito”, quer dizer, a região interior do homem que une corpo e alma, onde encontram-se alguns atributos como a “luz primordial”, a “luz do entendimento” , o “sacrário da alma”, o “templo de Deus”, etc.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

AGAR, ESCRAVA DE SARA, DEIXOU DESCENDENTES?

A Sagrada Escritura faz suas revelações colocando em destaque sempre os Patriarcas. Eva só é importante enquanto companheira do Patriarca Adão. Depois de Eva, por muito tempo não se fala senão nos homens ou patriarcas. Adão e Eva tiveram muitas filhas, mas na Bíblia só se fala em Caim e Abel. Quando Caim se casou se registra o fato assim: “E Caim conheceu sua mulher, a qual concebeu e deu à luz Henoc”. Quem era esta mulher de Caim? Evidentemente que era uma filha de Adão, merecendo portanto ser pelo menos nominada, mas não se sabe quem foi. Importante é Caim, é Set, é Henoc, porque eram patriarcas. A Sagrada Escritura começa a falar de mulheres para registrar o surgimento da poligamia: “E este tomou duas mulheres, uma chamada Ada, e outra Sela” (Gn 4, 17-19). Mas logo em seguida os filhos masculinos de Ada são citados, Jabel e Jubal, assim como o de Sela, Tubalcain, ao lado de sua irmã Noema. Jabel era designado como um dos que “habitava sob tendas e dos pastores”, Jubal foi o mestre, o pai, dos que tocam cítara e órgão, Tubalcain era artífice em toda qualidade de obras de cobre e de ferro, mas de Noema nada se fala. Ela poderia ter sido, por exemplo, exímia na arte de tecer, mas nada se diz. Em seguida a Sagrada Escritura fala de Set, filho de Adão. Depois, dentre os filhos de Set fala-se apenas de Enós, por que este “começou a invocar o nome do Senhor”. E toda a genealogia de Adão segue assim: gerou filhos e filhas, mas depois de Set aparece apenas citado o nome de Enós, que gerou Cainan, que gerou Malaleel, que gerou Jared, que gerou Henoc, que gerou Matusalém, etc. Henoc também gerou filhos e filhas, mas apenas os filhos são citados. Matusalém gerou Lamec, que gerou Noé. Todos estes patriarcas viveram trezentos, quatrocentos, quinhentos ou até novecentos anos, e geraram filhos e filhas. Mas apenas seus nomes são citados. Por que? Porque eles eram os patriarcas, eram os chefes das clãs, os principais - os demais, dentre os quais as mulheres, não tinham tanta importância para serem citados ou lembrados. Inicialmente, a mulher foi citada como a grande vencedora da serpente: "Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela, e ela te pisará a cabeça com seu calcanhar" (Gên 3-15). Os teólogos vêm no texto uma clara alusão à Maria Santíssima, Mãe do Salvador. Depois, as mulheres começaram a ser referidas de uma forma coletiva (sem citar nomes) nas ocasiões em que causavam a perdição dos homens. Foi assim que “tendo os homens começado a multiplicar-se sobre a terra, e tendo gerado filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram por suas mulheres...” Na Sagrada Escritura, alguns interpretam que “filhos de Deus” eram aqueles que viviam santamente, os descendentes de Set, mas o próprio Santo Agostinho interpreta o termo "filhos de Deus" como sendo os anjos. A interpretação de Santo Agostinho é corretíssima, pois não haveria motivos para a Bíblia se referir aos "filhos de Deus" como sendo os homens, porquanto era comum os homens tomarem as mulheres para si. Embora não possa se descartar a idéia de se chamar os homens bons também de “filhos de Deus”, que realmente eles o são. Pelo texto se entende, então, que alguns anjos tomaram algumas das filhas dos homens como mulheres. E como se trata de uma ação maléfica, se depreende que tais anjos eram os demônios. De outro lado, as chamadas “filhas dos homens” eram as que praticavam o pecado, as descendentes de Caim. A coisa chegou a tal ponto que geraram gigantes entre eles, “homens possantes e desde há muito afamados” (Gên 6, 4). A decadência era tamanha que Deus resolveu acabar com a humanidade e mandou o dilúvio. Em atenção à Noé, Patriarca puro e fiel a Deus, foi preservada a sua posteridade e dado continuidade ao povoamento da terra pelos homens. Quando tinha quinhentos anos, Noé teve seus filhos. Quais eram os filhos de Noé? Sem, Cam e Jafet. Na hora de entrar na arca, entraram também as mulheres de Noé e dos filhos, mas quem eram elas? Não se sabe, pois seus nomes não são citados. Após o dilúvio, saíram todos da Arca e está escrito: “Estes são os três filhos de Noé, e por eles se propagou todo o gênero humano sobre a terra”. (Gn 9, 10). Se propagou como? A Sagrada Escritura não fala mais sobre as mulheres dos filhos de Noé nem de outras pessoas. A partir daí se começa a descrever toda a genealogia patriarcal da posteridade de Noé. Dois foram, portanto, os principais patriarcas da Humanidade, Adão e Noé, mas seus descendentes citados na Bíblia eram somente patriarcas das épocas em que viveram. Vieram depois os patriarcas do povo eleito, que veremos a seguir. AGAR – Escrava de Sara, esposa de Abraão. Como Sara era estéril a entregou a Abraão para com ela ter filho, segundo costumes daqueles tempos. Dela nasceu o primeiro filho de Abraão, Ismael, o patriarca que deu origem aos ismaelitas, atuais árabes. Como Sara a tratasse mal resolveu fugir para o deserto. Estando lá lhe apareceu um Anjo e lhe ordenou que voltasse para a companhia de sua antiga patroa (Gen 16, 1-16), indicando que a submissão pela escravidão não era condenada por Deus. Depois que nasceu o filho legítimo de Abraão com Sara (Isaac), esta pediu ao patriarca para expulsar Agar e Ismael de sua companhia. Novamente foram para o deserto, onde foram amparados por Deus. São Paulo se refere a Agar como figurando o Antigo Testamento e Sara o Novo (Gál. 4, 24), o filho da escravidão e o filho legítimo. Agarenos – Tribo de nômades árabes, descendentes de Ismael, filho de Agar. Por suas guerras contra atribo de Rubem deviam viver na antiga Transjordânia (I Par 5, 10). Foram vencidos e submetidos pelos israelitas no tempo do rei Saul (I Par 5, 18 e ss). A Wikipédia assim define o termo: Agarenos ou Hagarenos (em grego: Ἀγαρηνοί; transl.: Agarenoi; em siríaco: ܗܓܪܝܐ‎ ou ܡܗܓܪܝܐ; transl.: Hagráyé ou Mhaggráyé é um termo amplamente usado por fontes primitivas siríacas, gregas, coptas e armênias para se referirem aos primeiros conquistadores árabes da Mesopotâmia, Síria e Egito. O nome foi usado na literatura judaico-cristã e em crónicas bizantinas aplicado primeiro aos árabes Hanif[a] e posteriormente às forças islâmicas como sinônimo de sarracenos. O termo siríaco Hagraye pode ser traduzido como "os seguidores ou descendentes de Agar, enquanto Mhaggraye está provavelmente relacionado com o termo árabe Muhajir (primeiros seguidores de Maomé). Alguns estudiosos pensam que os termos podem não ter origem judaico-cristã. Patricia Crone e Michael Cook defendem no seu livro "Hagarism: The Making of the Islamic World" que o termo foi introduzido pelos próprios muçulmanos para descreverem o seu avanço militar para o Levante e Jerusalém em particular, como uma Hijra. O termo ismaelita, que usualmente designa especificamente um ramo do Xiismo é por vezes usado como sinônimo de agareno. Agareno pode ainda designar qualquer muçulmano. Um exemplo disso pode eventualmente ser Ahryani (Aхряни), uma designação para os búlgaros muçulmanos usada em búlgaro coloquial; no entanto a origem deste termo tem também sido explicado como resultado do paralelismo existente entre a expansão do Islão nos Balcãs com o Arianismo antitrinitário.[carece de fontes. Importante notar que os muçulmanos introduziram várias denominações em seus conceitos e na sua história a fim de justificar tratar-se de uma religião monoteísta, como serem descendentes de Abraão, etc., No entanto, a linha patriarcal naqueles tempos era tirada do ramo masculino e não feminino, trata-se de descendentes do Patriarca Abraão, que gerou em Agar o filho Ismael. Da mesma forma passaram chamar Deus pelo nome de Alá, pois trata-se que este era apenas um dos deuses antigos adorados pelo politeísmo em Meca e Medina. Talvez nisso esteja incluído o comentário feito pelos autores acima, Patrícia Crone e Michal Cook, sobre a origem do termo Agareno.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

SÃO CIPRIANO, CHEFE DE UMA SEITA?

Hoje, 16 de setembro, festa de São Cipriano, reproduzimos atual artigo da Gaudium Press sobre este mártir, publicado dois anos atrás: Redação (Quinta-feira, 19-09-2019, Gaudium Press) Comemoramos há poucos dias (16 de setembro) o glorioso martírio do bispo de Cartago S. Cipriano (210-258), "admirável pela sua santidade e doutrina, que dirigiu excelentemente a Igreja em tempos muito adversos", verdadeiro Arauto do Evangelho, como nos lembra o Martirológio; mas brutalmente assassinado com menos de 50 anos. Começou a perseguição religiosa no Brasil Por pregar o Evangelho foi condenado A "Liturgia das Horas" - que todo religioso e todo clérigo devemos rezar quotidianamente, "em união com as divinas intenções de Cristo", quando Ele esteve na terra, como diz belamente a oração introdutória - apresentou-nos para meditação as atas judiciais de sua condenaçao. E chama a atenção que foi ele conduzido ao carrasco sob a acusação de ser "chefe de uma seita". A atualidade do santo africano, do que então eram "as periferias do mundo civilizado", chama a atenção. Devemos declarar que em razão dos inúmeros anos de estudos em Roma, empregamos até hoje a tradução da conferência episcopal italiana, e as versões em diversas línguas reportam de modo diverso o texto latino: "papam te sacrilege mentis hominibusprebuisti". Os escritos do santo africano, suas palavras, seu exemplo, ultrapassaram a provinciana cidade de Cartago, para ecoar em todo o orbe, e principalmente em Roma, sede do papado e do império. Mas o ódio contra a sua ortodoxia e fidelidade aos ensinamentos de Jesus Cristo, fez que quando o imperador Valério decretou que "os bispos, os padres e os diáconos sejam executados" no instante de sua apreensão, acrescentou uma ordem pessoal de captura e imediata condena a morte contra o santo cartaginês, como ele mesmo testemunha numa de suas derradeiras cartas (A Sucessus, n. 80). Tal era a fama de santidade de que gozava em vida. Santos há na História da Igreja que muitas vezes são objeto, mesmo antes de se encontrar com Deus, de veneração e respeito, amor e admiração pelos católicos; e ódio da parte dos que não querem ver praticada aquela lei do amor que Jesus nos ensinou: "não cometerás adultério, não cometerás homicídio, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honrarás pai e mãe..." (Lc 18, 20). O arauto do Evangelho chefe de uma seita - Acusação Assim, Cipriano foi aprisionado e levado diante do procônsulGalério, quem quis fazer uma ridícula encenação. "És tu quem te apresentas aos homens como papa dessa seita sacrílega?", perguntou o magistrado. "Sou eu!" respondeu o santo bispo, com a sobranceria de um verdadeiro filho de Nosso Senhor Jesus Cristo; como outrora nosso Divino Mestre aos algozes no Horto: "Eu sou" (Jo 18, 5). "Pensa bem..." respondeu o juiz, mas apenas ouviu por resposta: "Em assunto tão simples não há lugar para hesitações". Assim, foi logo lavrada a sentença iníqua: "reuniste a teu redor grupos de criminosos... és o instigador e porta-voz de ações altamente repreensíveis... teu sangue será derramado conforme à lei!". Na paz do verdadeiro mártir, o bispo respondeu: "Sejam dadas graças a Deus!". O povo queria ser decapitado com ele Então originou-se um tumulto entre o povo: "Queremos ser decapitados junto com ele!" gritavam os católicos, as virgens e as viúvas, os pais de família e as crianças. O exército romano viu-se desbordado pela população indignada, por serem privados de seu santo pastor. O bispo, no entanto, usou de sua influência para apaziguar a todos. Foi ele conduzido a uma clareira, no bosque, onde na presença de todos, estando em pé, tendo-se despojado dos ornamento sagrados que o revestiam, ficou com uma túnica de alvíssimo linho. Um diácono e um presbítero ajudaram a vendar os olhos, e o prelado ainda teve a caridade de ordenar dessem "25 moedas de ouro" ao carrasco... O homem fez seu papel: "assim, o bem-aventurado Cipriano sofreu sua paixão". Perseguição religiosa aos católicos e a arma de satanás Poucos dias depois o iníquo juiz também morreu, subitamente. E ambos encontraram-se diante do Tribunal de Deus. As notícias de jornal repetem, à saciedade, que em nosso século XXI os católicos somos a religião mais perseguida em toda a face da terra. Só no Paquistão, onde um verdadeiro milagre tirou a mártir Ásia Bibi do corredor da morte, depois de languidecer durante nove anos nas enxovias de Lahore, atualmente 187 católicos esperam a mesma sorte que sobre ela pairou, como espada de Dámocles, por dois lustros. E não apenas. No ocidente, como muito bem escreveram recentemente um casal católico, Hamiltom e Cristiane Buzi (Ser Igreja no século XXI, in "Arautos do Evangelho", 213, set/19, pp. 16-21) "em um mundo que aparentemente cultua a paz, a compreensão e o diálogo, torna-se cada vez mais difícil ser católico autêntico", pois "há outras formas mais sutis e eficazes de perseguição, das quais o demônio se utiliza hoje às torrentes". "Escolher um bom colégio para nossos filhos ou buscar um entretenimento que não fira a moral cristã exige um esforço e uma perícia que não estão ao alcance de todas as famílias. Incenso aos ídolos, não! A cada instante somos convidados a deitar pequenos ou grandes punhados de incenso aos pés dos novos deuses pagãos, cujos nomes não são Júpiter, Baco ou Diana, mas sim desonestidade, mentira e relativismo. "Para os fiéis dos nossos dias, os cristãos dos primeiros séculos se apresentam como modelos de radicalidade evangélica", declaram Hamilton e Cristiane, proclamando com a ufania de S. Cipriano sua confiança na divina graça que Jesus, a rogos de Maria, sempre nos obtém, para "dar testemunho d'Ele diante do mundo... sermos mártires da ortodoxia, confessores da verdadeira doutrina, defensores da moral católica multissecular e fiéis seguidores do Magistério, ainda que isso suponha nos deixarmos crucificar com Ele, como o fizeram os primeiros cristãos". S. Cipriano de Cartago auxilie a todas as famílias católicas a seguirem o luminoso exemplo de Hamilton e Cristiane. Da redação Gaudium Press

terça-feira, 14 de setembro de 2021

SÃO MUITO MAIS GRAVES OS PECADOS DOS SACERDOTES E BISPOS

É extremamente grave o pecado do padre, porque peca com pleno conhecimento: sabem bem o mal que faz. Ensina Santo Tomás que o pecado dos fiéis é mais grave que o dos infiéis, precisamente porque os fiéis conhecem melhor a verdade; ora, as luzes dum simples fiel são bem inferiores às de um sacerdote. O padre é tão instruído na lei de Deus, que a ensina aos outros: Porque os lábios do sacerdote hão de guardar a ciência, e é da sua boca que os outros aprenderão a lei. É muito grave o pecado de quem conhece a lei, porque de nenhum modo pode desculpar-se com a ignorância. Pecam os pobres seculares, mas no meio das trevas do mundo, afastados dos sacramentos, pouco instruídos nas coisas espirituais, envolvidos nos negócios do século. Como apenas têm um fraco conhecimento de Deus, não vêem bem o mal que fazem, pecando: “sagittant in obscuro”, — arremessam as suas flechas na obscuridade como diz Davi. Os padres ao contrário estão cheios de luz, pois eles mesmos são os luzeiros destinados a alumiar os outros: Vós sois o luz do mundo. Sem dúvida, devem os padres estar muito instruídos, depois de terem lido tantos livros, ouvido tantos sermões, feito tantas meditações e recebido dos seus superiores tantos avisos! Numa palavra, foi-lhes dado conhecer a fundo os divinos mistérios. Sabem, pois, perfeitamente quanto Deus merece ser servido e amado, conhecem a malícia do pecado mortal, que é um inimigo tão contrário a Deus que, se Deus pudesse ser aniquilado, o seria por um só pecado mortal, como ensina S. Bernardo: “O pecado tende a destruir a divina bondade”; e noutro lugar: “O pecado, quanto lhe é possível, aniquila a Deus”. Diz o autor da Obra imperfeita que o pecador, tanto quanto depende da sua vontade, faz morrer Deus”. De fato, ajunta o Pe. Medina, o pecado mortal tanto desonra e desagrada a Deus que, se Deus fosse susceptível de tristeza, o pecado o faria morrer de pura dor. Tudo isso sabe o padre muito bem, e conhece por igual a obrigação em que está, como padre, cumulado de benefícios de Deus, de o servir e amar. Assim, diz S. Gregório, quanto melhor vê a enormidade da injúria que faz a Deus, pecando, mais grave é o seu pecado. Todo o pecado da parte do padre é um pecado de malícia, semelhante ao dos anjos, que pecaram na presença da luz. É ele o anjo do Senhor, diz S. Bernardo, falando do padre, e de certo modo peca no Céu, pecando no estado eclesiástico. Peca no meio da luz, o que faz que o seu pecado, como fica dito, seja um pecado de malícia: não pode, pois, alegar ignorância, porque sabe que mal é o pecado mortal; também não pode alegar fraqueza, porque conhece os recursos para se tornar forte, se quiser valer-se deles. Se o não quer, a culpa é sua: Não quis entender para praticar o bem. Pecado de malícia, diz Santa. Teresa, é aquele a que o pecador se decide cientemente; e afirma noutro lugar que todo o pecado de malícia é pecado contra o Espírito Santo. Ora, da boca do Senhor sabemos que o pecado contra o Espírito Santo não será perdoado, nem na vida presente, nem na futura; quer dizer, um tal pecado será de mui difícil perdão, por causa da cegueira que o pecado de malícia traz consigo. Pregado na cruz, rogou o nosso Salvador pelos seus perseguidores: Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem. Mas esta oração não aproveitou para os maus padres; foi antes a sua sentença de condenação, porque os padres sabem o que fazem. Nas suas lamentações, exclamava Jeremias: Como se embaciou o ouro, como perdeu o seu brilho?. Esse ouro embaciado é precisamente, diz o cardeal Hugues, o sacerdote pecador, que devia luzir com todo o brilho do amor divino, mas pelo pecado se tornou escuro, horrível, objeto de horror para o próprio inferno, e mais odioso aos olhos de Deus que todos os outros pecadores. Diz S. João Crisóstomo que nunca Deus é tão ofendido como quando os que o ultrajam estão revestidos da dignidade sacerdotal. O que agrava a malícia do pecado no padre é a ingratidão de que se torna culpado para com Deus, que o elevou a funções tão sublimes. Santo Tomás ensina que a enormidade do pecado aumenta à medida da ingratidão de quem o comete. Nenhumas ofensas, diz S. Basílio, nos ferem tanto, como as que nos são feitas por nossos amigos e parentes. Os padres são chamados por S. Cirilo — “Dei intimi” familiares. A que dignidade mais alta poderia Deus erguer a um homem, do que fazê-lo sacerdote? Passai revista a todas as honras e dignidades, diz Santo Efrém, e vereis que não há nenhuma que não seja eclipsada pelo sacerdócio. Que honra maior, que nobreza mais assinalada, que ser constituído vigário de Jesus Cristo, seu coadjutor, santificador das almas e ministro dos sacramentos? Dispensadores “regiae domus”: é assim que S. Próspero chama aos padres. Escolheu o Senhor o padre do meio de tantos outros homens, para ser ministro seu, e para lhe oferecer em sacrifício o seu próprio Filho. Escolheu-o entre todos os homens viadores para oferecer o sacrifício a Deus. Deu-lhe poder sobre o corpo de Jesus Cristo; depôs nas suas mãos as chaves do Paraíso; elevou-o acima de todos os reis da terra e de todos os anjos do Céu; numa palavra, fê-lo um Deus na terra. Que mais poderia eu fazer à minha vinha que não tenha feito? Não parece que estas palavras são dirigidas unicamente ao padre? Depois disso, que monstruosa ingratidão, quando esse padre, tão amado de Deus, o ofende na sua própria casa, como o mesmo Deus se lamenta pela boca de Jeremias. A este pensamento, exclama S. Bernardo com gemidos: Ai, Senhor, os que têm a vanguarda na vossa Igreja são os primeiros a perseguir-vos! Ao que parece, é ainda dos maus padres que se queixa o Senhor, quando convida o Céu e a terra para testemunhas da ingratidão, que os seus filhos usam com ele: Ó céus, escutai, ó terra, presta ouvidos... criei filhos, cumulei-os de honras, e eles desprezaram-me!. De fato, que filhos poderiam ser esses senão os padres, que Deus elevou a tão alta dignidade, e com a sua carne alimentou à sua mesa, e que depois ousaram desprezar o seu amor e a sua graça? É ainda desta ingratidão que se lamenta quando diz pela boca de Davi: Se o meu inimigo tivesse falado mal de mim, eu o teria sofrido... mas tu que eras como que metade da minha alma, tu, um dos chefes do meu povo, meu amigo íntimo, que partilhavas das delícias da minha mesa! Sim, o Salvador parece dizer: se um inimigo, quer dizer um idólatra, um herege, um mundano, me ofendesse, eu o suportaria, mas como poder sofrer que me ultrajes tu, sacerdote, meu amigo, meu comensal? É o que Jeremias deplora igualmente, exclamando: Os que se alimentavam delicadamente... que se tinham nutrido na púrpura, abraçaram a podridão. Que miséria, que horror, diz o Profeta! O que se alimentava duma iguaria celeste e se revestia de púrpura, ei-lo coberto com os andrajos do pecado, a nutrir-se de lodo e estrume! (Extraído de “A Selva”, de Santo Afonso Maria de Ligório, tradução do padre Marinho, Tipografia Fonseca, págs. 17/18)

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

O FALSO PROFETISMO NO MUNDO MODERNO

ADIVINHAÇÃO – Adivinhar é procurar investigar para saber a vontade de Deus, como sobre o futuro dos homens, de modo geral por meios ilícitos. Se a adivinhação for feita por meio de orações, feitas por alguém que tenha dons proféticos, pode ser lícita. De modo geral as adivinhações constam nas Sagradas Escrituras como práticas condenadas, ilícitas ou imorais, haja vista que usando recursos que não os divinos para perscrutar a mente de Deus. Tais recursos são oriundas de bruxarias, necromancias, espiritismo, encantamentos, oráculos, predições, leituras da sorte, magias, etc. Especialmente reprováveis quando usam o culto de falsos deuses para conseguir seus fins.

Alguns destes recursos podem ser usados na forma lícita e na ilícita, como os sonhos; exemplo de sonho lícito, de Gedeão: “Eu tive um sonho, e me parecia que via como um pão de cevada cozido debaixo do rescaldo que rolava para baixo, e se deixava cair sobre o campo dos madianitas; e tendo chegado a uma tenda, a sacudiu, e contestou, e lançou de todo por terra” (Jz 7,13; ). Já os sonhos ilícitos foram condenados desta forma nas Sagradas Escrituras: “Se se levantar no meio de vós um profeta, ou qualquer que diga que teve uma visão em sonhos, e predisser algum sinal de prodígio, e suceder assim como ele falou, e te disser: Vamos, e sigamos os deuses estranhos que não conheces e sirvamo-los: não ouvirás as palavras de tal profeta ou sonhador: porque o Senhor vosso Deus vos tenta, para se fazer manifesto, se o amais ou não, de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma. Segui o Senhor vosso Deus, e temei-o; e guardai os seus mandamentos e ouvi a sua voz: a Ele servireis, e a Ele vos unireis. Aquele profeta, porém, ou aquele inventor de sonhos será entregue à morte....” Dt 13, 1-5). O rei Saul usou dos recursos legítimos de sonhos para saber a vontade de Deus, por meio também de profetas e sacerdotes, mas não obteve resultados por falta de fé. Procurou, então, consultar uma necromante (I Sam 28,6-25; 31), invocando a alma do profeta Samuel, pelo que foi repreendido e castigado. 

Nesse episódio encontra-se a condenação explícita de Deus ao espiritismo como invocação dos mortos. Dentre os pagãos era comum a procura de adivinhação por diversos métodos. Mas, não foram capazes, por exemplo, de explicar o sonho do Faraó (Gen 41, 8) ou o do rei Nabucodonosor (Dan 2, 10), nem as misteriosas palavras surgidas na parede da sala do festim de Baltazar (Dan 5, 8). Usavam também outros recursos, como o vôo dos pássaros, as vísceras dos animais sacrificados, plantas e demais animais vivos (4 Rs 17,17; 21, 6; Ez 21, 21; Os 4,12). Todas as formas de adivinhação eram proibidas entre os hebreus (Lev 20.6). Outros métodos pagãos: quiromancia, cristalomancia, astrologia, agouros,etc. A igreja os considera como pecado contra o primeiro mandamento da Lei de Deus. 

 PROFECIA – Não é o mesmo que adivinhar, mas faz parte do mesmo tipo de comportamento: o desejo de conhecer os segredos do futuro. 
Assim como antigamente, o mundo atual está repleto de falsos profetas, alguns dos quais analisamos abaixo, especialmente aqueles que imaginam o surgimento de uma nova ordem mundial ou nova sociedade política. Não tratamos aqui das profecias de natureza religiosa, também muito profusas, mas apenas as de natureza política e científica. Sobre o poder que o demônio teria de profetizar assim falou Santo Antão: “Igualmente, a respeito das águas do rio, falam a torto e a direito. Tendo constatado chuvas abundantes nas regiões da Etiópia, e vendo que essa é a causa da cheia do rio, antes que a água chegue ao Egito, correm na frente e o dizem. Os homens também o diriam, se pudessem correr como eles. 

Do mesmo modo como o vigia de Davi, postado em lugar elevado, via mais facilmente que um homem vinha do que quem estava embaixo, e como o corredor anuncia a outros não o que não existe, mas as coisas que estão em via de se realizar e já realizando-se, assim vão anunciar e indicar aos outros coisas futuras, mas é com a única finalidade de enganá-los. Nesse meio tempo, se a providência dispuser outra coisa a respeito das águas e dos viajantes, o que ela pode fazer, os demônios mentiram, e aqueles que neles creram foram enganados. “Foi assim que se deram as adivinhações dos helenos e que foram enganados outrora pelos demônios, depois a ilusão se acabou. Porque o Senhor veio e reduziu à impotência os demônios com seus artifícios. Por si mesmos nada sabem, mas, semelhante a ladrões, exibem o que vêem nos outros. Deve-se dizer que mais conjeturam que prevêem. Aliás, quando dizem a verdade, que ninguém os admira muito. Também os médicos, da experiência que têm com os doentes, e tendo em vista a mesma doença em vários, muitas vezes predizem mediante conjetura, em virtude do hábito. Ninguém dirá por isso que predizem mediante inspiração divina, mas mediante a experiência e o hábito. Portanto, quando os demônios falam por conjetura, que ninguém os admire, nem dê atenção ao que dizem.

Qual é a utilidade em ficar sabendo por eles as coisas futuras alguns dias antes que se realizem? Qual a necessidade de sabê-las, ainda que possam verdadeiramente conhecê-las? Esse conhecimento não é nenhum instrumento de virtude nem de bons costumes. Ninguém de nós será julgado por não saber essas coisas, e nenhum se torna feliz por tê-las conhecido e por sabê-las. Cada um será julgado a respeito destes pontos: conservou a fé, guardou fielmente os mandamentos? Tornou-se comum no decorrer do século passado e no início deste se ouvir o pronunciamento de algum "especialista" sobre temas da atualidade. Em geral a mídia não dá a tais elementos o título de "profeta", talvez por achá-lo anacrônico. O termo mais comum é o de "guru", filósofo, pensador, analista, cientista, ou, simplesmente, “especialista”. Um exemplo temos no italiano "Toni" (ou Antonio) Negri, tido como filósofo e "o mais debatido pensador da esquerda européia". Trata-se de um criminoso, preso desde 1997, acusado de ter sido o mentor do grupo terrorista "Brigadas Vermelhas" que assassinou o primeiro-ministro Aldo Moro em 1978. Pois bem, tal "pensador" publicou um livro em 2000, com o título de "Império", no qual o autor diz estabelecer nova terminologia para aquela palavra, pela qual não mais são denominadas as nações que estabelecem o império, mas uma "nova ordem" (diríamos um caos) em que são eliminados os conceitos de nação, fronteira, raça, etnia, povo, etc. Talvez daí tenha surgido o movimento “Nova Ordem Mundial” em certa elite de magnatas das finanças. Tal livro foi descrito pelo jornal "New York Times" como a "primeira grande síntese teórica do novo milênio", pois trata da estrutura política que sustenta o chamado mundo globalizado numa organização inteiramente indiferente a nações, fronteiras, povos, raças, etc. 

Nesta perspectiva, os Estados-nações não têm mais controle sobre movimentos de capital ou lutas sociais. Nesta nova configuração o "império" não tem mais limites e nem se circunscreve a um povo ou país. No texto o autor insinua que o mundo capitalista ruiria após o comunista, os EUA atacariam os países árabes, que lhe suscitaria maior ódio em todo o mundo e terminaria por causar-lhe uma bancarrota financeira e política. Segundo o autor, os americanos não tinha recursos suficientes para manter a guerra contra o Iraque, e isto era feito pelas organizações deste imaginado "império" extra-nacionalista e globalizado... Como se sabe, a URSS sucumbiu e caiu o muro de Berlim, símbolo da divisão dos dois mundos, capitalista e comunista. Faltou cair o mundo capitalista, representado pelos EUA, e para tanto teria de haver uma catastrófica recessão. Vários “profetas” passaram então a prever o que viria depois, que tipos de sociedades os homens construiriam após o fim da "guerra fria” e do suposto fim do comunismo. 

O americano James Dale Davidson e o inglês William Reesmogg, ambos financistas, publicam o livro “The great reckoning” (O grande ajuste de contas), onde afirmam que o mundo estaria a caminho de uma grande recessão, uma catástrofe social como poucas já registradas na história. Grandes companhias, bancos e instituições poderosas, vão falir uma após outra. O desemprego será maior do que em qualquer outra época, e os mais privilegiados terão de abandonar as grandes metrópoles em busca de segurança. O uso de certas drogas será legalizado para conter a explosão social, e o islamismo substituirá o marxismo como desafio ideológico. “O Grande ajuste de contas” prevê, ao final de tudo, um mundo melhor do que o atual para os sobreviventes da catástrofe. Outro “profeta” é o francês Pierre Lellouche, conselheiro do ex-prefeito de Paris, Jacques Chirac, especialista em questões estratégicas. Segundo ele, com o fim da “guerra fria”, não prevalecerá uma nova ordem Norte-Sul, mas uma desordem mundial que poderá durar até três décadas. Revoluções nas antigas repúblicas soviéticas, ameaça nuclear de países islâmicos contra a Europa, etc. Enquanto isso, prolifera nos Estados Unidos a construção de residências subterrâneas, dando a impressão a muitos de que o futuro será a volta para as cavernas e ao nomadismo. 

Tudo isto indica que estaríamos caminhando para o caos. O jornal “L’Express”, de 13.11.91, publicou uma entrevista de Jacques Séguela, presidente de instituto de pesquisa dos costumes, na qual o mesmo previa o fim da chamada “sociedade de consumo”, fruto da ecologia e da preocupação de preservação do meio ambiente. O grego Cornelius Castoriadis, filósofo radicado na França desde 1945, também faz suas previsões. Seu pensamento está contido nos livros “Socialismo ou Barbárie”, “Os Destinos do Totalitarismo”, “A Instituição Imaginária da Sociedade” e “As Encruzilhadas do Labirinto”, mas pode-se resumir no seguinte: com o agravamento do caos na URSS e no Ocidente, surgirá então um mundo autogovernado de coletividades autônomas. O filósofo disse que há uma minoria que já trabalha neste sentido, e que a palavra-chave é despertar o público da apatia e esperar que cresça a saturação pela sociedade de consumo. Está proclamado que o futuro da humanidade é a autogestão, e isto caminha para as conclusões filosóficas do indigenismo, do autoctonismo, conforme apregoam os estruturalistas. Este mito autogestionário era um princípio defendido pelo Partido Socialista francês, mas foi denunciado pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira em famoso manifesto publicado nos maiores jornais do mundo, alcançando 33 milhões de exemplares. Após tais denúncias o PS francês, assim como outros da Europa, começou a perder popularidade e não se fala mais em autogestão. 

Depois da segunda guerra contra o Iraque, a mídia deu ênfase ao escritor francês Emmanuel Todd. Ocorre que referido historiador e demógrafo havia publicado um livro na década de 70, "La Chute Finale" (A Queda Final), onde o mesmo previra a previsível ruína do império soviético. Decorridos mais de 30 anos, o autor publicou outra obra: "Após o Império: Ensaio sobre a Decomposição do Sistema Americano", que conquistou a lista dos mais vendidos em vários países europeus, editado em 2002, mas já traduzido para mais de 11 idiomas. Seguindo a corrente de "profetas" modernos, ele também prevê a ruína do império econômico dos Estados Unidos. Emmanuel Todd especializou-se em previsões. Nos anos 90 havia publicado outro livro profético, intitulado "A Ilusão Econômica", onde critica a globalização da economia e a União Européia, prevendo o fracasso desta última. Isto vem lhe aumentando o prestígio como analista seguro de eventos futuros no mundo. . 

Assim como existem os que prevêem o futuro da sociedade humana em sua forma política e social, há também aqueles que falam sobre mudanças na própria estrutura genética, como o cientista britânico Martin Rees. Dedicado à astronomia, pertencente à Royal Society e do King's College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicou um livro com o título "Our Final Hour" (Nossa Hora Final). O autor critica no livro os perigos que a alta tecnologia pode causar ao mundo contemporâneo. Se sobrevivermos a nós mesmos e às nossas máquinas cada vez menores e mais perigosas, temos um encontro marcado com um sombrio futuro "pós-humano". No subtítulo de capa o autor deixa entrever qual o objetivo de seu livro: "Alerta de um cientista: como terror, erro e desastre ambiental ameaçam o futuro da humanidade neste século - na Terra e além". O maior perigo que o autor chama a atenção é para a guerra biotecnológica e o que ele chama de "nanotecnologia" (o que seria o mesmo que pequenas tecnologias ou microtecnologias). Desta forma seria possível se construir armas de pequeno porte tão letais quanto às nucleares instaladas nas ogivas de foguetes. As novas tecnologias poderão concentrar poderes excepcionais não somente em pequenas nações mas até mesmo em um só indivíduo, conduzindo à derrocada da civilização. 

Caso o homem consiga suplantar todas estas ameaças e sobreviva, estarão abertas as portas para a transmutação da espécie. A seleção natural daria lugar à manipulação genética artificial. Implantes biônicos conectados ao cérebro humano poderiam, em tese, ampliar as habilidades existentes e até mesmo favorecer novas faculdades. Seriam novas características genéticas que o homem adquiria na era "pós-humanidade", talvez adquiridas até mesmo em colônias espalhadas pelo espaço cósmico, caso a terra fique inabitável. O autor resume o início deste processo com a possibilidade de 50%, admitida por ele, de haver ainda neste século uma hecatombe de destruição em massa.
Curioso é que tais profetas só preveem o Apocalipse ou uma mudança da sociedade segundo critérios agnósticos ou revolucionários. Nada falam sobre uma reforma profunda da sociedade como foi previsto por São Luís Grignion de Montfort, que será o que ele denominou de Reino de Maria. Essa é a verdadeira profecia para nossos dias.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

VIVER É ESTAR JUNTOS, OLHAR-SE E QUERER-SE BEM

“Viver é estar juntos, olhar-se e querer-se bem”. Essa frase que tornou-se como que o lema de mãe de Dr. Plínio, a Sra. Lucília Corrêa de Oliveira, tem sua parte mais importante no olhar e no querer, que provêm dos olhos e do coração. Não é necessário apenas estarmos juntos, vivermos em comum, mas procurar viver admirando o bem existente no próximo com os nossos olhos e amando-o com nosso coração. É preciso notar que a frase se inicia com a intenção de convivência social, que o fazemos ao praticar o dom da sociabilidade: o estar juntos é uma intenção de conviver bem com o semelhante, juntos não apenas de corpo, mas de alma e espírito, de intenções, quando tudo deve convergir para os ideais comuns. Quando estamos juntos com tais objetivos, naturalmente passamos a observar as maravilhas deste convívio, admiramos de uma forma espontânea tudo o que provém de Deus nessa convivência e é absorvido por todos. E esta maneia de admirar nos faz supor o uso dos olhos, não tanto como simples órgão que perscruta as figuras, as pessoas, os objetos, mas como fruto daquilo que se reflete em nosso interior e nos faz analisar, pensar, observar, e, finalmente, julgar tudo de uma forma admirativa. É quando a gente ver com os olhos da alma e não somente com os do corpo. O querer bem é apenas conseqüência de tudo. É o resultado final do olhar admirativo. E assim cumprimos o objetivo principal de nossa vida, que é a benquerença, querer bem ao próximo pelo amor de Deus.

domingo, 5 de setembro de 2021

ABIGAIL – ESPÍRITO DE SERVIDÃO OU ESCRAVIDÃO VOLUNTÁRIA

Esposa de Nabal, criador que morava no Monte Carmelo no tempo de Davi e quis desafiá-lo. Abigail intercedeu pelo seu esposo fazendo uma inspirada declaração de servidão a Davi e lhe oferecendo muitos presentes. (I Sam 25, 14-36). Depois de morto Nabal, tornou-se esposa de Davi, já então rei de Israel, dando-lhe um filho por nome Queleab (2 Sam 3,3) ou Daniel (I Par 3, 1). Havia também uma irmã de Davi chamada Abigail (2 Sam 17, 25). Este espírito de servidão ou escravidão voluntária, comum entre bons israelitas, ocasionou episódios muito admiráveis, como por exemplo o de Abigail (Samuel I 25, 23-35). Davi mandara pedir ajuda a Nabal, esposo de Abigail, riquíssimo fazendeiro que tosquiava ovelhas ao pé do Monte Carmelo. Em resposta o avarento judeu diz: "Quem é Davi? E quem é o filho de Isaí?Hoje são numerosos os servos que fogem aos seus senhores. Pegarei eu portanto no meu pão, na minha água e na carne dos animais que matei para os que tosquiam minhas ovelhas, e dá-lo-ei a homens que não sei donde são?" Esta resposta era um insulto a Davi, pois o mesmo protegera aquele homem na guerra, Nabal devia portanto a Davi pelo menos o reconhecimento pelo que bem que lhe fizera. Irado, Davi se aprestava para ir com seus homens matar Nabal quando se encontra com Abigail, mulher de Nabal: “Mas Abigail, tendo visto Davi, apressou-se, desceu do jumento, prostrou-se diante de Davi, sobre o seu rosto, fez-lhe uma profunda reverência, lançou-se a seus pés e disse: Sobre mim caia, meu senhor, esta iniqüidade; peço-te que permitas à TUA ESCRAVA falar aos teus ouvidos, e ouve as palavras da tua serva.” Davi havia sido ungido por Samuel, mas ainda não reinava, pois Saul ainda era vivo. Abigail, que morava no Monte Carmelo, sabia no entanto que ele havia sido ungido. Continuando: “Não faças caso, MEU SENHOR E MEU REI, da injustiça de Nabal, porque, como o denota o seu próprio nome, é um insensato, e a loucura está com ele; mas eu, TUA ESCRAVA, não vi os criados que tu, MEU SENHOR, enviaste”. Continuando seu discurso, Abigal chama Davi de “meu senhor e meu rei” (embora ele de fato ainda não o fosse) e se declara sua escrava várias vezes, oferecendo-lhe dádivas para seus homens que trazia em seus jumentos: 200 pães, dois odres de vinho, 5 carneiros cozidos, 5 medidas de farinha, 100 cachos de uvas passas, 200 pastas de figo seco, etc. Logo depois, acrescenta ela profeticamente: “Perdoa à tua escrava a iniqüidade, porque certissimamente o Senhor estabelecerá em ti, meu senhor, uma casa estável, porque tu, meu senhor, combates pelo Senhor; não se encontre, pois, culpa em ti durante todos os dias da tua vida”. E mais adiante: “Quando, pois, o Senhor te tiver feito, MEU SENHOR, todos os bens que ele predisse de ti, e te tiver constituído general sobre Israel, não terás no coração este pesar, nem este remorso, MEU SENHOR, de ter derramado sangue inocente, ou de te teres vingado por ti mesmo”:.Profetizando que se tornaria, após a viuvez, esposa de Davi, declara: “e, quando o Senhor tiver feito bem ao meu senhor, LEMBRAR-TE-ÁS DA TUA ESCRAVA”. Em resposta, Davi diz a Abigail: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te enviou hoje ao meu encontro, bendita a tua palavra, e bendita és tu, que me impediste hoje de derramar sangue, e vingar-me pela minha mão. Doutro modo juro pelo Senhor, Deus de Israel, que me impediu que te não fizesse mal: Se tu não viesses logo ao meu encontro, não teria ficado nada com vida desde hoje até amanhã em casa de Nabal, nem mesmo um dos que urinam à parede. Davi, pois, aceitou da sua mão tudo o que lhe tinha trazido e disse-lhe: Vai em paz para tua casa; eis que ouvi a tua voz e honrei a tua presença”.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O PODER DE REGÊNCIA DADO A ADÃO

Adão – O primeiro homem criado por Deus e o genitor de toda a raça humana. Deus poderia tê-lo criado por um simples ato de sua vontade, mas preferiu usar daquilo que havia criado antes, isto é, o “barro da terra”, e em seguida lhe criou, de Si mesmo,uma alma imortal, colocando-o no Paraíso, o Éden, a fim de que ali desfrutasse da Obra de Sua Criação e viesse feliz. Deu-lhe também poder de regência sobre toda a natureza, como o completo domínio sobre os animais, com a faculdade de lhes impor os nomes, representando nisso a autoridade sobre todos. Tudo o que houve no princípio da humanidade, com Adão e Eva no Paraíso estão narrados no livro do Gênesis, escrito por Moisés. O poder de regência dado a Adão e sua queda. Deus colocou o homem no Paraíso “para que o cultivasse e guardasse” (Gn 2.15), portanto, com duas funções derivadas do poder de reger, que é cultivar e guardar. O cultivo das plantas é algo natural e imanente ao controle humano: multiplicar as plantas e conservá-las ou, mesmo, aperfeiçoá-las; mas, guardar, isto é, proteger, defender, contra quem ou contra o quê? Talvez venha aqui a primeira missão de militância guerreira: guardar contra certo inimigo que poderia aparecer por lá e querer destruir ou danificar o seu sagrado convívio. Quando Adão foi expulso do Paraíso, Deus colocou querubins na porta do mesmo com o objetivo de guardá-lo. Se Adão havia recebido de Deus o mesmo poder de guardar o Paraíso, teria o homem então um poder semelhante não somente a um, mas a vários querubins? Ou será que Deus temia uma aliança entre os homens e os demônios para que, fortalecidos, investissem contra o Paraíso em busca da árvore da vida? Em seguida vem o preceito: não comer, ou nem sequer tocar, da árvore do bem e do mal (Gn 2,16). Havia uma outra árvore, da vida eterna, da qual não era proibido comer, mas esta da ciência do bem e do mal, sim. Uma das consequências mais desastrosas daquele fruto foi avisada por Deus: ele ocasionaria a morte. Tais preceitos parece que foram dados antes de Eva ser criada. Então ela não os teria ouvido diretamente de Deus, mas de Adão. Aqui há uma outra controvérsia: por que a serpente não os tentou para que comessem primeiramente da árvore da vida? Em primeiro lugar não era proibido comer dela; após comê-la se tornariam imortais e, aí sim, poderiam comer da ciência do bem e do mal, tornando a humanidade eterna neste mundo e aqui possibilitando a criação do reino do mal sem fim. No caso, comer da árvore da vida (como não era proibido) não representava uma afronta a Deus, não era um ato de revolta; portanto, a serpente queria primeiramente que nossos primeiros pais desobedecessem aos preceitos divinos para, depois, comer da outra árvore e viver eternamente. Só não esperava que Deus os expulsasse do Paraíso e deixasse lá os querubins guardando a árvore da vida. Isto para o bem do próprio homem: “...agora, pois, (expulsemo-lo do paraíso), para que não suceda que ele estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente” (3.22-23). Interessante notar que a Escritura usa o termo no singular, indicando que somente Adão foi expulso do Paraíso; “Eis que Adão se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal, etc.”, e depois o expulsa... “e expulsou, pois, Adão...” (3, 24). Não fala em Eva, pois como pessoa secundária, não havia necessidade de citar seu nome. O patriarca era Adão, ele era o principal regente do paraíso, Eva era apenas um “adjutório” para conseguir o fim para o qual foi criado. No entanto, expulso Adão, Eva teve que segui-lo, pois a partir daquele momento ela estava debaixo do jugo dele. Não foi necessário que Deus a expulsasse, era o próprio Adão que a carregaria para fora do Paraíso. Eva diz que o preceito era não somente para não comer, mas nem sequer tocar na fruta (ou na árvore)(Gn 3,4). Talvez a norma de não tocar fosse exclusiva para ela, não se sabe. A serpente desperta o orgulho, dizendo “sereis como deuses” (Gn 3,5). Mas, que deuses? Não havia deuses ainda e sim um único Deus, o Criador de tudo. Então a pretensão não era de ser um deus qualquer, mas um que fosse igual ao Deus verdadeiro. No primeiro momento, Eva simplesmente ouve o mau conselho da serpente e come o fruto, sem que, por exemplo, fosse conversar ou pedir conselhos ao marido; em seguida, ela vê que não lhe acontece nada – quer dizer, nada de se transformar numa deusa, e mesmo assim vai oferecer o fruto a Adão com a mesma tentação de orgulho. Por aí se vê que nem toda tentação vem do demônio, às vezes são os próprios homens que levam tentação aos outros – embora ela sempre se origine no demônio. No momento em que pecou Eva não percebeu que estava nua, ou o casal só o perceberia na presença de Deus? Em seguida, vêm os atos de Adão. Mesmo vendo que Eva, após comer do fruto proibido, não tinha sofrido nenhuma transformação em deusa, come-o também, cego pela tentação do orgulho de se transformar num deus. O desejo, o orgulho de se ver igual a Deus era tanto que o cegou. Depois vem os castigos, especialmente os da mulher que passaria a ser submissa ao homem. Mas, a submissão não é um princípio universal de regência, pelo qual um ser inferior deve obediência e sub-regência de um superior? No caso, não há superioridade entre homem e mulher, pois ambos são seres da mesma espécie, mas, mesmo entre as mesmas espécies, como entre anjos, uns mandam e outros obedecem, uns são superiores e outros inferiores. Não deveria haver esta submissão da mulher mesmo que não tivesse havido o pecado? Há dois tipos de submissão: uma espontânea e outra imperada, isto é, por livre e espontânea vontade e por coação. No caso, deveria existir antes do pecado a submissão espontânea, mas, depois, Deus, por castigo, impôs a submissão imperada.