segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O mundo virtual, um meio de formar autômatos


Embora o título acima diga tudo sobre o poder do mundo virtual, realçamos que na vida real ele tende ao fracasso. Geralmente, o indivíduo possuído pela influência do mundo virtual tende a acomodação e a não levar para a vida real tudo o que ele vive naquele outro mundo hipotético. Isso por causa de um fator: é a falta de disponibilidade para a ação. Tivemos vários exemplos nos últimos dias: o último deles foi a convocação de milhares de pessoas para fazer um protesto em Brasília contra um político, feita via facebook, para a qual só compareceram algumas dezenas. Até mesmo entre os líderes destes movimentos das chamadas “redes sociais” têm se mostrado atacados por essa indisponibilidade para atuar na vida real. É que eles vivem tanto este mundo irreal, do virtual e hipotético, que perdem o gosto pela vida real. Muitos deles quando pretendem levar a sério a vida interior e partem para a real cometem atrocidades ou qualquer barbaridade insana, pois não se habituaram aos ditames da vida social e se voltam contra ela. Os principais meios de sustentação desse mundo virtual é a internet, embora a TV e o cinema tenham papel importante na formação de mentalidades. Aqui não falaremos da TV, pois esta vem perdendo gradativamente seu espaço na mídia.

 

Internet,

Em um estudo destinado a ser publicado no periódico “Cyberpsychology”, Behavior and Social Networkimg, pesquisadores da Universidade de Melbourne (Austrália) conduziram testes com 173 estudantes universitários a fim de avaliar o risco de comportamento problemático na internet e em jogos de aposta. Cerca de 5% dos estudantes mostraram sinais de problemas com jogos, e 10% tiveram pontuações suficientemente altas para os colocarem dentro da categoria de risco de “vício” em internet.

O imediatismo da internet, a eficiência do iPhone e o anonimato das salas de bate-papo talvez possam mudar a essência de quem nós somos. São questões como essas que Aboujaoude explora em “Virtually You: the Internet and the Fracturing of the Self” (Virtualmente você: a internet e a fragmentação do indivíduo, em tradução livre), livro lançado recentemente nos EUA. Aboujaoude, o autor,  questiona se o imenso espaço para armazenamento disponível em e-mail e na internet não impede que muitos usuários não consigam esquecer o passado, guardando muitas memórias antigas e desnecessárias que prejudicam a formação de novas experiências. Atualmente, tudo pode ser salvo, desde e-mails sem importância, enviados após um almoço de negócios, até discussões  furiosas on-line entre marido e mulher, salientou ele. No final, tudo vai realmente se transformar em lixo, mesmo que seja um “lixo eletrônico”...

Não há tampouco uma forma fácil de controlar uma dependência em tecnologia. Nichpças Carr, autor de outro com título de  “The Shallouws: What the Internet Is Doing to Our Brains” (O superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros, em tradução livre), disse que as responsabilidades sociais e familiares, o trabalho e outras pressões influenciam o nosso uso da tecnologia. “Quanto mais profunda a inserção de uma tecnologia em nossa rotina diária,  menores as escolhas de quando e como usá-la”, escreveu Carr em uma postagem recente em um blog”. (“Folha de São Paulo”, 16.06.2010, Caderno F, pág.5). Quer dizer, quanto mais o sujeito se submete aos influxos da internet mais ele se torna um autômato.

Quando se é criança, aquele mundo de imaginação infantil, chamado hoje de virtual, facilmente pode se transformar num mundo real, pois o inocente ainda não sabe avaliar a diferença entre uma coisa e outra. No entanto, não se pode dizer o mesmo de uma pessoa adulta, a qual facilmente saberia distinguir entre o real e o imaginário, entre o virtual e o verdadeiro. Ou pelo menos deveria saber distingui-lo, se não fosse o problema da internet e das manias dos jogos virtuais modernos. Está se tornando comum ocorrer fatos em que as pessoas confundem o virtual com o real ao emergir de seu mundo interior criado pelas imagens da TV, do cinema, da internet, etc.

Vejam um fato que ocorreu na Coréia. Um casal sul-coreano "viciado em internet" deixou um bebê de três meses morrer de inanição enquanto criava uma filha virtual na web, disse a polícia local. Segundo a agência de notícias oficial Yonhap, o casal alimentava sua filha prematura apenas uma vez por dia, entre períodos de 12 horas passados entre internet e um café. O oficial da polícia Chung Jin-won disse à Yonhap que o casal "perdeu a vontade de viver uma vida normal" depois que os dois perderam seus empregos. O pai, de 41 anos de idade, e sua mulher, 25 anos, foram presos na cidade de Suweon, ao sul de Seul, no início da semana, cinco meses depois de terem reportado a morte da bebê. Eles estavam foragidos desde a morte da criança. A autópsia mostrou que sua morte foi provocada por um longo período de desnutrição. O casal teria ficado obcecado em criar uma menina virtual chamada Anima, no popular jogo Prius Online, disse a polícia nesta sexta-feira. O jogo permite aos jogadores interagir com Amina e enquanto fazem isso, a ajudam a recuperar sua memória perdida e desenvolver emoções. Já houve outros casos de morte ligados ao vício em jogos de computadores na Coreia do Sul, onde um jovem morreu supostamente depois de passar cinco dias jogando com apenas pequenos intervalos. Não só na Coréia do Sul, mas em vários países vêm ocorrendo fatos semelhantes.

Será que o homem moderno, fanatizado pela internet, perdeu a noção da diferença que há entre o virtual e o mundo real?

 

“Freak”, a geração do futuro?

Originalmente, a palavra inglesa "freaks" era usada para referir-se às pessoas que se distinguiam por ter alguma malformação ou anomalia física e que eram exibidas em circos. Em 1932 foi rodado um filme com o nome, "Freaks", dirigido por Tod Browning. Ao longo dos anos o termo passou a ser usado para se referir a pessoas extravagantes e que tenham obsessão por algo em que se julgam especialistas. Com a era da cibernética, os "freaks" passaram a se organizar em grupos e formam agora uma mentalidade, um modo de ser, um modelo de vida. Chegou-se até a criar o "dia do orgulho friki", (termo adaptado para o espanhol)  data comemorada em 25 de março de 2005 por causa da estréia do filme "Guerra nas galáxias".

Julgamos oportuno a análise feita sobre essa mentalidade e modo de ser, pois ela é apenas o sucedâneo de vários exemplos ou modelos de vida que o antecederam ao longo dos anos. As gerações foram se sucedendo em contínuas decadências morais e intelectuais, até chegar aos extremos dos "frikis" ou “freks”. Trata-se da mentalidade de quem vive seu dia-a-dia num mundo completamente virtual, mas o torna real na hora em que seus instintos pedem uma tomada de posição na vida.

Na Espanha são conhecidos como “frikis”, em inglês como “geeks”, em japonês como “otakus”. Talvez tenhamos ante nossos olhos o protótipo do homem do futuro. São os filhos integrais da pós-modernidade, as primeiras gerações inteiramente formadas nos valores do consumo e do mercado. É o produto humano de uma cultura do simulacro e da falta de transcendência. Mas além da curiosidade anedótica e do menosprezo, formam já uma espécie cujos significados convém indagar.

O termo “friki” (do inglês “freak”, estranho) refere-se normalmente a pessoas de aparências e comportamentos extravagantes, obcecadas com um tema ou “hobby” do qual derivam toda uma forma ou estilo de vida. Trata-se de sujeitos introspectivos, com interesses infantis ou imaturos, mentalmente instalados em mundos imaginários e realidades virtuais, e com dificuldades para uma socialização normal fora dos círculos que comportem sua obsessão.
O fenômeno começou como uma espécie de subcultura adolescente de consumidores de “comics manga”, películas e séries de “science-ficcion”, vídeo-jogos, desenhos animados, jogos de lista, fanzines, livros, manequins, produtos derivados e todo gênero de pacotinhos de universos de ficção. Um fenômeno que deu sua arrancada nos anos oitenta e que hoje constitui um mercado colossal estendido em forma “viral” ou de rede a todo o mundo. À primeira vista pode parecer um fenômeno tão grotesco como inócuo, uma moda ou opção a mais dentro da vasta proliferação de produtos lúdicos através dos quais o mercado vai integrando os mais jovens na religião do consumo.
O problema começa ao se constatar que muitos dos adeptos do culto “friki” não só não são tão jovens, mas que já mostram cabelos brancos. E ao comprovar que o adolescente que se submerge nesse universo autista tem amplas possibilidades de não terminar nunca de sair dele, ou então não deixar nunca de ser um adolescente. De qualquer forma, nos casos mais extremos o resultado final é uma pessoa “diferente”, uma pessoa cujas faculdades de percepção da realidade estarão distorcidas. É no Japão - esse “laboratório da pós-modernidade”, segundo o sociólogo Michel Maffesoli – onde o fenômeno se manifesta em sua forma mais sinistra: esses adolescentes que fecham o ferrolho de sua habitação, e que se refugiam por toda a vida em seu mundo virtual de vídeo-games e de internet. E é no Japão onde se tem proposto uma definição que recolhe todos os aspectos patológicos do “otaku”: “pessoas cuja percepção visual tem mudado”, ou “nova categoria de indivíduos que se adaptaram à sociedade de alto consumo”.

A “cultura friki” é a cultura da imanência absoluta. Toda idéia de transcendência foi eliminada. Mais ainda, é a própria distinção entre imanência e transcendência que desaparece. E em paralelo, o “friki/otaku” experimenta uma especial atração por todo oculto, o misterioso e bizarro: uma pseudo-religião de “bricolage” composta de materiais culturais diversos. Um culto sem fé, ao qual o único que se pede é que proporcione ao adepto satisfações emocionais suficientes como para fazer-lhe sentir que segue vivo. Deus morreu, porém temos Star Trek e tantos outros ídolos da mídia eletrônica. Porém, tal como predizia Baudrillard, este eclipse da transcendência não se refere unicamente a Deus ou à metafísica: é a própria realidade que desapareceu ao diluir-se em simulacros, sinais e códigos que perderam todo vínculo com a realidade significada. É um universo auto-referencial que não faz senão clonar-se a si mesmo, auto-engendrar-se e reproduzir-se por metástases. E os frikis ou otakus são os títeres atrelados em todo este processo. O universo “friki” é tribal. Suas tribos se definem de acordo com as pautas do consumo. A mercancia cumpre a função de proporcionar ao consumidor os elementos que expressam sua personalidade e sua identificação tribal. Na terminologia de Baudrillard, as mercancias produzem “sinais” flutuantes, artificiais e desencarnados. E estes sinais são os que conferem sentido e identidade: a ideologia ou a religião desaparecem, e não fica nada mais que o simulacro. É um universo “pseudo”, no qual só se vive através das vivências imaginárias de seres imaginários.

Pode parecer um fenômeno a primeira vista inofensivo, mas naqueles países onde se encontra em seu estágio mais avançado – particularmente no Japão – apresenta seu lado mais obscuro em forma de patologias (desequilíbrios emocionais, autismo, dificuldades para distinguir realidade/ficção, depressões) ou síndromes similares à drogodependência, que afetam a um número crescente de pessoas. Talvez falte falar de uma nova “espécie mutante”, uma espécie perdida numa hiper-realidade virtual, alheia aos compromissos e às emoções da vida real. Mas, na realidade, trata-se de “cidadãos modelos” do novo mundo do capitalismo global. São as primeiras gerações de filhos da era do hiper-consumo. Não há perigo de que este cidadão se faça demasiadas perguntas. Bastante terá com consumir e trabalhar, trabalhar e consumir para satisfazer sua obsessão. Animações, tiras, vídeo-jogos, aventuras galácticas, blocos de “lego” ou maquetes de “madelmanes”, qualquer estupidez é reciclável e para o caso é o mesmo. A acumulação de “gadgets” e mesmices constitui a carapaça protetora sob a qual o “friki” constrói sua identidade. Não há consumidores tão compulsivos como os meninos, e a essa lógica respondem as estratégias infantilizadoras do capitalismo, com a conseqüente transformação de nossas sociedades em imensas “ludotecas”.

Esta mentalidade é a que predomina entre os que vivem um mundo completamente virtual diante de um computador, e que de repente se sentem incapacitados de entender o mundo real que o cerca, pois este fere completamente seus padrões de comportamento. Foi este mundo virtual, assemelhado aos “freaks” ou “frikis” que foi sensibilizado para “agir” formando o bloco chamado de “indignados”, fazendo-os sair ás ruas para promover movimentos políticos e arruaças. Este movimento, “os indignados!”, causou espécie pela forma singular com que foi arregimentado, Isto é, pelas sociais da internet, mas não deixou de refletir que a mentalidade é a mesma dos “freaks”.

 

O cinema, um dos maiores formadores de opinião pública

Hollywood, uma indústria que forja tipos humanos e matrizes de opiniões que dissemina na sociedade.

Foi através dos filmes de “cowboy” das décadas de 30 em diante que se disseminou pelo mundo o vício de fumar: em geral os galãs apareciam na tela “pitando” orgulhosamente um cigarro, e isso despertava um certo “machismo” entre os adolescentes.

Depois dos filmes de “cowboys” vieram os românticos mostrando as mulheres fumando através de piteiras, pois para que as mulheres aderissem o vício não parecia ser necessário certo feminismo, mas esnobismo social...

Os “escândalos” propositais, com atrizes encenando cenas sensuais, de nu explícito ou de paixões desenfreadas, disseminam pelo mundo o relativismo moral e propagam o “amor livre”: isso se iniciou na década de 60 e se tornou comum nos anos seguintes. Nunca houve uma grande produção cinematográfica sem uma cena amorosa e de beijo escandaloso, isso era proposital para relativizar  a moral do casamento e pregar o amor livre;

A partir da década de 70 mais um elemento se juntou na cinematografia para corromper a sociedade: os filmes de guerra e de violência policial se tornaram protuberantes. Com isso a violência ficou ainda mais banalizada ...

Vieram depois os filmes de “ficção”, criando na mente do público simpatias por monstros, como o famoso ET; hoje, quase não há um filmeco de desenho animado na TV em que não figure várias figuras monstruosas mostradas sob aspectos de simpatia; uma técnica: enquanto os desenhos infantis destinados a meninos sempre mostram monstros e violências, os destinados a meninas mostram, pelo contrário, princesas muito bonitas e bem arrumadas, com figuras bem atraentes e simpáticas, mas com conteúdo inteiramente sensual. Isto é: para os meninos, o feio e a violência: para as meninas, o belo e o sensual.

Por que o cinema tem tanta influência na formação das mentalidades? É que, dentro dos enredos simpáticos, fica muito fácil a divulgação de costumes, e é através dos costumes que se aprende e se mudam as idéias. É comum se dizer: tal filme foi baseado em “fatos reais”. Essa expressão, embora às vezes dita com exagero e até de forma mentirosa, tem grande simpatia por revelar supostamente um costume social vivido pelo próprio expectador. Ninguém atina para o fato de que o importante não é que a história retrate um “fato real”, mas que sirva de bom ou mau exemplo. Uma cena de um suicídio, embora possa retratar a realidade dos suicídios cometidos na sociedade, simplesmente pode servir de incentivo a essa horrível prática entre pessoas desesperadas. Da mesma forma, as cenas de adultério, de amor livre e de violência podem representar certa realidade social (sempre exagerada no cinema), mas nunca podem ser aceitas como bons exemplos.

Antigamente, as peças teatrais serviam para disseminar certos maus costumes na sociedade: hoje é o cinema, o qual supera os jornais, o rádio e a TV na formação da opinião pública, sob alguns aspectos: o jornal apenas informa e deturpa os fatos, a TV e o rádio têm uma miscelânea de programas, mas um tanto difusos, enquanto que o cinema, por especializar-se unicamente em costumes e modo de viver, o que mais forma as idéias e comportamentos, deixa na opinião uma marca muito mais profunda do que os outros meios de mídia.

O cinema e a internet: a última palavra em evolução tecnológica é a divulgação de cinemas pela internet. Já que a TV é muito mista, tem de tudo, a internet (que também tem de tudo, mas é elitizada) poderia ser uma opção privilegiada, pois deixa os cinéfilos à vontade para assistir seus filmes preferidos em casa sem se submeter á escolha direcionada dos canais de TV. E, hoje como ontem, o cinema continua sendo o veículo que mais tem formado a opinião pública em nosso mundo moderno.

 

 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

QUO VADIS, SANTIDADE?

Situações previsíveis após a renúncia do Papa




 Todas as situações analisadas abaixo levam em consideração apenas o elemento humano, as condições naturais em que se encontram a Igreja e o Papado. Pois, se considerarmos os aspectos sobrenaturais, sendo a Igreja mais sobrenatural e divina do que natural e terrena, todas essas hipóteses não teriam sentido.  Pois para os destinos da Igreja, a única hipótese que prevalece é aquela que Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu para Ela: a de que as portas do inferno não prevalecerão.  O resto, são apenas conjecturas humanas. Inúteis? Não, necessárias; pois precisamos nos precaver do futuro incerto e saber nos dirigir à Providência Divina, inclusive sobre os destinos de Sua própria Igreja, composta por todos nós, católicos, o Seu Corpo Místico aqui na terra.

Chamo a atenção para uma curiosidade: a data em que o Papa escolheu para anunciar a sua renúncia, 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes, foi a mesma em que se anunciou o Tratado de Latrão, em 1929. Não há coincidência de alguma semelhança nos fatos, mas apenas das datas. Tão logo Bento XVI fez seu anúncio, ocorreram alguns fenômenos naturais, como o caso (embora não comprovado) do raio que caiu na cúpula de Basílica de São Pedro, e, alguns dias depois, a queda do meteorito na Rússia. Fenômenos naturais podem nada significar, mas para quem tem Fé podem ser sinais de que a Providência está para agir com os meios de que dispõe para correção dos rumos da humanidade. Enfim, os acontecimentos previstos por Nossa Senhora em Fátima podem estar por serem desencadeados, e tal pode ocorrer exatamente em decorrência da situação da Igreja, que iniciou seu calvário exatamente em 1859 quando, concomitante com o que Nossa Senhora disse em Lourdes, "Eu sou a Imaculada Conceição", o Papa estava proclamando este dogma. 

Se deitarmos um olhar, mesmo rápido, sobre a efervescência criada, especialmente nos meios midiáticos, logo após o anúncio da renúncia do Papa, podemos prever que tipo de tormenta se desencadeará sobre a Igreja quando o fato for consumado. Vários desmentidos estão sendo feitos diariamente sobre notícias e reportagens fantasiosas que criam sinistras motivações para a decisão de Bento XVI. Mesmo ocupando-se em desmenti-las todas, fica difícil afastar da opinião pública a ideia de motivações mesquinhas ou de caráter até criminosos como querem transparecer.

Examinaremos abaixo, algumas situações que podem ser criadas após o próximo Conclave:

1ª. Hipótese – Um continuador da obra de Bento XVI.  Tem sido comum na história dos Papas que haja um ou dois pretensos continuadores da obra de um Pontífice, mas não passa desta exígua quantidade. Assim, é improvável que seja eleito um continuador de Bento XVI, haja vista que ele mesmo se considera o elo de uma sequência de Papas que vêm seguindo a obra iniciada por João XXIII, e isso nos dá uma série de pelo menos quatro Papas. No entanto, supondo que isso ocorra qual a consequência para a Igreja e o Papado?  De um lado, haveria uma discrepância com o que vêm anunciando: um Papa mais novo e inovador; a não ser assim o eleito, causaria em muitos uma grande insatisfação. No fundo, muitos poderiam entender que a continuidade seria apenas a aplicação da mesma política de conciliação e cheia de vacilações na manutenção da disciplina. De outro lado, haveria a continuidade da mesma característica conservadora em alguns aspectos, pelo menos nos dogmáticos e morais, causando uma reação mais violenta dos progressistas e dos inimigos extra-muros da Igreja. Estando assim presente não a ideia de mudança, mas de manutenção do “status quo” atual, não se presume que elejam um continuador de Bento XVI em sua política atual.

2ª. Hipótese – Um novo São Pio X -  Tratar-se-ia de um Papa cuja meta principal seria colocar em ordem a situação dogmática e disciplinar da Igreja. Não há nenhuma tendência entre os cardeais que os movam nessa direção: a não ser que haja uma intervenção sobrenatural do divino Espírito Santo, como ocorreu muitas vezes, tal hipótese é improvável. Pelo menos nos planos meramente naturais. Um Papa que agisse nos moldes de São Pio X mostraria mais abertamente as chagas da Igreja, especialmente as heresias e o cisma velado atual. Se houver um Papa assim, seria um mártir em potencial e sua morte se daria em pouco espaço de tempo, cumprindo-se então a visão de Fátima contida no terceiro segredo. Teríamos uma Santa Sé vacante muito rapidamente e um novo conclave.  Talvez não desse tempo nem os cardeais eleitores chegar em suas respectivas dioceses e já estariam de malas prontas para voltar ao Vaticano.

3ª. Hipótese – Um progressista – Em virtude do declínio que vem caindo sobre os progressistas, e sua consequente impopularidade entre os católicos, essa hipótese é mais improvável ainda. De início, poderia haver muitos aplausos de católicos tíbios e de pouca fé, além, é claro, dos modernistas, progressistas e de todos os inimigos de fora da Igreja. Com relação aos católicos mais fiéis à igreja (os chamados bons católicos), poderia ser criada uma situação de orfandade e de constrangimento, mas silenciosa, como silenciosos são todos os bons católicos. Embora no anonimato que escolheu, o Papa aposentado seria forçado a fazer comentários sobre algumas medidas progressistas, ele que chegou até a afastar muitos deles e a censurar tantos outros da mesma corrente. E sua voz se somaria a de todos os outros conservadores que lutaram e lutam contra a presença dos progressistas dentro da Igreja. Enfim, um progressista poria às claras a luta interna entre ambas as correntes, o que não é desejado pela maioria dos cardeais eleitores. Dada a pouca popularidade do progressismo e a celeuma que desencadearia, ou esse Papa mudaria tal política ou teria que renunciar em pouco tempo. E a seguir, novo conclave...

4ª. Hipótese – Um liberal e conciliador -  Trata-se de uma hipótese absurda: a de que se eleja um Papa sem nenhuma das características anteriores. Nesse caso, teria que ser um homem conciliador e ao mesmo tempo liberal. Quer dizer, conciliador porque procuraria pacificar todos os contrários que lutam dentro da Igreja, e liberal porque não tomaria nenhuma medida drástica e disciplinar para coibir abusos. Seria uma linha diferente, embora não oposta, a que vem tomando Bento XVI. No entanto, cairia no descaso e na desmoralização, embora se pudesse dizer que estaria ali como homem de transição. Nesse caso, sua renúncia seria também rápida, talvez com Bento XVI ainda vivo.

5ª. Hipótese – Regência do colégio de cardeais – Para muitos pode parecer absurda tal hipótese, mas não impossível. Como poderia ocorrer a hipótese de haver regência do colégio cardinalício no lugar de um Papa?  É claro que não há essa hipótese nas leis da Igreja, a não ser no período do Conclave. No entanto, os progressistas há muitos anos que lutam para prevalecer tal situação, pois negam que a Igreja tenha caráter monárquico, mas democrático. Basta que não seja eleito um novo Pontífice, que não haja consenso sobre o nome a ser escolhido, ou mesmo que alguns dos escolhidos recusem o cargo, para que seja criada uma situação de fato, isto é, a vacância da Santa Sé adquira um caráter mais firme pelo tempo que dure. Essa acefalia da Igreja poderia durar um tempo mais longo, e aí então o Colégio cardinalício (que só teria, de início, competências apenas no Conclave) criaria leis ou disposições para que fosse possível dirigir os destinos da Igreja. Pelo menos aquilo que diz respeito aos problemas burocráticos, políticos e sociais poderia ser gerido por um grupo. Não haveria, é claro, medidas de caráter dogmático e moral, pontos decisivos na infalibilidade pontifícia. Nessa hipótese, no entanto, estando os cardeais divididos como estão, não conseguiriam resolver os problemas que surgirem a contento. Deixariam de ser tomadas decisões urgentes e necessárias porque não chegariam a um acordo entre si. Estaria criado o caos dentro da Igreja. Nesse caso, somente a intervenção divina para salvá-La, como de fato ocorrerá se prevalecer tal hipótese.  Como? Não se sabe, a não ser por deduções de algumas profecias do passado que falam sobre uma catástrofe universal que cairia sobre a humanidade, e a Igreja sairia da procela renovada, mas por ação direta do próprio Deus que a fundou.
          Quanto à Santa Sé ficar vacante por longo período, houve vários casos na História dos Conclaves. No primeiro que assim foi chamado, durou de 29 de novembro de 1268 até 01 de setembro de 1271, 2 anos e nove meses. Um outro que durou bastante foi na eleição de São Clemente V, de 5 de abril de 1292 a 5 de julho de 1294, um longo período de 2 anos e 3 meses.  Na eleição de João XXII, ocorrida em 1314, durou 2 anos e 4 meses.
            Na maioria dos conclaves a eleição dura somente alguns dias. Mas houve casos de durar meses, como no da eleição de Nicolau III (1277), 5 meses; Nicolau IV, seu sucessor, 9 meses; Clemente V (1305), 11 meses; Gregório XI (1370), 3 meses; Pio IV (1559), 3 meses; Alexandre VII (1655), 3 meses; Inocêncio XI (1671), 5 meses; e, finalmente, Clemente XIV, Pio VI e Pio VII, no período de 1769 a 1800, só foram eleitos, cada um dele, após mais de 3 meses de conclaves.  A partir do século XIX os conclaves elegiam os Papas em questão de poucos dias. Será que o mesmo ocorrerá a partir de março próximo? Se ocorrer é porque o consenso dos eleitores girará em torno das quatro primeiras hipóteses acima relacionadas; e se ocorrer indecisão e demora é porque vai prevalecer a última. Aguardemos para ver o que vai ocorrer de fato.

Uma coisa é certa: em qualquer uma das hipóteses acima, ou de alguma outra não prevista nesse texto, a Igreja sempre sairá vitoriosa porque Ela é essencialmente divina, embora com sua parte humana. Só nos resta rezar para que Nosso Divino Salvador intervenha em Seu Corpo Místico militante e possamos, o mais breve possível, ver tudo renovado como prometeu Nossa Senhora em Fátima, ao dizer: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”. Outro não é o triunfo do Imaculado Coração de Maria senão o da Esposa de Cristo, a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.


 

Assistam os vídeos históricos exibidos pela TVE sobre a origem do estado do Vaticano:

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DOS CONCLAVES



HISTÓRIA DOS CONCLAVES - Próximos à realização de mais um Conclave para a eleição de um novo Papa, publicamos abaixo um relato dos Conclaves havidos na História feito pelo padre Rômulo Cândido de Souza, C. Ss. R.

SIGNIFICADO DA PALAVRA

Conclave significa Debaixo de chave. Na jurisprudência eclesiástica expressa o local onde se reunem os cardeiais, depois da morte do papa, para se ocuparem unicamente da eleição do seu sucessor. Indica também a assembléia dos cardeais reunidos para a eleição. Esta palavra aparece pela primeira vez num documento do papa Gregório X, no II Concílio de Lion, Julho de 1274. O título do documento era ·Ubi periculum.· (Quando houver algum perigo).

DURAÇÃO DAS ELEIÇÕES

Algumas eleições foram bem rápidas. O papa Alexandre IV,1254-1261, foi eleito dentro de cinco dias. Outras eleições começaram a prolongar-se demasiadamente. Para a eleição do papa Urbano IV, 1261-1264, levaram três meses. Na eleição do papa Clemente IV, 1265-1268, precisaram de quatro meses. Depois da morte deste papa, os cardeais levaram três anos para se decidir. Foi a eleição que mais tempo levou.

CIDADE  DE  VITERBO

Para evitar o problema da demora era necessário encontrar medidas. Os cardeais achavam-se reunidos em Viterbo, onde Clemente IV tinha morrido. Esta cidade era considerada a segunda em importância na Cristandade. Por sua posição estratégica e suas torres numerosas, a cidade colocava os papas ao abrigo das invasões e ingerência dos imperadores alemães, sempre em guerra contra a Igreja.

TRÊS ANOS SEM PAPA

Depois da morte do papa Clemente IV, 29 de Novembro de 1268, os cardeais que compunham o Colégio eleitoral não conseguiam entrar em acordo. Esse tempo prolongado demais era prejudicial aos interesses da Cristandade.

SOLUÇÃO  ENCONTRADA

 
São Boaventura, chefe geral dos Franciscanos, encontrava-se em Viterbo nessa ocasião. O santo aconselhou os habitantes da cidade a trancar os cardeais no palácio episcopal para se apressarem na escolha do papa, longe das pressões e influências de fora. Ainda hoje podem ser vistas em Viterbo as marcas dos ferrolhos nas portas do quartos dos cardeais.

UMA INSPIRAÇÃO

Esse idéia foi inspirada num fato acontecido 50 anos antes . Os habitantes de Perúsia tinham recorrido ao mesmo estratagema para forçar os cardeais a escolher o sucessor de Inocêncio III.

SOLUÇÕES RADICAIS

Entretanto esta solução não produziu efeito em Viterbo. Apesar de trancados a chave (·conclave·) em seus quartos, a eleição não caminhava. O prefeito da cidade, Alberto de Montebono, junto com o chefe militar Raniero Galli, encarregados do conclave, tiveram outra idéia: destelharam todo o palácio, deixando os cardeais à mercê do sol, da chuva e da neve. Além disso, obrigaram os cardeais a um jejum rigoroso. Nas refeições eles só recebiam pão e água.

OS CARDEAIS ACORDAM

Os eleitores, então, diante do argumento do estômago, se apressaram a escolher como papa um santo homem, Filipe Benitti, chefe geral dos Padres Servitas. Mas o santo não quis saber de conversa. Fugiu de casa e se escondeu nas montanhas. Os eleitores tiveram de procurar outro nome. Escolheram alguém fora do conclave, o arquidiácono de Liége, Teobaldo Visconti. Não era cardeal, mas exercia as funções de Legado

Apostólico na Síria. Ele aceitou e tomou o nome de Gregório X, 1271-1276.

NOVAS LEIS PARA O CONCLAVE

O papa Gregório X, para evitar os problemas das eleições anteriores, convocou o Concílio de Lion, onde promulgou novas determinações para a eleição do papa. O documento se intitula Ubi perículum (Quando houver perigo), 7 de julho de 1274 e determina: na morte do papa, os cardeais presentes na cidade onde ele morreu, devem esperar seus colegas somente por 10 dias.

Após esse prazo, devem reunir-se para a eleição no palácio onde habitava o pontífice. Cada cardeal pode levar consigo um ou dois criados, clérigos ou leigos.

Os cardeais ficarão numa sala comum, sem nenhuma separação. O local do conclave permanecerá bem trancado, de modo que ninguém possa entrar ou sair. (Esse rigor foi abrandado posteriormente. Foi abolida a obrigação de um dormitório comum. Podiam passar a noite em quartos separados, por uma cortina).

As chaves do conclave ficam guardadas por duas pessoas. Dentro do conclave, pelo cardeal chefe. Do lado de fora, pelo oficial da guarda. (Considerava-se um cargo importante. Durante cinco séculos a chave ficou na família dos nobres Savelli. Depois para os príncipes Chigi.)

As pessoas de fora não podem comunicar-se com os cardeais, reunidos em conclave, nem de viva voz, nem por escrito, nem publicamente, nem secretamente. Essa regra só pode ser quebrada pelo consenso unânime dos cardeais. Mas o assunto deve estar ligado à eleição. Esta regra vale sob pena de excomunhão ipso facto.

Embaixadores de reis e imperadores devem ser recebidos na porta do conclave.

Deve-se providenciar uma abertura em forma de janela, por onde são introduzidos os alimentos para os cardeais. (Os alimentos eram levados em grande pompa, por seus criados, vestidos a rigor. Faziam um solene procissão desde o palácio do cardeal até o conclave. À porta do conclave os alimentos eram examinados para não serem introduzidos recados secretos por escrito, como hoje se faz nas penitenciárias, nas visitas dos parentes.) Também as cartas recebidas devem ser examinadas. Depois de três dias de conclave, se a eleição não se consumou, os eleitores são castigados por um rigoroso jejum. Nos cinco dias seguintes recebem apenas um prato no almoço e no jantar. Se depois de cinco dias a eleição não aconteceu, eles recebem apenas pão, água e vinho. Este cardápio deve durar até que a eleição seja feita.

(Era rigor demais, principalmente porque muitos cardeais tinham idade avançada. O papa Clemente VI permitiu melhorar o cardápio: um prato de peixe, ovos, queijo, ervas cruas. Mas nada de especial, além disso).

Nenhum cardeal podia receber a porção dada aos mais idosos. Além disso, cada um devia comer separado, em sua cela.

Enquanto durar o conclave, nenhum cardeal pode tocar no cofre da Igreja, nas entradas e doações feitas. O camerlengo deve recebê-las e entregar ao futuro papa.

Durante o conclave nenhum cardeal pode ocupar-se de outro assunto senão a eleição do papa. Exceção se houver uma causa urgente ou perigo para a Igreja.

Durante o conclave os cardeais perdem sua jurisdição. Não podem atender às causas e processos de seus tribunais. Não podem assinar nenhum documento, conceder favores, nem atender nenhuma solicitação.

Todos os cargos são suspensos com a morte do papa. Os pedidos e súplicas que chegam à Dataria Apostólica de qualquer parte do mundo, não podem ser examinadas, nem mesmo abertas. São conservadas intactas e entregues ao futuro papa.

O cardeal chefe (camerlengo) só pode exercer funções e despesas ligadas ao conclave. Se um cardeal não estiver participando do conclave, ou precisar sair por motivo de doença manifesta, a eleição será realizada sem ele.

Se o papa morre fora da cidade onde mora, os cardeais farão o conclave numa cidade do mesmo território onde ele morreu, caso a cidade não esteja interditada por revolta contra a Igreja. Nesse caso os cardeais se reúnem na cidade mais próxima.

Os magistrados e chefes da cidade onde é feita a eleição, devem prestar juramento de observar as regras do conclave. O juramento é feito na presença do clero e do povo. Se não observarem o juramento ficam excomungados ipso facto (automaticamente). Perdem todos os direitos e privilégios concedidos pela Igreja Romana. Sua cidade será interditada e privada de sua Sede episcopal.

Os cardeais, em assunto tão importante como é a eleição papal, devem esquecer todo interesse pessoal, e inspirar-se unicamente no interesse superior da Igreja. Qualquer pacto, convenção ou contrato, mesmo sob juramento, com a intenção de eleger alguém para o Supremo Pontificado, realizados de modo antecipado, são proibidos sob pena de excomunhão, e declarados nulos. Toda eleição realizada com simonia, compra de votos, é declarada nula.

Se alguém for eleito desta forma, mesmo que tenha a unanimidade dos votos, o que parece impossível, deve ser deposto como herege, até do cardinalato. Ficará para sempre impossibilitado de receber qualquer cargo ou benefício eclesiástico.

Sua eleição não poderá de modo algum ser realizada posteriormente, nem pela entronização, nem pela coroação, nem pelo juramento de obediência dos cardeais, nem por prescrição com o correr dos anos. Pelo contrário, todos, clérigos e leigos devem recusar obediência ao intruso. (Esta norma foi confirmada posteriormente por vários papas e pelo 4º Concílio do Latrão, 1512.)

TENTATIVAS CONTRA ESSAS NORMAS

O papa Adriano V, 1276, procurou modificar e abolir as regras de Gregório X, mas não teve tempo. Morreu após 40 dias de pontificado. Também o papa João XXI quis abolir essas leis, e igualmente foi surpreendido pela morte. Apesar das novas leis, começaram novamente os costumes anteriores. Houve longos períodos de vacância na Sé de Pedro: 7 meses, 6 meses, 2 meses, 2 anos. O papa Celestino V, um santo, promulgou três Bulas, restabelecendo o conclave, 1294. O mesmo fez seu sucessor Bonifácio VIII.

DOIS TERÇOS DOS VOTOS

Para a eleição eram necessários dois terços dos votos. Ninguém podia votar em si mesmo. Cada cardeal colocava o seu nome num lado da cédula, e o nome do eleito do outro lado. Os cardeais doentes recebiam em seu quarto a visita de três cardeais e três escrutinadores para indicar seu voto.

LUGAR  DO  CONCLAVE

Durante quatro séculos, depois do Grande Cisma do Ocidente, com a eleição de Martinho V no Concílio de Constança, 1417, todos os conclaves foram realizados em Roma, com exceção de Pio VII. Os dois primeiros, após o Cisma, foram realizados no convento dos Dominicanos, de Minerva. O dormitório comum dos frades foi dividido em repartições com biombos, para as celas dos cardeais. Na porta do dormitório colocaram uma placa: Memorial. Aqui foram feitos dois papas: Eugênio IV e Nicolau V.

Todos os outros conclaves , desde o século XIV ao XVIII, foram feitos no Vaticano. Para esse fim se construíram repartições móveis, desmontáveis, tornando fácil as obras antes e depois do conclave. Cada cela tinha cerca de cinco metros de comprimento, por quatro de largura. No tempo do papa Pio VII o conclave foi realizado no Quirinal, mais espaçoso, oferecendo mais conforto para os cardeais idosos. É preciso lembrar que, além dos 50 a 60 cardeais, havia seus secretários, dois ou três, um ou outro criado, além de médicos. Além destes, os sacristães, confessores, mestres de cerimônia.

GENTE  DE  FORA

A eleição de um papa sempre despertou a atenção e também interesse. Reis e príncipes, principalmente em séculos passados, tinham seus interesses ligados ao papa. Quase sempre procuravam influenciar a eleição. Tinham nomes de sua preferência para o papa, e também nomes que desejavam fossem descartados. Exerciam essa influência por meio dos cardeais de seus países.

Mas era difícil qualquer cardeal formar maioria em favor de seu país, por causa do grande número de participantes no conclave. Por esta razão a influência era quase nula.

Mas os chefes de Estado procuravam fazer conhecer a seus cardeais o nome de seus desafetos. Os cardeais, em geral, tomavam conhecimento dessa vontade dos chefes de Estado, França, Áustria, Espanha. A Itália não se interessava por esse tipo de exclusão. A Alemanha, luterana, menos ainda. Chamavam a isso ·direito de exclusão·. Mas esse direito não tinha força para invalidar uma eleição. Em um século, a Áustria foi o pais que mais procurou exercer seu direito de exclusão. Em todos os conclaves, durante 100 anos, a Áustria sempre apresentou os nomes de seus cardeais antipáticos

padre Rômulo Cândido de Souza, C.Ss.R.




Abaixo , 3 vídeos  em espanhol, feitos a propósito do último Conclave que elegeu Bento XVI. É pena que, ao comentar os conclaves do século XIX, tenham omitido quase todos eles, especialmente o de Pio IX

 



 



 







 

 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Corpo Místico e a "guerra" da mídia

A propósito da propalada renúncia do Papa Bento XVI, fazemos nossas as palavras do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira sobre o Papado, embora tenham sido escritas em época diferente (o Papa então reinante era Pio XII) e a respeito de problemas diversos dos atuais. No entanto, muito do que ele escreveu vale também para os dias de hoje, pois os princípios que envolvem o Papado são os mesmos.

 

Jornal "Legionário", da Arquidiocese de São Paulo, de 16 de abril de 1944


A GUERRA E O CORPO MÍSTICO


 

(...)Não obstante o inexplicável silêncio das agências telegráficas sobre essa obra magnífica da Santa Sé, os católicos sabem que o Sumo Pontífice, pela oração, pela penitência e pela ação faz tudo quanto está ao seu alcance em prol da Igreja e da humanidade. O Vaticano não precisa anunciar em termos superlativos e bombásticos todas as ações do Pontífice Romano, para alimentar sempre viva a confiança das massas no Chefe visível da Igreja. Entre os fiéis e o Sucessor de São Pedro há o íntimo conhecimento que vai do Pai para os filhos, dos filhos para o Pai. Conhecemos muito bem o Papa, conhecemos de sobra a Santa Igreja, e não precisamos que nos digam quem é o Papa, nem o que faz o Papa, para que o saibamos. Quem é o Papa? O Vigário de Jesus Cristo. O que faz? Seu dever. Quem nô-lo atesta? As próprias funções que exerce. E ainda que sobre ele fossem absolutamente mudas as notícias telegráficas de costume tão parcimoniosas, com isto não se alteraria a plácida e imperturbável confiança dos católicos no Pai comum da Cristandade. Por mais que o homem contemporâneo aprecie o charlatanismo, os adjetivos sensacionais, a terminologia hiperbólica, o Vaticano jamais empregará esses processos para obter a confiança e o respeito dos homens. Ele continuará, simplesmente, a fazer o bem com discrição e dignidade, negligenciando a fronda silenciosa e passiva das agências telegráficas, certo de que nada disto é necessário - ao menos no sentido mais estrito da palavra - para manter unidas a ele as almas nas quais habita verdadeiramente o Divino Espírito Santo.

Se o LEGIONÁRIO publica hoje um tão extenso noticiário sobre a ação benfazeja do Sumo Pontífice, fá-lo muito menos a título de informação que de meditação. Sabemos que é muito o bem que o Papa faz. Mas é preciso, no momento atual, que vejamos, que sintamos, apalpemos este bem, para que nossos corações de filhos sintam de modo mais afetuoso e intenso o magnífico quadro que a Cristandade oferece aos olhos tristes e cansados do homem do século XX: pelos quatro cantos da terra se estende a solicitude paternal do Romano Pontífice, e dos quatro cantos da terra estão afluindo para ele as manifestações de dor, de afeto, de solidariedade do mundo cristão, provocadas pela situação dolorosa e crítica em que tão imerecidamente ele se encontra. Esse fluxo é refluxo de amor do Pai aos filhos, dos filhos ao Pai, é um comentário vivo e magnífico da recente Encíclica "Mystici Corporis Christi", na qual o Vigário de Cristo lembrou que a Santa Igreja constitui um corpo animado por uma vida sobrenatural que a todos une, fiéis e Pastores, na mesma comunhão da graça, que é dom do Espírito Santo.

Considerada à luz da Sagrada Teologia, esta cena que a Cristandade oferece presentemente ao nosso mundo tão cheio de trevas e de ódio é realmente maravilhosa. Ninguém, nem o Papa nem os fiéis, pode fazer um só ato meritório, sem a graça do Espírito Santo. É o Espírito Santo, pois, que move o Papa a estender sobre o orbe terrestre inteiro, sua ação paternal. É o Espírito Santo que trabalhando misteriosamente no íntimo de cada uma das pessoas beneficiadas pela ação do Pontífice - católicos, protestantes, cismáticos, judeus, nazistas, comunistas, ateus - desperta em todos um sentimento de gratidão filial que move os bons a um ardor maior, os infiéis a uma simpatia cheia de esperanças para a Igreja de Cristo, e os inimigos a um sentimento de maior brandura para com o Catolicismo. E, reciprocamente, no mundo inteiro, na Austrália como na Irlanda, em Nova York como em Montevidéu, no Amazonas como no arroio Chuy, o Espírito Santo move os Bispos a protestarem contra a situação do Soberano Pontífice, e os fiéis a se associarem calorosamente neste protesto, a seus legítimos Pastores. A efusão de amor sobrenatural é, pois, recíproca no grande e místico corpo da Igreja. Este amor une verdadeiramente na Jerusalém nova que, segundo a profecia bíblica é a Igreja, todos os povos da terra, filialmente solidários com o Pai comum, com aquele que com tanta razão Santa Catarina de Siena chama "o doce Cristo na terra", isto é o Sucessor de São Pedro.

* * *

Ubi Petrus, ibi Ecclesia - onde está São Pedro, aí está a Igreja. De tal maneira a Igreja Católica está vinculada à Cátedra de São Pedro, que onde não há a aprovação do Papa não há Catolicismo. O verdadeiro fiel sabe que o Papa resume e compendia em si toda a Igreja Católica, e isto de modo tão real e indissolúvel que, se por absurdo todos os Bispos da terra, todos os sacerdotes, todos os fiéis abandonassem o Sumo Pontífice, ainda assim os verdadeiros católicos se reuniriam em torno dele. Porque tudo quanto há na Igreja de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural, tudo isto, mas absolutamente tudo sem exceção, nem condição, nem restrição está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de São Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as tradições mais santas, as pessoas mais conspícuas, tudo enfim que mais genuína e altamente possa exprimir o Catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se torna nulo, maldito, estéril, digno do fogo eterno, e da ira de Deus, se separado do Romano Pontífice. Conhecemos a parábola da videira e dos sarmentos. Nessa parábola a videira é Nosso Senhor, os sarmentos são os fiéis. Mas como Nosso Senhor se ligou de modo indissolúvel à Cátedra Romana, pode-se dizer com toda a segurança que a parábola seria verdadeira entendendo-se a videira como a Santa Sé, e os sarmentos como as várias dioceses, paróquias, ordens religiosas, instituições particulares e famílias, povos e pessoas que constituem a Igreja e a Cristandade. Isto tudo só será verdadeiramente fecundo na medida em que estiver em íntima, calorosa, incondicional união com a Cátedra de São Pedro.

"Incondicional", dissemos, e com razão. Em moral, não há incondicionalismos legítimos. Tudo está subordinado à grande e essencial condição de servir a Deus. Mas uma vez que o Santo Padre é infalível, a união a seu infalível magistério pode ser incondicional.

A simples hipótese de um erro no magistério infalível já é uma heresia. Podemos ser incondicionais no apoio do que é infalível. Sim, estamos incondicionalmente com o Sumo Pontífice.

Por isto, é sinal e condição de vigor espiritual uma extrema susceptibilidade, uma vibratilidade delicadíssima e vivaz dos fiéis por tudo quanto diga respeito à segurança, glória e tranqüilidade do Romano Pontificado. Depois do amor a Deus, é este o mais alto dos amores que a Religião nos ensina. Um e outro amor se confundem até. Quando Santa Joana D’Arc foi interrogada por seus perseguidores que a queriam matar, e que para isto procuravam fazê-la cair em algum erro teológico por meio de perguntas capciosas, a um de seus interrogadores ela respondeu: "Quanto a Jesus Cristo e à Igreja, para mim são uma só coisa". Magnífica proclamação do Corpo Místico de Cristo, partida da sábia ignorância da pequena pastora de Domremy. E nós podemos dizer: E para nós, entre o Papa e Jesus Cristo não há diferença". Tudo que diga respeito ao Papa diz respeito direta, íntima, indissoluvelmente, a Jesus Cristo.

* * *

É preciso bem lembrar tudo isto, para tornar claro que as manifestações da opinião católica - e sobretudo as orações - em favor do Santo Padre devem continuar vibrantes e ininterruptas. Não se diga que, sendo todos nós católicos, é evidente que estamos com o Papa e que não é necessário que o manifestemos. Os sentimentos muito profundos criam uma verdadeira necessidade psicológica de expansão. Se amamos nossos pais, temos necessidade de lho dizer a todo instante, e especialmente quando estão em risco ou perigo. Os filhos solícitos da Santa Sé devem dirigir todos ao Sumo Pontífice suas calorosas e veementes manifestações de solidariedade neste momento. E, para isto, os meios são muito simples. Existe no Brasil um elo de ouro que nos liga ao Pontífice Romano. É o Núncio Apostólico, delegado pela paternal solicitude da Santa Sé, junto a nosso país, para tornar bem constante, bem viva, bem intensa a manifestação dessa solicitude do povo brasileiro. Por toda a parte os Exmos. Revmos. Srs. Bispos se estão dirigindo à Santa Sé para lhe atestar a solidariedade filial nesse transe doloroso. Devemos seguir o exemplo de nossos Pastores, e, não podendo telegrafar à Europa, devemos, às centenas, aos milhares, às centenas de milhares telegrafar à Nunciatura Apostólica, exprimindo ao ínclito representante do Santo Padre todos os sentimentos da opinião católica brasileira nessa emergência dolorosa em que se encontra no momento. A nosso ver, o setor de Ação Católica, a associação religiosa que não tiver telegrafado à Nunciatura Apostólica não pode estar contente consigo mesma. Há um dever inadiável que ela tem de cumprir o quanto antes. Quando algum dia estas mensagens chegarem até os pés do Soberano Pontífice, ele verá que São Paulo foi nesses dias uma só alma e um só coração em torno dele. O Pontífice sorrirá certamente de complacência e ternura e nos abençoará. Esse sorriso e essa bênção serão o próprio sorriso, a própria bênção de Jesus.