domingo, 17 de março de 2024

EXEMPLOS QUE CONFIRMAM O PODER DA INTERCESSÃO DE SÃO JOSÉ

 







(Extraídos do livro ―”Tesouro de Exemplos”, do padre Francisco Alves, C.SS.R., - Editora Vozes, 1958)

 

1. A estatuazinha de São José

 

Dois carroceiros estavam carregando suas carroças com os escombros de um casarão que fora demolido. Eram bons e honrados, mas, em matéria de religião, completamente indiferentes e ignorantes. De repente um eles tirou com sua pá do montão de entulho uma estatuazinha de São José.

- Toma – disse ao seu companheiro – um deusinho...

- Não o quebres: isto te traria má sorte.

- Tu crês em contos de avozinhas?

- É melhor que mo dês, pois, embora não sendo muito de igreja, prefiro levar um santinho para minha casa a atirá-lo no carro. Isso me sairia mal depois.

- Tens razão, replicou o outro, lembrando-se talvez do tempo de sua primeira comunhão: é melhor levá-lo...

Passaram-se anos. O carroceiro era já um velho inválido, estendido num leito de madeira carcomida. No quarto, duas cadeiras desconjuntadas, uma mesinha cambaleante e uns pedaços de cobertores. Acabava seus dias na miséria. A seu lado uma netinha de treze anos...

- Vovô, o Sr. quer, eu vou chamar o padre que nos dá catecismo; ele é muito bom.

- Não, filha, ainda não estou tão mal...

É sempre assim. Os pobrezinhos nunca julgam estar muito mal. Mas S. José cuidou dele.

- Mariazinha, traga a estátua de S. José que está ali... ela quer me falar... eu a ouço...

- Pobre vovô, a febre devora-o...

Põe-lhe nas mãos a imagem de São José e põe-se a chorar. Parece-lhe chegado o momento de insistir:

- Vovozinho, o Sr. quer falar com o vigário? Ele é tão bom, o Sr. o conhece...

- Falar? Falar é coisa muito vaga; diga-lhe que quero confessar-me, ouviu?

- Obrigada, meu S. José. Salvais a quem vos respeitou; obrigada, obrigada, dizia a menina, correndo em busca do padre. Reconciliado com Deus, e beijando a estatuazinha, dizia às pessoas presentes:

- Não vos esqueçais de Deus, dos deveres religiosos, da missa aos domingos. Eu não fazia nada disso e estou arrependido. S. José me salvou. Alguns dias depois o velho carroceiro morria santamente abraçado á estatuazinha do seu grande benfeitor S. José. (Págs. 73/74)

 

2. A pomba mensageira de São José

 

Há acontecimentos que parecem novelas: que os nossos leitores tomem-nos a seu gosto. A família do Sr. B... sua esposa e uma filha, Josefina, de 20 anos, havia gozado em N. uma bela fortuna; mas, a enfermidade do pai e alguns maus negócios a havia obrigado a viver só do trabalho da filha. A moça era inteligente, enérgica, alegre e, o que é mais, piedosa. Um dia, porém, voltou para casa com uma notícia triste: não quiseram pagar-lhe as costuras, e comunicaram-lhe que, por algumas semanas, não haveria trabalho. Que fazer? Que comer? Mas ela não desanima; confia, não nos homens, mas no paternal auxílio de seu poderoso patrono S. José, cuja festa será celebrada no dia seguinte. Senta-se, escreve num papelzinho a sua situação penosa e abrindo uma gaiola onde tem uma pombinha mansa, ata-lhe debaixo da asa a sua missiva e, beijando-a, solta-a dizendo:

- Vai querida, aonde te guia S. José a fim de que encontres pão para nós e para ti. Passada meia hora, se muito, eis que se apresenta à entrada da casa um moço que pede para falar com Josefina; acompanhava-o um criado com pesado embrulho. Diante da família admirada conta que, sendo devoto de S. José, lhe prometera atender o primeiro pedido de auxílio que se apresentasse. Ora, apenas fizera a sua promessa, entrou pela sua janela uma pombinha em cuja asa viu um papelzinho e a petição a S. José.

- Estou, disse, montando uma oficina de costura e já que Josefina procura trabalho, aqui lhe trago algum e, por ser a primeira vez, pago-lhe adiantado. No volume achava-se discretamente envolvida uma nota de Cr$ 100,00. Os três infelizes não puderam deixar de exclamar cheios de admiração:

- Como S. José é bom! Obrigado, Santo bendito! Era a abundância, após a miséria mais atroz. Mas não parou aí a liberalidade de S. José. Como Josefina teve de ir com freqüência à oficina, logo chamaram a atenção seus finos modos, sua habilidade no trabalho e a fina educação que recebera. Entrou em relações com a família de seu chefe, que logo encontrou boa colocação para o pai de Josefina, melhorando assim a situação do lar. Não sabemos se Josefina se dirigiu a S. José, como fazem muitas moças, para arranjar um bom esposo; o certo é que o encontrou na pessoa de seu chefe e protetor. Na sala de sua casa vê-se em lugar de honra uma estátua de S. José e debaixo dela uma pombinha de ouro com o letreiro: ―A mensagem de São José. (Págs. 74/75).

 

3. São José chama o padre para uma doente

 

Certo dia, apresentou-se na casa paroquial um ancião desconhecido, pedindo ao padre que fosse socorrer uma agonizante. Ele mesmo o acompanharia até á casa. Como a rua era de má fama e a noite se aproximava, o padre desconfiou de alguma cilada, mas o ancião insistiu:

- É preciso que o senhor vá logo, porque se trata de administrar os sacramentos a uma velha que está nas últimas. Partiu o padre levando o Santíssimo e os Santos Óleos. A noite era glacial, mas o velho parecia não senti-lo; ia adiante até chegar a uma casa de péssima reputação; teve o padre um momento de vacilação e temor, mas o ancião animou-o dizendo:

- Eu o esperarei aqui. Bateu o padre à porta repetidas vezes e, como não abrissem, o ancião deu umas pancadas esquisitas e a porta abriu-se imediatamente.

- O Sr. entre, suba a escada, abra a porta do fundo do corredor e encontrará a agonizante. Disse essas palavras com tal força e autoridade que o padre não vacilou mais. Encontrou estendida numa cama miserável uma mulher abandonada que repetia a gritos:

- Um padre! Um padre! Deixar-me-eis morrer sem padre?...

- Filha, aqui estou, sou o padre que a Sra. Chama. Um ancião foi buscar-me... Ela não queria acreditar.

- Não, nesta casa não há ninguém que queira ir em busca de padre e não conheço tal ancião.

Afinal, convencida, acusou os pecados de sua longa vida de pecadora e com tanta dor e arrependimento o fez que o padre se admirou de encontrar tais sentimentos numa pessoa há tanto anos afastada de Deus. Arrumou o padre a mesinha e acendeu as velas para o viático e a extrema-unção. Nesse ínterim várias pessoas entraram e saíram, parecendo não notar a presença do padre. Depois de administrar-lhe todos os sacramentos, perguntou-lhe o padre se havia conservado alguma prática religiosa que lhe mereceu tal benefício em tão grande necessidade.

- Nenhuma, disse, a não ser uma oraçãozinha que rezava todos os dias a S. José para que me concedesse uma boa morte.

Consolado, o padre assistiu ao último suspiro da convertida. Nem à porta nem no caminho encontrou o ancião, e ficou convencido de que não era outro senão o misericordioso patrono da boa morte, o glorioso S. José. (págs. 75/76)

 

4. São José e as crianças

 

a) Nas horas em que não havia ninguém na igreja, notou o irmão sacristão que um menino de cinco anos vinha passar longo tempo do altar de S. José. Ora encostado à grade, ora de joelhos e ora assentado, ali permanecia horas olhando para o Santo. O bom Irmão sentiu-se impelido a fazer esta breve invocação:

- Ó bom S. José, ouvi a oração desse pequenino, não lhe recuseis a graça que vos pede com tanta piedade e inocência! O pobrezinho rezava pela conversão do pai...

- Amiguinho, disse-lhe o sacristão, se você quer dirigir a S. José uma bela oração, diga: ―S. José, rogai por nós

Tomou-o ao pé da letra o menino e, trocando de oração, começou a ir e vir diante do Santo e, ajoelhando-se, dizia:

―S. José, rogai por nós; S. José, rogai por nós!

Nisso se ocupava quando chegou sua mãe para buscá-lo. Teve que sair. Duas horas depois, o papai, que havia doze anos não se confessava, entrou na igreja para reconciliar-se com Deus

b) Um menino da Diocese de Montpellier contava assim um favor que alcançara de São José:

―Quando brincava na esquina de uma rua, fui atropelado por um carro que me esmagou contra uma parede; meu corpo tornou-se uma massa informe. O médico não dava nenhuma esperança. Meus pais apressaram-se a chamar um padre para me dar a extrema-unção. Uma religiosa amiga, muito devota de S. José, enviou-me um cordão bento do Santo. Pedia-me que me encomendasse a Ele com fé e confiança. Assim o fiz. Dormi logo depois e tive um sonho muito esquisito. Parecia-me estar vendo S. José, que garantia a minha cura. Anunciou-me, além disso, que eu seria padre. Despertei alegre e contei a visão à minha mãe. O sonho realizou-se. Até esta data estou bom e são... e não penso senão em ser sacerdote...(págs. 76/77).

 

5. Padroeiro da boa morte

 

―São José teve a felicidade de morrer nos braços de Jesus e de Maria, e não pode deixar de vir com eles, visível ou invisivelmente, para receber seus devotos. Num paróquia de Lyon (França) vivia um piedoso ancião, muito devoto de S. José, que não cessou durante cinqüenta anos de pedir-lhe a graça de uma boa morte. Para isso rezava, pela manhã e à noite, fervorosas orações, jejuava e fazia alguma esmola todas as quartas-feiras. Para ele, o dia da festa de S. José (19 de março) era o mais belo do ano. A 15 de março de 1859, na idade de 86 anos, caiu doente. Pediu imediatamente os santos sacramentos e recebeu-os com uma fé que comoveu a todos os assistentes. A 19 de março mandou celebrar uma santa missa e pediu que lhe rezassem as orações dos agonizantes. O sacerdote estava a terminar a consagração, quando o doente, erguendo os olhos ao céu, cruzando os braços, pronunciou distintamente os santíssimos nome de Jesus, Maria e José, e exalou suavemente o último suspiro. Sua alma voou para o céu precisamente no momento em que o sacerdote, no Memento, ia pedir a Deus que recebesse as almas dos fiéis no lugar do refrigério, da luz e da paz eterna‖. (págs.. 77/78)

 

6. Recuperou a vista

 

―Em Vinovo, aldeia pouco distante de Turim, na Itália, uma moça chamada Maria Satardero teve a desgraça de perder totalmente a vista. Desejando recuperá-la, fez uma visita a S. João Bosco, que então construía, com as esmolas do povo de Turim, a magnífica igreja de Maria Auxiliadora. A moça, depois de ter rezado diante da imagem de Nossa Senhora, falou com S. João Bosco, que lhe perguntou:

- Faz muito tempo que perdeu a vista?

- Sim, muito; faz um ano que não vejo nada.

- Tens consultado os médicos?

- Ah, padre, já não sabem o que receitar-me.

- Distingues os objetos grandes ou pequenos?

- Não; como disse, não vejo nem pouco nem muito.

- Mas não vês a luz desta janela?

- Não, senhor; nada.

- Queres recuperar a vista?

- Sr. padre, sou pobre e preciso dela para ganhar a vida.

- Servir-te-ás da vista para proveito de tua alma e não para ofender a Deus?

- Prometo-o sinceramente.

- Confia, pois, em Nossa Senhora e S. José.

E, em tom solene, D. Bosco acrescentou:

- Para a glória de Deus, da SS Virgem Maria e de S. José, dize: o que tenho na mão? A moça abre os olhos, que antes não viam nada, e diz:

- Uma medalha, de Nossa Senhora.

- E isto, o que é?

- Um ancião com a vara florida; é S. José.

Estava operado o milagre. Pode-se imaginar a alegria da moça e de seus pobres pais!... (págs. 78/79)

 

7. Um lobo que se torna cordeiro

 

Estava no hospital uma infeliz mulher que, há vinte e dois anos, abandonara sua família para se entregar aos vícios mais vergonhosos. Fora, enfim, internada naquela casa pela polícia. A vida que levara, de tal modo a embrutecera que parecia louca; e o médico, não descobrindo nela nenhuma doença, queria despedi-la do hospital para que não perturbasse os verdadeiros enfermos. Pediram-lhe as religiosas que a deixasse alguns dias ainda, enquanto recorriam a S. José. Bem inspiradas, vestiram-na com o hábito e com o cordão de S. José e puseram-se a pedir com fervor que ele tivesse compaixão daquela pobre alma.

O auxílio de S. José não se fez esperar. Poucos dias depois a mulher recobrou a paz, confessou-se com muita dor e arrependimento. Era um verdadeiro lobo e tornou-se tão manso cordeiro que pediu a seu protetor lhe alcançasse antes a morte que voltar à vida de pecado. Atendeu o Santo a tão pios desejos, vindo a convertida a falecer com os mais sinceros sentimentos de dor. Antes da morte pediu humildemente perdão a todos os que escandalizara com seus vícios‖ (pág. 79).

 

8. Padroeiro dos impossíveis

 

Jazia em seu leito de agonia um infeliz apodrecido de vícios, sem o menor remorso, zombando de Deus e desprezando todos os auxílios da religião para a hora suprema. Vendo-o zombar, com riso satânico, de seus esforços para salvar-lhe a alma, resolveram seus parentes recorrer a São José. Este grande Santo havia de fazer com que o misericordioso Coração de Jesus se compadecesse daquele infeliz. Era o mês de março. O sacerdote, os parentes e amigos dirigiram ao Padroeiro da boa morte fervorosas súplicas.

Maravilhoso o poder da oração! Naquela manhã de 19 de março, festa de São José, o próprio doente pediu a confissão e fez questão que chamassem o padre de quem mais zombara até então. Confessou-se com o mais sincero arrependimento e, pouco depois, faleceu... (págs. 79/80)

 

9. O viajante e São José

 

Foi a 18 de março de 1888. Viajava um sacerdote no trem de Mogúncia a Colônia, quando, ao passar por Bonn, notou que seu vizinho se persignou, juntou as mãos e se pôs a rezar.

- Amanhã é festa de São José!... talvez que seja seu patrono, disse o padre.

- Não, Sr., mas minha esposa chama-se Josefina... e gostaria de estar amanhã em sua companhia. Tenho, porém, outro motivo de dar graças; e, se interessar ao senhor, contar-lhe-ei a minha história, pois um sacerdote a entenderá.

- Certamente.

- Quando menino, recebi de minha boa mãe uma educação piedosa. Infelizmente, bem cedo morreu minha mãe; meu pai não se ocupou de minha educação religiosa e logo abandonei todas as práticas de piedade. Encontrei, mais tarde, uma jovem excelente e, desejando fazê-la minha esposa, fingi sentimentos religiosos que não possuía. Uma vez casados, quase morreu de pesar, quando lhe abri meu coração e me pus a zombar de suas devoções. Há cinco anos, na sua festa onomástica, fiz-lhe um rico presente, mas ela, quase receosa, me disse:

- Há outro presente que me faria mais feliz.

- Qual?

- A tua alma, querido, respondeu entre soluços.

- Pede-me o que quiseres: eu o farei.

- Vem comigo amanhã, dia de São José, à Igreja de N. N. Haverá sermão e bênção.

- Se for só isso, podes enxugar tuas lágrimas, que te acompanharei. A igreja estava repleta; o pregador, muito moço, deixou-me frio e indiferente; contudo disse uma coisa que me impressionou:

―Jamais invocou alguém a proteção de São José sem que sentisse o seu auxílio. Tende firme confiança de que correrá em socorro de todo aquele que o invocar na hora do perigo, ainda que seja pecador ou mesmo incrédulo

Ao sairmos da igreja, disse-me minha esposa:

- Meu amigo, muitas vezes estarás em perigo em tuas viagens; prometes-me que, chegando o caso, dirás esta breve oração:

―São José, rogai a vosso divino Filho por mim

- Assim o farei; não é nada difícil.

Pouco depois, viajava por este mesmo lugar em que nos encontramos; éramos sete no compartimento. De repente, um apito de alarma e já um formidável choque nos atirava pelos ares. Não tive tempo de dizer mais que: ―São José, socorro! Tudo foi coisa de um instante. Ao voltar a mim, vi meus companheiros horrivelmente despedaçados e mortos. Eu sofrera apenas leves contusões. Desde aquele dia retomei as práticas religiosas e repito, sempre com grande confiança: ―São José, socorrei-me! (págs. 80/81)

 

10. São José e o primeiro asilado

 

Em 1863 chegava a Barcelona um grupo de Irmãzinhas dos Pobres para fazer a sua primeira fundação na Espanha. Foram muito bem recebidas pelos catalães, que precisavam não pouco de um asilo para tantos infelizes velhos abandonados que costuma haver nas grandes capitais. O Asilo foi, como de costume, colocado sob a proteção de São José, a quem chamam as Irmãs de Procurador da Casa. No começo, por falta de local, admitiam somente mulheres velhas. Mas, eis que São José, um belo dia, lhes traz o primeiro velho. Era um homem de 80 anos que se apresentou, dizendo à Irmã:

- Venho aqui para internar-me.

- É impossível, replicou a Superiora; ainda não podemos receber nenhum homem.

- Seja, mas não há remédio; ficarei assim mesmo.

- Como se chama o Sr.?

- Chamo-me José.

- Este nome chamou a atenção das Irmãs; além disso era dia consagrado a São José.

Não há remédio, recebê-lo-emos em nome de São José. O velho não possuía mais que farrapos e estava coberto de insetos. Roupa de homem não havia. A Superiora, chamando duas Irmãs, disse-lhes:

- Saiam as senhoras a procura de roupa, enquanto vamos lavá-lo e penteá-lo. Durante este breve colóquio ouviu-se a campainha da portaria: era uma senhora desconhecida que, entregando um embrulho, se retirou sem nada dizer. Abriram e viram, com grande surpresa, que era um traje completo para homem. O pobre velho chegou ao cúmulo da alegria; não menos, porém, as Irmãs que compreenderam que São José as convidava a ampliar seus planos de caridade. O Asilo cresceu tranqüila e constantemente e dentro de poucos anos abrigava mais de duzentos velhos sem que lhes faltasse o pão de cada dia, nem as carinhosas atenções das boas Irmãs. (pág. 82).

 

11. Lenda sobre o poder de São José

 

Havia um homem, devoto de São José, que não se preparou para a morte e, mesmo assim, quis entrar no céu. Mas São Pedro, vendo-o chegar manchado, fechou-lhe a porta e deixou[1]o sentado no corno da lua. Entretanto, não faltou quem fosse contar o caso a São José, o qual se apresentou diante do trono de Deus para pedir graça para seu devoto. O Senhor negou-lhe a graça. São José disse que era um devoto seu.

―Devoto que acende uma vela a ti e duas ao demônio?...

São José, porém, decidido a vencer, disse:

- Se meu devoto não entrar no céu, eu me vou embora.

- Pois, vai-te! – disse o Senhor.

São José, que não esperava essa resposta, de chapéu na mão dirigia-se para a porta; mas, no meio do caminho, virou-se e disse:

- Se eu for, não irei só; deve ir comigo minha esposa.

- Pois que vá!

- Mas levando minha esposa, devo levar tudo que lhe pertence...

- Pois leva tudo! – disse o Senhor.

- Tenho uma lista completa. – E São José, em pé no meio do paraíso, começou a ler:

―Rainha dos Anjos!– E já todos os Anjos voam para a porta. Rainha dos Patriarcas! e eles vão se enfileirando perto da porta; Rainha dos Mártires! Vão também eles para a porta. E quando São José ia cantar: Rainha de todos os Santos! Disse o senhor:

- Olha, José; corre, vai dar um banho no teu devoto e, depois, fá-lo entrar no céu; porque, se me empenho em não deixá-lo entrar, por justiça fico sozinho no céu! (págs. 259/260).

 

São José não falha

 

Estrangeiro, quer me responder? Os missionários do Verbo Divino, Pe. Goetz e o Irmão Gervásio tiveram uma ocorrência na China, que escapa à compreensão humana. Irmão Gervásio tinha sido acompanhante do cientista Dr. Filchner através do Tibete para a Índia. Certo dia acompanhou o padre de Kaotai para atender uma doente nas montanhas do sul, chamadas Montanhas do Tribunal. Foram três dias a cavalo. Percorridos mais de 200 km, estavam finalmente no lugar. A doente já havia morrido. Aborrecidos e deprimidos, os missionários trataram de voltar. Haviam descido metade da região montanhosa, quando, à beira da estrada, um moço os esperava e pediu para verem a mãe dele. O jovem conduziu-os uns 10 a 15 km fora da estrada principal, a um lugarejo. Numa casa de pau a pique, achava-se uma velhinha doente. Esta logo os foi abordando com perguntas fora de série.

―Estrangeiro, quer me responder de verdade às minhas perguntas?

―Sem dúvida, mãezinha! Que perguntas tem?

―Existe um Deus em três figuras? Existe na outra vida um lugar de alegria para os bons, e um lugar de horror para os maus? É certo que Deus veio a esta terra, para morrer pelos homens e lhes abrir o lugar da felicidade? Estrangeiro, isso tudo é verdade? O padre confirmou tudo cheio de admiração, perguntando a si próprio, donde a doente tinha estes conhecimentos?

―Bem, o senhor traz água consigo? - prosseguiu a anciã. Lava-me para que eu possa entrar no lugar da felicidade! Donde sabia que o padre trazia água batismal? A forma decidida da doente tinha qualquer coisa de infantil, ao mesmo tempo de muito bem pensado. Pe. Goetz deu-lhe mais umas instruções e a batizou .Foi aí que a doente cheia de alegria, exclamou ainda:

―O Senhor traz consigo também o pão. Não o pão comum, mas é o próprio Deus. Dê-me do pão! O missionário efetivamente trazia o Santíssimo sobre seu peito. A doente sabia isso também. Deu-lhe a santa comunhão e a ungiu com o óleo dos enfermos, após tudo isso, disse-lhe:

―Até aqui a senhora me fez perguntas, agora eu vou perguntar. Onde aprendeu as verdades da fé? Conviveu tempos atrás com cristãos católicos ou evangélicos?

―Não, estrangeiro‖

―Leu então em livros cristãos?

―Nem sei ler estrangeiro, nem eu sabia que podem existir livros assim.

 ―E donde tem esses conhecimentos da fé?

―Eu só pensei que assim devia ser, e há uns 10 anos vivi sempre de acordo com isso. Também ensinei os meus filhos todos, nessa convicção, assim pode lavá-los (batizá-los) a todos.

―E sabia que hoje nós iríamos passar por aqui?

―Sim, com plena certeza. Tive um sonho e vi um senhor mais velho. Ele me disse para mandar meu filho para a estrada e para chamar os dois estrangeiros. Eles iriam me levar para um bom lugar para depois da morte. Os missionários estavam perplexos e emocionados. A disposição cheia de candura da velha doente em face da morte era tão simples que não deixava margem nenhuma de dúvida. Para despedida, deram-lhe um santinho de São José, o padroeiro dos agonizantes. Foi aí que a anciã irradiou de alegria deslumbrante:

―Este eu conheço. Ele me visitou. Esteve várias vezes aqui. Foi ele que me mandou chamá-los na estrada. O que a velha chinesa teve, fora sonho ou visão? Ela mesma não sabia fazer a distinção, e para ela isso não tinha a mínima importância. O importante lhe era o quanto dele aprendera. Os missionários tiveram muita, muita coisa para pensar com este caso. Mais tarde ficaram sabendo que a dita mulher falecera na noite após o batismo. ( Autor: A. M. Weigl - Edições Rosário - 1992 – Curitiba-PR (Ludwig Lenzen) Pag. 202 a 204).


sexta-feira, 8 de março de 2024

A MODA, TÃO FEMININA, MAS TÃO ANTIGA COMO A HUMANIDADE

 

 


Como surgiu a moda, a moderna moda, tão decantada aos quatro ventos por certos setores do "jet set" e da "sociality" moderna?  Sabe-se hoje, através de pesquisas históricas, que a moda teve início exatamente no mesmo período em que começou a decadência da Idade Média e surgiu o Renascimento.

É bem verdade que sempre houve épocas em que as novidades eram recebidas com sofreguidão pelas pessoas, mas não da forma como a moda se impôs e estabeleceu o seu império no mundo. Tanto nos homens quanto nas mulheres, a busca por ideias novas que causassem sensação, própria do Renascimento, redundou também na moda do vestir. Como sempre, as mulheres foram sempre as mais ávidas pela moda.

No século XIII, quando o Papa Gregório X sentia necessidade de advertir os católicos sobre os perigos das vestimentas inconvenientes, principalmente para o sexo feminino, falava-se em corpetes apertados e um pouco decotados.  Mas no século seguinte, mais ou menos, deu-se início ao que os historiadores modernos chamam de moda.  Principalmente as mulheres das classes sociais mais altas, usavam uma peça chamada "gipon" em francês, uma espécie de gibão acolchoado na frente para realçar os seios, mas tão curto que os moralistas o denunciaram como indecente. Para realçar a sensualidade, embora de forma tímida ainda, tal gibão era bem apertado, mostrando a silhueta do corpo, abotoado na frente e com um cinto sobre os quadris.

A partir do século XIV era elegante usar as vestes sem lados, aberto nas laterais.  Na frente havia uma espécie de corpete, chamado "plackard", como se fosse um espartilho bem apertado. Posteriormente, se inovou ousadamente com um decote sensual e erótico para aqueles tempos.

Numa infindável sucessão de tempos, de lugares, de pessoas, se passou a querer copiar, como era natural, tudo o que as damas da alta sociedade faziam.  E a moda se expandia com todos os ventos favoráveis, inclusive com aspectos deploráveis. Quando chegamos ao século século XVI, surgiu na França um penteado chamado "rattependale", uma moda ditada pelos renascentistas, que era o corte de cabelo indígena das Américas, uma novidade em toda a Europa.

Ao contrário do que se possa imaginar, a moda dos cosméticos não surgiu logo após a Idade Média. Foi no século XVIII que tal costume se popularizou, chegando a certos exageros, principalmente na França e na Inglaterra.  A tal ponto que o Parlamento Britânico, em 1770, aprovou uma lei proibindo o uso de tintas e cremes nos rostos. Até mesmo os casamentos estariam passíveis de serem anulados, se por acaso um dos noivos tivesse usado de cosméticos para iludir o outro.

Nessa época, o exotismo já domina a moda na Europa. Os colonizadores de outros povos trazem para a França e a Inglaterra vários objetos e roupas orientais, o vestuário chinês, e até o turco, é aceito como a última palavra da moda. Surgem as “chinoiseries”, depois as “turqueries”, aspectos lembrados nas cançonetas que se ouviam em Paris, como uma em que é celebrizada a elegância do embaixador turco Zaida Effendi em 1741.

Hoje em dia a moda serve de parâmetro para diversos desatinos sociais, sendo dirigida por elementos desqualificados moralmente, mas, por causa do poder financeiro conseguem impor suas regras, seus modelos, suas modas, especialmente na vestimenta. E há moda para tudo, não somente para a vestimenta, mas para todos os adornos e requintes que sirvam para realçar o corpo humano. Até mesmo a tão decantada e moderna tatuagem é coisa muito antiga, originada entre os aborígenes das Américas e de outros povos bárbaros, e na atualidade seguida como a coisa mais moderna e atraente. Usam o corpo como se fosse um painel de anúncios.

Destacamos a mulher não somente como principal agente da moda, mas até mesmo como sua principal vítima, pois o sexo frágil é facilmente manejado pelos que investem nesse mercado. Por exemplo, inventaram uma moda de roupas rasgadas e de imediato aceitaram-na, porque as pessoas só pensam em estar com o pensamento comum de todos, com o que os outros fazem e usam. Maltrapilho agora é sinônimo de elegância, distorcendo completamente a própria personalidade humana que procura no trajar realçar suas qualidades elevadas e morais.

 

 

sábado, 2 de março de 2024

OS APÓSTOLOS DOS ÚLTIMOS TEMPOS

 



No ano de 1951, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira fez algumas conferências sobre o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, posteriormente  publicadas em forma de apostila sob a revisão do mesmo. Desse texto extraímos os comentários a seguir:

 

Nosso sinal: o “tau”, ou o calcanhar?

 

“Eles serão pequenos e pobres aos olhos do mundo, e rebaixados diante de todos, como o calcanhar, calcados e perseguidos como o calcanhar em comparação com os outros membros do corpo” (tóp. 54).

 

Fato terrível: a vocação do apóstolo de Nossa Senhora é ser como que o calcanhar do gênero humano, que o pisa e anda calcando-o. A vocação daqueles que são apóstolos de Maria Santíssima consiste em servir de calcanhar. De calcanhar ativo, que retribui os golpes, mas, enfim, de calcanhar.

Quando consideramos a nossa situação de apóstolos da Contra-Revolução, devemos reconhecer que ela tem muito de “calcanharesco”. Realmente, somos uma categoria de pessoas da qual todos se julgam no direito – sem recriminação da parte de ninguém – de falar mal e de pensar mal, e que ninguém receia sabotar, pois – afirmam – “o que atacamos nada tem de mal”; mas ai de nós se fizermos qualquer coisa: “é perigoso, é nocivo; é preciso reprimir!”

Quando consideramos, por outro lado, a situação de exílio permanente a que as condições de vida da sociedade contemporânea nos reduzem; quando consideramos o fato de que, aos poucos, ficamos marcados, diferentes de todos, pela fidelidade a nossos ideais, havemos de reconhecer bem que a nossa situação tem muito de “calcanharesco”. Se não tivéssemos escolhido por nosso sinal o “tau”, escolheríamos o calcanhar!

O calcanhar tem uma sublime missão. Se é bem verdade que ele é calcado, é dele a glória de calcar. E há uma cabeça que foi feita para ser por ele pisada: a de Lúcifer. Devemos estar a procura dessa cabeça para pisá-la. Com a graça de Nossa Senhora, no rabo, várias vezes já o temos feito.

 

Serão santos superiores a toda criatura

 

“Mas, em troca, eles serão ricos em graças de Deus, graças que Maria lhes distribuirá abundantemente. Serão grandes e notáveis em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura, por seu zelo ativo...” (tóp. 54).

 

São Luís Grignion faz-nos um outro prenúncio: os apóstolos dos últimos tempos serão santos excepcionais, como não há em nossa época e não houve nas passadas. Dizendo “superiores a toda criatura” envolve, pois, as do passado. Serão Santos maiores do que todos os dos séculos passados. Deverão florescer no futuro, mas de sua santidade e de sua vocação participam desde já todos aqueles que batalham nesta mesma luta contra o poder das trevas.

 

“... e tão fortemente amparados pelo poder divino que, com a humildade de seu calcanhar, e em união com Maria, esmagarão a cabeça do demônio e promoverão o triunfo de Jesus Cristo”. (idem).

 

É o final da profecia: haverá um período de justiça alcançado por estes apóstolos. Eles esmagarão a cabeça do demônio.

Vemos, portanto, as características fundamentais desses apóstolos postas por São Luís Grignion:

a) É uma raça de homens, raça espiritual, oposta e irredutivelmente adversa à Lúcifer e à raça dele;

b) São homens que viverão num estado de perseguição constante;

c) Serão chamados por Maria Santíssima, de um modo especial, a uma grande dedicação à causa da Igreja;

d) Acabarão por vencer, porque esmagarão a cabeça do demônio.

São os traços distintivos dos Santos dos Últimos Tempos. Mas, como estes tempos já começaram[1], os santos de nossa época estão já numa espécie de relação com os dos últimos dias da Igreja. O santo de nossa época é, pois, o tipo do santo dos últimos tempos, descrito por São Luís Grignion, que ele apresenta como um fruto característico da devoção a Maria Santíssima.

Há, portanto, uma conexão muito grande entre os últimos tempos e a nossa época, entre os Santos dos últimos Tempos e os batalhadores da causa da Igreja em nossos dias.

Os Apóstolos dos Últimos Tempos.  São Luís Grignion nos fala agora especificamente dos Apóstolos dos Últimos Tempos.

 

“Deus quer, finalmente, que Sua Mãe Santíssima seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada, como jamais o foi...” (tóp. 55).

 

Dizíamos acima que, nos últimos tempos, Nossa Senhora seria mais conhecida e mais amada.  Neste tópico São Luís Grignion nos afirma que é agora, isto é, no tempo dele. Portanto, sua época já participa dos últimos tempos.

 

“E isto acontecerá, sem dúvida, se os predestinados puserem em uso, com o auxílio do Espírito Santo, a prática interior e perfeita que lhes indico a seguir.” (tóp. 55).

 

Eis o papel histórico da devoção que prega. É o meio pelo qual os predestinados da graça podem adquirir este espírito e colocar-se de acordo com a sua vocação. É a devoção que até aí conduz.

 

“E, se observarem com fidelidade, verão então claramente, quando[2] lho permite a Fé, esta bela Estrela do Mar, e chegarão a bom porto, tendo vencido as tempestades e os piratas. Conhecerão as grandezas desta Soberana, e se consagrarão inteiramente a seu serviço como súditos e escravos de amor” (jdem).

 

Será que antes de São Luís Grignion – poder-se-ia perguntar – ninguém conheceu Nossa Senhora? Maria Santíssima não levou antes dele ninguém a bom porto? Será que Ela não fez manifestar na Igreja, antes ou fora dele, as suas grandezas? Seria absurdo admiti-lo. Por que, então, ele apresenta estas coisas como típicas do seu espírito? É porque elas serão mais reais nas almas formadas em sua escola de espiritualidade do que em qualquer outra. O que já é verdade de todos os santos, de todos os que seguem a doutrina da Igreja, será muito mais ainda dos que seguirem a espiritualidade de São Luís Grignion.

Ele aqui apenas insinua o que irá dizer mais tarde: a devoção que ensina e os princípios mariais que inculca, não são acessíveis ao conhecimento de qualquer homem. Conhecer bem Nossa Senhora, praticar esta devoção, é uma predestinação, é uma graça especial, não comum. Esta não é uma devoção para qualquer pessoa, mas apenas para alguns predestinados. É uma graça especialíssima que Deus reserva para os últimos tempos. Por isso, mais tarde ele dirá que, para compreender esta devoção e praticá-la verdadeiramente, é preciso ter recebido um chamado muito especial.[3]

 

Serão setas para perfurar

 

“Mas, quem serão esses servidores, esses escravos e filhos de Maria?” (tóp. 56).

 

Aqui segue a descrição dos Apóstolos dos Últimos Tempos:

 

“Serão ministros do Senhor, ardendo em chamas abrasadoras, que lançarão por toda parte o fogo do divino amor.

Serão sicut sagittae in manus potentis (Sl 126, 4) – flechas agudas nas mãos de Maria todo-poderosa, pronta a transpassar seus inimigos” (idem).

 

Como isto corresponde ao gênero de devoção que devemos ter a Nossa Senhora!

A devoção a Maria Santíssima, segundo São Luís Grignion, está aliada à combatividade.  Não se trata apenas de fazer cordeirinhos de Cristo Rei! Trata-se de transformar cada um de nós numa seta posta nas mãos de Maria. Evidentemente não para, como bálsamo, aliviar e curar, porque isso não é próprio da seta, mas para perfurar os seus adversários. Para isso é que estão destinados os Apóstolos do Últimos Tempos.

Para transpassar é preciso não estar pregando bondades untuosas, vagas, sem consistência. A seta é arma de guerra, é feita para o combate, e o seu principal objetivo é derrubar o inimigo e matá-lo. Para isso, e não para outra coisa, elas existem. São Luís Grignion é explícito: “sicut sagitti”. É mesmo seta, e seta para perfurar os inimigos. É preciso não ter ilusões, o fruto característico da devoção que ele prega é o de tornar o apóstolo uma seta nas mãos de Nossa Senhora.

 

Serão ascetas, colados, sem interstício algum, a Deus e à Sua Igreja

 

“Serão filhos de Levi, bem purificados no fogo das grandes tribulações, e bem colados a Deus...(idem).

 

É importante observar o grau de união a Deus que está prometido. E só há um meio de estar colado a Deus: é estar colado à Igreja de Deus. Estar colado significa estar unido sem qualquer interstício, sem vácuo algum; é estar preso por todas as aderências possíveis à Igreja de Deus. Este é o sentido que ele nos quer dar, inculcando o espírito de devoção à Igreja Católica.

 

“...que levarão o ouro do amor no coração, o incenso da oração no espírito, e a mirra da mortificação no corpo”. (idem).

 

É a idéia da ascese, da austeridade, da virtude dura, mortificada.

 

Serão odor de morte

 

“...e que serão em toda parte, para os pobres e pequenos, o bom odor de Jesus Cristo; e, para os grandes, os ricos e os orgulhosos do mundo, um odor   repugnante de morte.” (idem).

 

O que são, na lingua da Escritura, os pobres e os pequenos? Não são os sequazes dos demagogos modernos. Ser pobre e pequeno é ser pobre de espírito, é ser desapegado. Para esses é que é bom odor a presença dos servidores de Maria. Pelo contrário, para os que não são seus servidores, para os que são ricos, que têm espírito apegado (neste sentido um maltrapilho pode ser rico), para os que são orgulhosos e mundanos, a ação de presença desses apóstolos é um odor de morte.

Nesse sentido, podemos dizer que, quem tem verdadeiramente o senso católico, simpatiza conosco. Não encontramos, ao longo do nosso apostolado, pessoa alguma que, tendo senso católico, fosse hostil a nós. Nem alguém que, por causa das próprias virtudes, nos tivesse antipatia.

Pelo contrário, é para os apegados, os igualitários e os orgulhosos que a nossa presença dissemina, de fato, um odor de morte. E as reações são vigorosas, porque o odor de morte não é bem recebido em parte alguma!

 

Serão o terror do demônio

 

“Serão nuvens trovejantes...“ (tóp. 57).

 

Não são zéfiros[4] nem brisas amenas, que trazem o bom odor das sensações emocionantes e românticas para as almazinhas adocicadas. São nuvens tonitroantes que voam pelos ares.

A imagem é majestosa, grandiosa, reflete, em contraposição à suavidade de certo tipo de religiosidade sentimental, a grandeza, o poder e a cólera de Deus. A nuvem trovejante é a nuvem carregada, na qual o raio se forma, e da qual é lançado.

 

“...esvoaçando pelo ar ao menor sopro do Espírito Santo...” (idem).

 

Uma atmosfera cheia de nuvens trovejantes, a esvoaçar do oriente ao ocidente, não reflete absolutamente o clima carregado de otimismo que em certos ambientes se encontra...

 

“.. que, sem apegar-se a coisa alguma nem admirar-se de nada, nem preocupar-se, derramarão a chuva da palavra de Deus e da vida eterna. Trovejarão contra o pecado...” (idem).

 

Não se trata, portanto, de pregar a bondade contra o pecado.

 

“...e lançarão brados contra o mundo, fustigarão o demônio e seus asseclas, e, para a vida e para a morte, transpassarão lado a lado, com a espada de dois gumes da palavra de Deus (Ef. 6, 17), todos aqueles a quem forem enviados da parte do Altíssimo”  (idem).

 

São batalhadores eficacíssimos, que têm a espada de dois gumes quando forem enviados a alguém da parte de Deus, perfurá-los-ão dos dois lados.

Podemos aí distinguir um feitio de espiritualidade e de apostolado que convém a nós. Os apóstolos que São Luís Grignion assim descreve, são homens cheios de um santo ódio, de um poder verdadeiramente terrível, que causam ao demônio um medo capaz de desfazer as suas tramas. Argutos, perspicazes e vigorosos, esses apóstolos são os protótipo do verdadeiro católico.

 

 



[1] Segundo a linguagem de São Luís Grignion, a sua época estava já dentro da perspectiva dos últimos tempos.

[2] Na tradução espanhola (da BAC) está consignado “Enquanto o permite a fé...” e não “quando”.

[3] O restante do tópico contém uma série de promessas sobre as quais não há comentários especiais a fazer.

[4] Zéfiro é um vento brando e agradável.