Há mais de cem atrás (em 19.03.1902), o Papa Leão XIII publicou uma encíclica (Parvenu á la vingt-cinquième amnée) onde há um texto que fala profeticamene da vida moderna:
Progresso da Ciência emancipada de Deus
24. Muito se confiou no progressivo incremento científico e, de fato, grandes e inesperados progressos maravilharam o último século. Mas será verdade que tenhamos, efetivamente, alcançado aquela fertilidade de frutos, bela e renovadora, que tantos desejavam e esperavam? O vôo da ciência descobriu, certamente, novos horizontes ao intelecto, alargou o domínio sobre a natureza física, e melhorou a vida terrena. Não obstante isso, sente-se e confessa-se que os resultados obtidos estão muito aquém das esperanças alimentadas. Não se pode deixar de reconhecer essa verdade, ao ver o estado em que se acham os ânimos e os costumes, ao verificar as estatísticas de delinqüência, a agitação geral, o predomínio da força sobre o direito. Não se falando da miséria do povo, basta uma vista de olhos superficial para verificar que uma tristeza indefinida pesa nas almas, e um vácuo profundo se faz sentir nos corações. O homem endeusou a matéria, mas esta não lhe pôde dar aquilo que não possui; e as grandes questões, que se referem aos seus mais altos interesses, a ciência humana não as resolveu. A sede da verdade, de virtude, de infinito, tornou-se ainda mais viva, e nem a terra, enriquecida de tesouros e alegrias, nem a vida com suas crescentes comodidades, conseguiram diminuir a inquietação moral. Deveremos, por isso, desprezar ou desinteressar-nos da cultura, da civilização, e de uma liberdade moderada e razoável? Não, por certo; devemos, ao contrário, prestigia-las e tê-las em grande conta, como precioso capital, visto serem outros tantos meios, bens em sua natureza, queridos e ordenados pelo próprio Deus em benefício da família humana. Usando-os, porém, devemos ter em vista o pensamento do Criador, a fim de impedirmos que lhe falte o elemento religioso, no qual reside a virtude que os valoriza e os faz dignamente frutificar. Aqui se encontra o segredo do problema. Quando um ser orgânico se enfraquece e decai, isso resulta de cessar o influxo das causas que lhe davam forma e consistência; e não resta dúvida que, para torna-lo de novo são e florescente, é necessário restituir-lhe o influxo vital dessas mesmas causas. Pois bem, na louca tentativa de emancipar-se de Deus, a sociedade humana rejeitou o sobrenatural e a revelação divina, subtraindo-se, por este modo, à vivificante eficácia do Cristianismo, isto é, à mais sólida garantia da ordem, ao mais poderoso vínculo de fraternidade, à fonte inexaurível individual e pública.
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