sábado, 23 de fevereiro de 2008

AINDA SOBRE O CAOS

Ainda sobre o caos

Pouco mais de dois anos antes de seu falecimento, Dr. Plínio publicou um outro artigo sobre o tema, onde a certa altura afirmava:

Se há um denominador comum no acontecer da vida pública e privada de tantas nações, pode-se dizer que esse é o caos. As perspectivas caóticas parecem repetir-se a si próprias e, cada vez mais, caminha-se nas vias do caos, ninguém sabe até onde. As forças enigmáticas do caos produzem explosões, erupções que dão a impressão de que o mundo vai rachar. Os otimistas assustam-se pouco, por julgar que tudo voltará “como dantes no quartel de Abrantes”. Os que se têm em conta de clarividentes se alarmam, achando que logo o mundo “virará de pernas para o ar”. Mas, eles também se enganam, pois, como diz o ditado francês, plus ça chagen, plus c’est la même chose: quanto mais isso muda, mais permanece na mesma...
Com efeito, o processo caótico que todos nós presenciamos e padecemos move-se, por assim dizer, na imobilidade. Daqui, dali, de acolá são desavenças que se manifestam, situações tão tensas e críticas, que se diria que uma guerra mundial arrebenta a qualquer momento em algum lugar. Entretanto, nesse gira-gira do caos, as situações terminam ficando imóveis.
Ora, precisamente essa imobilidade fixa de mobilidade contínua, das situações que não melhoram nem pioram, constitui o próprio drama em que, mais e mais, um número crescente de países vai imergindo.
É uma espécie de AIDS psicossocial que se espalha pelo mundo inteiro: essa doença não mata imediatamente, mas vai debilitando tudo quanto possa haver de sadio e orgânico no interior das nações. Acovardado diante da multiplicação das catástrofes e ruínas morais e materiais, o homem de hoje se acocora lamentando: "A quebradeira é a regra da vida e a ela todos têm de se sujeitar. Tudo quebra e nada tem significado. As coisas não significam mais nada”.
Do fundo de todo esse panorama, parece projetar-se a seguinte mensagem: “Habitua-te e compreende que nada tem mais razão de ser! A razão humana está extinta e nada mais se passará razoavelmente, nunca mais! Mas isto não te será dito explicitamente: o operar dos acontecimentos mundiais será cada vez mais absurdo e desarrazoado. E todos hão de se habituar à idéia de que o absurdo assumiu o cetro do mundo!”
Essa parece ser a presente mensagem dos fatos: “Razão humana, retira-te! Pensamento humano, emudece! Homem, não reflita mais, e como um animal deixa-te levar de roldão pelos acontecimentos...”
E do mais recôndito desse abismo é dado ao católico discernir as fulgurações enganosas, o cântico ao mesmo sinistro e atraente, emoliente e delirante daquele ente abjeto que é como que a personificação da ilogicidade, do absurdo, da revolta estapafúrdia e cheia de ódio contra o Onipotente sapientíssimo: o demônio. Pai do mal, do erro e da mentira, ele geme e estertora desesperado, bradando o seu eterno e nefando grito de revolta: Non serviam. “Não servirei”.
São essas perspectivas sobre as quais podem e devem discutir os teólogos”

(Excerto de artigo publicado em 8.5.93 no jornal “A Cidade”, de Campos-RJ – extraído da revista “Dr. Plínio”, de outubro de 2001).

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