Entre os povos pagãos, especialmente os da antiguidade clássica, a mulher sempre ocupou não só um lugar secundário mas inteiramente escrava e relegada ao desprezo. São raros os casos de rainhas destes povos, citando-se dentre elas a famosa rainha de Sabá e as sete Cleópatras do Egito.
Caldeus, egípcios, romanos, etc.
“À mulher a natureza não deu o dom de comandar”. Trata-se de um aforismo extraído de um verso do poeta grego Menandro, muito citado entre seus patrícios e que reflete a mentalidade então vigente. Segundo os gregos, cabia à mulher sempre obedecer, conceito muito comum entre os vários escritores e filósofos da antigüidade clássica. Aliás, não se tem notícia de mulheres entre tais escritores e filósofos. Outro escritor grego, Eurípedes, embora reflita a mera condição feminina de companheira do homem no lar, deixou escrito: “Certamente é torpe que a mulher mande na casa, e não o marido”. Outros autores gregos falam de quão pernicioso é o governo feminino: Aristóteles, Ésquines, etc. Os autores romanos também, dentre eles Virgílio, acentuam de certo modo a mesma mentalidade. Há inclusive um adágio latino que diz: “Sponsae des cortum, magis oblongum, tibi cultrum” – dá à tua mulher uma faca curta e para ti uma mais longa. Publílio Siro dizia que a “mulher aprendeu a chorar para mentir”.
Cícero, falando sobre a lascívia diz: "A lascívia multímoda dos homens leva-os a um só pecado, mas a lascívia unívoca das mulheres as conduz a todos os pecados; pois que a raiz de todos os vícios da mulher é a cobiça". Sêneca exagera mais ainda: "A mulher ou ama ou odeia. Não há meio-termo. E as suas lágrimas são falazes, porque ou brotam de verdadeiro pesar, ou não passam de embuste. A mulher que solitária medita, medita no mal".
O historiador judeu Flávio Josefo, que apesar de ser fariseu reflete muito neste pensamento o paganismo romano, onde viveu o resto de seus dias, escreveu: “A mulher é inferior ao homem em tudo”, o que é evidente exagero. Em sua grande obra, “Antiguidades Judaicas”, escreveu: “O testemunho das mulheres não deve ter nenhum valor por causa da superficialidade e atrevimento desse sexo” (v op. cit. liv. IV).
A nocividade do governo feminino está refletido também em provérbios modernos, principalmente os brasileiros: “Em casa de Gonçalo, se canta a galinha não canta o galo”, “Triste da casa onde canta a galinha e o galo cala”.
Hamurabi, famoso rei da Babilônia que estabeleceu um "Código" de moral (entre 2181 a 2123 a.C.), tinha as seguintes normas em relação à mulher:
"A mulher adúltera deve ser atirada ao rio, mas se o marido perdoar o adultério, os dois devem ser atirados ao rio".
"Se a mulher repudiada pelo marido é leviana, não pode exigir indenização, e o marido pode reduzi-la a sua escrava".
"A mulher que abandona o marido é atirada ao rio".
"Não é lícito ao marido repudiar a mulher enferma. Mas pode tomar outra mulher para si".
Entre os caldeus, povos antigos do tempo de Abraão, cada homem tinha direito a uma esposa legítima, gerando um tipo de casamento mais ou menos monogâmico. De outro lado, porém, o homem tinha o direito de possuir quantas concubinas quisesse. Na legislação caldaica havia a seguinte norma:
"Se as virgens consagradas ao culto se embriagarem, devem ser queimadas vivas".
Na Caldéia havia o comércio de mulheres, sobre o qual falou o historiador antigo Heródoto: Em cada aldeia, uma vez por ano, as moças são reunidas em um determinado lugar, e o pregoeiro as faz levantar uma após outra; logo que as mais belas tenham achado comprador, fazem com que se levantem outras, e assim por diante. Os caldeus ricos que desejam casar rivalizam entre si para comprar as mais formosas. Depois, o pregoeiro põe à venda as menos bonitas.
A prostituição em benefício da idolatria: as bacantes
Havia uma deusa na Babilônia, conhecida comumente pelo nome de Afrodite, mas chamada por eles de Ishtar, que representava o amor sexual e servia para estimular os baixos instintos humanos. Os templos dedicados àquela deusa eram os mais suntuosos, por isso se exigindo mais recursos para serem mantidos. O historiador Heródoto também fala sobre tal deusa.
Escreveu ele que havia um dos costumes mais vergonhoso dos babilônios e que era a prática de prostituição na entrada do templo. Era exigido que cada mulher do país, uma vez em sua vida, se una a um homem estrangeiro no templo de Afrodite. A mulher ficava sentada na entrada no templo, e enquanto aguardava voltar para sua casa os estrangeiros lhe jogavam dinheiro nos joelhos e em seguida iam se unir a ela no interior do templo. Dava-se a soma que se quisesse e a mulher não tinha o direito de recusar seja lá que homem for. Em seguida ela tinha que levar todo o dinheiro como oferenda ao templo, nada reservando para si.
A prática da prostituição como ritual religioso tornou-se comum entre os povos pagãos antigos. A propósito do assunto, o historiador romano Tito Lívio referre-se a um edito romano, datado do ano 186 a.C., condenando severamente a prática religiosa das bacantes (seguidoras de Baco), por causa dos grandes problemas que vinham trazendo ao Império. Referido edito encontra-se hoje exposto no Museu de Viena, sendo objeto de estudo dos historiadores. Após o fim da segunda guerra púnica (em torno do ano 200 a.C.), com a batalha de Zama, algumas organizações de bruxos adeptos de Dionísio (um deus romano com culto semelhante ao de Baco) resolveram intensificar aquela idolatria no Império. Os bacanais já eram uma prática idolátrica antiga (cerca de seis séculos antes de Cristo), nascida nas camadas baixas da sociedade de Atenas, na Grécia, e que agora se projetava para outros povos.
Os seguidores de Dionísio (o Baco romano) eram, segundo Tito Lívio, em sua grande maioria as mulheres, parte delas pertencentes à nobreza romana. A proibição daquele culto, em seu auge de propagação e de promiscuidade na sociedade, é justificada por Plauto (poeta cômico latino, que viveu naquela época) porque era um exemplo de desordem e de orgias sexuais. No início, este culto teve pouca aceitação no grosso da população de Roma, sendo mais praticado entre as mulheres. Depois, porém, foi fortemente aceito na Etrúria e de lá se propagou para o resto do Império, quando os homens também aderiam às bacanais, especialmente aqueles das classes mais baixas.
Os bacanais em honra de Dionísio chegaram a seu auge quando apareceu na Campânia uma sacerdotiza chamada Paculla Annia, que começou a realizar cultos noturnos e mais freqüentes: antes só eram realizados três vezes ao ano e agora se repetiam cinco vezes ao mês. A novidade principal de Paculla era a adesão da massa popular aos bacanais, antes restritas quase somente às mulheres. Tudo indica, segundo Tivo Lívio, que foram elas que iniciaram tudo para depois tornar a idolatria dos bacanais de domínio público. Seria o carnaval antigo. Mesmo sendo aberto a toda população, havia, no entanto, uma iniciação através de ritual copiado do Baco ateniense. Esta iniciação consistia em orgias sexuais acompanhada de bailes e bebedeiras. As mulheres que lideravam os bailes e as orgias eram, em geral, casadas.
Havia também uma hierarquia entre as pessoas que dirigiam os bacanais: bacantes, sacerdotes, mestres, ministros, magistrados e pro-magistrados eram os cargos ali assumidos. O elemento preponderante era composto por sacerdotes (a maioria sacerdotizas) e bacantes: aqueles faziam as invocações a Dionísio e estas realizavam as danças e orgias sexuais. A reação das autoridades romanas contrárias ao culto de Dionísio foi decorrente de uma explosão de orgias sexuais coletivas que tomou conta da sociedade: uma rejeição natural talvez exigida pela opinião contrária de outros povos que viam naquilo uma decadência do povo romano.
Os rituais, porém, chegavam ao seu auge com uma possessão demoníaca. As bacantes ou mesmo alguns dos assistentes entravam em “êxtase” , debatiam-se possuídos por Dionísio e “profetizavam” para o povo. No início, ou antes do ritual, as bacantes tinham que passar por um período de abstinência sexual, “castidade” segundo eles, mas quando se iniciava a cerimônia começavam a beber e dançar, entrando logo em transe. O aspecto dos que ficavam possuídos era semelhante aos loucos ou epilépticos. Vinham em seguida os atos de luxúria coletivos, tanto entre pessoas de sexos oposos quanto do mesmo sexo. Praticava-se uma espécie de erotismo de grupo, com o agravante do homossexualismo desenfreado.
Uma questão interroga os historiadores: por que o culto de Baco ou de Dionísio se iniciou e se propagou mais especialmente através das mulheres? Segundo Tivo Lívio, enquanto os homens iam sempre para a guerra (principalmente os da classe mais voltada para isto), ficavam as mulheres casadas muito solitárias e ociosas aguardando o retorno dos maridos. Assim, procuravam um modo de ocupar sua ociosidade e aderiam facilmente a tais cultos, especialmente porque seus “conselheiros” e até mesmo amantes, na falta da classe militar ou nobre (ausentes por causas de suas atividades), eram os homens das classes mais baixas, alguns até mesmo escravos. Encontraram, portanto, nos rituais dionísicos uma evasão de seus baixos instintos e uma realização promíscua de suas fantasias amorosas. Tito Lívio cita o nome de uma ex-escrava, Hispala, que tornou-se sacerdotiza entre eles, sendo lembrada porque foi perseguida e presa.
O culto de Baco e de Dionísio propagou-se por todo o Mediterrâneo e vigirou por muitos anos, só extinguindo-se completamente com o advento do Cristianismo e a conversão daqueles povos. De nada adiantaram as proibições e perseguições das autoridades romanas que, aliás, eram muito benevolentes, estabelecendo inclusive que as penas aos infratores seriam aplicadas pelos pais, mestres ou por pequenas autoridades fáceis de serem corrompidas. Difrerentemente daquela que moveram contra os Cristãos...
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