“Comentando a célebre palavra de Terêncio: “a verdade engendra o ódio”, Santo Agostinho (“Confissões”, livro X, cap. XXIII) pergunta como explicar fato tão ilógico.
“Com efeito, diz ele, o homem ama naturalmente a felicidade. Ora, esta é a alegria nascida da verdade. Assim é uma aberração que alguém veja um inimigo no homem que prega a verdade em nome de Deus.
“Assim enunciado o problema, o Santo Doutor passa à explicação. A natureza humana é tão propensa à verdade que, quando o homem ama algo de contrário à verdade, ele quer que este algo seja verdadeiro. Com isto, cai em erro, persuadindo-se de que é verdadeiro o que na realidade é falso.
“Assim, cumpre que alguém lhe abra os olhos. Ora, como o homem não admite que se lhe mostre que se enganou, por isto mesmo não tolera que se lhe demonstre qual o erro em que está.
“E o Doutor de Hipona observa: Por esta forma, certos homens odeiam a verdade, por amor daquilo que eles tomaram por verdadeiro! Da verdade eles amam a luz, não porém a censura... Eles a amam quando ela se lhes mostra, eles a odeiam quando ela lhes faz ver o que eles são.
“Por sua deslealdade, tais homens sofrem da verdade a seguinte punição: eles não querem ser desvendados por ela, e sem embargo ela os desvenda. E contudo ela, a verdade, continua velada aos olhos deles. “É assim, é assim, é precisamente assim que é feito o coração humano. Cego e preguiçoso, indigno e desonesto, ele se oculta, mas não admite que nada lhe seja ocultado. Assim lhe sucede que ele não consegue fugir dos olhos da verdade, mas a verdade foge dos olhos dele”. Com estas palavras conclui Santo Agostinho o seu magistral comentário”.
(artigo “Por que a verdade desperta o ódio”, “Folha de São Paulo”, 23-04-1972, de Plínio Corrêa de Oliveira)
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