quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

NOVENA DO SANTO NATAL REVELADA À SERVA DE DEUS LUÍSA PICCARRETA

 



Novena do Santo Natal. 

Com a idade de dezessete anos me preparei para a festa do Santo Natal praticando diferentes atos de virtude e mortificação, honrando especialmente os nove meses que Jesus esteve no seio materno com nove horas de meditação ao dia, referentes sempre ao mistério da Encarnação.

1º. – Como por exemplo, numa hora punha-me com o pensamento no paraíso e me imaginava a Santíssima Trindade: O Pai que mandava o Filho à terra, o Filho que prontamente obedecia ao Querer do Pai, e o Espírito Santo que consentia nisso. Minha mente se confundia tanto ao contemplar um mistério tão grande, um amor tão recíproco, tão igual, tão forte entre Eles e pelos homens, e na ingratidão destes, especialmente a minha, que nisto teria ficado não uma hora mas todo o dia, porém uma voz interior me dizia:

“Basta, vem e olha outros excessos maiores de meu Amor.”

2º. – Então minha mente se punha no seio materno e ficava estupefata ao considerar aquele Deus tão grande no Céu e agora tão humilhado, apequenado, restringido, que quase não podia mover-se, nem sequer respirar. A voz interior me dizia:

“Vês quanto te tem amado? Ah, dai-me lugar em teu coração, tira tudo o que não é meu, porque assim me dará mais facilidade para poder me mover e respirar.”

Meu coração se desfazia, lhe pedia perdão, prometia ser toda sua, me desafogava em pranto, sem embargo o digo para minha confusão voltava a meus habituais defeitos. Oh, Jesus, quão bom tens sido com esta miserável criatura!

3º. – “Filha minha, apoia tua cabeça sobre o seio de minha Mãe, olha dentro dele minha pequena Humanidade. Meu amor me devorava, os incêndios, os oceanos, os mares imensos do Amor de minha Divindade me inundavam, me incendiavam, levantavam tão alto suas chamas que se elevavam e se estendiam por toda parte, a todas as gerações, desde o primeiro até o último homem, e minha pequena Humanidade era devorada em meio de tantas chamas, porém sabes tu que coisa me queria fazer devorar meu eterno Amor? Ah, as almas! E somente estive contente quando as devorei todas, ficando todas concebidas comigo; era Deus, devia operar como Deus, devia toma-las todas; meu Amor não me haveria dado paz se houvesse excluído alguma. Ah, filha minha, olha bem no seio de minha Mãe, fixa bem os olhos em minha Humanidade concebida e n’Ela encontrarás a tua alma concebida comigo e também as chamas de meu Amor que te devoram. Oh, quanto te tenho amado e te amo!”

Eu me perdia no meio de tanto amor, não sabia sair daí, porém uma voz me chamava forte dizendo-me:

“Filha minha, isto é nada ainda, estreita-te mais a Mim, dá tuas mãos à minha amada Mãe a fim de que te tenha apertada sobre seu seio materno, e dê outra olhada para minha pequena Humanidade concebida e veja e quarto excesso de meu Amor.”

4º. – “Filha minha, do amor devorante passa a olhar meu amor operante. Cada alma concebida me trouxe o fardo de seus pecados, de suas fraquezas e paixões, e meu Amor ordenou-me carregar o fardo de cada um, e não só concebi as almas senão as penas de cada uma, as satisfações que cada uma delas devia dar a meu Pai Celestial. Assim é que minha Paixão foi concebida junto comigo. Veja-me bem no seio de minha Mãe Celestial, oh como minha pequena Humanidade era desprezada, olha bem como minha pequena cabecinha está circundada por uma coroa de espinhos, que cingindo-me forte as faces me fez derramar rios de lágrimas dos olhos, e não posso mover-me para secá-las. Ah, move-te a compaixão de Mim, seca-me os olhos de tanto pranto, tu que tens os braços livres para me poder fazê-lo. Estes espinhos são a coroa dos tantos pensamentos maus que se avolumam nas mentes humanas, oh, como me espinham mais estes  pensamentos do que os espinhos que procedem da terra, porém vede quão demorada crucifixão de nove meses, não podia mover nem um dedo, nem uma mão, nem um pé, estava aqui sempre imóvel, não havia lugar para poder mover-me um pouquinho, quão longa e dura crucifixão, com o acréscimo de todas as más obras tomando forma de cravos, traspassam-me mãos e pés repetidamente”. E assim continuava narrando-me pena por pena todos os martírios de sua pequena Humanidade, e que deseja-las dizer todas seria demasiado extenso. Antão eu me abandonava ao choro, e ouvia dizer em meu interior:

“Filha minha, quisera abraçar-te mas não o posso fazer, não há espaço, estou imóvel, não o posso fazer; quisera ir a ti mas não posso caminhar. Abraça-me por ora e bem a Mim, , e depois quando saia do seio materno Eu irei a ti.”

Mas enquanto com minha fantasia o abraçava, O estreitava fortemente a meu coração, uma voz interior me dizia:

“Basta por agora, filha minha, e passa a considerar o quinto excesso de meu Amor.”

5º. – Então a voz interior continuava: ‘Filha minha, não te afastes de Mim, não me deixes só, meu Amor quer companhia, este é outro excesso de meu Amor, o não querer estar só. Porém sabes tu de quem quer esta companhia? Da criatura. Veja, no seio de minha Mãe, estão comigo todas as criaturas concebidas junto comigo. Eu estou com elas todo amor, quero dizer-lhes quanto as amo, quero falar com elas para dizer-lhes minhas alegrias e minhas dores, para dizer-lhes que vim para o meio delas para fazê-las felizes, para consolá-las, e que estarei no meio delas como um irmãozinho dando a cada uma todos meus bens, meu reino, ao custo de minha morte; quer dar-lhes meus beijos, minhas carícias; quero entreter-me com elas, mas, ai!, quantas dores me dão, de mim fogem, se fazem de surdas e me reduzem ao silêncio, desprezam meus bens e não se preocupam com meu reino e correspondem a meus beijos e carícias com o desleixo e o esquecimento de Mim, e meu entretenimento o convertem em amargo pranto. Oh, como estou só, apesar de estar no meio de tantos! Oh, como me pesa minha solidão! Não tenho a quem dizer uma palavra, com quem fazer um desabafo de amor; estou sempre triste e taciturno porque se falo não sou escutado. Ah, filha minha, te peço, te suplico que não me deixes só em tanta solidão! Dai-me o prazer de fazer falar com o escutar-me, presta atenção aos meus ensinamentos, Eu sou o mestre dos mestres. Quantas coisas quero ensinar-te, se me escutas me farás deixar de chorar e me entreterei contigo. Não queres tu entreter-me comigo?

E enquanto me abandonava n’Ele, compadecendo em sua solidão, a voz interior continuava: “Basta, basta, passa a considerar o 6º excesso de Amor.”

6º. – “Filha minha, vem, roga à minha amada Mãe que te faça um lugarzinho em seu seio materno, a fim de que tu mesma vejas o estado doloroso no qual me encontro.”

Então me parecia com o pensamento que nossa Rainha Mãe, para contentar a Jesus, me fazia um pequeno lugar e me punha dentro. Porém era tal e tanta a escuridão que não o via, somente ouvia seus suspiros e Ele em meu interior continuava dizendo-me:

“Filha minha, veja outro excesso de meu Amor. Eu sou a luz eterna, o sol é uma sombra de minha luz, mas vede onde há conduzido meu Amor, em quão escura prisão estou, não há um raio de luz, sempre é noite para Mim, mas noite sem estrelas, sem repouso, sempre acordado, que pena!, o aperto da prisão, sem poder minimamente me mover, as trevas fechadas; até o respirar faço-o por meio do respiro de minha Mãe, oh!, como é cansativo! E ademais se acrescenta as trevas das culpas das criaturas, cada culpa era uma noite para Mim, as quais unindo-se todas formavam um abismo de escuridão sem fim. Que pena! Oh excesso de meu Amor, fazer-me passar de uma imensidão de luz, de amplidão, para uma profundidade de densas trevas e de tais apertos, até faltar-me a liberdade de respirar, e isto tudo por amor das criaturas!”

E enquanto isto dizia gemia com gemidos sufocados por falta de espaço, e chorava. Eu me desfazia em pranto, lhe agradecia, o compadecia, queria trazer-lhe um pouco de luz com meu amor como Ele me dizia, mas quem pode dizê-lo tudo? A mesma voz interior acrescentava:

“Basta por hora. Passa ao sétimo excesso de meu Amor.”

7º. – A voz interior continuava: “Filha minha, não me deixes só em tanta solidão e em tanta escuridão, não saias do seio de minha Mãe para que vejas o sétimo excesso de meu Amor. Escuta-me, no seio de meu Pai Celestial Eu era plenamente feliz, não havia bem que não possuísse, alegria, felicidade, tudo estava a minha disposição; os anjos reverentes me adoravam e estavam sob minhas ordens. Ah, o excesso de meu Amor, poderia dizer que me fez mudar fortuna, me restringiu nesta tétrica prisão, despojou-me de todas minhas alegrias, felicidade e bens para vestir-me com todas as infelicidades das criaturas, e tudo isto para fazer a transformação,  para dar a elas minha riqueza, minhas alegrias e minha felicidade eterna. Mas isto não teria sido nada se não houvesse encontrado nelas suma ingratidão e obstinada perfídia. Oh, como meu amor eterno  ficou surpreendido ante tanta ingratidão e chorou a obstinação e perfídia do homem. A ingratidão foi a espinha mais pungente que me traspassou o coração desde minha concepção até o último instante de minha Vida, até minha morte. Vede meu coraçãozinho, está ferido e goteja sangue. Que pena! Que dor sinto! Filha minha, não sejas ingrata; a ingratidão é a pena mais dura para teu Jesus, é fechar-me na cara as portas para deixar-me fora, tiritando de frio. Porém, ante tanta ingratidão meu Amor não se deteve e se pôs em atitude de amor suplicante, orante, gemente e mendicante, e este é o oitavo excesso de meu Amor.”

8º.- “Filha minha, não deixes só, apoia tua cabeça sobre o seio de minha amada Mãe, porque do lado de fora ouvirás meus vagidos, minhas súplicas, e vendo que nem meus gemidos nem minhas súplicas movem à compaixão de meu Amor a criatura, ponho-me em atitude do mais pobre de todos os mendigos e estendendo minha pequena mãozinha, peço por piedade, ao menos a título de esmola, suas almas, seus afetos e seus corações.. Meu amor queria vencer a qualquer custo o coração do homem, e vendo que depois de sete excessos de meu Amor permanecia indiferente, se fazia de surdo, não se ocupava de Mim nem se queria dar a Mim, meu Amor quis ir mais além, deveria fazer-se imóvel, mas não, quis ir além de seus limites e desde o seio de minha Mãe Eu fazia chegar a minha voz a cada coração com os modos mais insinuantes, com os rogos mais ferventes, com as palavras mais penetrantes. Sabes o que lhes dizia? “Filho meu, dai-me teu coração, tudo o que quiseres Eu te darei contanto que me dês em troca teu coração, desci do Céu para conquista-lo, ah!, não me o negues! Não frustre minhas esperanças!’ E vendo-o indiferente e que muitos me voltavam as costas, passava aos gemidos, juntava meus pequenos cueiros e chorando, com voz sufocada pelos soluços acrescentava: “Ai, ai!, sou o pequeno mendigo, nem sequer de esmola queres dar-me teu coração?” Não é isto um excesso maior de meu Amor, que o Criador para aproximar-se da criatura tome a forma de um pequeno menino para não infundir-lhe temor, e peça ao menos como esmola o coração da criatura, e vendo que ela não o quer dar, geme e chora?”

Depois me dizia: “E tu não queres dar-me teu coração? Talvez também tu queres que gema, que rogue e chore para que me dês teu coração? Queres negar-me a esmola que te peço?”

E enquanto isto dizia ouvia como se soluçara, e eu lhe disse: “Meu Jesus, não chores, te dou meu coração e toda eu mesma”. Então a voz interior continuava: “Segue mais adiante, e passa a nono excesso de meu Amor.”

9º. – “Filha minha, meu estado é sempre mais doloroso; se me amas, tem fixa tua mirada em Mim para que vejas se podes dar a teu pequeno Jesus algum consolo, uma palavrinha de amor, uma carícia, um beijo, que dê trégua a meu pranto e às minhas aflições. Escuta filha minha, depois de haver dado oito excessos de meu Amor, e que o homem tão malmente me correspondeu, meu Amor não seu por vencido, e ao oitavo excesso quis acrescentar o nono, e este foram as ânsias, os suspiros de fogo, as chamas dos desejos de que queria sair do seio materno para abraçar ao homem, e isto reduzia a minha pequena Humanidade ainda não nascida a uma agonia tal, que estava a ponto de dar meu último suspiro. E enquanto estava por dá-lo, minha Divindade que era inseparável de Mim me dava sorvos de vida, e assim retomava de novo a vida para continuar minha agonia e voltar a morrer novamente. Este foi o nono excesso de meu Amor, agonizar e morrer continuamente de amor pela criatura. Oh, que larga agonia de nove meses! Oh, como o amor me sufocava e me fazia morrer! E se não houvesse tido a Divindade comigo, que me dava continuamente a vida cada vez que estava para morrer, o amor me teria consumado antes de sair à luz do dia”. Depois acrescentava:

“Olha-me, escuta-me como agonizo, como meu pequeno coração bate, se afana, arde; olha-me, agora morro.”

E fazia um profundo silêncio. Eu me sentia morrer, se me gelava o sangue nas veias e tremendo lhe dizia: “Amor meu, Vida minha, não morras, não me deixes só. Quereis amor e eu vos darei, não vos deixarei mais, dai-me vossas chamas para poder amar-vos mais e consumar-me toda em Vós”.

(Transcrito de “Memórias da Serva de Deus Luísa Piccarreta” – “A Pequena Filha da Divina Vontade” – págs. 146/155

 

 

 


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