sábado, 19 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXI)

 

 


 Sábado da terceira semana

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - O ORVALHO CELESTIAL

 “Céus, manda o orvalho do alto, e as nuvens chovem sobre os justos; abra-se a terra, e brotam ao Salvador” (Is 45,8). Aqui, o profeta anuncia três coisas sobre o nascimento de Cristo, a saber: o início do nascimento, o próprio nascimento daquele dado a luz e o fruto desse nascimento.

I. O princípio é triplo.

O primeiro é o céu que destila o orvalho, como princípio efetivo, isto é, a operação das três Pessoas, para as quais se diz céus no plural. O Pai enviando o Filho; o Filho se encarnando; o Espírito Santo realizando a concepção em Maria.

O segundo princípio é a nuvem de chuva, que é o início de preparação na qual entra o mistério do anjo anunciador: fazendo as nuvens, o seu carro (Sl 104,3).

O terceiro princípio é a terra fértil, que é o princípio da concepção, a saber, a Santíssima Virgem, de quem se diz: “Nossa a terra produzirá seus frutos” (Sl 84, 13), e cujo coração se abrirá para receber o privilégio da graça: “Não temas, Maria, porque encontraste a graça” (Lc 1, 30). Seu entendimento se abrirá para acreditar nas palavras do anjo; e seu seio para conceber o Filho de Deus.

II. O nascimento é comparado ao orvalho, chuva e germe; porque Cristo é orvalho para refrescar, como uma nuvem de orvalho no calor da colheita (Is 18, 4) É chuva para fertilizar: “descerá como chuva sobre a prole” (Sl 71, 6). “E como a chuva e a neve descem dos céus e não voltam lá, mas encharcam a terra, fertilizam e fazem germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, assim será a minha palavra, sai da minha boca, que não vai voltar para mim vazia, mas eu fiz o que fiz e  quis e consegui o que a mandei” (Is 55,10-11). É por último germe para dar fruto: “E levantarei a Davi um germe justo” (Jer 23: 5).

III. O fruto do nascimento de Cristo é a justiça, que nasce com ele de três formas: já a cumpriu com a obra: “Porque é assim que nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3,15); e para o qual ele ensinou com as palavras: “Eu sou o que faço justiça e combato para salvar” (Is 63,1); para o qual ele deu como uma dádiva: “o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e santificação e justificação e redenção; assim como está escrito: Que ele se glorie, glorie-se no Senhor” (1 Cor 1, 30-31). (In Is., cap. 45).

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA DE NATAL

4º Dia

 Dolor meus in conspectu meo semper. A minha dor está sempre ante os meus olhos (Sl 37,18).

Considera que, desde o primeiro instante em que foi criada a alma de Jesus Cristo e unida ao corpo no seio de Maria, o eterno Padre intimou a seu Filho a ordem de sacrificar sua vida pela redenção do mundo, e que ao mesmo tempo lhe pôs ante os olhos o espetáculo aflitivo de todas as penas que devia sofrer até a morte para salvar os homens. Mostrou-lhe então os sofrimentos, as humilhações, a pobreza que teria de suportar durante toda a sua vida em Belém, no Egito, em Nazaré, e depois todas as dores e todas as ignomínias de sua paixão, os flagelos, os espinhos, os cravos, a cruz, e os enfados, as tristezas, as agonias, os abandonos, em que terminaria sua vida sobre o Calvário. Quando Abraão conduziu seu filho à morte, não quis afligi-lo antes, nem mesmo no pouco tempo necessário para chegar à montanha, e guardou em segredo o seu intento; mas o Pai celeste quis que seu Filho encarnado, vítima destinada a satisfazer à sua justiça por todos os pecados, sofresse antecipadamente todas as penas a quem devia submeter-se durante a sua vida e na sua morte. Assim essa cruel tristeza que Jesus provou no jardim das Oliveiras, e que bastava como ele mesmo declarou para lhe tirar a vida, ele a suportou continuamente desde o primeiro momento de sua existência no seio de Maria; e desde então ele sentiu e sofreu vivamente e em seu conjunto o peso de todas as dores e de todos os opróbrios que o aguardavam. Toda a vida e todos os anos de nosso divino Redentor foram pois uma vida e anos de dores e lágrimas: A minha vida vai-se consumindo com a dor, e os meus anos com os gemidos. O seu adorável coração não ficou isento de penas nem um instante: velando e dormindo, trabalhando e descansando, orando e conversando tinha sempre diante dos olhos essa cruel representação, que mais atormentava a sua alma do que todos os tormentos dos mártires os fizeram sofrer. Os mártires sofreram, mas ajudados pela graça suportaram seus tormentos com a consolação e a alegria que o fervor proporciona; Jesus Cristo sofreu, mas sempre com um coração cheio de tédio e tristeza, e tudo aceitou por amor de nós.

 Afetos e Súplicas.

 Ó doce, ó amável, ó amante coração de Jesus, fostes desde a infância repleto de amarguras e agonizastes no seio de Maria, sem nenhum alívio e sem que ninguém visse a vossa pena e vos consolasse com sua compaixão! sofrestes tudo isso, ó meu Jesus, a fim de me livrar da agonia eterna que me aguardava no inferno em punição dos meus pecados. Sofrestes um duro abandono, a privação de todo socorro a fim de salvar a mim que tive a audácia de abandonar a Deus e de lhe voltar as costas, para contentar minhas más inclinações. Agradeço-vos, ó Coração aflito e amoroso de meu Senhor! Agradeço-vos e me compadeço das vossas dores, mormente ao ver a insensibilidade dos homens diante de tudo o que sofreis por seu amor. Ó amor de Jesus! ó ingratidão dos homens! — Ó homens! olhai inocente Cordeiro agonizando por vós, a fim de satisfazer à justiça divina por vossas ofensas; vede-o orando e intercedendo por vós junto de seu Pai eterno; vede-o e amai-o. — Ah! meu Redentor, quão poucos são os que pensam em vossas dores e em vosso amor! ah! quão poucos são os que o amam! Infeliz de mim! tive a desgraça de viver muito tempo sem pensar em vós! sofrestes tanto para ser amado por mim, e eu vos não tenho amado! perdoai-me, meu Jesus, perdoai-me; quero corrigir-me e quero amar-vos de hoje em diante. Quão infeliz seria, Senhor, se resistisse ainda à vossa graça e assim me condenasse! Todas as misericórdias que tendes usado para comigo e particularmente esse doce convite com que neste momento me fazeis para amar-vos, seriam meu maior suplício no inferno. Meu amado Jesus, tende piedade; não permitais que eu responda ainda ao vosso amor com ingratidão; esclarecei-me e dai-me a força de vencer tudo para cumprir a vossa santa vontade. Atendei-me, vo-lo suplico pelos méritos de vossa paixão, na qual ponho toda a minha confiança.

Ó Maria, minha querida Mãe, socorrei-me: vós é que me tendes obtido todas as graças que tenho alcançado de Deus; eu vos agradeço; mas se me não continuardes a proteger continuareis a ser infiel como no passado.

 (SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.164/166)

 

 

 


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