domingo, 20 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXII)

 



Quarto domingo do Advento

 A PREPARAÇÃO PARA O NATAL COMEÇA COM A VIRTUDE DA VIGILÂNCIA

"Portanto, da mesma forma que preparamos nossas almas para o nascimento do Menino Jesus na noite de Natal, coloquemo-nos também, segundo o Evangelho de hoje [I Domingo do Advento, Mt 24, 37-44], diante de outro panorama grandioso: aquele em que Deus intervirá a fim de conceder a Nossa Senhora, nesta Terra, a glória que o Pai, o Filho e o Espírito Santo Lhe dão no Céu.

Na expectativa dessa vitória da Santa Igreja permaneçamos vigilantes! Vigiar significa nunca ceder a nada que o demônio possa nos propor. Vigiar significa estar atento, com os olhos abertos, analisando bem de onde vêm os perigos. Vigiar significa arrancar energicamente, sem contemporizações, qualquer raiz do pecado que haja em nós. Tudo o que implica risco para a salvação eterna e para a nossa santificação deve ser cortado, fazendo todo o esforço para perseverar no caminho da perfeição, com vistas a não atrasar o dia magnífico em que Maria Santíssima dirá: “O meu Imaculado Coração triunfou!”

 (“O Inédito sobre os Evangelhos”, Mons. João Scognamiglio Clá Dias,EP, vol. I, Libreria Editrice Vatcana , pág. 24)

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 – ENCARNAÇÃO ADMIRÁVEL DO FILHO DE DEUS

 I. Este mistério excede principalmente a razão humana entre todas as obras divinas; pois nada pode ser considerado mais admirável entre obras de Deus como o Filho de Deus, verdadeiro Deus, tenha se tornado verdadeiro homem. E porque isso é o mais admirável de todas as coisas, segue-se que todas as outras maravilhas são ordenadas à fé deste grande mistério, em virtude do princípio de que o primeiro em um gênero é a causa dos demais.

II. Confessamos esta admirável encarnação de Deus, ensinada pela autoridade divina, pois está dito: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14). As mesmas palavras também mostram isso abertamente de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando fala de si mesmo coisas humildes e humanas, dizendo: “O Pai é maior do que eu (Jo 14,28)”, e: “Minha alma está triste até a morte” (Mt 26,38), tudo o que lhe é conveniente por causa da sua humanidade; e sempre dizia coisas sublimes e divinas sobre si mesmo: “Eu e o Pai somos uma coisa só” (Jo 10:30). “Todas as coisas que o Pai tem são minhas” (Jo 16, 15). Tudo isso certamente corresponde a ele de acordo com sua natureza divina.

Isso também é provado pelos fatos do Senhor que são lidos sobre Ele, por ter tido medo, por ter ficado triste, por ter fome, por morrer, eles manifestam sua natureza humana; e quando ele curou o doente com seu próprio poder e ressuscitou os mortos e efetivamente se impôs aos elementos do mundo, e expulsou demônios, e perdoou pecados, quando ressuscitou os mortos por sua própria vontade e ascendeu finalmente ao Céus, ele demonstrou sua virtude divina. (Contra os gentios, lib. IV, cap. XXVII)

III. Entre todas as criaturas, não há nada tão semelhante a esta união do natureza divina e humana na Encarnação como a união da alma e Corpo. Por isso Santo Atanásio diz: “Assim como a alma racional e a carne formam um homem, da mesma forma que Deus e o Homem são um Cristo. Mas a semelhança não consiste em que a alma racional se una ao corpo como a matéria; porque assim seria formado de Deus e do homem uma só natureza."

Podemos usar essa comparação no sentido de que a alma se une ao corpo como um instrumento. E, de fato, os doutores consideraram a natureza humana em Cristo como uma espécie de órgão da divindade, assim como o corpo é considerado um órgão da alma. Mas o corpo é um órgão da alma de uma maneira diferente de instrumentos externos. O enxó[1] não é um instrumento da alma assim como a mão, porque a mão é um órgão ligado a ela e seu próprio, em vez o enxó é um instrumento extrínseco e comum.

A união de Deus e do homem pode ser considerada desta forma: todos os homens podem ser considerados instrumentos com os quais Deus opera. Pois Ele é aquele que opera em nós tanto para querer como para executar. Cada homem, com respeito a Deus, é um instrumento externo e separado, porque é movido por Deus não para suas próprias operações, mas para operações comuns a toda natureza racional, como a compreensão da verdade, amar o que é bom e fazer o que é justo. Mas, pelo contrário, a natureza humana de Cristo executa instrumentalmente as operações próprias só de Deus, como purificar pecados, iluminar mentes com a graça e introduzir na perfeição da vida eterna.

A natureza humana de Cristo é, com respeito a Deus, como seu  próprio e unido instrumento, como a mão para a alma. Este exemplo não dá uma semelhança completa, uma vez que deve ser entendido que o Verbo de Deus uniu a natureza humana de uma forma mais sublime e íntima. (Contra os gentios, lib. 4, cap. 41)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

  

MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA DO NATAL

 5º Dia

 Oblatus est, quia ipse voluit. Foi oferecido porque ele mesmo quis (Is 53,7).

Desde o primeiro instante que o Verbo divino se viu feito homem e criança no seio de Maria, ofereceu-se sem reserva aos sofrimentos e à morte, para resgatar o mundo: Foi oferecido porque Ele mesmo quis. Sabia que todos os sacrifícios de bodes e touros, oferecidos a Deus no passado, não podiam satisfazer pelos pecados dos homens, que só uma pessoa divina podia pagar o preço de sua redenção: Eis por que, escreve São Paulo, desde sua entrada no mundo Ele diz: Não quisestes hóstia nem oblação, mas me formastes um corpo... Então eu disse: Eis-me que venho. Meu Pai! todas as vítimas que vos foram oferecidas até agora, não foram suficientes e não podiam sê-lo para desarmar vossa justiça; destes-me este corpo passível a fim de que pela efusão do meu sangue eu vos aplaque e salve os homens. Eis-me pronto: Ecce venio; aceito tudo e me submeto em tudo à vossa santa vontade.
É certo que a parte inferior sentia repugnância; recusava-se naturalmente a viver e morrer no meio de tantos sofrimentos e opróbrios; mas a vitória coube à parte racional, que estava inteiramente submissa à vontade de Deus, e Jesus aceitou tudo, começando desde então a sofrer todas as angústias e dores que devia suportar no decorrer de sua vida. Eis o que fez por nós nosso divino Redentor desde o primeiro momento de sua entrada no mundo. Mas nós, grande Deus, como nos temos portado para com Jesus, depois que, chegados ao uso da razão, começamos a conhecer pelas luzes da fé os santos mistérios da redenção? quais foram os nossos pensamentos, as nossas ocupações? que bens temos nós amado? Os prazeres, os divertimentos, o orgulho, a vingança, a sensualidade, eis os bens que prenderam os afetos do nosso coração. Mas, se temos fé, havemos enfim de mudar de conduta e amar outra coisa. Amemos um Deus, que tanto sofreu por nós. Ponhamos ante os nossos olhos as penas que o coração de Jesus suportou por nós desde a infância, e não poderemos amar outra coisa fora desse coração que nos amou tanto.


Afetos e Súplicas.

 Senhor, quereis saber como me tenho comportado para convosco durante a minha vida? Desde que comecei a ter o uso da razão, comecei a desprezar a vossa graça e o vosso amor. Ah! vós o sabeis melhor do que eu; mas vós me tendes suportado, porque ainda me quereis bem. Eu vos fugia e vós não cessáveis de me perseguir chamando-me. O mesmo amor que vos fez descer do céu à procura das ovelhas perdidas, vos fez suportar as minhas infidelidades e não vos permitiu abandonar-me. Agora, meu Jesus, vós me buscais e eu também vos busco; sinto que vossa graça me assiste: ela me assiste inspirando-me uma viva dor de meus pecados, que detesto sobre todas as coisas; ela me assiste fazendo nascer em mim um grande desejo de vos amar e de vos agradar. Sim, Senhor, quero amar-vos e agradar-vos quanto posso. Temo, é verdade, devido à minha fragilidade e fraqueza que contraí por meus pecados; mas o meu temor cede à confiança que me vem da vossa graça e que, apoiando-se em vossos méritos, me enche de coragem e me faz dizer com o apóstolo: Tudo posso naquele que me conforta. Se sou fraco, vós me dareis força contra os meus inimigos; se sou enfermo, espero que vosso sangue será o meu remédio; se sou pecador espero que me tornareis santo. Reconheço que no passado vos perdi por ter deixado de recorrer a vós nos perigos; doravante, meu Salvador e minha esperança, estou resolvido a recorrer sempre a vós, e espero de vós todos os socorros necessários e todos os bens. Amo-vos sobre todas as coisas e quero amar a vós só; ajudai-me por piedade, pelo mérito de tantas penas suportadas por mim desde a vossa infância. — Padre eterno, pelo amor de Jesus Cristo, permiti que vos ame. Se vos irritei, aplaquem-vos as lágrimas de Jesus Menino, que vos pede por mim: Olhai para a face do vosso Cristo. Sou indigno das vossas graças, mas vosso Filho inocente as merece por mim, ele que vos oferece uma vida de sofrimentos a fim de que tenhais misericórdia de mim.

E vós, ó Maria, Mãe de misericórdia, não cesseis de interceder por mim. Sabeis quanto confio em vós, e eu sei que não abandonais quem a vós recorre.

 (SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.165/168)

 

 



[1] Enxó, instrumento de carpinteiro

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