quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XVIII)

 


Quarta-feira da terceira semana

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - O DOM DO FILHO DE DEUS NA ENCARNAÇÃO

 Nisto a caridade de Deus para conosco foi demonstrada, em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo; para que possamos viver para Ele (1, Jo 4, 9). Nisto, como em certo sentido, a caridade de Deus se manifestou em nós, isto é, provou-se a nós; em que ... Ele enviou seu filho, não um servo. Diz São Gregório: “Por ventura não é amor inefável de caridade que Deus, para redimir o servo, deu o seu Filho, consubstancial a si mesmo, seu Filho por natureza e não adotado? "

Unigênito e não um entre muitos, Deus Pai o enviou, isto é: Ele, tão grande, para aqueles de nós que somos tão pequenos; para o mundo, para salvar o mundo; para que possamos viver, nós que estávamos mortos, ressuscitados por Ele. Assim se lê na epístola aos de Éfeso: “Pela extrema caridade com que nos amou, mesmo quando estávamos mortos pelos pecados, Ele nos deu vida juntamente com Cristo” (Ef 2: 4-5).

Existem quatro razões pelas quais o dom deve ser grato e bem recebido.

1ª) Pelo doador; quando quem dá, dá com grande amor e dileção. Pelo qual às vezes mais se estima o afeto do doador que o dá.   Certamente, este dom foi dado a nós pela maior graça ou caridade do Pai. Este é o motivo expressado no texto: “Nisto foi demonstrada a caridade de Deus”.

2ª) Da parte do dom, ou seja, d’Aquele que é enviado; porque quando o dom é grande e precioso, tanto melhor deve ser recebido e agradar. Certamente, o dom que nos foi dado foi o maior, conforme indicado nas palavras: “ao seu Filho unigênito”.

3º) Por parte de quem recebe o dom, quando aquele a quem se outorga o dom está muito necessitado dele. Certamente precisávamos muito de tal dom, que havia de nos ressuscitar, porque estávamos mortos; que é expresso, quando diz que “vivamos por ele”.

4º) Pela Pessoa encarregada de transmitir o dom. Por que às vezes o dom adquire um valor especial pela graça pessoal do mensageiro; como nos agrada receber um presente de uma formosa jovem. E assim devemos ser gratos em receber o dom de Deus por meio da Virgem Imaculada e cheio de graça; que essas palavras nos permitem entender: “Deus enviou a seu Filho”, é claro que o enviou por meio da Virgem, como disse o Apóstolo: “Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” (Gal 4, 4). (Em Iam Joan., IV)

  (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA DE NATAL

 1º Dia 

 

Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea usque ad extremum terrae. Eu te estabeleci para luz das gentes, a fim de seres a salvação que eu envio até a última extremidade da terra (Is 49,6). 

Considera o Pai celeste dizendo estas palavras a Jesus Menino no momento de sua conceição: Meu Filho, eu te estabeleci  para luz das gentes e a vida das nações, a fim de que  lhes procureis a  salvação, que desejo tanto como se fosse a minha própria. É pois necessário  que vos dediqueis inteiramente ao bem do gênero humano: “Dado sem reserva ao homem deveis dedicar-vos inteiramente em benefício dele”. É necessário que sofrais uma pobreza extrema desde o vosso nascimento a fim de que o homem se torne rico: Ut tua inopia dites. É necessário que sejais vendido como um escravo para pagardes a liberdade do homem, e que, como escravo, sejais flagelado e crucificado a fim de satisfazer à minha justiça pelas penas devidas  aos homens. É necessário que deis vosso sangue e vossa vida para livrar o homem da morte eterna. Numa palavra, sabei que não sois mais vosso mas do homem, segundo a palavra de Isaías: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um filho. Assim, meu caro Filho, o homem se sentirá constrangido a amar-me e a dar-se a mim, ao ver que vos dou todo a ele, vós meu único Filho, e que me não resta mais nada a dar-lhe. Eis até onde chegou o amor de Deus aos homens! Ó amor infinito, digno somente dum Deus infinito! Jesus mesmo disse: Deus amou de tal modo o mundo que deu por ele seu unigênito Filho. A essa proposta Jesus Menino não se entristece, antes se alegra, aceita-a com amor e exulta: Dá saltos como gigante para percorrer o seu caminho. Desde o primeiro instante de sua encarnação, Ele se dá todo ao homem e abraça com alegria todas as  dores e humilhações que deve sofrer no mundo por amor dos homens. Essas foram, diz São Bernardo, as montanhas e as colinas escarpadas que Jesus Cristo teve de escalar para salvar os homens: Ei-lo aí vem saltando sobre os montes, atravessando os outeiros. Notemos bem: enviando-nos seu Filho como Redentor e Mediador de paz entre Ele e os homens, Deus Padre obrigou-se de certo modo a perdoar-nos e a amar-nos; entre o Pai e o Filho interveio um  pacto em virtude do qual o Pai devia receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satisfaça por nós à divina justiça, de seu lado, o Verbo, digo, também se obrigou a amar-nos, não por causa do nosso mérito, mas para cumprir a misericordiosa vontade de seu Pai.

 Afetos e Súplicas.

Meu caro Jesus, se é verdade, como a lei o declara, que se adquire o domínio pela doação, vós me pertenceis porque o vosso Pai vos deu a mim: é por mim que nascestes, a mim fostes dado: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho. Posso pois dizer: Meu Jesus e meu tudo. Já que sois meu, todos os bens me pertencem. O vosso apóstolo me assegura: Como não nos dará também com ele todas as coisas? Por isso, meu é o vosso sangue, meus os vossos méritos,  minha a vossa graça, meu o vosso paraíso. E se sois meu, quem poderá jamais arrancar-vos de mim? Ninguém poderá tirar-me o meu Deus. Assim dizia com júbilo Santo Antão Abade; assim também quero dizer no futuro. É verdade que vos posso perder ainda e afastar-me de vós pelo pecado; mas, ó meu Jesus, se no passado vos abandonei e perdi, arrependo-me agora de toda a minha alma, e estou resolvido a perder tudo, a própria vida, antes que tornar a perder-vos, ó Bem infinito e único amor de minha alma. — Agradeço-vos, Pai eterno, por me terdes dado vosso Filho; e já que mo destes todo, eu miserável dou-me todo a vós. Pelo amor desse Filho adorável, aceitai-me e prendei-me com cadeias de amor a meu Redentor, mas prendei-me tão estreitamente que possa dizer com o apóstolo: Quem me poderá ainda separar de meu Jesus? — E vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo o que me pertence como vos aprouver. E como poderia eu recusar alguma coisa a um Deus que me não recusou o seu sangue e a sua vida?

Maria, minha Mãe, guardai-me sob vossa proteção. Já não quero ser meu, quero ser todo do meu Senhor. A vós compete tornar-me fiel, confio em vós.

 

(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 157/159)

 


Nenhum comentário: