domingo, 13 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XV)

 




Terceiro domingo do Advento

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - FOI CONVENIENTE PARA O FILHO DE DEUS ASSUMIR A NATUREZA HUMANA DA RAÇA DE ADÃO

 I. Como diz Santo Agostinho[1] : “Deus poderia tomar um homem da estirpe de Adão, que acorrentou a humanidade ao pecado; julgou que era melhor retirá-lo da mesma linhagem que havia sido derrotada para derrotar o inimigo da humanidade. "E isso por três razões:

1º) Porque parece próprio da justiça o dar satisfação aquele que pecou; e é por isso que era apropriado que da natureza corrompida pelo pecado se tirasse o que serviria para satisfazer toda a natureza.

2º) Porque é mais digno do homem que saia o vencedor do diabo da raça que havia sido derrotada pelo diabo.

3º) Porque o poder de Deus mais resplandece tomando a natureza corrompida e enferma para elevá-la a tal perfeição e dignidade. Cristo, na verdade, deveria ter sido segregado dos pecadores, como disse o Apóstolo, quanto à culpa que veio destruir, não quanto à natureza que veio salvar, segundo a qual deve ter assimilado os irmãos, como o próprio apóstolo diz aos hebreus (2, 17). E é também mais para admirar sua inocência nisso, porque a natureza tirada de um raça do pecado manteve tamanha pureza. (3º, q. IV, a. VI)

II. Portanto, é muito bem dito: Ele veio para os seus, e os seus não o receberam (Jo 1,11). Mesmo que a luz estivesse presente no mundo e fosse visível ou manifesto pelos efeitos, não era, no entanto, conhecida pelo mundo, e é por isso que ela veio para o seu próprio, para ser conhecida. Mas quando diz “veio”, não se entenda movimento local, como se viesse deixando de estar onde estava antes e começando a existir onde antes não existia, disse para si mesmo, isto é, para as coisas que eram dele, que ele mesmo fez. E veio pra onde já estava; veio tomando um corpo; era invisível e veio a ser visível. Para os seus, isto é, para a Judéia, que certamente era sua de maneira especial; mas, em um sentido melhor, para o mundo criado por ele.

 “E os seus não o receberam”. "Seus" são os homens, porque foram formados por ele, foram feitos à sua imagem. Mas podemos dizer melhor: “os seus”, quer dizer, os judeus, não o receberam, acreditando nele pela fé e respeito. Os judeus são realmente “seus”, porque foram escolhidos por ele como um povo em particular: “E o Senhor escolheu hoje para sejas um povo peculiar a ele” (Dt 26:18). “Os seus”, unidos segundo a carne (Rm 4, 3): Dos quais Cristo é Dívida segundo a carne. “Os seus”, finalmente, enriquecidos por seus benefícios, conforme Isaías (1, 2): “Filhos criei e engrandeci; mas eles me desprezaram” (Em Joan., I)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

Do Ano Litúrgico de Dom Prosper Guerranger.

.Regem venturum Dominum, venite, adoremus. -  Venham, adoremos o Rei, nosso Senhor, que está por vir.

De Isaia Propheta. - Do Profeta Isaias. (Cap. Vi. Vi. Ch. Ch. Ch Vi.)

In anno quo mortuus est rex Ozias, vidi Dominum sedentem super solium excelsum et elevatum; et ea quae sub ipso erant replebant templum. Seraphim stabant super illud: sex alae uni, et sex alae alteri; duabus velabant faciem ejus, et duabus velabant pedes ejus, et duabus volabant. Et clamabant alter ad alterum, et dicebant: Sanctus, sanctus, sanctus Dominus, Deus exercituum; plena est omnis terra gloria ejus.

.No ano em que o rei Ozias morreu, vi o Senhor sentado sobre um trono alto e elevado; a orla de seu manto enchia o santuário. Serafins[2] estavam de pé acima dele. Cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, e diziam: Santo, santo, santo, o Senhor Deus dos Exércitos, toda a terra está cheia da sua glória. (Is 6. 1-4).

.Tal é a glória do Senhor nos céus mais altos: quem poderia ver e viver? Mas agora contemple este mesmo Senhor na nossa terra, durante os dias que amanheceram sobre nós. O útero de uma Virgem contém Aquele, que o céu não pode conter. Para os Anjos a sua beleza é visível, mas não os deslumbra; para os homens, nem sequer é visível. Nem uma única voz é ouvida dizendo a Ele aquelas palavras do céu: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos Anfitriões! Os Anjos já não dizem mais d’Ele: Toda a terra está cheia da sua glória; porque a terra é testemunha do Seu rebaixamento, e um rebaixamento tão abjeto e baixo, que os habitantes da terra nem sequer o conhecem. No início, só havia uma pessoa que conhecia o segredo divino - a Virgem Mãe; depois dela, Isabel foi admitida por saber que sua prima era Mãe de Deus; e depois, após as mais dolorosas e humilhantes suspeitas, o grande mistério foi revelado por um Anjo para José. Para que só três na terra saibam que Deus desceu sobre Ela! Assim humildemente Ele reentrou no mundo, depois que o pecado do orgulho o expulsou dele. Ó Deus da antiga Aliança, quão grande és! e quem não tremeria diante de Ti? Ó Deus da nova Aliança, quão pequeno Tu te fizeste! Quem não iria amar a Vós? Cura o meu orgulho, a fonte de todos os meus pecados! ensina-me a valorizar o que Vós fizestes de tanto valor. Pela Tua Encarnação, tornaste o mundo pela segunda vez; e nesta segunda criação, mais excelente do que a primeira, trabalhas pelo silêncio, e o teu triunfo é vencido pela auto-aniquilação. Desejo humilhar-me após o teu exemplo, e aproveitar as lições que um Deus desceu tão baixo para me dar. Deita tudo o que é alto e levantado dentro de mim, ó meu Jesus, porque este é um dos confins da Tua vinda. Abandono-me a Ti, como ao meu soberano mestre! faz comigo e em mim o que queres.

[2] No Antigo Testamento só eram citados dois coros angélicos: os Querubins (Gên 3.24) e os Serafins no tempo dos Profetas como Isaías. Os demais coros foram revelados já no Novo Testamento. 

 AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

- Invenietis infantem... positum in praesepio. Achareis um menino reclinado num presépio (Lc 2,12). 

 Ó doce e amável Menino, embora vos veja tão pobre sobre a palha, reconheço-vos e adoro-vos como meu Senhor e Criador. Sei quem vos reduziu a tão miserável estado: foi o vosso amor por mim. Recordando-me, pois, meu Jesus, da maneira com que vos tratei no passado, das injúrias que vos fiz, admiro-me de me haverdes suportado. — Ah! pecados malditos, que fizestes? enchestes de amargura o coração do meu amado Senhor! — Ah! meu caro Salvador, pelas dores que suportastes e pelas lágrimas que derramastes no estábulo de Belém, dai-me lágrimas, dai-me uma grande dor que me faça chorar toda a minha vida os desgostos que vos dei. Dai-me amor para convosco, mas um amor que compense as ofensas que vos fiz. Amo-vos, meu pequenino Salvador, amo-vos, meu Deus Menino, amo-vos, meu amor, minha vida, meu tudo; prometo não amar doravante senão a vós. Ajudai-me com a vossa graça sem a qual nada posso. Maria, minha esperança, obtendes tudo o que quereis de vosso Filho; pedi-lhe me conceda seu santo amor. Ó minha
Mãe, atendei-me. 

 (“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. - Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 150/151)



[1] De Trinit., Lib. XIII, ch. 18


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