domingo, 27 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXIX)

 

                    (Morte dos Santos Inocentes)


           27 de dezembro 

SÃO JOÃO, APÓSTOLO E EVANGELISTA, E OS SANTOS INOCENTES

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 Um de seus discípulos, a quem Jesus amava, estava reclinado à mesa no seio de Jesus (Jo 13,23). Este discípulo é São João Evangelista, que fala de si mesmo como de outra pessoa para evitar vangloriar-se e seguir a regra dos outros escritores das Sagradas Escrituras. Pois Moisés também usa desta forma quando ele fala de si mesmo em seus livros, como de outro, dizendo: O Senhor falou a Moisés. Da mesma forma São Mateus: Ele viu um homem sentado no balcão de impostos, denominado Mateus. São Paulo diz: Eu conheço um homem.

I. São João diz três coisas sobre si mesmo:

1º) O amor que o fez descansar em Cristo, dizendo que ele estava recostado, isto é, descansando. Jó diz neste sentido: “Então, no Todo-poderoso se encherá de delícias e elevará seu rosto a Deus” (Jó 22, 26), e o profeta Davi: “Ele me leva a fontes silenciosas (Sl 23: 2)”.

2º) O conhecimento dos segredos que o Senhor lhe revelava, principalmente para a redação do seu Evangelho. É por isso que ele diz que estava “reclinado no seio de Jesus”. O seio significa o segredo. E em outro lugar diz: “Filho unigênito, que está no seio do Pai, ele mesmo o declarou” (Jo 1, 13).

3º) O amor especial com que Cristo o amava. É por isso que ele diz: “quem amava Jesus”; certamente não exclusivamente, mas o amava quase com preferência aos demais.

II. É preciso saber que João foi mais amado por Cristo por três motivos:

1º) Pela sua pureza, visto que foi eleito virgem pelo Senhor e permaneceu sempre virgem. É por isso que é lido em Provérbios: “Quem ama a pureza de coração, pela graça de seus lábios terá o rei por amigo (22, 11)”.

2ª) Pela sublimidade de sua sabedoria, pois penetrou nos arcanos da divindade mais profundamente do que os outros, razão pela qual é comparado a Águia. “É aceito para o rei um ministro entendido”, é lido em Provérbios (14, 35).

3º) Pelo ardente fervor do seu amor a Cristo: “Amo aos que me amam” (Prov 8, 17). (In Joan., XIII)

 

(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

 Que sentido tem o Antigo Testamento após a vinda de Cristo?

 É comum os protestantes darem mais importância ao Antigo Testamento do que ao Novo, realçando alguns fatos como a libertação do povo eleito do Egito, os Dez Mandamentos, Davi e Salomão, etc.,  O personagem mais lembrado por eles é Salomão. O mesmo procedimento ocorre entre os Judeus, estes com certa razão (embora culposamente) pelo fato de nunca terem reconhecido em Jesus Cristo o verdadeiro Messias. Os fatos mais importantes após a vinda de Cristo foram aqueles decorrentes d’Ele mesmo, ou seja, a Igreja Católica e a Civilização Cristã.  Os do Antigo Testamento apenas são pre-figuras e símbolos do que veio após Ele.

A propósito, ouçamos o que diz sobre o tema o grande São João da Cruz:

 “A principal causa pela qual na lei antiga eram lícitas as perguntas que se faziam a Deus, e convinha que os profetas e sacerdotes tivessem visões e revelações de Deus, era porque não estava então ainda fundada a Fé nem estabelecida a lei evangélica; e assim ,  era mister que perguntassem a Deus e que Ele falasse, ora por palavras, ora por visões e revelações, ora em figuras e semelhanças, ora em muitas outras maneiras de significações. Porque tudo o que respondia e falava e obrava e revelava eram mistérios de nossa Fé e coisas tocantes a ela ou endereçadas a ela. Porém, já que está fundada a Fé em Cristo e manifesta a lei evangélica nesta era da graça, não há porque perguntar-Lhe daquela maneira, nem para que Ele fale nem responda como então.

Porque, em nos dar, como nos deu, a seu Filho – que é uma Palavra sua, que não tem outra -, tudo nos falou junto e de uma vez somente nesta Palavra, e não tem mais que falar. E este é o sentido daquela autoridade com que São Paulo quer induzir os hebreus a que se apartem daqueles modos primeiros e tratos com Deus da lei de Moisés, e ponham os olhos somente em Cristo, dizendo: O que antigamente falou Deus nos profetas a nossos pais de muitos modos e maneiras, agora finalmente, nestes dias, nos tem falado no Filho tudo de uma vez.

No qual dá a entender o Apóstolo,  que Deus ficou já como mudo e não tem mais que falar, porque o que falava antes em partes aos profetas já o tem falado n’Ele tudo, dando-nos o tudo que é o Filho.

Pelo qual, quem quisesse agora perguntar a Deus ou querer alguma visão ou revelação, não somente faria uma necedade, mas faria agravo a Deus, não pondo os olhos totalmente em Cristo, sem querer outra coisa ou novidade. Porque lhe poderia responder Deus desta maneira: “Se te tenho já falado todas as coisas por minha Palavra, que é meu Filho, e não tenho outra coisa que te possa revelar ou responder que seja mais que isso, põe os olhos n’Ele, porque n’Ele o tenho posto tudo e dito e revelado,  e encontrarás n’Ele ainda mais do que pedes e desejas.

Porque desde o dia em que baixei com meu espírito sobre Ele no monte Tabor, dizendo: Este é meu amado Filho em que pus minha complacência, ouvi-O, já que levantei a mão de todas essas maneiras de ensinamentos e respostas, e as dei a Ele; ouvi-O, porque eu nada tenho mais a revelar,  nem mais coisas que manifestar. Que, se antes falava era prometendo-lhes a Cristo, e se me perguntavam eram perguntas encaminhadas à petição e esperança de Cristo, em que haviam de achar todo o bem, como agora o dá a entender toda a doutrina dos evangelistas e apóstolos”.

 

(Do tratado de São João da Cruz, “Subida ao Monte Carmelo”, liv. 2, cap. 22, n. 3-4)


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