quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (IV)

 



Quarta-feira da primeira semana

COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

- A NECESSIDADE DE ENCARNAÇÃO PARA OFERECER SATISFAÇÃO SUFICIENTE PARA O PECAD

I. De duas maneiras, uma satisfação pode ser considerada suficiente:

1ª) Perfeitamente, porque é condigno, devido a uma certa adequação, para compensar a culpa cometida e, portanto, a satisfação que um simples homem deu pelo pecado não poderia ser suficiente, porque toda a natureza humana foi corrompida pelo pecado, nem o bem de uma pessoa, e mesmo de muitos, poderiam equivalentemente compensar os danos de toda a natureza; além disso, o pecado cometido contra Deus é de alguma forma infinito pela razão da infinita majestade de Deus ofendido, pois a ofensa é ainda mais grave quanto maior aquele contra quem o crime é cometido. Portanto foi necessário para uma satisfação condigna que o ato do que satisfaça tenha eficácia infinita, como é o ato daquele que é Deus e Homem.

2º) A satisfação do homem pode ser suficiente de maneira imperfeita, ou seja, conforme a aceitação de quem se contenta com ela, embora não seja condigna e, portanto, a satisfação de um simples homem pode ser suficiente; e uma vez que tudo imperfeito pressupõe algo perfeito que o sustenta, segue-se que toda satisfação de um mero homem recebe sua eficácia da satisfação de Cristo. (3, q. I, a. II, ad 2um)

II. A Encarnação oferece a certeza do perdão do pecado.

Assim como o homem se dispõe à bem-aventurança pelas virtudes, da mesma forma, ele se distancia dela por causa dos pecados; pecado, contrário à virtude, é um impedimento para a bem-aventurança, não apenas porque introduz uma desordem na alma, na medida em que a remove da ordem do fim devido; mas também porque ofende a Deus, de quem espera o prêmio de bem-aventurança; e, além disso, o homem tendo conhecimento desta ofensa, perde através do pecado, a esperança de se aproximar de Deus, o que é necessário para obter felicidade.

Portanto, é necessário que a raça humana, cheia de pecados, obtenha algum remédio contra os pecados; mas este remédio só pode ser dado por Deus; que pode não apenas mover a vontade do homem em direção ao bem, para restaurá-lo para a ordem adequada, mas também pode perdoar a ofensa cometida contra Ele; pois a ofensa só pode ser perdoada por aquele contra quem é cometida. Além disso, para que o homem seja liberto da consciência da ofensa passada, é necessário ter certeza da remissão da ofensa pelo mesmo Deus; uma certeza que não pode ser confirmada, se Deus não o certificar.

Portanto, foi conveniente e útil para a raça humana, para alcançar a bem-aventurança que Deus se fizesse homem, para que desse modo obtivesse de Deus o perdão dos pecados e tenha a certeza desse perdão pelo o homem Deus. (Contra os gentios, lib. 4, cap. 54)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

  - Ubi venit plenitudo temporis, misit Deus Filium suum. Quando se completaram os tempos, Deus enviou o seu Filho (Gl 4,4)

Ó Verbo divino feito homem por mim, embora vos veja tão humilhado e feito criança no seio de Maria, confesso-vos e reconheço-vos por meu Senhor e Rei, mas Rei de amor. Meu caro Salvador, já que viestes a este mundo revestir-vos da nossa miserável carne para reinar sobre os nossos corações, ah! vinde estabelecer o vosso reino também no meu coração sujeito outrora ao domínio dos vossos inimigos, mas que agora é vosso, como espero; quero que seja ele sempre vosso e que vós sejais de hoje em diante o seu único Senhor: Reinai no meio de vossos inimigos. Os outros reis reinam pela força das armas; vós ao contrários vindes reinar pela força do amor, por isso não vindes com pompas reais, não vindes revestido de púrpura e ouro, ornado de cetro e coroa nem rodeado de exércitos de soldados. Nascestes num estábulo, pobre, abandonado e fostes colocado num presépio sobre um pouco de palha, porque assim quisestes começar a reinar sobre os corações. Ah! meu Rei Infante, como pude revoltar-me tantas vezes contra vós, e viver tanto tempo na vossa inimizade, na privação da vossa graça, quando vós para obrigar-me a amar-vos depusestes a vossa majestade divina e vos humilhastes tanto que tomastes a forma duma criança numa gruta, depois a dum operário numa oficina, e, enfim, a dum condenado na cruz? Oh! Feliz de mim se agora que saí, como espero, da escravidão de Lúcifer, me deixar dominar sempre por vós e por vosso amor!

 ó Jesus, meu Rei, que sois tão amável e que amais tanto as almas, tomai posse de toda a minha alma, eu vo-la dou sem reserva. Aceitai que ela vos sirva sempre e que vos sirva por amor: a vossa majestade merece ser temida, mas a vossa bondade merece ainda mais ser amada. Ó meu Rei, vós sois e sereis para sempre o meu único amor; e o único temor que terei será o de desgostar-vos. Assim o espero. Ajudai-me com a vossa graça.

Minha amada Soberana, Maria, vós haveis de obter-me a graça de ser fiel a esse Rei querido de minha alma. (págs. 127/128)

 

 

(“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R.
Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 127/128)

 


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