quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XIX)

 



Quinta-feira da terceira semana

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - APROPRIAÇÃO DA ENCARNAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO

 O Espírito Santo virá sobre ti (Lc 1,35).

I. A formação do corpo de Cristo, que foi realizada pela virtude divina, é convenientemente atribuída ao Espírito Santo, embora seja comum a toda a Trindade.

Isso se harmoniza com a Encarnação do Verbo; porque assim como nossa palavra, concebida na mente, permanece invisível, mas se torna perceptível externamente pela voz, da mesma forma que o Verbo de Deus, de acordo com a geração eterna, existe invisivelmente no coração do Pai, e tornou-se visível para nós pela Encarnação. Onde a Encarnação do Verbo de Deus é como a expressão vocal de nosso verbo mental. E a  expressão vocal de nossa fala interior é feita por nossa expiração, de que forma a voz do nosso verbo, portanto, é precisamente dito que o Espírito Santo formou o corpo do Filho de Deus.

Essa forma de falar também é conveniente para sugerir qual é a causa motor da Encarnação do Verbo. Essa causa não poderia ser outra senão o amor de Deus ao homem, cuja natureza ele queria unir na unidade da pessoa; e como em Deus, o Espírito Santo é aquele que procede por meio do amor, segue que é conveniente atribuir a obra da Encarnação ao Espírito Santo. Também é comum na Sagrada Escritura atribuir toda a graça ao Espírito Santo, porque todo dom gratuito parece vir do amor do doador; e como nenhuma graça maior foi dada ao homem do que a do união com Deus na pessoa, é convenientemente atribuída esta ao Espírito Santo. (Contra os gentios, lib. IV, cap 45).

II. Em cada ação que executa um efeito criado, resplandece alguma apropriação às pessoas divinas, como na Encarnação, segundo São João Damasceno, a bondade, a sabedoria e o poder de Deus se destacam; a bondade, porque Deus não desprezou a fraqueza de sua criatura; o poder, porque unia coisas infinitamente distantes; sabedoria, porque ele encontrou a maneira mais conveniente de fazer o que parecia impossível. Porém, cada operação é mais adequada a uma pessoa, dependendo do atributo dessa pessoa se torne mais óbvio.

Agora, quando um presente é mais impróprio e ultrapassa o mérito da criatura, mais ele manifestará a graça e a bondade de Deus. E tal é a obra da Encarnação, por isso se apropria ao Espírito Santo, que é o princípio da graça.

É verdade que o poder é atribuído ao Pai, mas devemos alertar que mesmo quando o poder brilha na Encarnação, ainda mais a bondade brilha nela; pois o poder está em ação, enquanto a bondade está no fim, e o fim é a causa das causas; para qual deste a denominação deve ser tomada principalmente. (3, Dist., 4, q único, A. 1)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA DE NATAL

 2º Dia

 Hostiam et oblationem noluisti; corpus autem aptasti mihi. Não queremos hóstia nem oblação; mas me formastes um corpo (Hb 10,5). Considera a grande amargura de que o coração de Jesus devia sentir-se penetrado e oprimido no seio de Maria, no momento em que seu Pai lhe colocou ante os olhos a longa série de desprezos, dores a agonias, que teria de sofrer durante sua vida para livrar os homens de seus males. Eis como o profeta faz falar a Jesus: Desde a manhã o Senhor abriu-me o ouvido. Desde o primeiro instante de minha conceição, meu Pai me fez conhecer a sua vontade que eu levasse uma vida de penas, para ser depois imolado na cruz. E eu não contradigo...; entreguei meu corpo aos que me batiam. Tudo aceitei para a vossa salvação, almas queridas, desde então abandonei meu corpo aos flagelos, aos cravos e à morte. Tudo quanto Jesus Cristo teria de sofrer durante sua vida e na sua paixão pairou ante o seu espírito desde o seio de sua Mãe, e Ele o aceitou com amor; mas para resignar-se a esse sacrifício e para vencer a repugnância natural dos sentidos, ó Deus! que angústia e que opressão não sofreu o coração inocente de Jesus! Ele sabia de antemão o que devia sofrer ficando encerrado nove meses na escura prisão do seio de Maria; sabia a que humilhação e penas devia sujeitar-se nascendo numa fria gruta que servia de abrigo aos animais, e passando depois trinta anos na oficina dum pobre artífice; sabia que os homens o tratariam como a um ignorante, um escravo, um sedutor, um criminoso digno de morte e da morte mais infame e mais dolorosa que se possa infligir aos celerados.

Nosso amantíssimo Redentor aceitou tudo isso a cada instante; e assim, a cada instante sofreu em conjunto todos os tormentos e todos os opróbrios que o aguardavam até a sua morte. O próprio conhecimento de sua dignidade divina lhe fazia sofrer mais profundamente as injúrias que deveria receber dos hoje, e nunca as perdia de vista. A minha ignomínia está todo o dia diante de mim, dissera pelo profeta; e por isso entendia sobretudo aquela confusão que devia provar um dia vendo-se despojado de suas vestes, flagelado, suspenso por três cravos de ferro e assim terminar a vida no meio dos desprezos e maldições desses mesmos homens pelos quais morria: Foi obediente até a morte, até a morte da cruz. E por que? para salvar a nós pecadores miseráveis e ingratos.

 Afetos e Súplicas.

 Ah! meu amado Redentor, quanto vos custou desde a vossa entrada neste mundo o livrar-me do abismo em que me lançaram os meus pecados! Para me libertardes da escravidão do demônio, ao qual me vendi voluntariamente entregando-me ao pecado, quisestes ser tratado como o pior dos escravos; e eu, sabendo isso, contristei muitas vezes o vosso amabilíssimo coração, que tanto me amou! Mas já que vós, que sois inocente e que sois o meu Deus, aceitastes por meu amor uma vida e uma morte tão penosas, aceito por vosso amor, ó meu Jesus, todas as penas que me vierem de vossas mãos. Eu as aceito e abraço porque me vêm dessas mãos traspassadas um dia para me livrarem do inferno que tantas vezes mereci. O amor que me testemunhares, ó meu Redentor, prontificando-vos a sofrer assim por mim, obriga-me deveras a resignar-me por vós a todos os sofrimentos, a todos os desprezos. Senhor, pelos vossos méritos, dai-me o vosso santo amor; o vosso amor tornar-me-á doce e amáveis todas as dores e todas as ignomínias. Amo-vos sobre todas as coisas, amo-vos de todo o meu coração, amo-vos mais do que a mim mesmo. Mas no decorrer de toda a vossa vida destes-me tantas e tão grandes provas de vosso amor, e eu ingrato, após tantos anos de existência, que prova de amor vos tenho dado até agora? Fazei, pois, ó meu Deus, que nos anos que me restam de vida eu vos dê qualquer prova do meu amor. Não ousaria, no dia do juízo, aparecer diante de vós, pobre como sou atualmente e sem nada haver feito por amor de vós. Mas que posso fazer sem a vossa graça? só posso pedir me ajudeis, e mesmo essa oração é um efeito da vossa graça. Meu Jesus, socorrei-me pelos méritos das vossas dores e do sangue que derramastes por mim.

Santíssima Virgem Maria, recomendai-me a vosso divino Filho, conjuro-vos pelo amor que lhe tendes: considerai que sou uma das ovelhas pelas quais vosso Filho deu a vida.

 (SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 160/161)

 

 


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