segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XVI)

 



 
Segunda-feira da terceira semana

 

COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - FOI MAIS CONVENIENTE QUE A PESSOA DO FILHO TOMASSE A NATUREZA HUMANA DO QUE OUTRA PESSOA DIVINA

 São João Damasceno[1] diz: “No mistério da Encarnação se manifestaram a sabedoria e o poder de Deus; sabedoria, porque  encontrou o segredo de pagar dívidas muito difíceis de uma forma muito conveniente; o poder, porque ele fez o derrotado o vencedor novamente”. E como poder e a sabedoria é atribuída ao Filho de acordo com isso (1 Cor 1:24): “Nós pregamos a Cristo, virtude de Deus e sabedoria de Deus”, segue-se que era conveniente que a pessoa do Filho fosse encarnada.

Mostra-se que isso foi muito conveniente:

1º) Por parte da união. Porque as coisas vêm juntas convenientemente quando são semelhantes; e de certa forma uma certa semelhança comum é observada entre a pessoa do Filho, que é o Verbo de Deus, e todas as criaturas; porque o verbo, do artista, ou seja, seu conceito, é a semelhança exemplar de todas as criaturas. E o Verbo de Deus, em seu conceito eterno, é a semelhança exemplar de cada criatura. Portanto, bem como pela participação desta semelhança hão sido criadas as criaturas em suas próprias espécies, ainda que mutáveis, da mesma forma, pela união do Verbo à criatura, não participada, mas pessoal, foi conveniente reparar a criatura em ordem à perfeição eterna e imutável; porque o artista repara sua obra, se se deteriora, pela mesma forma artística que concebeu ao criá-la.

Também se prova a semelhança especial da união com a natureza humana, porque o Verbo é o conceito de Sabedoria eterna, a partir da qual deriva toda a sabedoria humana; daí o progresso do homem na sabedoria, que é sua própria perfeição como racional, é medida por sua participação no Verbo de Deus, conforme o discípulo é instruído ao receber a palavra do professor. É por isso que é lido no livro Eclesiástico (1, 5): “A fonte de sabedoria é o Verbo de Deus nas alturas”. Então, pois foi conveniente, para a perfeição consumada do homem, que o Verbo de Deus estivesse pessoalmente unido à natureza humana.

2º) A razão desta conveniência pode ser retirada da finalidade da união hipostática, que é a salvação daqueles que foram predestinados à herança celestial, a qual pertence unicamente aos filhos, segundo a Epístola aos Romanos (8, 17): “E, se filhos, também herdeiros”. Pelo qual foi conveniente para aquele que é um Filho natural comunicar aos homens uma imagem de sua filiação por adoção divina, como diz o apóstolo: “Porque aqueles a quem ele conheceu em sua presciência, estes também predestinou a serem fatos conforme a imagem de seu Filho” (8, 29).

3º) Outro motivo de conveniência também pode ser obtido pelo pecado do primeiro homem, a quem a encarnação veio remediar. O primeiro homem pecou ao ambicionar a ciência, como o provam as palavras da serpente, prometendo ao homem a ciência do bem e do mal. Era, portanto, conveniente que fosse conduzido a Deus pelo Verbo, a verdadeira sabedoria, aquele que se afastou d’Ele pelo apetite desordenado da ciência. (3ª parte., Q. III, a VIII)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

“PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR”

 Uma voz grita no deserto: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai uma estrada para nosso Deus”. O profeta declara abertamente que seu vaticínio não vai se realizar em Jerusalém, mas no deserto; a saber, que se manifestará a glória do Senhor e a salvação de Deus chegará ao conhecimento de todos os homens.

E tudo isto, de acordo com a história e a letra, cumpriu-se precisamente quando João Batista pregou a vinda do Salvador de Deus no deserto do Jordão; onde a salvação de Deus se deixou ver. Pois Cristo e sua glória se puseram de manifesto para todos quando, uma vez batizado, abriram-se os céus e o Espírito Santo desceu em forma de pomba e pousou sobre Ele enquanto se ouvia a voz do Pai que dava testemunho de seu Filho: Este é meu Filho, muito amado; escutai-o.

Tudo isto se dizia porque Deus havia de apresentar-se no deserto, sempre impraticável e inacessível. Se tratava, com efeito, de todas as gentes privadas do conhecimento de Deus, com as quais não puderam entrar em contato os justos de Deus e os profetas.

Por este motivo, aquela voz manda preparar um caminho para a Palavra de Deus, assim como aplanar seus obstáculos e asperezas, para que quando venha nosso Deus possa caminhar sem dificuldade. Preparai um caminho ao Senhor: trata-se da pregação evangélica e da nova consolação com o desejo de que a salvação de Deus chegue ao conhecimento de todos os homens.

Sobe a um monte elevado, arauto de Sião; levanta forte a voz, arauto de Jerusalém. Estas expressões dos antigos profetas encaixam muito bem e se referem com oportunidade aos evangelistas: elas anunciam a vinda de Deus para os homens depois de se haver falado da voz que clama no deserto. Pois a profecia de João Batista segue coerentemente a menção dos evangelistas.

Qual é esta Sião senão aquela mesma que antes se chamava Jerusalém? E ela mesma era aquele monte que a Escritura se refere quando disse: O monte Sião onde puseste tua morada; e o Apóstolo: Haveis vos acercado ao monte Sião. Acaso desta forma se estará aludindo ao coro apostólico, escolhido dentre o primitivo povo da circuncisão?

E esta Sião e Jerusalém é a que recebeu a salvação de Deus, a mesma que por sua vez se ergue sublime sobre o monte de Deus, quer dizer, sobre seu Verbo unigénito: a qual Deus manda que, uma vez elevada ao sublime cume, anuncie a palavra da salvação. Quem é que evangeliza senão o coro apostólico? E que é evangelizar? Pregar a todos os homens, e em primeiro lugar às cidades de Judá, que Cristo veio à terra.

(Dos comentários de Eusébio de Cesaréia, bispo, sobre o livro de Isaías, cap. 40, PG. 24, 366-367)

 

AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

- Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris.
Vós tirareis com gosto águas das fontes do Salvador (Is 12,3)

Ó doce e caro Salvador meu, quanto vos devo! quanto me tendes obrigado a amar-vos, já que por mim fizestes o que não faria um servo para o seu senhor nem um filho para seu pai! Se pois me tendes amado mais do que qualquer outro, é justo que vos ame mais do que todos os outros. Quisera morrer de dor, quando penso que tanto padecestes por mim, que levastes o amor a aceitar a morte mais cruel e mais ignominiosa que possa um homem sofrer, e que eu tantas vezes tenho desprezado a vossa amizade. Quantas vezes me  perdoastes e eu tornei a desprezar-vos! Mas os vossos méritos são a minha esperança. Agora prefiro a vossa graça a todos os reinos da terra. Amo-vos, e por amor de vós aceito qualquer espécie de pena e de morte. Se sou indigno de morrer pela mão dos algozes para glória vossa, aceito ao menos de coração a morte que me destinastes; aceito-a da maneira e no tempo que haveis determinado.

Maria, minha Mãe, obtende-me a graça de passar toda a minha vida e de morrer no amor de Jesus.

 (“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. - Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 152/153)

 



[1] Orth. fid., lib. III, ch. EU.


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