terça-feira, 1 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (III)

 





COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

  Necessidade da Encarnação

 Algo é necessário para algum fim de dois modos: primeiro, por necessidade absoluta, sem a qual algo não pode existir, como o sustento é necessário para a preservação da vida humana; segundo, na medida em que por meio de tal coisa o fim é melhor e mais convenientemente alcançado, como o cavalo é necessário para fazer uma viagem. Não foi necessário para o primeiro modo que Deus se encarnasse para a reparação da natureza humana, porque Deus por sua virtude onipotente podia reparar a natureza humana de muitas outras maneiras. Mas pelo segundo modo  foi necessário que Deus se encarnasse.

Por isso disse Santo Agostinho: “Demonstremos, ademais, que não faltou outro modo possível a Deus, sob cuja majestade está submetido tudo igualmente, mas não havia outro modo mais conveniente de curar nossa miséria." [1] Isto é o que pode ser considerado em termos de promoção do homem para o bem.

1º) Quanto à fé, que se certifica mais pela mesma coisa que acredita no mesmo Deus que fala; pelo que diz Santo Agostinho: "Para que o homem caminhasse mais confiadamente em direção à verdade, o Filho de Deus, que é a mesma Verdade, feito Homem, constituiu e fundou a fé. "[2]

2º) Quanto à esperança, que se afirma principalmente por isto, e assim disse Santo Agostinho: “Nada foi tão necessário para elevar nossa esperança, como nos mostrar o quanto Deus nos amou. Que prova mais disto que a de que o Filho do Homem se dignasse formar consórcio com nossa natureza?”[3]

3ª) Quanto à caridade, que é motivada principalmente por isto, e assim é que Santo Agostinho diz: “Que razão maior existe para a vinda do Senhor que Deus manifesta seu amor em nós? ”E depois acrescenta: “Se nos era penoso de amar, pelo menos não dói amar novamente. "[4]

4º) Quanto à retidão de obrar, na qual se nos mostrou para exemplo. Por isso, diz Santo Agostinho : “O homem não deveria ter sido seguido, que poderia ser visto; Deus deveria ter sido seguido, que não poderia ser visto. E assim, para mostrar ao homem quem foi visto pelo homem e quem quer que o homem seguisse, Deus se fez homem. " [5]

5º) Quanto à plena participação da divindade, que é a verdadeira bem-aventurança do homem, e o fim da vida humana, esta nos foi dada pela humanidade de Cristo. Pois bem, Santo Agostinho diz: “Deus fez o homem, para que o homem pudesse se tornar Deus. " (3º, q. I, a. II)[6]  Não somente foi necessário que Deus se encarnasse para a promoção do homem para o bem, mas também para a eliminação do mal.

1º) O homem é instruído por isso a não preferir o diabo a si mesmo, não adore aquele que é o autor do pecado. A este respeito, diz Santo Agostinho: “Visto que Deus foi capaz de se unir com a natureza humana de tal maneira que se tornou uma só pessoa, não se atrevam, portanto, aqueles espíritos orgulhosos e maus para preceder o homem, porque eles não têm carne. "[7]

2ª) Por isso somos ensinados o quanto é a dignidade da natureza humana, para que não a manchemos com o pecado. Para a qual assegura  Santo Agostinho: “Deus nos mostrou quão excelso lugar ocupa a natureza humana entre as criaturas, aparecendo entre os homens como verdadeiro homem."[8]  E o Papa São Leão diz :" Reconhece, ó cristão, a tua dignidade; feito participante da natureza divina, não volte à velha vileza com uma má conduta. " [9]

3º) Porque, para destruir a presunção do homem, faz-se mais estimável a graça de Deus em Cristo homem, sem qualquer mérito prévio de nossa parte.

4º) Porque por tanta humildade de Deus ele consegue se reprimir e

curar o orgulho do homem, que é o maior obstáculo que impede unir-se a Deus.

5º) Para libertar o homem da escravidão do pecado; que, como diz Santo Agostinho, certamente deve ter sido verificado de tal forma que o diabo foi derrotado pela justiça do homem Jesus Cristo; o que aconteceu através do sacrifício de Cristo por nós. Um mero homem não poderia satisfazer para toda a humanidade, e Deus não devia satisfazer; pelo qual era apropriado que Jesus Cristo fosse Deus e homem. É por isso que o Papa São Leão diz: “A fraqueza é tomada pela fortaleza, humildade pela majestade, mortalidade pela eternidade, de modo que, o que convinha a nossa cura, um e o mesmo mediador entre Deus e os homens poderia morrer por um lado e ressuscitar por outro; porque se não fosse Deus verdadeiro, não traria o remédio; e se ele não fosse um homem verdadeiro, ele não daria o exemplo. " [10]

Existem muitas outras vantagens que resultam disso e que ultrapassam o apreensão do sentido humano, segundo a do Eclesiástico (III, 25): Muitas coisas foram mostradas a você sobre a compreensão do homem (3º, q. I. a. II)

 

(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

 AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

- Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret. Deus amou de tal o modo o mundo, que lhe deu seu Filho unigênito (Jo 3,16)

Ó Deus eterno, quem nos poderia jamais ter feito esse dom de valor infinito, senão vós que sois um Deus de amor infinito? E que mais podereis fazer, ó meu Criador, para inspirar-nos confiança em vossa misericórdia, e obrigar-nos a amar-vos? Senhor, tenho-vos pago com ingratidão; mas dissestes, pelo Apóstolo, “que tudo contribui em benefício dos que vos amam”. Sejam, pois, quais forem o número e a enormidade de meus pecados, não quero que destruam a minha confiança em vossa bondade, mas quero que me sirvam para mais me humilhar quando receber alguma afronta ; ah! bem merece outras afrontas e outros desprezos quem teve o atrevimento de ofender-vos, Majestade infinita! Quero que me sirvam para suportar com mais paciência as cruzes que me enviardes, para vos servir e honrar com mais zelo, a fim de reparar as injúrias que vos tenho feito. Sim, meu Deus, quero lembrar-me sempre dos desgostos que vos dei, a fim de louvar tanto mais a vossa misericórdia, e de me abrasar sempre mais de amor por vós, que me procurastes quando vos fugia, e me tendes feito tanto bem depois de haver recebido de mim tantos ultrajes. Senhor, espero que já me tenhais perdoado; arrependo-me e quero arrepender-me sempre de minhas ofensas. Quero ser-vos grato, compensando com meu amor a ingratidão que tenho tido para convosco; mas vós haveis de ajudar-me; a vós peço a graça de executar essa resolução. Fazei-vos amar, ó meu Deus, para a vossa glória, fazei-vos amar muito por um pecador que muito vos ofendeu. Meu Deus, meu Deus, como poderia eu cessar ainda de amar-vos, e renunciar novamente ao vosso amor?
Ó Maria, minha Rainha, socorrei-me; conheceis minha fraqueza: fazei que a vós me recomende sempre que o demônio pretender separar-me de Deus. Minha mãe, minha esperança, socorrei-me. 

(“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 124/125)

 



[1] De Trinit., Lib. XIII, ch. 10

[2] De civ. Dei, lib. XI, ch. dois.

[3] Extraído de Trinit., Lib. XIII, ch. 10

[4] De Catechiz. Rudibus, cap. Quatro

[5] Serm. De nativitate Domini, 22 Temp

[6] Serm. Do nativ. Domini, 13 de Temp

[7] Extraído de Trinit., Lib. 13, ch. 17

[8] De vera relig., Cap. 16

[9] Serm. De nativit, Domini, I.

[10] Serm. De nativ. Domini, I.

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