sábado, 5 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (VII)

 



 

Sábado da primeira semana

 

COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 

- MANEIRA DE REPARAR A NATUREZA HUMANA

 

I. O modo de reparação deveria ser tal que se adequasse, já à natureza que precisava ser reparada, já para a doença. Digo à natureza, porque sendo homem de natureza racional e dotado de livre arbítrio, deve ser reintegrada ao estado de retidão, não por coerção externa, mas por vontade própria; e também à enfermidade, pois, consistindo esta na perversão da vontade, era preciso que a vontade fosse reconduzida à retidão.. A retidão da vontade humana consiste numa ordenação legítima do amor, que é o seu sentimento principal, e a ordem dispõe que amemos Deus acima de todas as coisas como o bem supremo, e que encaminhemos para Ele  todas as coisas que amamos como o fim último, e que, ao amar outros seres, mantenha a ordem devida, isto é, que adequemos as coisas corporais às espirituais. Para excitar em nós o amor a Deus, nada poderia ser mais eficaz que o Verbo de Deus, pela qual todas as coisas foram feitas, tomasse nossa natureza para repará-la, e que a mesma pessoa fosse Deus e homem.

Em primeiro lugar, porque com isso se manifesta principalmente quanto Deus ama o homem, já que quis fazer-se homem para salvá-lo; e não há nada que induz mais ao amor do que saber-se amado. Depois porque, tendo o homem a inteligência e o coração inclinados para as coisas do corpo, ele não poderia facilmente se elevar às que estão acima dele; enquanto é fácil para qualquer homem amar e conhecer seu semelhante. Mas considerar a alteza divina e ser trazido a ela pelo afeto devido ao amor não é próprio de todos os homens, mas apenas daqueles que com a ajuda de Deus, com grande esforço e trabalho, sobe do corpóreo ao espiritual.

Portanto, para abrir um caminho fácil para todos os homens, ele quis fazer-se homem, para que até as crianças pudessem conhecer e amar a Deus, fez quase como eles, e assim, tanto quanto eles podem perceber, pouco a pouco eles cresceram até a perfeição. Além disso, tendo feito Deus homem, o homem recebe a esperança de poder participar da bem-aventurança perfeita, que só Deus possui por natureza. Pois promete ao homem que tem conhecimento de sua fraqueza que chegará à beatitude, da qual são capazes os Anjos e que consiste na visão e gozo de Deus, e lhe mostra que ele poderia ter ousado esperar tal coisa, se não fosse mostrada a ele, por outra parte, a dignidade de sua natureza, que Deus tanto estima que quis fazer-se homem para salvá-la. E assim, porque Deus se tornou homem, ele nos deu a esperança de que o homem também pode tornar-se unido a Deus por meio do gozo da bem-aventurança . Aproveita, desta forma, ao homem o conhecimento de sua dignidade por haver Deus tomado a natureza humana, para que não sujeite seu afeto a qualquer criatura, adorando o diabo ou quaisquer outras criaturas por idolatria, nem por manter sua afeição por criaturas corporais por amá-las desordenadamente. Porque é indigno que o homem submeta-se desordenadamente a coisas inferiores a Deus, possuindo tanta dignidade de acordo com o estima divina, e estando tão perto de Deus, que Ele quis tornar-se homem. (Contra os sarracenos, cap. V)

 

(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

 

AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

- Deus Filium suum mittens in similitudinem carnis peccati, et de peccato damnavit peccatum in carne. Deus enviou seu Filho em carne semelhante à do pecado, por causa do pecado condenou o pecado na carne (Rm 8,3)

Ó meu Senhor inocente, Espelho sem mancha, Amor do eterno Padre, não a vós são devidos os castigos e as maldições, mas a mim, miserável pecador. Ah! quisestes mostrar ao mundo esse excesso de amor, de sacrificar a vossa vida para obter-nos o perdão e a salvação pagando com as vossas penas as que merecêramos. Louvem e bendigam todas as criaturas a vossa misericórdia e a vossa bondade infinita! Agradeço-vos por todos os homens, mas  principalmente por mim: já que vos ofendi mais do que os outros, tivestes de sofrer mais por mim do que pelos outros. Maldigo mil vezes os meus indignos
prazeres, que vos custaram tantas dores. Fazei não seja perdido para mim esse sangue divino que derramastes por mim. Arrependo-me de vos haver desprezado, ó meu Amor! Mas peço-vos uma dor mais profunda: fazei-me conhecer o mal que fiz ofendendo a vós, meu Redentor e meu Deus, que tanto sofrestes para obrigar-me a amar-vos. Amo-vos, bondade infinita, mas desejo amar-vos mais; quisera amar-vos quanto mereceis. Fazei-vos amar, meu Jesus, fazei-vos amar de mim e de todos, vós que mereceis tanto ser amado! Ah! iluminai os pecadores, que não querem conhecer-vos ou não querem amar-vos: fazei-os compreender o que fizestes por seu amor, e quanto desejais
a sua salvação. Santíssima Virgem Maria, pedi a Jesus por mim e por todos os pecadores: obtende-nos luz e graça para amarmos vosso divino Filho, que tanto nos tem amado.

 

(“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R.
Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – pág. 134)

 

 


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