segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Eutanásia, recurso terrível para quem quer fugir da dor

A americana Theresa Marie Schindler-Schiavo (mais conhecida como Terri Schiavo), sofreu, aos 27 anos de idade, um ataque cardíaco que resultou na falta de oxigenação do cérebro. Lesão cerebral considerada irreversível, deixou a paciente vivendo à custa dos aparelhos ligados no hospital. O marido, Michal Schiavo, alegando que ela não queria mais viver, especialmente daquela forma, sob alimentação artificial, pediu juridicamente que os aparelhos fossem desligados. No dia 18 de março de 2005 o tubo que alimentava a paciente foi retirada e, após longo martírio, Terri Schiavo falaceu, após sofrer 14 dias de fome e sede, no dia 31 de março daquele ano. Caso semelhante está para ocorrer agora na Itália. A sentença do tribunal de Cassação que decidiu confirmar a interrupção da alimentação e da hidratação para Eluana Englaro, em coma vegetativo há 16 anos, provocou uma série de reações no mundo católico. A Presidência da Conferência Episcopal Italiana (Cei) divulgou o seguinte comunicado: “A vida de Eluana Englaro, cujo drama envolveu a consciência do nosso País, já foi encaminhada para a morte. Enquanto participamos com delicado respeito e profunda compaixão de sua dolorosa experiência, não podemos deixar de chamar à responsabilidade moral os que se dedicam a dar um fim à sua existência. A convicção de que a alimentação e a hidratação não são uma forma de insistência terapêutica foi muitas vezes, mesmo recentemente, manifestada pela Igreja e só pode ser reafirmada, mesmo nesse trágico momento. Nesse contexto, é mais urgente refletir sobre a conveniência de uma lei sobre o fim da vida, a partir dos conteúdos inequívocos na proteção da própria vida, a ser elaborada com o mais amplo consenso possível por todos os homens de boa vontade”.A Associação Comunidade Papa João XXIII, fundada pelo padre Oreste Benzi, que há muitas décadas luta pela defesa da vida humana, mesmo quando ela está na sua fase mais fraca e precária, manifestou a sua profunda consternação, triste pela decisão do Tribunal de Cassação. “esta condenação a morte – lê-se no comunicado assinado pelo Responsável geral da Associação - comove a consciência de todos, uma vez que não é manifestação da ciência médica oficial, mas sim é um veredicto de uma suprema corte. O senso comum da ética se rebela e se opõe a este assunto até porque será criado um precedente muito grave que poderia levar à legitimação da eutanásia. Dirigimos o nosso apelo ao Presidente da República, responsável e garantidor do direito à vida de cada cidadão, para que possa deter esse homicídio de Estado em nome de uma justiça insuportável e desumana. Ninguém pode ficar em silêncio ao assistir à lenta e progressiva morte de uma pessoa a quem será suspendida a alimentação e a hidratação, deixando-a morrer de fome e de sede”.O Presidente nacional da Renovação no Espírito Santo (RnS), Salvatore Martinez, em mérito ao pronunciamento da Cassação, declarou: “Foi sentenciada a condenação à morte de uma cidadã italiana indefesa. A partir de hoje, o direito à vida estará submetido ao poder da lei que avança na esfera mais inviolável da pessoa humana. Que triste Itália surge diante de nós, cada vez mais culpada, propensa a inserir uma cultura da morte, incapaz de afirmar democraticamente o direito à vida. Pergunto-me: é isso o que realmente sentem os italianos? Não se pode chamar de solidariedade suprimir os fracos, nem de justiça remover as razões mais profundas do viver comum, justamente a partir da partilha das angústias e dos sofrimentos que nos tornam realmente homens dignos de estar no mundo”.
Que ideologia não obscureça a consciência!
O Presidente do Pontifício Conselho para a Família
, Cardeal Ennio Antonelli, assinalou que Eluana Englaro "foi condenada a morrer de fome e sede porque vive em um estado vegetativo faz muitos anos. Esperemos que no último momento se pense novamente esta decisão e que a ideologia não escureça as consciências".
O Cardeal indicou também que "Eluana está em estado vegetativo mas não é um vegetal, é uma pessoa adormecida. A pessoa inclusive quando está adormecida ou com descapacidade conserva toda sua dignidade. A pessoa vale por si mesma e não por aquilo que produz ou consuma ou pelo prazer e as satisfações que procura aos outros".
Na opinião do Cardeal, "estamos chamados a testemunhar isto inclusive com o sacrifício. Com um esforço inteligente, generoso e perseverante a favor da vida: esforço cultural, jurídico e político mas também esforço concreto de testemunho pessoal e de serviço à vida especialmente a dos mais fracos".
"Tantas palavras se disseram e escreveram sobre o caso da Eluana", lembrou o Cardeal e comentou que "as mais belas e persuasivas" parecem "as da religiosa da clínica de Lecco que faz 14 anos a assiste com tanto amor: 'Se houver alguém que a considere morta, que deixe que Eluana fique conosco que a sentimos viva… deixem-nos a liberdade de amar e nos doar a quem é fraco'".
"Sinto que devo repetir um chamado da Madre Teresa: ‘não matem as crianças
com o aborto. Se não as quiserem, dêem elas a mim’", concluiu.

Medo ao sofrimento é "motor" de promotores de eutanásia
Num artigo publicado no L'Osservatore Romano, a jornalista Lucetta Scaraffia (a mesma que publicou elucidativo artigo sobre a morte cerebral - veja nossa postagem anencefalia, porque o cérebro e não o coração?) explica que o medo ao sofrimento do mundo atual é o "motor" dos promotores da eutanásia.
Diante dele os católicos devem propor os princípios que respondem razoavelmente os questionamentos que surgem deste temor exacerbado a sofrer. A jornalista assinala que certamente esta vez "operou o mecanismo do caso misericordioso: nesta circunstância não da dor da Eluana – de quem os médicos juram que não sente já mais nada e que não se dará conta que vai morrer de fome e de sede!– senão de seu pai. Como se o pai, com a morte de sua filha, deixasse de sofrer: e este é o paradoxo que ninguém soube objetar"."O medo ao sofrimento constitui o motor base de todas as decisões equivocadas de intervenções sobre o fim da vida: o sabem bem os que fazem propaganda da eutanásia alentando um futuro sem sofrimento", alerta Scaraffia e ressalta que "é próprio da reflexão a propósito do significado do sofrimento –que só o cristianismo sabe confrontar– que devemos fazer o possível para impedir que casos como este se repitam". A tradição católica "oferece luzes certas e claras para decidir nestas complexas circunstâncias: o valor da vida humana da concepção até a morte natural, quaisquer que sejam as condições nas que é vivida, inclusive se os casos a confrontar mudarem constantemente fazendo-os mais complicados e inéditos". Depois de assinalar que este assunto também toca o rol da "tecno-ciência em nossa vida, os limites da medicina, e que, então, para estar verdadeiramente convencidos, exige um exame das mesmas", a jornalista culmina explicando que a "terrível sorte de Eluana, então, é uma admoestação a todos e ensina a nós os católicos que devemos pensar e trabalhar para defender nossos princípios –que são princípios razoáveis compartilhados pelos que não são católicos– e impregná-los cada vez mais nas novas questões que o progresso científico cria".
Caso de adolescente que rechaçou transplante de coração
Outro caso que é visto como semelhante é o da adolescente inglesa de 13 anos, Hannah Jones, que supostamente se recusa a fazer um transplante de coração. O perito em bioética e professor na Divisão de Hematologia Clínica e Oncologia Médica do Sylvester Comprehensive Cancer Center da Universidade de Miami, Dr. Luis Ráez (*), alertou que o caso de Hannah Jones, apresenta um precedente "muito perigoso que pode ser usado legalmente para promover a eutanásia
".
O caso
Segundo a imprensa inglesa, as possibilidades de que Hannah sobreviva logo depois da operação são escassas. A pequena sofreu de leucemia faz alguns anos e o tratamento para combatê-la deixou muito debilitado seu coração que atualmente só funciona ao 10 por cento; e que já foi submetido a várias cirurgias.
Hannah explicou como é dura sua situação atual: "É exaustivo, os doutores me vêem a cada três meses, tomo remédios constantemente e é muito duro, eu não gosto de estar assim, mas vivo com isso". Estas e outras razões a teriam levado a decidir rechaçar o transplante, sem o qual os médicos lhe dão um máximo de 6 meses de vida
.
Diante de sua negativa, a direção do hospital que a atende, o Herefordshire Primary Care Trust do Hereford (Reino Unido), decidiu ir aos tribunais para retirar temporalmente a custódia a seus pais e "obrigar" a adolescente a submeter-se à cirurgia; entretanto, depois de vários procedimentos legais e o relatório de um funcionário do escritório do defensor do menor, o hospital decidiu retirar a demanda.
Segundo a BBC, Hannah foi capaz de convencer ao funcionário estatal de que sua decisão era fruto de uma reflexão meditada e amadurecida. "Não sei exatamente o que lhe haverá dito, mas deveu ser algo realmente poderoso para o convencer de que tinha razão. É algo incrível que uma pessoa que passou por tanto tenha a valentia de defender assim seus direitos. Estamos muito orgulhosos de nossa pequena", declarou o pai de Hannah, Andrew Jones, ao jornal The Independent.
Ele e sua esposa apóiam a decisão de sua filha. "Obviamente queremos ter a Hannah conosco tanto como seja possível, mas não vamos forçar a fazer algo que ela não quer fazer neste momento", disse também ao periódico Daily Mail.
Manipulação anti-vida
Sobre este caso, a Presidente da Federação Espanhola de Associações Pró-vida, Alicia Latorre precisa que com este caso "mais uma vez se utiliza uma linguagem enganosa. A imprensa sensacionalista nos fala de que Hannah Jones, a menina britânica de 13 anos que não quer submeter-se a um transplante de coração, ganhou a batalha para 'morrer com dignidade'".
Deste modo lembra que "o termo 'morte digna' forma parte dos eufemismos da cultura da morte. A dignidade a tem o ser humano desde sua concepção e é obrigação de todos facilitar que todos possam nascer e desfrutar de umas condições de vida de acordo a essa dignidade".
A respeito, o Dr. Ráez precisa que "a Igreja Católica
sempre foi clara que não se deve forçar com métodos extraordinários a prolongação artificial da vida, mas estes meios se definem de acordo com a pessoa e as circunstâncias. Por exemplo, um transplante de coração em um paciente ancião (mais de 85 anos) é provavelmente um procedimento extraordinário e desnecessário, mas neste caso é uma menina que só tem 13 anos. Certamente há dúvidas de que sua expectativa de vida não sejam outros 70 anos mas só Deus sabe quantos serão". Do mesmo modo, Ráez precisa que "as cirurgias de coração são procedimentos que se fazem todos os dias em todos os países do mundo pelo qual não sempre são necessariamente procedimentos extraordinários".
Para o perito, o outro aspecto importante com o caso de Hannah "é o precedente já que as leis britânicas e européias se influenciam muitíssimo nesta forma de legislação. Nos países de fala inglesa este caso cria um precedente perigosíssimo que pode ser usado para promover legalmente a eutanásia se se começar a deixar que as crianças
opinem sem ter os critérios adequados sobre o tema, especialmente quando estão doentes".
Na opinião do perito em oncologia e bioética, talvez "a menina, devido a sua curta idade e ao sofrimento que teve pela longa enfermidade, está perdendo esperança em viver". Por isso, comenta, "os pais que são legalmente responsáveis por tomar qualquer decisão por ela estão muito faltos de esperança e fé e não querem lutar mais". "A dignidade da pessoa humana é muito valiosa ainda no leito de sofrimento e morte porque o amor de Deus por nós não diminui nunca nem quando passamos pelas piores circunstâncias", conclui.
(*)O Dr. Luis Ráez é American Board Certified em Medicina Interna e Oncologia Médica; e atualmente trabalha na investigação de novos tratamentos contra o câncer e tem diversas publicações científicas na matéria, assim como trabalhos e artigos em temas de ética médica sobre a eutanásia, células tronco
e embriões humanos.

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