sábado, 15 de novembro de 2008

Crise financeira: crise moral e de confiança

Quando visitou o Papa, Lula disse que solicitou ao Pontífice que se pronunciasse sobre o problema financeiro mundial. Por várias vezes o nosso presidente demonstrou ser um ignorante em matéria religiosa, mas desta vez demonstrou também desconhecer completamente os pronunciamentos do Papa. Sim, porque logo que estourou a crise econômica, Bento XVI se pronunciou sobre ela. Mas, pronunciou-se para falar sobre a falta de uma virtude muito importante que, hoje, carece nos mundos dos negócios, que é a Confiança. Eis a resposta dada, indiretamente, ao governante brasileiro, por algumas autoridades religiosas da Igreja, conforme despacho da Zenit:
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 14 de novembro de 2008 (
ZENIT.org).- «A crise que o mundo atual está vivendo não é só financeira e, portanto, a solução não pode ser somente de caráter financeiro». Assim afirmou ontem Dom Giampaolo Crepaldi, secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz, em declarações à Rádio Vaticano.
Esta crise financeira, afirmou, «evidencia o que a doutrina social da Igreja afirma há muito tempo: quando um sistema econômico-financeiro entra em crise, nunca é por motivos econômicos ou financeiros, mas porque em sua origem houve uma ferida no sistema moral global».
Neste sentido, o prelado indicou que na origem há uma «crise de confiança», «todos falam dela, de voltar a estabelecer a confiança recíproca para resolver esta crise», admitiu, mas a confiança «não é um elemento econômico ou financeiro, mas uma atitude ética».
«Quando o mercado deteriora esta atitude ética, todos sabem que já não está em grau de ser reconstruída por si só.»
O secretário de Justiça e Paz explicou que neste momento é necessário um «equilíbrio» entre a falta de regulação dos mercados vivida nos últimos tempos e a tentação de dar muito peso ao Estado.
«São três os atores que devem participar disso: o mercado, por um lado, o Estado por outro e, por outro lado ainda, a sociedade civil. E isso precisamente para responder àquelas exigências e inspirações que provêm do chamado princípio de subsidiariedade», acrescentou.
Em conformidade com a doutrina social da Igreja, explica Dom Crepaldi, «é necessário olhar com maior sabedoria o mercado e o papel que este pode ter».
«Não se teria chegado ao ponto em que estamos se tivéssemos tratado o mercado como um meio e não como um fim», acrescentou.
Finalmente, o prelado fez um convite aos países que se reunirão amanhã para o evento do G-20, para que trabalhem em consonância com as resoluções da conferência internacional de Doha, quanto ao financiamento para o desenvolvimento.
«O temor é que a atual crise financeira mine o trabalho e os compromissos tomados pelos Estados e pela comunidade internacional para financiar o desenvolvimento», advertiu. Ao contrário, espera que os participantes da reunião «confirmem e assumam com maior senso de responsabilidade» a ajuda aos países pobres.

Bispos europeus advertem: «Estamos diante de uma profunda crise espiritual»
Termina a Plenária da COMECE - Por Inma Álvarez
BRUXELAS, sexta-feira, 14 de novembro de 2008 (
ZENIT.org).- «A atual crise financeira manifesta uma profunda crise espiritual e um conjunto equivocado de valores»: assim afirmam os bispos da Europa ao concluir nesta sexta-feira a Assembléia Plenária do Comitê de Representantes das Conferências Episcopais da Europa (COMECE), realizada nestes dias em Bruxelas.
A crise atual se reflete na Europa em uma tripla vertente, segundo a análise realizada nestes dias pelos prelados: em primeiro lugar, «o resultado do referendum irlandês, que suspendeu o Tratado de Lisboa e a reforma institucional da UE»; em segundo lugar, «a crise geopolítica surgida do conflito do Cáucaso»; e em terceiro lugar, «a crise financeira e econômica».
Centrando-se nesta última, os bispos assinalam com pesar que «o sentido e o valor do trabalho humano foram retirados pela luta generalizada pelo benefício».
O presidente da COMECE, Dom Adrianus Van Luyn, bispo de Rotterdam, advertiu que não se subestima a crise, porque o que se está questionando é todo o modelo de sociedade ocidental.
«Quem considerar que a causa da crise financeira reside só em uma falta de transparência e de responsabilidade legal, talvez não perceba o fato de que é nosso modelo social que está sendo posto em dúvida», acrescentou.
«Um modelo econômico que está baseado no consumo continuado e ilimitado de recursos limitados só pode acabar mal», acrescentou.
Neste sentido, os bispos crêem que o debate sobre a mudança climática «oferece a oportunidade de questionar o estilo de vida da sociedade ocidental», já que «pergunta pela sobrevivência de uma grande parte da humanidade».
É necessário, portanto, «persuadir não só as mentes, mas também os corações de cidadãos, e convencê-los de que se distanciem do modo de viver predominante em nossos países, muito enfocados no consumo».
A importância do domingo
Outro dos temas tratados, dentro da preocupação geral pelas repercussões da crise, foi o respeito do domingo como dia festivo, questão que está prevista no debate do Parlamento Europeu do próximo mês de dezembro.
Os bispos europeus pedem que se respeite o descanso dominical «como um dos fundamentos da ordem social européia», assim como «uma forma de equilibrar a vida familiar e o trabalho», frente a recentes legislações européias que ameaçam o domingo por questões políticas ou simplesmente consumistas.
Neste sentido, apelam à «responsabilidade dos membros do Parlamento» para que incluam a proteção do domingo na diretriz sobre o horário de trabalho, especialmente neste momento de crise.
Por último, os prelados pedem à Europa que se envolva mais na defesa da minoria cristã do Iraque, e lamentam que a Europa «não se esforce o suficiente» para exigir de outros países o respeito à liberdade religiosa.

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