domingo, 17 de agosto de 2008

Caso IBP não foi falta de recursos, mas por problemas de doutrina

Há poucos dias comentamos neste blog o fechamento do Instituto Bom Pastor em São Paulo, fato que teria sido gerado por falta de recursos (veja aqui). Na realidade, o problema é outro completamente diferente. O IBP não foi fechado por falta de recursos, mas por causa de problemas de disciplina e de doutrina. Vejamos resumidamente o que ocorreu. O IBP é fruto do esfacelamento que está ocorrendo na "Fraternidade Sacerdotal São Pio X" (FSSPX), conforme já divulgamos em postagens anteriores. Em 8 de setembro de 2006, o Cardeal Dario Castillon-Hoyos (que dirige a Constituição “Ecclesia Dei”, destinada a reaproximação dos discípulos de Mons. Lefebvre) aprovou (em nome do Papa) aquela instituição, em período “ad experimentum” de 5 anos, a fim de atender solicitação de 12 sacerdotes e 2 diáconos que estavam abandonando a FSSPX. Segundo o Decreto, esses religiosos são oriundos da arquidiocese de Bordeaux, na França. Foi conferido aos membros desse instituto o direito de celebrar a sagrada liturgia utilizando, como seu rito próprio, os livros litúrgicos em vigor em 1962, a saber: o missal romano, o ritual romano e o pontifical romano para conceder as ordens, e também o direito de recitar o ofício divino segundo o breviário romano editado no mesmo ano. Por último, é nomeado o Reverendo Padre Philippe Laguérie como primeiro superior. Uma agência de notícias informou que o Papa manifestou o interesse em que o IBP estudasse o Concílio Vaticano II à luz da doutrina tradicional da Igreja. Veremos adiante como foi mal entendido esse suposto desejo do Papa. Segundo informe da ACI Prensa (que diz ser apenas cinco e não doze os sacerdotes), o arcebispo de Burdeaux e Presidente da Conferência Episcopal de França, Cardeal Jean-Pierre Ricard, assinalou em um comunicado que a este Instituto pertencem os clérigos que desejam “exercer seu sacerdócio na tradição doutrinal e litúrgica da Santa Igreja Católica Romana”. O Cardeal francês explicou que o Santo Padre “tomou a decisão de erigir este novo Instituto”. Deste modo, continua “se dá a vontade de propor uma experiência de reconciliação e de comunhão que terá que afirmar e aprofundar-se com os fatos”. Os seminaristas, continua a agência, seriam ordenados pelo Cardeal Darío Castrillón Hoyos, Prefeito da Congregação para o Clero e Presidente da Comissão “Ecclesia Dei” criada para facilitar a volta à comunhão eclesiástica plena dos vinculados à Fraternidade fundada por Lefebvre. Depois de fundado, o IBP começou a abrir casas em vários países, sendo instituído uma seção para a América Latina sob a direção do sacerdote chileno Rafael Nava Ortiz. Pretendendo abrir uma casa no Brasil, o padre procura (ou é procurado, não se sabe) um amigo dele, Orlando Fedeli (designado adiante pela sigla OF). E aqui entra o elemento principal de discórdia que provocou o fechamento do IBP no Brasil. Segundo o padre Renato Leite (Vide) o objetivo do Instituto no Brasil seria o de “Preparar os alunos do Professor Orlando para ingressarem no seminário do IBP em Courtalain, França”. E obviamente, essa preparação estaria prioritariamente a cargo do professor que com os amigos, “pagavam todas as contas da casa”, imaginando ter uma espécie de “direito adquirido” para assim proceder no que dizia respeito à formação dos rapazes. A casa seria um instrumento para o professor atingir um dos seus mais ousados objetivos: O ter padres sob o seu comando direto. E, para atingí-lo, seria enviado para Courtalain um número cada vez maior de alunos do professor que, ordenados padres, garantiriam a influência e o controle do Instituto do Bom Pastor pelo professor e seus amigos, recordando que o IBP já nasceu Pontifício ou seja “grande” canonicamente falando, com aprovação direta do Papa e portanto “tentador”.
Tudo indica que os problemas de disciplina interna se acentuaram quando explodiu uma polêmica entre OF e o Prof. Felipe Aquino, aquele afirmando que faz parte das normas do IBP recusar formalmente o último Concílio, enquanto este dizia o contrário. Entrou na liça o padre Rafael Nava Ortiz em defesa das teses de OF. Mas, espera aí? O polêmico OF pretendia que o Vaticano aceitasse que um Instituto erigido em nome do Papa recusasse formalmente o último Concílio? Mas quem é esse tal de OF para querer impor tal pretensão?
Vejamos o “currículo” dele. Trata-se, realmente, de um polemista fracassado. Pertenceu por alguns anos ao antigo grupo do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, mas nunca entrou para a TFP, pois antes desta ser fundada já entrara em rota de colisão com o fundador. O motivo da cisão foi sua visão crítica e mesquinha da piedade cristã. Não se entende como ele ostenta o nome de “Monfort” à sua associação (a qual, a única coisa ativa que possui é um site na internet e nada mais), se sempre foi um crítico sarcástico da Sagrada Escravidão ensinada por São Luís Grignion de Montfort. Para se ter uma idéia da enorme jactância e orgulho de OF basta ver os termos com que se dirige ao Prof. Felipe Aquino. Diz ele textualmente em seu site, recriminando o Prof. Aquino: “Que feio, Professor Felipe Aquino! Que feio o senhor fez! Como o senhor teve a coragem de distorcer de tal modo a realidade?” . Quer dizer, ele se dirige a um homem maduro, intelectual de nomeada, autor de 50 livros, apresentador de um programa na TV Canção Nova, etc., com os termos de um pai que se dirige a um filho malcriado ou desobediente. No entanto, parece que a intervenção do Pe. Rafael Navas tenha sido crucial para o fechamento do IBP, pois veio em defesa de OF o que significaria estar aprovando a tese de que o Instituto recusa formalmente o Concílio. Uma defesa da tese do Prof. Aquino pode ser vista no blog “O Ultramontano , de Rafael Vitola Brodbeck.
O desdobramento desta polêmica pode ser resumida assim: Em 5 de outubro de 2006, o Cardeal Jean-Pierre Ricard, que é o supervisor do IBP junto à Santa Sé através da Comissão Ecclesia Dei, declarou que os padres do IBP devem aceitar “o atual magistério do Papa e dos Bispos”, e que eles devem deixar “clara sua posição de conformidade com o magistério atual que se expressou no Concílio do Vaticano II, bem como os documentos promulgados por ele”. Um mês depois desta entrevista, o Pe. Philipe Laguérie é chamado à Roma para dar explicações sobre suas declarações “dinamitosas” sobre o Concílio do Vaticano II. Fato este que chegou a ser ridicularizado pela FSSPX. Ora, será mesmo que o IBP tem licença para atirar no Vaticano II? Claro que não! Aplicando isso aos padres do IBP, não se pode esperar que estes homens que outrora estavam na FSSPX, de uma hora para a outra, como num passe de mágica, admitam tudo o que a Igreja ensinou e fez depois do Vaticano II. É compreensível que os padres do IBP, tenham muitas reservas quanto ao Concílio. Porém, é significativo que eles não tenham permissão para serem franco-atiradores do Concílio. E é aí que está o detalhe, é aí que está a sutileza de toda questão.

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