domingo, 6 de abril de 2008

Sorbonne quarenta anos depois

Os distúrbios em Paris não faziam parte dos planos dos revolucionários?
Os revolucionários mais entrosados têm mais motivos para comemorar a revolução de 68 na Sorbonne na data de 22 de março do que 13 de maio. Por que? Porque foi neste dia que Daniel (ou Dany) Conh Bendit e um grupo de Nanterre começou o "levante". Conh Gendit declarou à imprensa que a sua idéia era fugir para os Estados Unidos para evitar as comemorações do 40º aniversário, em 22 de março, marcando o fato que incendiou a revolta: a ocupação por cerca de 300 estudantes, de um edifício administrativo da faculdade de Nanterre, nas proximidades de Paris, para protestar contra a prisão de companheiros que eram contra a guerra do Vietnã. Se não queria comemorar, porque estava lá exatamente no dia em que tudo começou? Ele poderia ter deixado para ir a Paris em maio, mas não quis relacionar a tomada da Sorbonne com ele, e sim a de Nanterre. A "tomada" da Sorbonne (uma cópia fiel da tomada da Bastilha em 1789), já estava programada muito antes pelos mentores daquela revolução.

Mentores? Então aquele movimento não foi espontâneo, não surgiu como uma manifestação natural da revolta popular contra a sociedade e seus parâmetros morais? Assim como ocorre com outros movimentos revolucionários é comum certos escritores, historiadores ou comentadores deles querer dá a entender que tudo não passou de uma manifestação decorrente da reação popular contra as forças do poder. Foi assim com a Revolução Francesa (cujo mito da "revolta espontânea" já foi derrubado há anos) e com a Revolução Comunista de 1917.

E com relação à Revolução da Sorbonne, em 1968, não foi pelo acaso ou naturalmente que ocorreram aqueles distúrbios? Pensemos sensatamente no assunto: foi por acaso e espontaneamente que alguns intelectuais (embora estudantes, eles eram intelectuais pois faziam parte da intelectualidade, estudavam filosofia, sociologia e coisas afins em Nanterre) resolveram se reunir e proclamar alto seus princípios revolucionários? Foi acidentalmente que se uniram a eles alguns líderes sindicais e aderiram ao movimento? Também foi por acaso e acidentalmente que vários deles eram estrangeiros, não eram franceses? Enfim, são tantas as evidências que provam que aquele movimento não passou de uma trama, de uma urdidura, de um complô de uma minoria, embora tenha arrastado multidões atrás de si...
Ao chegar a Paris, diz-se que Conh Bendit foi procurado por mais de 200 jornalista para dá entrevistas. Declarou que ele e seus amotinados "vivíam em tribos, iam de um lugar para o outro juntos. Era uma vida coletiva de manhã até de noite, com reuniões e manifestações" ."As pessoas queriam se apropriar das suas vidas, porque se apropriavam de uma rua, de uma fábrica, mas não do poder". Como exemplo, cita que "a polícia havia suspendido a proteção dos ministérios, mas ninguém queria tomá-los, não se interessavam!". Como se vê os amotinados viviam reunidos, tinham planos, tinham projetos, executavam uma estratégia e depois partiam para a luta. O fato da polícia lhes ter facilitado o acesso a órgãos e às faculdades e fábricas apenas mostra que haviam outros elementos do complô colocados em postos importantes para lhes dar uma ajudazinha, a da inércia. Quando Conh Bendit disse que não se interessavam em "tomada do poder" é porque não era este o objetivo dos mentores do movimento: fazia parte de sua filosofia a própria ausência de poder, era preciso que a idéia de autogestão fosse propagada no próprio cerne daquela Revolução.

Conh Bendit, ontem agitador, hoje parlamentar europeu

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