segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ainda sobre a mediocridade

No texto abaixo, Dr. Plínio está se referindo à obra do escritor francês Ernest Hello "L'Homme":

Ao medíocre agradam os escritores que não dizem sim nem não sobre qualquer assunto, que nada afirmam, e que tratam com respeito todas as opiniões contraditórias.
"Toda afirmação parece-lhe insolente, pois exclui a proposição contrária. Mas se alguém é um pouco amigo e um pouco inimigo de todas as coisas, o medíocre o considerará sábio e reservado, lhe admirará a delicadeza de pensamento e lhe gabará o talento das transições e dos matizes.
"Para escapar à censura de intolerante, feita pelo medíocre a todos os que pensam fortemente, seria preciso refugiar-se na dúvida absoluta; e mesmo em tal caso, seria preciso não chamar a dúvida pelo seu nome. É necessário formulá-la em termos de opinião modesta, que reserva os direitos da opinião oposta, toma ares de dizer qualquer coisa e não diz coisa alguma. É preciso acrescentar a cada frase uma perífrase açucarada: "parece que", "eu ousaria dizer que", "se é lícito exprimir-se assim".
Resta ao ativista da mediocridade, quando age, uma preocupação: é o medo de comprometer. Assim, ele exprime alguns pensamentos roubados ao Conselheiro Acácio (1), com a reserva, a timidez, a prudência de um homem receoso de que suas palavras, por demais ousadas, abalem o mundo.
"Ao julgar um livro, a primeira palavra de um homem medíocre se refere sempre a um pormenor, e habitualmente a um pormenor de estilo. "É bem escrito", diz ele, quando o estilo é corrente, tépido, incolor, tímido. "Está mal escrito", afirma ele, quando a vida circula em uma obra, quando o autor vai criando para si uma linguagem à medida que fala, quando exprime seus pensamentos com esse desembaraço ousado que é a franqueza do escritor. O medíocre detesta os livros que obrigam a refletir. Agradam-lhe os livros parecidos a todos os outros, os que se ajustam a seus hábitos, que não fazem estalar sem molde, que cabem no ambiente dele, que se conhecem de cor antes de se ter lido, porque tais livros se parecem com todos os outros que se leu desde quando se aprendeu a ler".
(1) "Monsieur de la Palisse", no original francês".
(transcrito do jornal "Folha de São Paulo", de 22-07-1983, do artigo "Mediocrólogos", de Plínio Corrêa de Oliveira)

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