domingo, 30 de março de 2008
A MEDIOCRIDADE
“A mediocridade é o mal dos que, inteiramente absorvidos nas delícias da preguiça e pela exclusiva deleitação do que está ao alcance da mão, pelo inteiro confinamento do imediato, fazem da estagnação a condição normal de suas existências.
“Não olham para trás: falta-lhes o senso histórico. Nem olham para frente, ou para cima: não analisam nem prevêem. Sua vida mental se cifra na sensação do imediato. A abastança do dia, a poltrona cômoda, os chinelos e a televisão: não vai além do seu pequeno paraíso.
“Paraíso precário, que procuram proteger com toda espécie de seguros. E tanto mais feliz o medíocre se sente, quanto mais nota que todas as portas estão solidamente cerradas. Portas que podem se abrir para a aventura, para o risco, para o esplendoroso, e portanto, também, para os céus da Fé, para os largos horizontes da abstração, para os imensos vôos da lógica e da arte, para a grandeza de alma, para o heroísmo.
“Por meio do sufrágio universal, os medíocres fizeram tantas leis, tantos regulamentos, instituíram tantas repartições públicas, que nenhuma fuga é possível. Eles impõem às almas de largos horizontes a ditadura da mediocridade.
“Como todas as ditaduras, também esta só se prolonga quando chega a monopolizar os meios de comunicação social.
“Cada vez mais as mediocracias vão penetrando nos jornais, na revista, no rádio e na televisão.
“E se fosse só isso! O ecumenismo, com a infatigável e vã tagarelagem de seu diálogo, é bem a religião dos mediocratas. Uma espécie de seguro, ou de resseguro, para a vida e para a morte, mediante o qual todas as religiões são solicitadas a dizer em coro que indiferentemente com qualquer delas, os homens podem alcançar para sua saúde, seus negocinhos e sua segurança, e mesmo depois da morte, um bom convívio com Deus.
“Nesta perspectiva, parece que a Deus é indiferente que se siga qualquer religião. Pode-se até blasfemar contra Ele e persegui-Lo. Pode-se até negá-Lo. Ele é indiferente a todos os atos do homem. Olimpicamente indiferente. Ecumenicamente indiferente. Como aliás os medíocres, por sua vez, tenham eles ou não algum Crucifixo, algum Buda de louça ou de metal, ou algum amuleto, nos locais em que dormem ou em que trabalham, são olimpicamente indiferentes a Deus.
“Ora, esse indiferentismo não é senão uma forma de ateísmo. O ateísmo daqueles que, mais radicais (em certo sentido) que os próprios ateus, não tomam Deus a sério. Ao passo que o ateu, se tivesse a evidência de que Deus existe, O odiaria... ou, talvez, O serviria... Mas, em todo o caso, O tomaria a sério”.
(Artigo “Medíocres, mediocratas, etc”, de Plínio Corrêa de Oliveira, in“Catolicismo”, junho de 1995)
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