sexta-feira, 7 de março de 2008

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) e os direitos da mulher

O “feminismo” de Edith Stein

Nos séculos anteriores algumas vozes já haviam se levantado para divulgar a bandeira do que se denominou depois de “feminismo”. Mary Wollstonecraft , por exemplo, foi considerada por alguns historiadores como a primeira feminista por defender pontos de vista sempre com a idéia de igualdade entre homens e mulheres. Algumas suas seguidoras como Lady Wollstonecraft, Mary Farifax Somerville, Lucretia Coffin Mott e Lady Elizabeth Cady Stanton chegaram até a organizar a primeira Convenção pelos Direitos das Mulheres em Nova York. Outras ainda se destacaram, em sua maioria oriundas do protestantismo, como Lucy Stone e Susan Brownell Anthony pertencentes aos Quakers;
Destacou-se, dentre todas, a escritora socialista francesa George Sand como uma das precursoras do movimento feminista de nossa época. Outras ativistas do século XIX foram as puritanas da seita Quaker, nascidas nos Estados Unidos, Lucretia Coffim Mott e Susan Brownell Anthony, as ativistas Elizabeth Cady Stanton, Lucy Stone (americana), Sophia Jex-Blake (escocesa) e outras personalidades de destaque no meio da alta sociedade.
Muitos consideram falsa a idéia de que somente em meados do século XX foi que tal movimento tomou corpo e se expandiu por toda a terra com Simone de Beauvoir. No tempo de Edith Stein, início do século XX, a “questão feminista” estava candente e com todo vigor, embora mais especificamente na Europa. Antes de sua conversão, ela chegou a se inscrever como membro da “Associação Prussiana para Defesa do Direito do Voto da Mulher”, um movimento acusado de ter cunho socialista. Não se ouviu mais falar de que tenha se envolvido nunca mais com tais movimentos, parecendo ter sido este um “pecado de juventude”.
Era uma época em que, principalmente na Alemanha, a mulher não tinha quase nenhuma chance de ensinar nas faculdades. Mas Edith Stein, que considerava o ensino como uma atividade tipicamente feminina, enfrentando o respeito humano e as opiniões contraditórias (não haviam mulheres no corpo docente das faculdades alemãs), concorreu a uma vaga na Universidade de Götingen. Foi recomendada em tom meio irônico por seu orientador no doutorado, o filósofo Husserl, que assim se expressou: “Se a carreira acadêmica fosse aberta às mulheres, então eu recomendaria em primeiríssimo lugar e calorosamente a admissão de sua candidatura”. De nada adiantou indicação de tanto peso, já que Husserl era nada mais nada menos do que um filósofo famoso e respeitado tanto na Alemanha quanto no exterior, e que havia criado a escola da “Fenomologia”: sua inscrição foi rejeitada em 1919, num rápido processo que decepcionou profundamente Edith Stein. O seu caso nem sequer foi levado à Congregação da Faculdade que ela pleiteava, pois uma comissão prévia a rejeitava alegando que a ocupação de cátedras por mulheres sempre trazia problemas para a Escola.
Nem por isso Santa Edith Stein ficou conformada: recorreu ao ministério competente na Capital, argumentando que o fato de ser mulher não poderia ser um impedimento para o avanço de uma carreira científica. O ministro concordou e mandou uma portaria às universidades, recomendando que o fato de ser mulher não fosse impedimento para o acesso ao ensino superior. Nem por isso a Universidade de Götinger voltou atrás. No entanto, nota-se no episódio a diferença da atitude de Santa Edith Stein com a das mulheres ditas “feministas”: estas provavelmente procurariam provocar um confronto com as autoridades e fariam um discurso inflamado ou até passeatas em defesa da igualdade entre homens e mulheres. Embora Edith Stein ainda não fosse católica, estava no entanto possuída de bom espírito e tudo o que desejava era que fossem respeitados seus direitos. Alguns anos depois, quando já crescia sua fama como conferencista e filósofa renomada, foi indicada para a universidade de Freiburg, mas recusou educadamente o cargo pois pleiteava escolas de níveis melhores

Porta-voz dos legítimos direitos da mulher
O espírito de Santa Edith Stein sempre se revelou como recatado e humilde, até mesmo antes de sua conversão. Conhecia perfeitamente os ditames da moda, porém não gostava de bailes nem de exibicionismos sociais, que na época era coisa comum onde andasse. Até mesmo nas festas estudantis, onde todos são descontraídos, ela sempre se mostrava recolhida. Isto fazia-a estar sempre pensativa e analisando antes de fazer qualquer coisa.
Aos poucos foi amadurecendo no interior dela as definições que precisava para caracterizar o modo de proteger a mulher contra situações de opróbrio e de indignidade. Estudava e vivia quotidianamente situações que a levaram como conceber a melhor forma de encarar o problema do lugar da mulher na sociedade. Havia sido enfermeira e ido para o “front” de batalha na primeira grande guerra; voltando às atividades normais, trabalhou em hospitais de desvalidos, mas sempre com a idéia de dedicar-se com afinco aos estudos. Em 1911, quando iniciara o curso de filosofia na universidade de Breslau, era a única mulher no curso de psicologia. Formou-se em janeiro de 1915, em plena guerra. Este curso lhe possibilitaria depois uma cadeira de ensino em escola secundária. Alguns anos depois, tornou-se assistente do famoso Husserl, seu orientador na tese de doutorado e para o qual redigiu (como secretária) a principal obra de Husserl sobre a “Fenomenologia”.
No final da década de 20, a doutora Edith Stein já se destacava nos meios intelectuais da Alemanha. Em 1928, a Associação Católica de Professoras da Baviera convida-a para fazer uma conferência. O tema, “O valor genuíno da mulher e seu significado para a vida do povo”, foi mais ou menos o assunto de todas as suas palestras e estudos quando versava sobre o papel da mulher na sociedade. Nos anos seguintes foi convidada para várias palestras, sempre tendo como tema a mulher, em Heidelberg, em Freiburg, depois em cidades maiores como Colônia, Zurique, Viena e Praga. O que chamava a atenção sobre ela era exatamente que seu discurso distanciava-se completamente dos ideais “feministas” da esquerda. Um repórter do jornal “Heidelberger Boten” declarou que a palestra de Edith Stein no movimento católico tornou-se mais convincente porque “não se ateve ao caráter patético do movimento feminista”, formulando seus pensamentos de forma concreta e sem rodeios.
As conferências se sucediam, e a bandeira da defesa da mulher passou para as mãos de uma pessoa que, a estas alturas, já era uma católica fervorosa. O público em geral ficava surpreso, pois muitos esperavam algo diferente: em vez de arroubos retóricos e inflamados em defesa da liberdade da mulher, Edith Stein, com sua simplicidade, modestamente vestida, convidava todos a respeitarem os direitos da mulher sem que fosse necessário a convocação para uma luta de libertação do sexo feminino, como o faziam sempre as feministas de esquerda. Personalidades feministas da época condenavam a forma como Santa Edith Stein debatia o assunto, acusando-a de ser uma “patriarcalista” disfarçada.
Não se tratava disto, ela defendia com ardor os verdadeiros direitos da mulher. Ao mesmo tempo que afirmava categoricamente os papéis que cabiam a ambos os sexos, contestava vigorosamente a existência de qualquer igualdade sexual. Numa conferência ela definiu os dois papéis:
“A profissão primordial do homem é o domínio sobre a terra. A mulher coloca-se ao seu lado como colaboradora. A profissão primária da mulher é a criação e educação dos descendentes. O homem se encaixa nessa tarefa como seu protetor. Isso significa que os dotes mencionados estão presentes em ambos, embora em diferentes medidas e proporções. Ao homem sobretudo os dotes para a luta, a conquista e domínio : a força física para a tomada de posse externa, a inteligência para penetrar o mundo de forma sagaz, força de vontade e energia para realização criadora. Para a mulher, a capacidade de guardar, proteger e estimular o desenvolvimento daquele que está crescendo e promover o seu desdobramento”.
Em síntese: com o homem estaria mais a razão, enquanto que com a mulher o coração. A par disto, Edith Stein afirmava com destemor os direitos da mulher exatamente numa época e num país onde eles eram menos respeitados, na Alemanha. Segundo críticos dela, uma de suas realizações que deu mais fruto foi exatamente banir a idéia da impossibilidade do ingresso da mulher no chamado “mercado de trabalho”, ou seja, no mundo profissional moderno. Ela afirmava que não há profissão que não possa ser exercida por uma mulher. Ao lado de mostrar de forma convicta a responsabilidade de ambos os sexos na sociedade, estabelece, todavia, a mulher num papel bem específico e mais valorizado.


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