domingo, 2 de março de 2008
O PERIGO COMUNISTA NO BRASIL : A ESQUERDA CATÓLICA
Lembrem-se os leitores que o perigo comunista na época em que o Dr. Plínio escrevia era latente não só em outras partes do mundo, mas também no Brasil.
“O perigo comunista consiste na atuação, não só do Partido Comunista, mas de todas as forças propedêuticas ou auxiliares, de rótulo marxistóide, socialista ou esquerdista. A evidência dos fatos que mostra que tal perigo está menos no PC, diminuto e esfrangalhado, do que nestas forças auxiliares. Pois só elas têm capacidade de penetração em nosso ambiente. E, para ser inteiramente preciso, entre essas forças auxiliares, a única a ser realmente tomada em conta é a “esquerda católica”. O Evangelho nos previne contra os lobos vestidos com pele de ovelha (Mat. 7, 15). A mais eficiente das peles de ovelha é o hábito talar do sacerdote. Ou, por analogia, a reputação de líder católico...
Entendo por “imunização” aquilo que possa fazer cessar o perigo. E, como só se elimina um perigo quando se fazem cessar as suas causas, quero eliminar a influência da esquerda católica.
Notem Vossas Excelências que não falo em privar da liberdade os elementos que constituem essa esquerda. Nem em expulsar do país os seus componentes estrangeiros. Essas medidas poderão ser ou não ser justas e úteis, conforme cada caso concreto. Elas podem atenuar o perigo. Não porém eliminá-lo. Acrescento que, em alguns casos, elas podem ser contraproducentes. A esquerda católica vive da influência que lhe vem do rótulo católico. Essa influência não se lhe tira só com medidas legais e judiciárias. Mais do que tudo, é preciso tirar-lhe o rótulo. Nisto está a solução.
No Brasil só houve uma questão religiosa. Foi o conflito entre o governo imperial, de um lado, e, do outro , D. Vital e D. Macedo Costa. Os valorosos bispos de Olinda e do Pará – obedecendo às prescrições da Santa Sé – proibiram aos seus diocesanos que pertencessem à maçonaria. O governo imperial reputou ilegal a proibição e prendeu os bispos. Esta violência despertou o entusiasmo geral em favor dos prelados feridos em suas imunidades eclesiásticas só por cumprirem seu dever. O governo imperial teve de capitular. O gabinete Rio Branco caiu. E a pedido de Caxias, os bispos foram indultados. Uma mesma ovação acolheu o gesto justiceiro e sábio do grande Caxias, e a vitória dos dois bispos.
Se não queremos repetir o erro trágico do gabinete Rio Branco – erro do ponto de vista religioso e do ponto de vista civil – temos de agir com justiça, firmeza e sagacidade.
Ora, sucede que, entre o caso dos bispos de Olinda (o do séc. XIX, é claro...) e do Pará, e o caso da hodierna esquerda católica, há uma diferença radical e incomensurável. É que os dois gloriosos prelados do Império tinham toda a razão do próprio ponto de vista católico. Por isto, Pio IX, então reinante, lhes deu inteiro ganho de causa. Pelo contrário, a esquerda católica não exprime o pensamento da Igreja. E como tal não merece o apoio, nem da hierarquia, nem do povo católico.
Sei o que escrevo. E sei que, no Brasil, ninguém terá a coragem de me contestar. Afirmo que o comunismo é incompatível com a doutrina católica, não só porque ele se baseia em uma filosofia materialista e nega a instituição da família, como porque elimina a propriedade individual. E isto de tal forma, que não é possível a existência segura e livre da Igreja, sob um regime comunista... Claro está que são, por motivos análogos, incompatíveis com a Religião o socialismo e outros subprodutos da propaganda comunista.
...Seria algo como a quadratura do círculo, imaginar que Paulo VI se mantivesse insensível a tão justo pedido. A só considerar as coisas no plano diplomático, quão terrível seria, aos olhos do mundo, a situação do pontífice que se recusasse a tomar todas as medidas para salvar do colapso e do caos a mais populosa das nações católicas do globo? Considerada esta hipótese abstrusa poder-se-ia dizer que o mundo estaria rolando para o despenhadeiro final!"
(“Carta a ministros ignotos” – Folha de São Paulo, de 26.10.69).
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