O homem medíocre
“Suas admirações são prudentes, seus entusiasmos são oficiais. Por vezes o homem medíocre admite um princípio, mas se se chega às conseqüência deste princípio, ele dirá que se exagera. Se a palavra exagero não existisse, o homem medíocre a inventaria. Ele tem medo e horror dos santos e homens geniais; nada admira com calor. Não crê na existência do diabo. Ele prefere seus inimigos, se são frios, a seus amigos se são quentes. O homem medíocre gosta dos escritores que não dizem nem sim nem não sobre coisa alguma, que nada afirmam, que condescendem com todas as opiniões contrárias. Ele acha insolente toda afirmação. Mas se alguém é um pouco amigo e um pouco inimigo de todas as coisas, ele o achará sábio e reservado. Ele tem medo de comprometer-se. O homem medíocre diz que há bem e mal em todas as coisas. Ele lamenta que a Religião Cristã tenha dogmas. Não tem entusiasmos nem compaixão. Sente-se apoiado sobre a multidão dos que se lhe assemelham. Ele não luta. Tem sucesso porque segue a correnteza. Não percebe a grandeza, não se extasia nem se precipita. Nos seus julgamentos como em suas obras, ele substitui a convenção à realidade, aprova o que cabe em seu casulo e condena o que escapa às designações e categorias que ele conhece; teme o que surpreende, e não se aproxima nunca do mistério terrível da vida, evitando as montanhas e os abismos através dos quais ela conduz seus amigos. O homem medíocre é mais perverso do que ele se imagina e do que os outros o imaginam, porque sua frieza esconde sua maldade. Ele é o mas frio e o mais feroz inimigo do homem genial. Ele é cheio de si, cheio de nada, cheio de vazio, cheio de vaidade".
(Traduzido de “L’Homme”, cap. “L’homme medíocre”, págs. 58/67, de Ernest Hello)
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