Uma das referências
mais comuns sobre batalhas angélicas está no Apocalipse de São João, pois foi
esta a primeira e grande batalha dos Anjos contra os demônios: “Houve no céu uma grande batalha: Miguel e
os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejava
contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no
céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama
demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na terra, e foram
precipitados com ele os seus anjos” (Apoc. 12, 7-10).
Que pretendia
concretamente Lúcifer nesta guerra? Provavelmente, com sua arrogância, queria
permanecer na posse do trono celeste em que fora criado por Deus, daí São João
afirmar que “nem o seu lugar se encontrou mais no céu”. Quer dizer, por causa
da revolta, perdeu “o seu lugar”, o trono que Deus lhes destinara para reinar
eternamente. Se supormos, numa hipótese absurda, que Lúcifer tivesse
prevalecido, os planos de Deus estariam enormemente prejudicados, pois teriam
ficado com todo poder aqueles anjos que haviam se declarado em estado de
revolta contra o Criador. Daí a importância de São Miguel em expulsá-los de lá.
Diz-se que durante a
referida batalha angélica, por estarem envolvidos nela, foi a única vez em que
os Anjos deixaram de louvar a Deus, enquanto louvor simplesmente, porque no
momento em que disseram “Quem como Deus” e partiram para defender a Glória
divina, mesmo estando numa batalha, davam implicitamente seus louvores. Pois
louvar é o mesmo que glorificar, e no momento em que se luta em defesa da
glória se está também dando louvores.
Podemos comparar este
episódio com aquele em que
Deus expulsou Adão e Eva do Paraíso, visando assim evitar que
eles por acaso comessem do fruto da “árvore da vida” (Gên 3, 24) e vivessem
eternamente. Seria insuportável a vida na terra em que convivessem eternamente
homens bons com homens maus. Da mesma forma, o céu não seria Céu se
convivessem anjos maus com Anjos Bons.
Depois da batalha
celeste, os Santos Anjos vivem empenhados nas batalhas terrestres, amparando os
bons e punindo os maus. No Antigo Testamento é comum as passagens em que os
Anjos vêm em socorro do povo eleito nas constantes guerras que moviam contra as
nações pagãs que os invadiam e os cercavam. Transformaram-se, pois, em
guerreiros do exército do Senhor. Por esta razão Deus é sempre cognominado no
Antigo Testamento como “Deus dos Exércitos” ou o “Senhor dos Exércitos”, quer
dizer, exércitos não só celestes mas terrestres também.
O exemplo mais
completo do ministério angélico, tanto como executores da liturgia divina
quanto como guerreiros, encontramos no Profeta Isaías, que viu os Santos Anjos
clamando honras e glórias a Deus: “Santo, Santo, Santo é o senhor Deus dos
exércitos...” (Is 6, 3). Os profetas sempre tinham suas visões de Deus cercado
com “exércitos de Anjos”, como Miquéias (I Reis 22, 19), Oséias (Os 12, 5),
Amós (3, 13), etc., onde se diz sempre “Deus dos exércitos”.
Quando Moisés começou
a peregrinação no deserto, o Anjo do Senhor já o avisava da proteção divina que
lhe daria nas guerras:
“Levantai-vos, e passai a torrente de Arnon; eis que te
entreguei nas mãos Seon, rei de Hesebon, amorreu; começa a possuir a sua terra
e peleja contra ele. Hoje começarei a pôr o terror e medo das tuas armas nos
povos, que habitam debaixo de todo o céu, para que, ao ouvir o teu nome, temam,
e à maneira das mulheres que estão para dar à luz, sintam as dores” (Deut 2, 24-25). Após atacar e destruir a cidade conforme
ordenara o Anjo, Moisés conclui: “E o
Senhor, nosso Deus, no-las entregou e nós o derrotamos com seus filhos e todo o
seu povo” (Deut 2, 33), confirmando
então que as vitórias alcançadas foram obra e graça de Deus por intermédio de
Seus Santos Anjos.
O mesmo ocorreu, por
exemplo, quando foi vencido o gigante rei Og, de Basan: “O Senhor, nosso Deus, entregou, pois, nas nossas mãos também Og, rei
de Basan, e todo o seu povo, ferimo-lo até o extermínio, devastando ao mesmo
tempo todas as suas cidades; não houve cidade que nos escapasse; sessenta
cidades, todo o país de Argob pertencente ao reino de Og em Basan. Todas as
cidades estavam fortificadas com muros altíssimos, com portas e trancas, além
das inumeráveis povoações que não tinham muros. Destruímo-los, como tínhamos
feito a Seon, rei de Hesebon, destruindo as cidades, os homens, as mulheres,
e as crianças; (Deut 3, 3-7)
A intervenção
guerreira dos Anjos é prometida também para exterminar os sete povos que ainda
vinham pela frente: “Quando o Senhor, teu
Deus, te tiver introduzido na terra, de que vais tomar posse, e tiver
exterminado diante de ti muitas nações, o heteu, o gergeseu, o amorreu, o
cananeu, o ferezeu, o heveu e o jabuseu; sete nações muito mais numerosas e
mais fortes do que tu, e o Senhor teu Deus tas tiver entregado, tu as
combaterás até o extermínio” (Deut 7, 1-2). O Anjo chega a dizer como fará
para eliminar determinado povo: “Além
disso, o Senhor teu Deus mandará vespas contra eles, até destruir e exterminar
todos os que tiverem fugido ou tiverem podido esconder-se” (Deut 7, 20).
E para que fique bem
claro que aqueles povos foram exterminados pelos Anjos, coadjuvando a ação
guerreira de Moisés, foi dito a Moisés: “Não
os temerás, porque o Senhor teu Deus está no meio de ti, Deus grande e
terrível. Ele mesmo destruirá estas nações diante de ti pouco a pouco, e
por partes. Tu não as poderás destruir a um tempo, a fim de que se não
multipliquem contra ti as feras da terra. E o Senhor teu Deus os dará em teu
poder, e os fará morrer até que todos sejam destruídos. (Deut 7, 21-23). O
motivo é este: “Depois que o Senhor teu
Deus os tiver exterminado diante de ti, não digas no teu coração: por causa da
minha justiça é que o Senhor me introduziu nesta terra para a possuir, tendo
sido estas nações destruídas por causa das suas impiedades” (Deut 9, 4).
A partir daquele
momento, tornou-se comum o povo eleito recorrer ao socorro angélico para se
safar de seus inimigos, pois a promessa de ajuda foi solene: “Se sairdes do vosso país para fazer guerra
contra os inimigos que vos atacam, fareis soar interrompidamente as trombetas,
e o Senhor vosso Deus se lembrará de vós, para vos livrar das mãos de vossos
inimigos. (Num 10, 9).
Josué
Ao suceder Moisés na
condução do povo hebreu pela Palestina, Josué teve de enfrentar várias batalhas
onde foi marcante a ação angélica. Certa feita, estando a rezar, viu perto dele
um homem armado com uma espada. Foi logo ao seu encontro, decidido para a luta
e perguntou: “Tu és dos nossos, ou dos
inimigos?” O Anjo, então, lhe
responde que era o príncipe dos exércitos do Senhor. Josué, prontamente,
prostrou-se com o rosto em terra e perguntou-lhe o que queria dizer o Anjo a
ele. O Anjo, que deveria ser São Miguel, manda-lhe tirar o calçado dos pés,
porque aquele lugar era santo. Josué prontamente lhe obedece.
Uma das principais
intervenções angélicas no campo de batalha foi quando Josué derrotou cinco reis
amorreus em Gabaão, cujo desfecho é assim narrado pela Sagrada Escritura:
“Josué, pois, tendo marchado toda a noite desde Gálgala,
deu de repente sobre eles; e o Senhor os desbaratou à vista de Israel, o qual
infligiu-lhes uma grande derrota junto a Gabaão, e foi os seguindo pelo caminho
que sobe de Bet-horon, dando neles até Azeca e Maceda. Enquanto eles fugiam dos
filhos de Israel e estavam na descida de Bet-horon, fez o Senhor cair do céu grandes pedras em cima deles até Azeca, e
morreram muitos, mais pelas pedras de granizo, do que pelos golpes da espada
dos filhos de Israel” (Josué 10, 9-11).
Como Jericó era uma cidade
muito bem defendida, tornando difícil sua conquista pelos hebreus, o Anjo lhe
diz que havia de lhe entregar a posse daquela cidade, bastando que cumprisse
suas recomendações: “Dai volta à cidade,
vós todos os homens de guerra, uma vez por dia; assim fareis durante seis dias.
E no sétimo dia os sacerdotes tomem as sete trombetas, de que se usa no
jubileu, e vão adiante da arca da aliança; e rodeareis sete vezes a cidade, e
os sacerdotes tocarão as trombetas. E, quando o som das trombetas se fizer ouvir
mais demorado e penetrante, e vos ferir os ouvidos, todo o povo à uma levantará
um grande clamor, e cairão os muros da cidade até aos fundamentos, e cada um
entrará por aquele lugar que lhe ficar defronte”.
E assim foi feito. E
quando o “som das trombetas se fez ouvir
mais demorado e penetrante”, por intervenção angélica, todo o povo se pôs a
gritar e avançar em direção à cidade, e de repente caíram os muros e por suas
brechas entrou o exército de Josué e dominou Jericó.. (Josué 5, 13-20).
Gedeão
Gedeão, um dos juizes
de Israel, estava em sua casa quando um Anjo lhe apareceu e o escolheu para
comandar os exércitos de seu povo contra os madianitas:
“Veio pois o Anjo do Senhor, e assentou-se debaixo dum
carvalho, que havia em Efra, e pertencia a Joás pai de Ezri. E estando Gedeão
seu filho sacudindo e alimpando o seu trigo no lagar, para o esconder dos
madianitas, lhe apareceu o Anjo do Senhor, e disse: o Senhor é contigo, o homem
mais valente de todos. E Gedeão lhe disse: Se o Senhor é conosco, peço-te, Senhor
meu, que me digas, por que caíram sobre nós todos os males? Onde estão aquelas
suas maravilhas, que nossos pais nos têm contado, dizendo: O Senhor nos tirou
do Egito? Mas agora nos tem o Senhor desamparado, e nos entregou nas mãos dos
madianitas. E o Senhor [quer dizer, o Anjo],
olhou para ele, e lhe disse: Vai nessa tua fortaleza, e livrarás Israel do
poder dos madianitas: sabe que eu sou quem te manda. Gedeão lhe replicou:
Dize-me, te peço, meu Senhor, como poderei eu livrar a Israel? Tu sabes que a minha família é a
última de Manassés, e que eu sou o último da casa de meu pai. E o Senhor lhe
respondeu: Eu serei contigo: e tu derrotarás os madianitas, como se fossem um
só homem. E prosseguiu Gedeão: Se eu achei graça diante de ti, dá-me um sinal
por onde conheça que tu és quem me fala. E não te vás daqui, a menos que eu não
volte trazendo um sacrifício, para to oferecer. E ele lhe respondeu: Eu
esperarei até que voltes.” (Juízes 6, 11-18).
Gedeão entrou em casa
e voltou com um cabrito cozido, farinha e pães para oferecer ao Anjo. Mas este
Anjo, diferente dos que acompanharam Abraão e Lot que “consumiram” os
alimentos, mandou colocar tudo em cima de uma pedra, pegou uma vara e a
estendeu tocando sobre o que estava na pedra. No mesmo instante, saiu fogo e
fez tudo desaparecer aos olhos de Gedeão, confirmando-o mais ainda que estava
na presença de um Anjo. Em seguida o Anjo ordena a Gedeão que fosse destruir o
altar de Baal pertencente ao pai dele.
Quando, finalmente,
Gedeão foi eleito pelo povo como comandante do exército de Israel, contando
este com milhares de soldados, mandou o Anjo fazer expurgos entre os homens:
primeiro foram excluídos os medrosos e os tímidos, cerca de 22 mil; depois foi
feito um teste para ver como os soldados bebiam da água, restando com Gedeão
apenas 300. Foi com estes 300 homens que Gedeão venceu o exército madianita,
composto de milhares de soldados. A intervenção angélica, na batalha, deu-se da
seguinte forma:
“E dividiu os seus trezentos homens, em três batalhões, e
deu a cada um sua trombeta, e sua bilha vazia com sua lanterna no meio da
bilha. E disse-lhes: Fazei o mesmo que me virdes fazer: eu entrarei por um lado
do campo, e segui o que eu fizer. Quando soar a trombeta que tenho na minha
mão, tocai vós também as vossas ao redor do campo, e clamai de chusma, ao
Senhor, e a Gedeão. E entrou Gedeão e os trezentos homens que acompanhavam por
um lado do campo, ao princípio da vigília da meia-noite, e despertadas as
sentinelas, começaram a tocar as trombetas, e a quebrar as bilhas, umas nas
outras. E tocando em três locais distintos ao redor do campo, logo que
quebraram as bilhas, tomaram as luzes na mão esquerda, e tocando as trombetas
com a direita gritaram: A espada do
Senhor e de Gedeão! Conservando-se
cada um no seu posto ao redor do campo inimigo. Imediatamente todo o campo dos
madianitas se pôs em desordem, e
dando grandes gritos, e urros fugiram: e com tudo isso insistiram os trezentos
homens tocando trombetas. E o Senhor enviou a espada em todo o campo, e
eles se mataram uns aos outros, fugindo até Betseda, e até o termo de Abelmehula
em Tebat” (Juízes 7, 16-23. Nesta batalha, pela intervenção angélica, foram mortos
milhares de inimigos de Deus.
Davi
Quando Davi foi
ungido como rei do povo hebreu os filisteus haviam se tornado seus maiores
inimigos, tendo o rei que marchar contra eles. Note-se que na Escritura Sagrada
quando um justo se dirige a Deus é sempre através de um Anjo, como já se viu
acima, o qual é chamado de Senhor:
“Davi consultou o Senhor, dizendo: Marcharei contra os
filisteus e entregá-los-ás tu nas minhas mãos? O Senhor respondeu a Davi: Vai,
que eu entregarei e porei os filisteus nas tuas mãos”.
Mas, vencidos nesta
batalha, os filisteus voltam a atacar.
Pela segunda vez Davi consulta o Anjo, o qual lhe responde:
“Não vás direito a eles, mas dá volta por detrás deles, e
irás contra eles por defronte das pereiras. E quando ouvires o rumor dum que
anda por cima das pereiras, então travarás a batalha; porque o Senhor marchará
então diante de ti, para ferir o acampamento dos filisteus. Fez, pois, Davi
como o Senhor lhe tinha mandado, e derrotou os filisteus desde Gabaa até chegar
a Gezer”.
A presença angélica
se fez notar tanto no rumor produzido nas pereiras, quanto no acampamento
inimigo “ferido” pelo Senhor.
Profeta
Eliseu
No tempo do Profeta
Eliseu o reino de Samaria foi atacado pelos sírios, tendo os Anjos protegido os
hebreus da seguinte forma:
“Ora estavam quatro homens leprosos à entrada da porta,
os quais disseram entre si: Para que nós estamos aqui até morrermos? Se
quisermos entrar na cidade, morreremos de fome; se ficarmos aqui, morreremos
também; vamo-nos, pois, e passemo-nos para o acampamento dos sírios. Se eles se
compadecerem de nós, viveremos; e, se nos quiserem matar, sem dúvida
morreremos.
“Partiram, pois, à tarde, para ir ao acampamento dos
sírios. E, tendo chegado à entrada do acampamento dos sírios, não encontraram
ali ninguém. Porque o Senhor tinha feito
ouvir no acampamento dos sírios um estrondo de carroças, de cavalos e dum
exército muito numeroso. Os sírios
disseram entre si: Sem dúvida que o rei de Israel mandou assoldadar contra nós
os reis dos heteus e dos egípcios, e ei-los aí vem sobre nós. Levantaram-se,
pois, e fugiram de noite; deixaram no acampamento as suas tendas, os seus cavalos
e jumentos e fugiram cuidando somente salvar as vidas” (IV Reis 7, 3-7).
Judas
Macabeu
Vejam o que diz um
dos discursos inflamados de Judas Macabeu: “Eles,
dizia-lhes, somente confiam nas suas armas e na sua audácia; porém nós confiamos
em Deus
Todo-Poderoso , capaz de destruir com um gesto não só os que
vêm para nos atacar mas ainda o mundo inteiro. Lembrou-lhes também o socorro
dado por Deus a seus pais, como (por exemplo) quando do exército de Senaquerib
tinham perecido cento e oitenta e cinco mil homens; recordou a batalha travada
contra os gálatas, em Babilônia, com tal felicidade que, não tendo ousado
entrar em ação os macedônios, seus aliados, eles, que ao todo só eram seis mil,
mataram cento e vinte mil homens, por
causa do socorro recebido do céu, alcançando por isso enormes vantagens
(II Macabeus 8, 18-20).
Numa das guerras de
Judas Macabeu apareceram no céu cinco Anjos em sua ajuda.:
“Aos primeiros alvores do dia, travaram batalha os dois exércitos, tendo
uns, além da sua coragem, o Senhor por garantia da vitória e bom êxito das suas
armas, e indo outros ao combate movidos apenas pela sua fogosidade. No maior
ardor da peleja apareceram do céu aos inimigos cinco homens resplandecentes,
sobre cavalos adornados de freios de ouro, que serviam de guias aos judeus.
Dois deles, tendo no meio de si Macabeu, cobrindo-o com suas armas,
guardavam-no para que andasse sem risco da sua pessoa; lançavam dardos e raios,
contra os inimigos, que iam caindo feridos de cegueira e cheios de turbação. Foram mortos vinte mil e quinhentos homens de
pé e seiscentos cavaleiros. (II Macabeus 10, 28-31).
Noutro combate,
apenas a presença de um Anjo foi suficiente para levar os soldados de Judas
Macabeu à vitória:
“Macabeu foi o primeiro que tomou as armas e exortou os
outros a exporem-se com ele ao perigo, para darem socorro a seus irmãos. Quando
marchavam todos juntos com ânimo resoluto, apareceu, ainda perto de Jerusalém,
um homem a cavalo, que ia adiante deles, vestido de hábitos brancos, com armas
de ouro, brandindo uma lança. Então bendisseram todos ao mesmo tempo ao Senhor
misericordioso e encheram-se de coragem, prontos a pelejar, não só com os homens,
mas também com os animais mais ferozes e a atravessar muros de ferro. Marchavam
em ordem de batalha, com este auxiliar vindo do céu, por misericórdia do
Senhor. Como leões, lançando-se impetuosamente sobre os seus inimigos, mataram
onze mil homens da sua infantaria, mil e seiscentos da cavalaria, e puseram em
fuga todos os restantes. A maior parte deles não se puderam salvar, senão
feridos e sem armas; até mesmo Lísias só por meio duma vergonhosa fuga
escapou” (II Mac 11, 7-12).
Exército angélico a serviço de São João
Crisóstomo
O grande Santo João
Crisóstomo era bispo de Constantinopla e havia recebido autoridade do rel para
defender a cidade. Certa feita, um sujeito chamado Gaimás, que tinha sonhos de
ser também imperador, urdiu um plano para mandar incendiar o palácio imperial
quando suas tropas se ausentassem. Como
não podia executar seu plano à luz do dia, pois logo veriam quem foi o autor,
decidiu fazê-lo à noite.
A "Legenda
Dourada" conta assim como os anjos defenderam o palácio imperial, que
estava sob a responsabilidade de São João Crisóstomo:
"...quando, ao
amparo das sombras noturnas, os emissários de Gaimás saíram sigilosamente de
seu aquartelamento para incendiar a residência imperial, viram-se obrigados a
abandonar seu projeto e a fugir a toda pressa porque inesperadamente se
encontraram com inumeráveis anjos perfeitamente apetrechados que patrulhavam
pelas ruas. Ao chegar ao seu quartel e
comunicar a seu chefe o que lhes havia sucedido, este, sumamente surpreendido,
não sabia como se explicar o estranho fenômeno, posto que estava completamente
seguro de que os exércitos imperiais se encontravam de guarnição em outras
cidades. À noite seguinte enviou-lhes novamente a perpetrar o malogrado
intento; mas também de novo se encontraram com os poderosos esquadrões de anjos
que em compactas patrulhas percorriam ruas e praças, ante o que, assustados,
novamente fugiram. Em vista deste segundo fracasso, Gaimás decidiu executar por
si mesmo seu sinistro plano, e no dia seguinte quando anoiteceu saiu de casa e
com seus próprios olhos viu que, com efeito, as ruas estavam cheias de soldados
muito bem armados, e à falta de outra explicação suspeitou de que o bispo
mantinha ocultas durante o dia aquelas numerosas tropas e que cada noite as
tirava de seus aquartelamentos e as distribuía
pelas ruas para que defendessem a cidade. Influído por esta suspeita viajou
para a Trácia, percorrendo a região, cujos habitantes tinham fama de cruéis e
ferozes, e eram temidos pelas gentes de outras províncias, recrutando um numeroso
exército e à frente daqueles homens se decidindo a invadir e arrasar várias
zonas do império. O imperador, para
resolver o problema que Gaimás lhe havia criado, nomeou o santíssimo bispo João
legado seu e lhe encomendou a espinhosa missão de entrevistar-se com o
revoltado. João, fazendo pouco caso da
inimizade que havia entre ele e Gaimás , aceitou o encargo imperial e, animado pelos melhores desejos de levar a
bom termo a difícil embaixada que se lhe
havia confiado, alegre e tranqüilo, empreendeu sua viagem. Gaimás, por
sua parte, ao inteirar-se de que o santo bispo vinha confiadamente até ele se
impressionou tanto que mudou de sentimentos, trocou sua crueldade por mansidão,
saiu a seu encontro percorrendo um largo caminho, e, quando se encontraram,
tomou reverentemente a mão de João, a colocou diante de seus olhos e mandou a
seus filhos que se ajoelhassem ante o prelado e lhe beijassem os pés. É que
João era tão virtuoso que até as pessoas mais temíveis se amansavam em sua
presença e sentiam-se interiormente obrigadas a tratá-lo com respeito"[i]
O Anjo
Custódio de Portugal defende-o contra os sarracenos
O primeiro rei de
Portugal, Dom Afonso Henriques, notabilizou-se não só pelo valor guerreiro e
nobre, mas principalmente por uma grande santidade. É assim que o próprio Nosso
Senhor Jesus Cristo lhe aparece para manifestar ao mesmo o desejo de fundar um
grande reino através de seus descendentes e pedindo que coloque os símbolos da
Paixão no brasão de Portugal.
Dom Afonso Henriques
tinha uma grande e entranhada devoção ao Arcanjo São Miguel. Antes do rei haver
tido a visão de Nosso Senhor, apareceu-lhe um Embaixador angélico, dizendo-lhe:
“Sois amado do Senhor, porque sem dúvida
pôs sobre vós, e sobre vossa geração depois de vossos dias, os olhos de sua misericórdia,
até a décima sexta descendência, na qual se diminuirá a sucessão, mas nela
assim diminuída, Ele tornará a pôr os olhos e verá”. Em seguida, declara o
próprio rei: “Obedeci, e prostrado em
terra, com muita reverência, venerei o embaixador e Quem o mandava. E como
posto em oração, aguardava o som, na segunda vela da noite ouvi a campainha, e
armado de espada e rodela saí fora dos reais, e subitamente vi à parte direita,
contra o nascente, um raio resplandecente indo-se pouco a pouco clareando, cada
hora se fazia maior. E pondo de propósito os olhos para aquela parte, vi de
repente, no próprio raio, o sinal da Cruz, mais resplandecente que o sol, e um
grupo grande de mancebos resplandecentes, os quais creio que seriam os santos
anjos..” O santo rei, chorando maravilhado com a visão, vê finalmente Nosso
Senhor, que lhe diz: “Não te apareci deste
modo para acrescentar tua fé, mas para fortalecer teu coração neste conflito, e
fundar os princípios do teu reino sobre pedra firme. Confia, Afonso, porque não
só vencerás esta batalha mas todas as outras em que pelejares contra os
inimigos da minha cruz. Acharás tua gente alegre e esforçada para a peleja, e
te pedirá que entre na batalha com o título de rei. Não ponhas dúvida, mas tudo
quanto te pedirem lhes concede facilmente. Eu sou o fundador e destruidor dos
reinos e impérios, e quero em ti e em teus descendentes fundar para Mim um
império, por cujo meio seja Meu nome publicado entre nações mais estranhas. E
para que teus descendentes conheçam Quem lhes dá o reino, comporás o escudo de
tuas armas do preço com que Eu remi o gênero humano, e daquele por que Fui
comprado pelos judeus, e ser-Me-á reino santificado, puro na fé e amado da
minha piedade”. Até os dias de hoje
permanecem os estigmas da Paixão no escudo da grande nação portuguesa.
Um episódio demonstra
quanto os homens que cercavam o rei Dom Afonso Henriques eram também de grande
valor. O rei de Leão, Afonso VII, estava cercando as tropas de Afonso Henriques
e a derrota deste parecia iminente. Egas Muniz, que fora educador de Afonso
Henriques, vai até Afonso VII e empenha sua palavra de que seu antigo pupilo
lhe prestaria obediência. Confiando na promessa do nobre português, o rei de
Leão levanta o cerco. Como Dom Afonso Henriques não cumpriu a palavra, que
aliás não dera, Egas Muniz vai até junto do rei de Leão, acompanhado da mulher
e filhos, em traje de penitente, pedindo que o mesmo lhe castigue por não se
ter cumprido o que prometera. E o castigo, Egas Moniz o sabia, poderia ser a
pena de morte. Admirado com tal grandeza de alma, o rei manda de volta e em paz
o fidalgo português.
Dom Afonso Henriques
continua suas conquistas, principalmente contra os mouros. Em 1147 domina Santarém, que era um grande
baluarte islâmico. Algum tempo depois, sob o comando pessoal de Al-Baraque, rei
de Sevilha, Santarém é sitiada. O santo rei vê-se impotente para liderar a
defesa dos cristãos pois estava ferido numa perna e sem poder montar a cavalo.
Mesmo assim, arrisca-se e vai lutar pela defesa de seus homens em Santarém. Quando se
encontrava no meio dos combates, Dom Afonso Henriques vê, junto de si, um braço
levantado brandindo uma espada. Percebe claramente que um Anjo do Senhor estava
a seu lado para protegê-lo.
Quando os combates
estavam em sua fase mais renhida e sangrenta, o braço angélico começou a
desferir mortais golpes contra os mouros, os quais fugiam aterrorizados e
deixavam o campo de batalha à mercê dos soldados cristãos. Os próprios soldados
agarenos, presos durante a batalha, confessaram ter visto o braço angélico
armado com a espada a lhes deferir mortais golpes.
Como prova de
gratidão por tão insigne favor divino, Dom Afonso Henriques fundou a Ordem
militar com o nome de “São Miguel da Ala” (a palavra “ala” é aplicada no sentido de “levantada” ou
“alada”), em honra daquela intervenção angélica. Seus descendentes
estabeleceram o costume de colocar nos seus filhos os nomes dos três Arcanjos,
São Miguel, São Gabriel e São Rafael, também em honra desta batalha.
Marechal
Tilly, austríaco
Estava o marechal Tilly assistindo a Santa
Missa quando vieram dizer-lhe que regressasse depressa ao campo de batalha,
pois o inimigo, comandado pelo duque Cristino Brunswick marchava em sua
direção. “Meu caro Lindela – responde Tilly – como vê estou assistindo a Missa.
Regresse depressa ao campo, ponha as tropas em linha que eu irei para lá assim
que a missa termine”.
O barão obedeceu, mas
ao chegar ao campo qual não foi a sua surpresa ao verificar que o marechal
aparentemente teria mudado de idéia, pois lá ele estava a cavalo no meio das
tropas a comandar a resistência do ataque inimigo. No final, foi total e rápida
a vitória do exército de Tilly. Terminada a Missa, sem que o marechal tivesse
saído da igreja hora nenhuma, monta o mesmo em seu cavalo e vai ao campo de
batalha para assumir o comando das tropas. Lá verifica surpreso que a guerra já
findara com a vitória de seus homens.
Dirigindo-se ao barão
de Lindela, pergunta o marechal a quem se devia aquele glorioso triunfo.
Responde o oficial: “A presença de Vossa Excelência animou os soldados. Quando
regressei ao campo bem o vi penetrar nas linhas inimigas seguido da nossa
cavalaria”.
O Pe. Pierson
testemunhou, depois, que o marechal em hora nenhuma havia se afastado da
igreja, assistindo a Missa do começo ao fim, enquanto todo o seu exército
garantia que Tilly estava naquele mesmo instante comandando seus homens. Assim
ficou provado que o Anjo da Guarda do capitão austríaco havia tomado seu lugar
no comando enquanto ele assistia contritamente a Santa Missa, costume que ele
tinha há vários anos e o fazia diariamente. Tal fato se deu no ano de 1663,
sendo comprovado por testemunhas idôneas como o Pe. Gobat e os membros do exército
austríaco.
Um
soldado medieval
Fernão Antolinez, era um jovem soldado muito valente, mas ao
mesmo tempo muito devoto cristão, não costumando entrar em batalha sem antes
assistir a Santa Missa. Certa vez estava numa igreja assistindo ao Santo
Sacrifício quando ouviu as trombetas tocarem chamando-o para o combate. Como
não quis abandonar a Missa pelo meio, resolveu ficar até o final e ir ao
combate depois. Ao sair da Missa, ficou com receio de que seus companheiros o
chamassem de covarde e foi para casa se esconder, temendo também algum castigo
por causa de sua deserção.
Chegando a sua casa,
no entanto, viu vários soldados, camaradas seus, virem a seu encontro para lhe
dar os parabéns pela valentia com que havia batalhado sempre nas primeiras
fileiras. Com espanto seu, soube o rapaz que alguém o havia substituído,
apresentando a sua figura e fisionomia e combatendo com tal esforço e coragem
que lhe foi atribuída em grande parte a vitória alcançada no campo de batalha.
Explicando que havia ficado na igreja assistindo a Missa, ficou patente para
todos que o jovem que o havia substituído na guerra havia sido o seu Anjo da
Guarda.
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