Aproximando-se a Festa dos Santos Arcanjos, 29 de setembro, reproduzimos abaixo o artigo sobre os Santos Anjos estampado no site Acadêmicos Arautos:
Não
é raro encontrar quem pense que os Santos Anjos estão sempre desocupados, e
passam a eternidade tocando langorosas harpas, distraídos de tudo quanto lhes
circundam… Triste apreciação sobre estes espíritos abrasados de amor a Deus, e
repletos de zelo por sua causa!
Segundo
São Roberto Belarmino, podemos deduzir das Sagradas Escrituras cinco principais
ofícios que Deus confiou aos Santos Anjos:
O primeiro ofício
O
primeiro deles, e o mais importante de todos, é cantar continuamente louvores e
hinos ao Criador. Isso pode parecer confirmar a teoria que acima condenamos.
Porém, nós homens, tantas vezes levados pela agitação e corre-corre da vida
moderna, não sabemos dar o devido valor a Deus, e por isso menosprezamos o
culto que lhe devemos. Longe de ser um ato daquilo que se costuma erroneamente
chamar de “beatério”, o culto que os Anjos prestam a seu Criador é como uma
labareda cuja mais lídima faísca seria suficiente para abrasar o universo.
É-nos difícil compreender essa sublime realidade, mas imagine, caro leitor, que
fosses chamado a cantar um hino de louvor ao Papa. Consideraríeis isso um ato
de “beatério”, ou uma honra suprema? Assim, compreendemos em quanta estima Deus
tem essa função, à qual destinou não os menores, mas os Anjos mais sublimes.
Ouve Isaías: “Vi
o Senhor sentado sobre um alto e elevado trono, e as franjas do seu vestido
enchiam o Templo. Os Serafins estavam por cima do trono; cada um deles tinha
seis asas; com duas cobriam a sua face, e com duas cobriam os pés, e com duas
voavam. E clamavam um para o outro, e diziam: Santo, Santo, Santo é o Senhor
Deus do exércitos toda a terra está cheia de sua glória”. (Is. 6, 1-3)
“Tu os vês velarem a face e os pés, o que é sinal
de grande respeito, como se não ousassem fixar o olhar na face de Deus, nem
lhes mostrar os pés. Tu os vês voarem continuamente enquanto cantam o que
demonstra o seu grande amor a Deus e o desejo de se aproximarem cada vez mais
d’Ele.”[1]
Vemos
que para agradar o “Senhor dos exércitos” são necessárias essas duas virtudes:
o amor e a veneração. Através do cântico os Anjos manifestam sua caridade;
velando respeitosamente a face e os pés demonstram respeito, temor e veneração.
“De quanta veneração Deus é digno, se os supremos
Príncipes do Céu, que sempre o assistem e sempre vêem a sua face, nem pela tão
grande elevação de seu grau, nem por tão longa convivência com Ele, ousam
jamais negligenciar o temor e a veneração que lhes devem, enquanto cantam os
seus louvores.
“Que responderás tu, pó e cinza, quando no dia do
Juízo, fores acusado de sonolência, e de distração numa ação tão divina, a que
não eras digno de ser chamado? Aprende pelo menos para o futuro instruído por
tão insigne exemplo, a incitar-te, a cantar ao teu Deus os devidos hinos de
louvores, com temor e tremor, com atenção e vigilância, com amor e desejo.”[2]
O segundo ofício
O segundo consiste em apresentar a Deus as preces
dos homens, e de interceder por eles. Isso atesta-o claramente a Escritura: “Quando tu oravas com lágrimas, e enterravas os
mortos, e deixavas o teu jantar, eu [São Gabriel] apresentei as tuas orações ao
Senhor”. (Tob. 12,12) E no livro do
Apocalipse São João descreve uma visão na qual um Anjo portava um turíbulo de
ouro à espera do incenso, que eram as orações dos Santos, a fim de oferecê-lo a
Deus. (Cf Ap 8,3)
Que
grande gesto de bondade ter-nos Deus estabelecido tão poderosos intercessores.
Não satisfeito em enviar Profetas que nos exortassem, e até mesmo seu próprio
Filho Unigênito para nos redimir, quis ainda constituir aos Anjos como veículo
para fazer chegar ao Criador nossas orações.
Qual
não deve ser nossa confiança e abandono nas mãos desses guardiães? Não apenas
zelosos em cumprir este ofício por ser vontade de Deus, fazem-no por amor a nós
que somos, na ordem da graça, seus irmãos e coerdeiros da mesma
bem-aventurança, destinados a vivermos juntos por toda eternidade.
O terceiro ofício
O terceiro é o de anunciar aos homens os assuntos
mais importantes de Deus, como o é a redenção e a salvação eterna. Com efeito
assim fala o Apóstolo na sua Epístola aos Hebreus: “Não são, porventura, todos eles (os Anjos) espíritos
ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a
salvação?” (Hb 1,14)
Foi um Anjo que anunciou a Zacarias o nascimento do
Precursor: “Eu sou Gabriel, aquele que está
diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova.” (Lc 1,19) E à Virgem Maria anunciou o maior
de todos os acontecimentos havido na história da humanidade: “Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem
chamado José, da casa de David; e o nome da Virgem era Maria. Disse-lhe o anjo:
‘Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Conceberás no teu seio e
darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e vai
chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai
David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá
fim.’” (Lc 1,26-27,30-33)
Poderíamos
ainda citar muitos outros episódios: após a ressurreição do Senhor, às mulheres
que estavam no Sepulcro, (Mt 28, 2-5) e depois da Ascensão, a todos os seus
Discípulos. (At 1, 10-11)
“A razão por que Deus, que está em todo lugar, e
pode por si mesmo falar facilmente ao coração dos homens, quer todavia mandar
Anjos, é, ao que parece, para que os homens saibam que Deus tem cuidado das
coisas humanas, e que é para eles que governa e dirige o universo.
“Além disso, os homens poderiam julgar facilmente,
às vezes, que suas inspirações divinas não eram senão seus próprios
pensamentos, ou fruto de sua própria imaginação. Mas quando vêem, ou ouvem que
Anjos são mandados por Deus, e que aquilo que esses Anjos predizem acontece
pontualmente como haviam dito, não podem duvidar de que a providência de Deus
governa as coisas humanas, e dirige e dispõe particularmente aquelas que
concernem a salvação eterna dos eleitos.”[3]
O quarto ofício
O quarto ofício angélico é de proteger os homens.
Isso pode dar-se individualmente ou em conjunto. “Aprouve à imensa bondade de Deus nosso Pai,
confiar aos seus potentíssimos servos a fraqueza dos mortais, a fim de que
cuidem deles como os preceptores das crianças, os tutores do seus pupilos, os
advogados de suas partes, os zagais da suas ovelhas, os médicos dos doentes, os
defensores dos seus protegidos, ou como os protetores daqueles que são
incapazes de se defender se não se abrigarem debaixo da asas dos poderosos.”[4]
Assim o testifica David quando diz: “Mandou aos seus Anjos acerca de ti, que te guardem
em todos os teus caminhos.” (Sl 99,11) O
próprio Cristo, sempre verdadeiro, atesta-o: “Olhai, não desprezeis algum destes pequeninos, porque
eu vos digo que os seus Anjos nos Céus vêem sempre a face de meu Pai, que está
nos Céu.” (Mt 18,10) São João, no
Apocalipse, menciona o Anjo da Igreja de Éfeso, o Anjo da Igreja de Esmirna, e
também os Anjos de outras Igrejas. (Cf Ap 2, 1-8)
“De modo que em cada Nação há dois Chefes: um
visível, homem, e um invisível, Anjo; e em cada Igreja dois são os Bispos: um
visível, homem, e um invisível, Anjo; e na Igreja Católica Universal há dois
Sumos Pontífices, estabelecidos por Nosso Senhor Jesus Cristo, um visível,
homem, e um invisível, Anjo, o qual acreditamos ser o Arcanjo São Miguel,
venerado primeiro como protetor pela Sinagoga dos Judeus, e venerado agora pela
Igreja dos Cristãos, como seu protetor.”[5]
Que
dizer da ingratidão de desprezar semelhante auxílio? Temos um Anjo designado
por Deus para nos custodiar ininterruptamente e fazemos pouco caso?… Como
extraviar-se das sendas da virtude tendo ao nosso lado, e sempre à nossa
disposição, um tão admirável Conselheiro? Como desanimar e desistir de recorrer
ao auxílio sobrenatural em nossas contrariedades e fracassos, e, helás, até
mesmo pecados e vícios, quando temos alguém disposto a nos escutar e curar as
feridas de nossa alma? Oh terrível julgamento nos aguarda se não mudarmos nossa
conduta com nosso celeste Guardião! Não teremos o que alegar diante do Juiz,
pois que deu-nos a mais excelente proteção, o Conselheiro mais sábio e o Protetor
mais perspicaz para guardar-nos.
O quinto ofício
“É de serem soldados, ou chefes armados para
tomarem vingança da nações e repreenderem os povos. (Sl 149, 7)
“São esses Anjos que queimaram com o fogo e o
enxofre as cidades infames (Gn 19,24); que mataram todos os primogênitos do
Egito (Ex 12, 29); que prostraram muitos milhares de Assírios com um só golpe
(IV Reis, 19,35); serão esses Anjos que no derradeiro dia separarão os homens
maus, dos justos, e os lançarão no fogo ardente do inferno. (Mt 13, 41, 42)
“Amem, pois, os homens piedosos seus concidadãos os
santos Anjos; tremam os ímpios diante do poder dos Anjos, Ministros da cólera
de Deus Onipotente, de cujas mãos ninguém poderá livrá-los.”[6]
[1]São Roberto Belarmino, Elevação da
mente a Deus pelos degraus das coisas criadas, Nono degrau, Capítulo VI .
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Idem.
[6] Idem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário