São Dionísio, “O Areopagita”, foi convertido por São Paulo
no Areópago de Atenas, na Grécia. Foi ele talvez o primeiro teólogo e filósofo
que tenha tratado especificamente dos Santos Anjos num de seus livros. O
conteúdo doutrinário desta obra deve ter sido haurido diretamente do Apóstolo
São Paulo, de quem São Dionísio era discípulo, logo após o Apóstolo das Gentes
haver tido o famoso êxtase que o levou até o terceiro céu. O titulo da obra é “De angelica Hierarchia“ (Da Hierarquia
Angélica). No ano 815 da Era Cristã,
alguns embaixadores do Imperador de Constantinopla, Miguel, ao visitarem o rei
Luís, O Piedoso, filho e sucessor de
Carlos Magno, entregaram-lhe uma tradução latina da obra de São Dionísio, cujo
original era grego. Mesmo tratando-se de uma simples tradução, a obra operou
maravilhas naquele mesmo dia: quando levavam os códices para a igreja, naquela
mesma noite foram curados milagrosamente dezenove enfermos
Segundo São Dionísio,
nossa Sagrada Hierarquia foi estabelecida, por disposição divina, na imitação
das hierarquias celestes. Para nós mortais, a hierarquia é vista exteriormente
pela formosura, pelos símbolos, pelo que representa cada degrau, ou cada posto
assumido na escala hierárquica. A formosura aparente é sinal de mistérios
sublimes, pois nem sempre conseguimos entender perfeitamente o que significam aqueles
símbolos ou aquelas pessoas em seus postos. Sentimos a presença, a beleza, e nossos sentidos procuram aquilo
que se chama na teologia de o “bom odor”. O bom odor que sentimos manifesta a
iluminação intelectual, isto é, nossa mente procura entender à sua maneira o
que significa aquilo tudo. As diferentes
disciplinas sagradas correspondem à imensa capacidade contemplativa da mente. As ordens e graus daqui de baixo simbolizam
as harmoniosas relações do Reino de Deus. Nosso Senhor, Jesus Cristo, nos deu a
conhecer a hierarquia celeste: instituiu o colégio ministerial de nossa própria
hierarquia em imitação da celeste, enquanto humanamente é possível, em seu
divino sacerdócio. Conforme Francisco Spirago “A hierarquia dos anjos funda-se
na variedade dos dons e dos empregos conferidos por Deus; uns são destinados de
preferência a louvar, outros a servir” .
As coisas celestiais não são reveladas
convenientemente
Não podemos imaginar–
continua o “Areopagita” -, como o faz o vulgo, aquelas inteligências celestes
com muitos pés e rostos. Esta é a forma mais comum de aparecerem como animais, tipo bois e leões
selvagens, nas visões dos Profetas, principalmente, relatadas na Sagrada
Escritura. Também não os imaginemos como tronos materiais (tipos daqueles reis
medievais), onde se senta a Divindade. O Profeta Daniel viu tais tronos
“formados por chamas de fogo e as rodas deste trono um fogo ardente” (Dn 7, 9). Estes símbolos, muito comuns na
Sagrada Escritura, mudam às vezes para cavalos, capitães brandindo espadas ou
qualquer outra forma.
Estas figuras,
meramente simbólicas, fazem referência a
seres tão espirituais que não poderíamos conhecê-los nem contemplá-los da forma
como são relatados. Alguém poderia imaginar facilmente que sobre os céus há
multidão de leões e cavalos, que os louvores são mugidos, que voam bandos de
pássaros ou que os céus estão cheios de outra classe de animais. Mas estas imagens
nos são úteis para que consigamos entender as coisas celestiais. Elas nos
aproximam o mais possível, embora simbolicamente, daquilo que os Anjos
realmente são.
Duas razões para se
representar os Anjos com imagens:
1a. –
Necessitamos algo que nos seja conatural, comparações, metáforas sugestivas do
maravilhoso que escapam ao nosso entendimento;
2a. – É
conveniente que para o vulgo permaneçam veladas com enigmas sagrados as
verdades que digam respeito às inteligências celestes. Compare-se com o sol que
para ser visto a olho nu necessita-se colocar um véu nos olhos para não sermos
cegados.
Com respeito à
inconveniência das imagens bíblicas ou ao uso de comparações tão baixas para
significar hierarquias tão dignas e santas, é objeção à qual se responde
dizendo que a revelação divina se apresenta de duas maneiras. Uma procede
naturalmente por meio de imagens semelhantes ao que significam. A outra emprega
figuras dessemelhantes até a total desigualdade e o absurdo.
Por exemplo, quando a
Sagrada Escritura fala de Deus, ora aplica termos semelhantes como “Essência”,
“Verbo”, “Luz”, “Vida”, “Sol de Justiça”,
etc., ora usa termos dessemelhantes como “O Invisível”, “Infinito”, “O
Incompreensível”, etc. Segundo São Dionísio, “Posto que a negação parece ser mais
própria para falar de Deus, e a afirmação positiva resulta sempre inadequada ao
mistério inexplicável, convém melhor referir-se ao invisível por meio de
figuras dessemelhantes”. Da mesma forma, longe de menosprezar as hierarquias
celestes, as enaltecem com figuras totalmente dessemelhantes. Desse modo,
realmente nos damos conta de que aquelas
hierarquias, tão distantes de nós, transcendem tudo o que é material. De
qualquer modo, as coisas celestes sempre nos serão reveladas de forma inconvenientes,
isto por causa de nossas limitações.
O que é
Hierarquia
Na ordem civil,
hierarquia é uma série contínua de degraus ou escalões, em ordem crescente ou
decrescente, que representam as posições ocupadas por pessoas na sociedade.
Quanto à ordem religiosa, a hierarquia designa uma escala superior, uma
graduação feita conforme os Sacramentos e os Carismas recebidos. Assim, embora
um Sacerdote não ocupe uma posição superior a de um rei na sociedade, por causa
do Sacramento que lhe está inerente ele se torna superior na ordem
sobrenatural.
Segundo São Dionísio,
Hierarquia (no sentido religioso) é uma ordem sagrada, um saber e atuar o mais
próximo possível de Deus e Sua Divindade. Os hierárquicos se elevam a imitar a
Deus em proporção das luzes que dEle recebem. A Hierarquia (em sentido mais
amplo, com maiúscula), pois, tem por fim lograr nas criaturas, enquanto seja
possível, a semelhança e união com Deus. Uma hierarquia tem a Deus como mestre
de todo o saber e ação. Não deixa de contemplar sua formosura. Leva em si a marca
de Deus.
O homem de Hierarquia
designa uma disposição sagrada, imagem da formosura de Deus, que representa os
mistérios da própria iluminação, graças à ordem sagrada de sua classe e de seus
saberes. Se assemelha à própria fonte e, enquanto é possível, se configura com
sua própria origem. Porque, a perfeição de cada um daqueles que estão nesta
sagrada ordem consiste principalmente em que, segundo a própria capacidade,
tende à imitação de Deus. Mais admirável ainda: chega a ser, como diz a
Escritura, “cooperador de Deus” e reflexo da atividade divina enquanto é
possível.
Por isso, quando a
ordem sagrada dispõe que uns sejam purificados e outros purifiquem; uns sejam
iluminados e outros iluminem; uns sejam aperfeiçoados e outros aperfeiçoem,
cada qual imitará a Deus de fato segundo o modo que convenha a sua própria
função. Isto que se chama “função” é a forma e o fim como Deus criou seus
seres, espirituais ou materiais. Através do amor a Deus, qualquer homem ou
simples Anjo poderá crescer e, mesmo na sua simples posição, adquirir os
carismas e dons das hierarquias superiores. Dizemos que São Miguel, São Gabriel
e São Rafael são Arcanjos, mas pelo poder que têm na Corte Celeste possuem dons
e carismas de Querubins e de Serafins. Assim também ocorre com alguns homens
que adquiriram altos graus de santidade, como São Francisco ou São Tomás,
ascendidos aos tronos dos serafins ou dos querubins através do amor a Deus, ou
da própria Virgem Santíssima, Mãe de Deus, ascendida a um trono especial e real
acima de todos os coros angélicos.
O que
significa o nome “anjo”
O termo hebreu
“malak”, usado no Antigo Testamento, significa mais propriamente
“delegado” ou “embaixador”. Estas inteligências são as que mais íntima e
ricamente participam de Deus, e por sua vez são as primeiras e mais abundantes
em transmitir às demais os mistérios escondidos da Deidade. Pelo qual, a eles
corresponde por excelência o título de anjo ou mensageiro. São os primeiros em
receber a iluminação de Deus e por meio deles se transmitem as revelações que
excedam sobremaneira ao nosso alcance.
São Proclo atribui também aos anjos a missão de “reveladores”. São Tomás
de Aquino afirma que, mesmo depois do juízo final, os Bem-aventurados receberão
certa luz por meio dos anjos, assim como eles recebem-na uns dos outros (Summa
Theol. I q. 108
a .7).
Por que os teólogos
chamam de anjos a todos os espíritos celestes, quando “Anjo” é apenas aquele
que pertence á última das hierarquias angélicas? São anjos também os querubins,
os serafins, os tronos, etc., conforme o designam os estudiosos de teologia. É
que, em todas as hierarquias sagradas, o grau superior de cada ordem possui
todas as iluminações e poderes do que lhe são inferiores, porém estes não
possuem dos superiores senão aquilo que eles lhes transmitem. Assim, todos os
seres dos nove coros são anjos porque possuem as mesmas iluminações e poderes
dos Anjos.
Uma das perfeições
angélicas consiste em transmitir uns para os outros a sua própria perfeição.
Participam mais perfeitamente da vida divina os anjos que estão mais próximos
de Deus, e menos os que estão mais afastados. Assim, as primeiras inteligências
celestes aperfeiçoam, iluminam e purificam às de graus inferiores. O segundo
grupo recebe as perfeições divinas por intermédio do primeiro, e o terceiro por
intermédio do segundo. Cada uma das ordens angélicas é portadora de revelações
e notícias das ordens precedentes. A primeira ordem as recebe de Deus
diretamente, transmitindo-as em seguida ás demais ordens ou coros inferiores.
Um exemplo vemos em Zacarias
1,13: um Anjo superior, que falava diretamente a ele, disse para o outro
palavras de consolo. Um Anjo de classe inferior saiu ao encontro do primeiro e
dele recebeu iluminação: “Então, o
Senhor, dirigindo-se ao anjo que falava em mim, disse-lhe [a outro anjo] boas
palavras, palavras de consolação”. Outro exemplo, em Ezequiel. Um Anjo ,
formalmente designado pelo Profeta como um querubim, recebe as ordens divinas e
instrui outros para executá-las: “Passai
pelo meio da cidade, seguindo-o, e feri; não sejam compassivos os vossos olhos,
não tenhais compaixão alguma.(Ez. 9,5). Que dizer do Anjo que anunciou a
Daniel “a ordem está dada” (Dan 9, 23), ou do primeiro que tomou fogo no meio
dos querubins (Ez 10, 2), ou do querubim que pôs fogo nas mãos do que vestia a
“sagrada estola” (Ez 10, 6-8) , senão que a boa ordem existente entre os Anjos
permite que uns orientem ou instruem a outros?
Um outro exemplo: um Anjo chama São Gabriel para explicar uma visão a
Daniel: “Ouvi a voz dum homem no meio de
Ulai, o qual gritou e disse: Gabriel, explica-lhe esta visão” (Dan 8, 16).
Quantos
são e como se classificam os coros angélicos
Tudo indica que a
classificação dos Santos Anjos em nove coros foi dada por São Paulo a São
Dionísio, pois em sua obra “A Hierarquia Celeste” afirma a certa altura: “...meu
glorioso mestre os classifica em três hierarquias de três ordens cada uma”.
Em várias partes da obra, São Dionísio se reporta a São Paulo, de quem era
discípulo, com a expressão “meu glorioso mestre”. Deduz-se que a doutrina
angélica lhe foi transmitida por São Paulo após o êxtase em que o mesmo foi
elevado até o terceiro céu.
No entanto, as
denominações de algumas escalas hierárquicas já remontam ao Antigo Testamento.
Logo após expulsar Adão e Eva do Paraíso, Deus colocou “diante do paraíso de
delícias querubins brandindo uma
espada de fogo, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gên 3, 24). O Profeta Isaías é o primeiro e
único que se refere aos Serafins, porque a Sagrada Escritura até então só cita
os querubins como Anjos (Ex 25,18 e 28, 14-16; Ez 1,10 e 10,12; I Sam 4, 4; I
Reis 6, 23-28 e 8, 6-7; Dan 3, 55; Sl 17, 11; Sl 79, 12; Sl 98, 1 e o próprio Isaías, em 37, 16). Os
demais coros foram descritos no Novo Testamento, talvez porque isto foi
revelado primeiro a São Paulo, este a São Dionísio, que por sua vez revelou-o à
toda a Igreja.
Querubins
Segundo São Dionísio
ouviu de São Paulo, o primeiro grupo está sempre em torno de Deus,
constantemente unido a Ele. Compreende os Querubins, os Serafins e os Tronos.
São os mais divinizados e os que recebem primeiro e mais diretamente as
iluminações de Deus.
O nome “Querubim”,
vem do hebraico (“querub”) que significa alto, grande, bendito, o que possui a
plenitude de conhecimento ou é transbordante de sabedoria. São os seres mais
elevados, mais próximos de Deus. Têm o poder para conhecer e ver a Deus,
receber os melhores dons de sua luz, contemplar a divina formosura em toda a
sua pureza, acolher em si a plenitude de dons portadores de sabedoria e
reparti-los generosamente com os inferiores.
Serafins
O termo “Serafim” vem
do grego, e quer dizer inflamado ou incandescente, fervoroso, que leva calor. O
nome destas classes de Anjos é expressamente falado em Isaías (Is 6, 2-6), o
único lugar na Bíblia onde eles são referidos. Significa também incessante
movimento em torno das realidades divinas, calor permanente, ardor
transbordante, em movimento contínuo, firme e estável. Têm o poder de purificar
por meio da chama e raio luminoso, afugentar as trevas e qualquer sombra escurecedora.
Tronos
Quanto aos Tronos,
significam que estão muito acima de toda deficiência terrena, como se manifesta
por seu ascender até às alturas; estão sempre afastados, longe de qualquer
baixeza; são portadores de Deus e prontos como seus servidores para acolhê-Lo e
a Seus dons. São Paulo a eles se refere, juntamente com as Dominações, os
Principados e as Potestades na Epístola aos Colossenses (Col. 1, 16). Santo
Tomás de Aquino afirma que Tronos significam também “poder judicial”, isto é,
neles Deus está sentado para fazer seus julgamentos.
Este primeiro grupo
de Anjos está hierarquicamente dirigido pela Fonte de toda perfeição, porque
pode elevar-se diretamente até Ela. Recebe, segundo sua capacidade, plena
purificação, luz infinita, perfeição completa. Assim purificados, iluminados e
perfeitos, passam a ser aqueles que purificam, iluminam e aperfeiçoam os seres
das categorias inferiores. Ele é particularmente digno de familiaridade com
Deus e coopera com Ele, transmitindo o ensinamento de que a Deidade é Unidade,
Una em Três Pessoas ,
que sua esplêndida Providência se estende a todos os seres, desde os mais
elevados no Céu até as ínfimas criaturas da terra.
Estão postos junto à
Deidade, a quem devem tudo o que são.
Avantajam todo poder, visível ou invisível. São também contemplativos,
não porque contemplam imagens sensíveis ou do entendimento, nem porque se
elevam a Deus em variada contemplação das Sagradas Escrituras. O são porque
estão cheios de uma luz superior que excede todo conhecimento, e porque os
invade uma tripla luz transcendente daquele que é princípio e fonte de toda
formosura. Contemplativos porque conseguiram entrar em comunhão com Jesus, não
por meio de símbolos sagrados que representam a bondade de Deus, mas porque são
íntimos dEle e participam no conhecimento fundo das luzes divinas que operam
fora.
Potestades,
Dominações e Virtudes
O segundo grupo, diz
São Paulo, é o das Potestades, Dominações e Virtudes, chamados a participar da
“hierarquia média”, logo abaixo da primeira. As “Potestades” estão
harmoniosamente dispostas, para receber os dons de Deus, indicam a natureza
ordenada do poder celestial e intelectual. Elevam consigo as ordens inferiores.
O termo “Dominações” significa um elevar-se livre e desapegado de tendências
terrenas, por cima de qualquer servidão. A denominação de “Virtudes” alude à
fortaleza viril, inquebrantável em todo obrar, ao modo de Deus. Firmeza que
exclui toda preguiça e moleza. Transmite aos seres inferiores o poder dinâmico
e divinizante. Também foi o Apóstolo São Paulo que primeiro se referiu a estes
Anjos (Col. 1,16; e Ef. 1, 20), seguido de São Pedro (I Ped 3, 22).
Principados,
Arcanjos e Anjos
E o terceiro grupo,
afinal, é composto pelos Principados, Arcanjos e Anjos. O termo “Principado”
faz referência ao mando principesco que aqueles Anjos exercem, a imitação do
próprio Deus. Refere-se á ordem sagrada mais própria para exercer poderes de
príncipes; à capacidade de orientar-se plenamente até o Príncipe que está todo
princípio e, como príncipes, guiar os outros até Ele. Os Santos Arcanjos têm a
mesma ordem que os Principados e, juntamente com os Anjos, formam uma só
hierarquia. Mas como em cada hierarquia existem três poderes: primeiro, médio e
último, a santa ordem dos Arcanjos tem algo dos outros dois por achar-se entre
os extremos. Comunica-se com os
Principados e com os Santos Anjos. Dos primeiros recebe iluminação e poder,
transmitindo-os para os últimos.
A ordem dos Arcanjos
comunica a união aos Anjos graças aos invisíveis poderes de ordenar e dispor o
que há recebido do próprio Princípio. São Tomás de Aquino diz que os Arcanjos
são servidores dos Principados e chefes dos simples Anjos. Eles se comunicam
com os homens por intermédio dos Anjos. Segundo São Gregório, os Arcanjos
diferem dos simples Anjos quanto ao seu ministério, quanto à missão de que
estão revestidos, de serem “anjos-chefes”, encarregados de cumprir ordens das
hierarquias superiores, porém de natureza fundamentalmente iguais aos Anjos
comuns.
As missões mais
importantes junto aos homens foram confiadas aos Arcanjos. As Escrituras
referem-se apenas a três, com os nomes de Miguel, Gabriel e Rafael. Mas nos
livros não canônicos dos hebreus consta os nomes de outros quatro: Sariel (“Mandato
de Deus”), Uriel (“Rosto de Deus”), Raguel (“Amigo de Deus”) e Remiel
(“Misericórdia de Deus”). É comum
atribuir-se o título de arcanjos aos sete espíritos que estão mais próximos de
Deus, citados no livro de Tobias: “Eu sou Rafael, um dos sete espíritos que assistimos diante do Senhor” (Tb 12, 15) e no Apocalipse
(Apoc. 1, 4). Mas, se tais Anjos foram
criados por Deus como Arcanjos atingiram graus muito altos de perfeição, a
ponto de superarem o restante da corte angélica.
Os Anjos completam os
nove coros angélicos, constituindo o grau inferior de todos eles. Dá-se o nome
de Anjos a este grupo com preferência a outros, porquanto sua hierarquia é dos
mais próximo de nós, através dos quais a Revelação chega até o nosso mundo.
Como foi dito acima, a primeira hierarquia influi a segunda, e esta a terceira.
O segundo coro angélico preside então os Principados, Arcanjos e Anjos, os
quais, segundo seus distintos graus, presidem as hierarquias humanas a fim de
que sejam elevadas a Deus. Assim, todas as hierarquias participam
eqüitativamente das graças que bondosamente Deus lhes dá.
Os teólogos são
unânimes em afirmar que os Anjos de ordens inferiores recebem iluminações das
superiores. São Agostinho põe a questão sobre certas dúvidas e ignorâncias de
alguns Anjos sobre a natureza de Jesus. São Paulo na Carta aos Efésios fala
sobre o mistério que tinha sido manifesto naquele momento aos principados e
potestades (Ef 3, 10). São Tomás de
Aquino define a questão na Suma Teológica (I q. 57 a .3 e 5): os Anjos conhecem
desde sempre, em graus diversos, o futuro que decorre necessariamente de suas
causas, porém não os chamados “futuros contingentes”. Conheceram sempre como
princípio geral a Encarnação do Verbo, porém desconheciam as condições
especiais em que ela ocorreria. Os futuros contingentes são os fatos que
dependem da vontade dos seres criados por Deus e não da ordem natural das
coisas.
Comentando a obra de
São Dionísio, São Boaventura diz que os Serafins
possuem um amor contínuo, sumamente intenso, penetrativo, até o coração de
Deus; dos Querubins, diz que recebem
copiosamente, especulam clarissimamente, gozam alegremente daquela Luz divina;
dos Tronos diz que são assento elevado,
firme, estável, aberto para a recepção da mesma Luz. Fala-se dos Tronos para
julgar e que neles se assenta a Deus, porque são diviníssimos e servilmente
manifestam seu conselho pelo juízo; das Dominações
diz que significam certa excelência em certa liberdade, e com isto possuem
igualmente certo domínio sobre as almas; das Virtudes diz que representam eles “a Virtude”, porque representam
esta potência como a que tem estabilidade em durar, fortaleza em resistir; das Potestades diz que foram feitos para
executar, ordenar; dos Principados diz
que foram feitos para guiar; dos Arcanjos,
revelar, e, finalmente, dos simples Anjos,
anunciar. [i]
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