segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A Hierarquia Celeste

   




São Dionísio, “O Areopagita”, foi convertido por São Paulo no Areópago de Atenas, na Grécia. Foi ele talvez o primeiro teólogo e filósofo que tenha tratado especificamente dos Santos Anjos num de seus livros. O conteúdo doutrinário desta obra deve ter sido haurido diretamente do Apóstolo São Paulo, de quem São Dionísio era discípulo, logo após o Apóstolo das Gentes haver tido o famoso êxtase que o levou até o terceiro céu. O titulo da obra é “De angelica Hierarchia“ (Da Hierarquia Angélica).  No ano 815 da Era Cristã, alguns embaixadores do Imperador de Constantinopla, Miguel, ao visitarem o rei Luís, O Piedoso, filho e sucessor de Carlos Magno, entregaram-lhe uma tradução latina da obra de São Dionísio, cujo original era grego. Mesmo tratando-se de uma simples tradução, a obra operou maravilhas naquele mesmo dia: quando levavam os códices para a igreja, naquela mesma noite foram curados milagrosamente dezenove enfermos
Segundo São Dionísio, nossa Sagrada Hierarquia foi estabelecida, por disposição divina, na imitação das hierarquias celestes. Para nós mortais, a hierarquia é vista exteriormente pela formosura, pelos símbolos, pelo que representa cada degrau, ou cada posto assumido na escala hierárquica. A formosura aparente é sinal de mistérios sublimes, pois nem sempre conseguimos entender perfeitamente o que significam aqueles símbolos ou aquelas pessoas em seus postos. Sentimos a presença,    a beleza, e nossos sentidos procuram aquilo que se chama na teologia de o “bom odor”. O bom odor que sentimos manifesta a iluminação intelectual, isto é, nossa mente procura entender à sua maneira o que significa aquilo tudo.  As diferentes disciplinas sagradas correspondem à imensa capacidade  contemplativa da mente.  As ordens e graus daqui de baixo simbolizam as harmoniosas relações do Reino de Deus. Nosso Senhor, Jesus Cristo, nos deu a conhecer a hierarquia celeste: instituiu o colégio ministerial de nossa própria hierarquia em imitação da celeste, enquanto humanamente é possível, em seu divino sacerdócio. Conforme Francisco Spirago “A hierarquia dos anjos funda-se na variedade dos dons e dos empregos conferidos por Deus; uns são destinados de preferência a louvar, outros a servir” .

As coisas celestiais não são reveladas convenientemente
Não podemos imaginar– continua o “Areopagita” -, como o faz o vulgo, aquelas inteligências celestes com muitos pés e rostos. Esta é a forma mais comum de  aparecerem como animais, tipo bois e leões selvagens, nas visões dos Profetas, principalmente, relatadas na Sagrada Escritura. Também não os imaginemos como tronos materiais (tipos daqueles reis medievais), onde se senta a Divindade. O Profeta Daniel viu tais tronos “formados por chamas de fogo e as rodas deste trono um fogo ardente”  (Dn 7, 9). Estes símbolos, muito comuns na Sagrada Escritura, mudam às vezes para cavalos, capitães brandindo espadas ou qualquer outra forma.
Estas figuras, meramente simbólicas,  fazem referência a seres tão espirituais que não poderíamos conhecê-los nem contemplá-los da forma como são relatados. Alguém poderia imaginar facilmente que sobre os céus há multidão de leões e cavalos, que os louvores são mugidos, que voam bandos de pássaros ou que os céus estão cheios de outra classe de animais. Mas estas imagens nos são úteis para que consigamos entender as coisas celestiais. Elas nos aproximam o mais possível, embora simbolicamente, daquilo que os Anjos realmente são.
Duas razões para se representar os Anjos com imagens:
1a. – Necessitamos algo que nos seja conatural, comparações, metáforas sugestivas do maravilhoso que escapam ao nosso entendimento;
2a. – É conveniente que para o vulgo permaneçam veladas com enigmas sagrados as verdades que digam respeito às inteligências celestes. Compare-se com o sol que para ser visto a olho nu necessita-se colocar um véu nos olhos para não sermos cegados. 
Com respeito à inconveniência das imagens bíblicas ou ao uso de comparações tão baixas para significar hierarquias tão dignas e santas, é objeção à qual se responde dizendo que a revelação divina se apresenta de duas maneiras. Uma procede naturalmente por meio de imagens semelhantes ao que significam. A outra emprega figuras dessemelhantes até a total desigualdade e o absurdo.
Por exemplo, quando a Sagrada Escritura fala de Deus, ora aplica termos semelhantes como “Essência”, “Verbo”, “Luz”, “Vida”, “Sol de Justiça”,  etc., ora usa termos dessemelhantes como “O Invisível”, “Infinito”, “O Incompreensível”, etc. Segundo São Dionísio, “Posto que a negação parece ser mais própria para falar de Deus, e a afirmação positiva resulta sempre inadequada ao mistério inexplicável, convém melhor referir-se ao invisível por meio de figuras dessemelhantes”. Da mesma forma, longe de menosprezar as hierarquias celestes, as enaltecem com figuras totalmente dessemelhantes. Desse modo, realmente  nos damos conta de que aquelas hierarquias, tão distantes de nós, transcendem tudo o que é material. De qualquer modo, as coisas celestes sempre nos serão reveladas de forma inconvenientes, isto por causa de nossas limitações.

O que é Hierarquia
Na ordem civil, hierarquia é uma série contínua de degraus ou escalões, em ordem crescente ou decrescente, que representam as posições ocupadas por pessoas na sociedade. Quanto à ordem religiosa, a hierarquia designa uma escala superior, uma graduação feita conforme os Sacramentos e os Carismas recebidos. Assim, embora um Sacerdote não ocupe uma posição superior a de um rei na sociedade, por causa do Sacramento que lhe está inerente ele se torna superior na ordem sobrenatural.
Segundo São Dionísio, Hierarquia (no sentido religioso) é uma ordem sagrada, um saber e atuar o mais próximo possível de Deus e Sua Divindade. Os hierárquicos se elevam a imitar a Deus em proporção das luzes que dEle recebem. A Hierarquia (em sentido mais amplo, com maiúscula), pois, tem por fim lograr nas criaturas, enquanto seja possível, a semelhança e união com Deus. Uma hierarquia tem a Deus como mestre de todo o saber e ação. Não deixa de contemplar sua formosura. Leva em si a marca de Deus.
O homem de Hierarquia designa uma disposição sagrada, imagem da formosura de Deus, que representa os mistérios da própria iluminação, graças à ordem sagrada de sua classe e de seus saberes. Se assemelha à própria fonte e, enquanto é possível, se configura com sua própria origem. Porque, a perfeição de cada um daqueles que estão nesta sagrada ordem consiste principalmente em que, segundo a própria capacidade, tende à imitação de Deus. Mais admirável ainda: chega a ser, como diz a Escritura, “cooperador de Deus” e reflexo da atividade divina enquanto é possível.
Por isso, quando a ordem sagrada dispõe que uns sejam purificados e outros purifiquem; uns sejam iluminados e outros iluminem; uns sejam aperfeiçoados e outros aperfeiçoem, cada qual imitará a Deus de fato segundo o modo que convenha a sua própria função. Isto que se chama “função” é a forma e o fim como Deus criou seus seres, espirituais ou materiais. Através do amor a Deus, qualquer homem ou simples Anjo poderá crescer e, mesmo na sua simples posição, adquirir os carismas e dons das hierarquias superiores. Dizemos que São Miguel, São Gabriel e São Rafael são Arcanjos, mas pelo poder que têm na Corte Celeste possuem dons e carismas de Querubins e de Serafins. Assim também ocorre com alguns homens que adquiriram altos graus de santidade, como São Francisco ou São Tomás, ascendidos aos tronos dos serafins ou dos querubins através do amor a Deus, ou da própria Virgem Santíssima, Mãe de Deus, ascendida a um trono especial e real acima de todos os coros angélicos.

O que significa o nome “anjo”
O termo hebreu “malak”, usado no Antigo Testamento, significa mais propriamente “delegado”  ou “embaixador”.  Estas inteligências são as que mais íntima e ricamente participam de Deus, e por sua vez são as primeiras e mais abundantes em transmitir às demais os mistérios escondidos da Deidade. Pelo qual, a eles corresponde por excelência o título de anjo ou mensageiro. São os primeiros em receber a iluminação de Deus e por meio deles se transmitem as revelações que excedam sobremaneira ao nosso alcance.  São Proclo atribui também aos anjos a missão de “reveladores”. São Tomás de Aquino afirma que, mesmo depois do juízo final, os Bem-aventurados receberão certa luz por meio dos anjos, assim como eles recebem-na uns dos outros (Summa Theol. I q. 108 a.7).
Por que os teólogos chamam de anjos a todos os espíritos celestes, quando “Anjo” é apenas aquele que pertence á última das hierarquias angélicas? São anjos também os querubins, os serafins, os tronos, etc., conforme o designam os estudiosos de teologia. É que, em todas as hierarquias sagradas, o grau superior de cada ordem possui todas as iluminações e poderes do que lhe são inferiores, porém estes não possuem dos superiores senão aquilo que eles lhes transmitem. Assim, todos os seres dos nove coros são anjos porque possuem as mesmas iluminações e poderes dos Anjos.
Uma das perfeições angélicas consiste em transmitir uns para os outros a sua própria perfeição. Participam mais perfeitamente da vida divina os anjos que estão mais próximos de Deus, e menos os que estão mais afastados. Assim, as primeiras inteligências celestes aperfeiçoam, iluminam e purificam às de graus inferiores. O segundo grupo recebe as perfeições divinas por intermédio do primeiro, e o terceiro por intermédio do segundo. Cada uma das ordens angélicas é portadora de revelações e notícias das ordens precedentes. A primeira ordem as recebe de Deus diretamente, transmitindo-as em seguida ás demais ordens ou coros inferiores.
Um exemplo vemos em Zacarias 1,13: um Anjo superior, que falava diretamente a ele, disse para o outro palavras de consolo. Um Anjo de classe inferior saiu ao encontro do primeiro e dele recebeu iluminação: “Então, o Senhor, dirigindo-se ao anjo que falava em mim, disse-lhe [a outro anjo] boas palavras, palavras de consolação”. Outro exemplo, em Ezequiel. Um Anjo, formalmente designado pelo Profeta como um querubim, recebe as ordens divinas e instrui outros para executá-las: “Passai pelo meio da cidade, seguindo-o, e feri; não sejam compassivos os vossos olhos, não tenhais compaixão alguma.(Ez. 9,5). Que dizer do Anjo que anunciou a Daniel “a ordem está dada” (Dan 9, 23), ou do primeiro que tomou fogo no meio dos querubins (Ez 10, 2), ou do querubim que pôs fogo nas mãos do que vestia a “sagrada estola” (Ez 10, 6-8) , senão que a boa ordem existente entre os Anjos permite que uns orientem ou instruem a outros?  Um outro exemplo: um Anjo chama São Gabriel para explicar uma visão a Daniel: “Ouvi a voz dum homem no meio de Ulai, o qual gritou e disse: Gabriel, explica-lhe esta visão”  (Dan 8, 16).

Quantos são e como se classificam os coros angélicos
Tudo indica que a classificação dos Santos Anjos em nove coros foi dada por São Paulo a São Dionísio, pois em sua obra “A Hierarquia Celeste” afirma a certa altura: “...meu glorioso mestre os classifica em três hierarquias de três ordens cada uma”. Em várias partes da obra, São Dionísio se reporta a São Paulo, de quem era discípulo, com a expressão “meu glorioso mestre”. Deduz-se que a doutrina angélica lhe foi transmitida por São Paulo após o êxtase em que o mesmo foi elevado até o terceiro céu.
No entanto, as denominações de algumas escalas hierárquicas já remontam ao Antigo Testamento. Logo após expulsar Adão e Eva do Paraíso, Deus colocou “diante do paraíso de delícias querubins brandindo uma espada de fogo, para guardar o caminho da árvore da vida”  (Gên 3, 24). O Profeta Isaías é o primeiro e único que se refere aos Serafins, porque a Sagrada Escritura até então só cita os querubins como Anjos (Ex 25,18 e 28, 14-16; Ez 1,10 e 10,12; I Sam 4, 4; I Reis 6, 23-28 e 8, 6-7; Dan 3, 55; Sl 17, 11; Sl 79, 12; Sl  98, 1 e o próprio Isaías, em 37, 16). Os demais coros foram descritos no Novo Testamento, talvez porque isto foi revelado primeiro a São Paulo, este a São Dionísio, que por sua vez revelou-o à toda a Igreja.

Querubins
Segundo São Dionísio ouviu de São Paulo, o primeiro grupo está sempre em torno de Deus, constantemente unido a Ele. Compreende os Querubins, os Serafins e os Tronos. São os mais divinizados e os que recebem primeiro e mais diretamente as iluminações de Deus.
O nome “Querubim”, vem do hebraico (“querub”) que significa alto, grande, bendito, o que possui a plenitude de conhecimento ou é transbordante de sabedoria. São os seres mais elevados, mais próximos de Deus. Têm o poder para conhecer e ver a Deus, receber os melhores dons de sua luz, contemplar a divina formosura em toda a sua pureza, acolher em si a plenitude de dons portadores de sabedoria e reparti-los generosamente com os inferiores.

Serafins
O termo “Serafim” vem do grego, e quer dizer inflamado ou incandescente, fervoroso, que leva calor. O nome destas classes de Anjos é expressamente falado em Isaías (Is 6, 2-6), o único lugar na Bíblia onde eles são referidos. Significa também incessante movimento em torno das realidades divinas, calor permanente, ardor transbordante, em movimento contínuo, firme e estável. Têm o poder de purificar por meio da chama e raio luminoso, afugentar as trevas e qualquer sombra escurecedora.

Tronos
Quanto aos Tronos, significam que estão muito acima de toda deficiência terrena, como se manifesta por seu ascender até às alturas; estão sempre afastados, longe de qualquer baixeza; são portadores de Deus e prontos como seus servidores para acolhê-Lo e a Seus dons. São Paulo a eles se refere, juntamente com as Dominações, os Principados e as Potestades na Epístola aos Colossenses (Col. 1, 16). Santo Tomás de Aquino afirma que Tronos significam também “poder judicial”, isto é, neles Deus está sentado para fazer seus julgamentos.
Este primeiro grupo de Anjos está hierarquicamente dirigido pela Fonte de toda perfeição, porque pode elevar-se diretamente até Ela. Recebe, segundo sua capacidade, plena purificação, luz infinita, perfeição completa. Assim purificados, iluminados e perfeitos, passam a ser aqueles que purificam, iluminam e aperfeiçoam os seres das categorias inferiores. Ele é particularmente digno de familiaridade com Deus e coopera com Ele, transmitindo o ensinamento de que a Deidade é Unidade, Una em Três Pessoas, que sua esplêndida Providência se estende a todos os seres, desde os mais elevados no Céu até as ínfimas criaturas da terra.
Estão postos junto à Deidade, a quem devem tudo o que são.  Avantajam todo poder, visível ou invisível. São também contemplativos, não porque contemplam imagens sensíveis ou do entendimento, nem porque se elevam a Deus em variada contemplação das Sagradas Escrituras. O são porque estão cheios de uma luz superior que excede todo conhecimento, e porque os invade uma tripla luz transcendente daquele que é princípio e fonte de toda formosura. Contemplativos porque conseguiram entrar em comunhão com Jesus, não por meio de símbolos sagrados que representam a bondade de Deus, mas porque são íntimos dEle e participam no conhecimento fundo das luzes divinas que operam fora.

Potestades, Dominações e Virtudes
O segundo grupo, diz São Paulo, é o das Potestades, Dominações e Virtudes, chamados a participar da “hierarquia média”, logo abaixo da primeira. As “Potestades” estão harmoniosamente dispostas, para receber os dons de Deus, indicam a natureza ordenada do poder celestial e intelectual. Elevam consigo as ordens inferiores. O termo “Dominações” significa um elevar-se livre e desapegado de tendências terrenas, por cima de qualquer servidão. A denominação de “Virtudes” alude à fortaleza viril, inquebrantável em todo obrar, ao modo de Deus. Firmeza que exclui toda preguiça e moleza. Transmite aos seres inferiores o poder dinâmico e divinizante. Também foi o Apóstolo São Paulo que primeiro se referiu a estes Anjos (Col. 1,16; e Ef. 1, 20), seguido de São Pedro (I Ped 3, 22).

Principados, Arcanjos e Anjos
E o terceiro grupo, afinal, é composto pelos Principados, Arcanjos e Anjos. O termo “Principado” faz referência ao mando principesco que aqueles Anjos exercem, a imitação do próprio Deus. Refere-se á ordem sagrada mais própria para exercer poderes de príncipes; à capacidade de orientar-se plenamente até o Príncipe que está todo princípio e, como príncipes, guiar os outros até Ele. Os Santos Arcanjos têm a mesma ordem que os Principados e, juntamente com os Anjos, formam uma só hierarquia. Mas como em cada hierarquia existem três poderes: primeiro, médio e último, a santa ordem dos Arcanjos tem algo dos outros dois por achar-se entre os extremos.  Comunica-se com os Principados e com os Santos Anjos. Dos primeiros recebe iluminação e poder, transmitindo-os para os últimos.
A ordem dos Arcanjos comunica a união aos Anjos graças aos invisíveis poderes de ordenar e dispor o que há recebido do próprio Princípio. São Tomás de Aquino diz que os Arcanjos são servidores dos Principados e chefes dos simples Anjos. Eles se comunicam com os homens por intermédio dos Anjos. Segundo São Gregório, os Arcanjos diferem dos simples Anjos quanto ao seu ministério, quanto à missão de que estão revestidos, de serem “anjos-chefes”, encarregados de cumprir ordens das hierarquias superiores, porém de natureza fundamentalmente iguais aos Anjos comuns.
As missões mais importantes junto aos homens foram confiadas aos Arcanjos. As Escrituras referem-se apenas a três, com os nomes de Miguel, Gabriel e Rafael. Mas nos livros não canônicos dos hebreus consta os nomes de outros quatro: Sariel (“Mandato de Deus”), Uriel (“Rosto de Deus”), Raguel (“Amigo de Deus”) e Remiel (“Misericórdia de Deus”).  É comum atribuir-se o título de arcanjos aos sete espíritos que estão mais próximos de Deus, citados no livro de Tobias: “Eu sou Rafael, um dos sete espíritos que assistimos diante do Senhor” (Tb 12, 15) e no Apocalipse (Apoc. 1, 4).  Mas, se tais Anjos foram criados por Deus como Arcanjos atingiram graus muito altos de perfeição, a ponto de superarem o restante da corte angélica.
Os Anjos completam os nove coros angélicos, constituindo o grau inferior de todos eles. Dá-se o nome de Anjos a este grupo com preferência a outros, porquanto sua hierarquia é dos mais próximo de nós, através dos quais a Revelação chega até o nosso mundo. Como foi dito acima, a primeira hierarquia influi a segunda, e esta a terceira. O segundo coro angélico preside então os Principados, Arcanjos e Anjos, os quais, segundo seus distintos graus, presidem as hierarquias humanas a fim de que sejam elevadas a Deus. Assim, todas as hierarquias participam eqüitativamente das graças que bondosamente Deus lhes dá.
Os teólogos são unânimes em afirmar que os Anjos de ordens inferiores recebem iluminações das superiores. São Agostinho põe a questão sobre certas dúvidas e ignorâncias de alguns Anjos sobre a natureza de Jesus. São Paulo na Carta aos Efésios fala sobre o mistério que tinha sido manifesto naquele momento aos principados e potestades (Ef 3, 10).  São Tomás de Aquino define a questão na Suma Teológica (I q. 57 a.3 e 5): os Anjos conhecem desde sempre, em graus diversos, o futuro que decorre necessariamente de suas causas, porém não os chamados “futuros contingentes”. Conheceram sempre como princípio geral a Encarnação do Verbo, porém desconheciam as condições especiais em que ela ocorreria. Os futuros contingentes são os fatos que dependem da vontade dos seres criados por Deus e não da ordem natural das coisas.
Comentando a obra de São Dionísio, São Boaventura diz que os Serafins possuem um amor contínuo, sumamente intenso, penetrativo, até o coração de Deus; dos Querubins, diz que recebem copiosamente, especulam clarissimamente, gozam alegremente daquela Luz divina; dos Tronos diz que são assento elevado, firme, estável, aberto para a recepção da mesma Luz. Fala-se dos Tronos para julgar e que neles se assenta a Deus, porque são diviníssimos e servilmente manifestam seu conselho pelo juízo; das Dominações diz que significam certa excelência em certa liberdade, e com isto possuem igualmente certo domínio sobre as almas; das Virtudes diz que representam eles “a Virtude”, porque representam esta potência como a que tem estabilidade em durar, fortaleza em resistir; das Potestades diz que foram feitos para executar, ordenar; dos Principados diz que foram feitos para guiar; dos Arcanjos, revelar, e, finalmente, dos simples Anjos, anunciar. [i]





[i] “Obras de San Buenaventura” – BAC – vol. III – pp. 603/605.

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