terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Mãe de Deus e o Islã

A propósito de nossa postagem anterior, sobre as aparições de Nossa Senhora no Egito, divulgamos abaixo o texto do discurso do bispo libanês de Antioquia dos Sírios, Dom Raboula Antoine Beylouni, cuja tradução foi publicada no blog Fratres in Unum
O texto integral faz prte da intervenção no Sínodo para o Oriente Médio entregue por escrito pelo prelado libanês, tal como publicado no Boletim [da Sala de Imprensa da Santa Sé] italiano nº 21, de 21 de outubro. O original está em francês e consta no boletim neste idioma.
Em 22 de outubro, também o “L’Osservatore Romano” estampou a intervenção do bispo. Mas, com cortes significativos, por ordem da Secretaria de Estado. O título é o do jornal da Santa Sé.

Dom Raboula Antoine Beylouni, bispo de Antioquia dos Sírios.
No Líbano, há muitos anos temos uma comissão nacional para o diálogo islâmico-cristão. Houve também uma comissão episcopal, estabelecida após a Assembléia dos Patriarcas e Bispos Católicos no Líbano, encarregada do diálogo islâmico-cristão. Foi suprimida recentemente para dar mais importância à outra comissão; ademais, não havia obtido resultados tangíveis.
Às vezes, vários diálogos nos países árabes são realizados em diferentes locais, por exemplo, como aquele do Qatar em que o próprio emir convida, às próprias expensas, personalidades de diferentes países das três religiões: cristã, muçulmana e judaica. No Líbano, alguns canais de televisão como “Télé-Lumière” e “Noursat” transmitem programas sobre o diálogo islâmico-cristão. Muitas vezes um tema é escolhido e cada parte o explica e interpreta segundo a sua religião. Esses programas são geralmente muito instrutivos.
Gostaria de, com esta intervenção, chamar a atenção sobre os pontos que tornam esses encontros ou diálogos difíceis e muitas vezes ineficazes. Obviamente não se discute sobre dogmas, mas também outras questões de ordem práticas e sociais são difíceis de enfrentar quando estão inseridas no Corão ou na Suna.
Eis as dificuldades que enfrentamos.
O Corão incute no muçulmano o orgulho de possuir a única religião verdadeira e completa, religião ensinada pelo maior profeta, pois ele seria o último. O muçulmano faz parte da nação privilegiada e fala a língua de Deus, a língua do paraíso, o árabe. Por isso, o diálogo se choca com esta superioridade e com esta certeza da vitória.
O Corão, que se supõe escrito pelo próprio Deus do começo ao fim, dá o mesmo valor a tudo aquilo nele está escrito: o dogma como qualquer outra lei ou prática.
No Corão não existe igualdade entre homem e mulher, nem no próprio casamento, no qual o homem pode ter mais mulheres e divórcio à vontade, nem na herança, na qual homem tem direito ao dobro, nem enquanto testemunha diante dos juízes, onde a voz do homem equivale a de duas mulheres, etc.
O Corão permite que aos muçulmanos esconder do cristão a verdade e falar e agir em contraste com o que pensa e crê.
No Corão, há versos versos contraditórios e versos anulados por outros, o que permite ao muçulmano usar um ou o outro conforme sua vantagem; assim, pode considerar um cristão humilde, piedoso e crente em Deus, mas também considerá-lo ímpio, traidor e idólatra.
O Corão dá ao muçulmano o direito de julgar os cristãos e matá-los com a jihad (guerra santa). Ordena e imposição da religião pela força, pela espada. A história de invasões o testemunha. Por esta razão, os muçulmanos não reconhecem a liberdade religiosa, nem para si e nem para outros. Não surpreende ver todos os países árabes e muçulmanos se recusarem a aplicar integralmente os “direitos humanos” sancionados pela ONU.
Perante todos estes obstáculos e argumentos semelhantes, devemos eliminar o diálogo? Não, definitivamente não. Mas temos de escolher os temas a serem abordados e os interlocutores cristãos capazes e bem formados, corajosos e piedosos, sábios e prudentes, que digam a verdade com clareza e convicção.
Deploramos, por vezes, alguns diálogos na televisão em que o interlocutor cristão não está à altura da tarefa e não é capaz de expressar toda a beleza e espiritualidade da religião cristã, fato que escandaliza os espectadores. Pior ainda, às vezes há interlocutores do clero que, no diálogo, para ganhar a simpatia do muçulmano, chamam Maomé de profeta e acrescentam a famosa invocação muçulmana muitas vezes repetida “Salla lahou alayhi wa sallam” (que a paz e a bênção de Deus estejam sobre ele).
Para concluir, proponho o seguinte.
Dado que o Corão falou bem da Virgem Maria, enfatizando sua virgindade perpétua e sua concepção milagrosa e única dada por Cristo, e dado que os muçulmanos a consideram muito e pedem a sua intercessão, devemos recorrer a ela em todo diálogo e em cada encontro com os muçulmanos. Sendo a Mãe de todos, Ela nos guiará em nossas relações com os muçulmanos para lhes mostrar a verdadeira face de seu Filho Jesus, Redentor do gênero humano.
Queira Deus que a festa da Anunciação, declarada no Líbano feriado nacional para os cristãos e muçulmanos, torne-se um feriado nacional também nos outros países árabes.

2 comentários:

Karlinha Duarte disse...

Parte do problema ocidental é ter visto Maomé durante séculos como a antítese do espírito religioso e o inimigo da civilização decente. Talvez devêssemos, contudo, tentar vê-lo como um homem de fé que conseguiu trazer paz e civilização a seu povo. (Karen ARMSTRONG, Maomé 2002: 54).
O que, de fato, Maomé foi. Antes da revelação do Corão, as mulheres eram queimadas vivas na Península A rábica. O direito a herança, que você ataca, foi assegurado e legitimado pelo Corão: “Há para os homens porção que deixam os pais e parentes. E há para as mulheres porção do que deixam pais e parentes, seja pouco ou muito. É porção preceituada” (SURATA 4: 7). Como podemos perceber na citação e verificar Livro Sagrado Islâmico.
Agora, não se iluda com a questão de Jesus ou Nossa Senhora, porque embora o livro traga eles da mesma forma que a Bíblia Sagrada, a questão Islâmica ultrapassa a religiosa e muitas vezes se arraiga na cultural, então, dependendo da região, Nossa Senhora muitas vezes não tem a relevância assumida na Igreja Católica.
antes de meter a colher na religião alheia, pelo menos poderia ter a decência de estudar o Corão, a cultura árabe (que é vasta) ou mesmo ler o livro da Karen.
Não confunda religião com política, Allah é misericordioso e não autoriza ninguém a matar em nome dele, é pecado. Assim como é pecado para os judeus e assim como é pecado para nós.
Ah, só para constar, não sou muçulmana, sou católica apostólica romana.

quodlibeta disse...

Não me espanta que uma católica tenha uma visão tão distorcida sobre a religião muçulmana, pois este tipo de pensamento é comum em nosso mundo tão confuso em que vivemos. Se alguém diz que Maomé foi um "homem de fé" professa-o por ignorância ou má. A história do fundador do islamismo não á a de um homem que conquistou o coração dos homens com a bondade, como o fez Jesus Cristo. Todas as suas conquistas foram a fio de espada: não há um só país muçulmano em que aquela religião não tenha sido implantada pela força bruta. O que o atesta são os fatos, e contra fatos não há argumentos...