domingo, 31 de outubro de 2010

Dizem viver ao natural, mas na morte querem o artificial

A cremação dos cadáveres

A cremação é um dos processos mais antigos praticados pelo homem. Em algumas sociedades este costume era considerado corriqueiro e fazia parte do cotidiano da população, por se tratar de uma medida prática e higiênica. Alguns povos utilizavam a cremação para rituais fúnebres: os gregos, por exemplo, cremavam seus cadáveres por volta de 1.000 A.C. e os romanos, seguindo a mesma lista de tradição, adotaram a prática por volta do ano 750 A.C. Nessas civilizações, como a cremação era considerada um destino nobre aos mortos, o sepultamento por inumação ou entumulamento era reservado aos criminosos, assassinos, suicidas e aos fulminados por raios (considerada até então uma "maldição" de Júpiter). As crianças falecidas mesmo antes de nascerem os dentes também eram enterradas.

No Japão, a cremação foi adotada com o advento do Budismo, em 552 D.C, importado da China. Como em outras localidades, ela foi aceita primeiramente pela aristocracia e a seguir pelo povo. Incentivados pela falta de lugares para sepultamento, pois o Japão possui pouquíssimo espaço territorial, os japoneses incrementaram significativamente a prática. Em 1867, foi promulgada uma lei que tornava obrigatório incinerar as pessoas mortas por doenças contagiosas para um controle sanitário eficaz e eficiente, bem como para racionalizar e obter melhor uso da terra. Os cidadãos passaram a considerar normal cremar todos os mortos e todas as religiões passaram a recomendá-la.

Como é feito hoje

Há três tipos de enterros, ou féretros, nos dias de hoje: primeiramente há aqueles que enterram seus mortos com desejo de reverenciá-los como merecem, providenciando túmulo e homenagens à altura daquilo que julgam merecer o falecido; em segundo lugar há os que desconsideram qualquer reverência aos mortos e não dão qualquer importância ao enterro, fazendo-o da forma mais simples possível; por último, há aqueles que consideram nem haver necessidade de enterro ou coisa semelhante, procurando então um moderno recurso de se ver livre dos cadáveres, que é a incineração ou cremação dos mortos.

No entanto, há uma tendência em reverenciar seus mortos em certa camada da população. De tal forma que, na elite, se chega ao exagero, com féretros faustosos e cheios de homenagens ricas em detalhes. Cantam-se músicas, fazem-se discursos laudatórios, a vigília do cadáver é regada a uísques e coisas pomposas, tudo isso com o objetivo de ressaltar a figura do morto. Se for um cantor ou artista famoso, seus fãs acodem em profusão com braçadas de flores, faixas, etc., e ninguém pode impedir que se façam homenagens, mesmo as mais extravagantes possívels.

O desvirtuamento da reverência devida aos mortos por causa da idéia materialista moderna: a cremação pagã, os cemitérios igualitários, etc.

Qual seria a forma mais digna de nos despedir dos nossos mortos? Dando-lhes homenagens e uma sepultura digna ou, simplesmente, cremando seus corpos num forno? Aqueles que fazem tais cremações, sentindo uma espécie de remorso por ato tão indigno, sentem-se satisfeitos em realizar um cerimonial pós-morte de sentido duvidoso, como, por exemplo, espalhar as cinzas do defunto pelo quintal da casa onde morou, na sua rua, ou então pelos ares ou no mar como fazem alguns magnatas americanos (lá há um serviço milionário para jogar as cinzas no cosmo). Outros, como querem ainda guardar certa lembrança do falecido (com que objetivo? Futuras reverências?) guardam suas cinzas numa caixa metálica. De repente, aquela caixa metálica pode se tornar num relicário da família, pois ninguém a quererá olhar a não ser com ares de respeito e reverência (a não ser que o dito cujo tenha sido uma pessoa tão ruim que seus familiares o detestem).

Há no mundo moderno uma contradição evidente nesta matéria: as pessoas se ufanam de levar uma vida "ao natural", apreciam e até veneram a ecologia, têm grande preocupação com uma alimentação natural e fogem da artificial; no entanto, quando morrem desejam que seu corpo seja descomposto não da forma natural, como soe acontecer, mas de forma artificial, num forno crematório.

Qual a razão desta contradição? É que as pessoas em geral detestam a morte e tudo o que a ela se relaciona, e querem se desfazer do cadáver o mais rápido possível. Esta pressa, talvez sem o saber, torna as pessoas desrespeitosas para com seus familiares. Em vez de deixar que os corpos se desfaçam naturalmente, da forma como nasceram e viveram, apressam o seu fim de uma forma artificial e antinatural.

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