domingo, 30 de agosto de 2009

O biodeterminismo na medicina

Esta idéia, do “determinismo na medicina”, transparece mais como um clichê da mídia, embora ele tenha surgido sub-repticiamente ao longo dos anos, isto é, nunca foi uma idéia clara e evidente mas algo meio escondido nos meandros das notícias e dos artigos da imprensa. O que seria, então, este “determinismo na medicina”? Trata-se de vários conceitos enraizados em meios médicos e midiátidos que fazem com que aspectos morais da personalidade humana sejam vistos como meros problemas de saúde, em geral mentais. Nesta categoria está implícito, por exemplo, o que se convencionou chamar o mal de “pedofilia” , e que até autoridades em medicina dizem ser um problema médico mental, um desvio da conduta psicológica ou cerebral do indivíduo. É muito comum se dizer que alguém sofre de problemas de saúde mental pelo fato de cometer crimes abomináveis, como estupros, corrupção de menores, etc. Será que, na realidade, não se trata de um problema de corrupção moral? Será que tais indivíduos não são, nada mais nada menos, do que fruto da decadência moral da da nossa sociedade? Quem faz mais mal à delinqüência juvenil, os pedófilos ou certas revistas de mulheres nuas? Enquanto a polícia investiga e prende homens tarados que abusam de menores, estas revistas continuam a excitar o libido deles, sem que ninguém se lembre delas como fator de desagregação social e excitação de um mal tão grave como este. Dizer que tais indivíduos são maníacos sexuais até que é comum na classe popular, mas entre indivíduos mais esclarecidos, mesmo no meio jurídico, se usa outro termo: psicopata; palavra até hoje não devidamente estudada e esclarecida à sociedade.

Um estudo recente, feito no Brasil, mostra que este “determinismo” não tem fundamento médico e científico. Trata-se trabalho feito por um professor de história contemporânea de Guarulhos (SP), onde se analisa aspectos de um certo determinismo biológico que tomou conta de médicos do passado e que nada mais é do que uma análise superficial do comportamento humano. Referimo-nos ao livro divulgado pelo blog "Pós-darwinista", “Feios, sujos e malvados sob medida – A utopia médica do biodeterminismo”, que acaba de ser lançado e põe em discussão a idéia de que a história dos determinismos biológicos é muito mais ampla e difusa no tempo e no espaço. A publicação – focada na São Paulo da década de 1920 até 1945 – analisa os problemas sociais dos “feios, sujos e malvados”, ou seja, indivíduos com comportamentos considerados antissociais – os grupos mais visados eram criminosos, homossexuais, doentes mentais e mesmo operários e crianças.

De acordo com o autor do livro, Luis Ferla, a utopia médica do biodeterminismo defendia que, para melhor defesa da sociedade, os médicos deviam se lançar ao “grande projeto do conhecimento humano”. Ou, mais especificamente, ao “corpo do delinquente”, cujas particularidades “poderiam ajudar a explicar as disfunções e desequilíbrios da sociedade”.

“Ao médico cabia a tarefa de identificar corpos perigosos, para prevenir o crime antes que acontecesse. Ou seja, conhecer o criminoso antes que ele entrasse em ação. É isso que define o determinismo biológico, ou seja, a explicação da personalidade e de comportamentos a partir do corpo humano, desvalorizando condicionamentos sociais”, disse Ferla à Agência FAPESP.


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